MUSIQUALIDADE

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A

 

Cantor: MOSKA

CD: “MUITO POUCO”

Gravadora: BISCOITO FINO

 

O cantor e compositor Moska é carioca e curte rock e MPB desde a infância. Aos treze anos, começou a tocar violão e, antes de enveredar profissionalmente na área musical, experimentou a arte de atuar, tendo participado de alguns filmes, a exemplo de “A Cor do Seu Destino” e “Um Trem para as Estrelas”. Na música, estreou no grupo vocal Garganta Profunda, mas em 1987 passou a integrar a banda de pop rock Inimigos do Rei, chegando a emplacar alguns hits, tais como “Adelaide” e “Uma Barata Chamada Kafka”. Poucos anos após, resolveu investir em sua carreira solo, lançando, em 1994, o álbum “Vontade”. Ali, já se antevia o artista irrequieto que de fato mostrou ao que veio no segundo trabalho (“Pensar É Fazer Música”, lançado no ano seguinte). O reconhecimento não tardou a acontecer e canções como “Último Dia”, “Me Chama de Chão” e “A Seta e o Alvo” ganharam de imediato as paradas de sucesso.

Quebrando o hiato de seis anos sem lançar um álbum de canções inéditas (nesse meio tempo, ele mergulhou de cabeça na apresentação do programa “Zoombido”, veiculado pelo Canal Brasil, o que resultou em dois registros fonográficos no formato violão e voz), Moska acaba de pôr no mercado, através da gravadora Biscoito Fino, dois CD’s. Na realidade, trata-se de um mesmo projeto intitulado “Muito Pouco”, que pode ser adquirido num estojo único ou no formato de dois discos 

separadamente (“Muito” e “Pouco”), cada um composto por nove faixas.

E a diferença entre os dois já se explicita nos títulos. Enquanto o primeiro foi gravado com banda e tem um som mais expansivo, o segundo prima pelo minimalismo: é como se Moska quisesse deixar claro que um olha para fora e o outro para dentro (as fotos das capas ressaltam as intenções: ele berrando em um e de costas e cabeça baixa no outro). Não por acaso também a tiragem inicial de “Muito” é superior à de “Pouco”: embora essas coisas sejam de complexa previsibilidade, a gravadora parece acreditar que a extroversão é mais fácil de se vender que a introversão.

A verdade é que Moska é um compositor inspirado. Não obstante os temas sobre relações amorosas predominarem nas letras, ele sabe expô-los de uma forma própria e não exagera nos clichês; pelo contrário, é inteligente no uso dos jogos de palavras e safo na construção dos versos. Melodicamente falando, não tenta reinventar a roda e segue o formato tradicional da canção: estrofes com rimas e o uso de refrões como reforço da ideia central de forma a facilitar a assimilação do ouvinte. Como cantor, possui ótima emissão e dicção convincente. Afinado, é dono de um timbre extremamente agradável e se sai como intérprete apropriado para sua obra.

A maior parte do repertório apresentado é composta por músicas inéditas, mas há algumas boas releituras. É o caso de “Muito Pouco”, “Saudade” (que surge com a participação vocal do co-autor Chico César), “Soneto do Teu Corpo” e “Sinto Encanto”, já registradas anteriormente por Maria Rita, Maria Bethânia, Mart’nália e Zélia Duncan, respectivamente.  

O CD “Muito” encontra seus melhores momentos na (já citada) “Muito Pouco” (obra-prima que agora tem seus ares de tango ressaltados ao ganhar acompanhamento do grupo argentino/uruguaio Bajofondo, também presente na boa balada “Ainda”, outro ponto alto), na gostosa “Canção Prisão” e na romântica “Quantas Vidas Você Tem?” (que, aliás, fez parte da trilha sonora da telenovela “A Favorita”, o último real grande sucesso do horário nobre da Rede Globo). Já em “Pouco” os destaques ficam por conta da bonita “O Tom do Amor”, da delicada “Semicoisas” e da trilíngue “Waiting For The Sun To Shine” (parceria com Kevin Johansen). A cantora Maria Gadú surge como convidada em “Oh My Love, My Love”.

Moska já demonstrou ser um artista inventivo. Seu novo projeto só vem consolidar a vontade de seguir em frente utilizando-se de talento e determinação. Bem legal!

 

 

N O V I D A D E S

 

· Os fãs de Alcione foram surpreendidos recentemente com um presente e tanto! Trata-se do lançamento do CD “O Samba Raro de Alcione – Sabiá Marrom”, composto por vinte faixas pinçadas pelo pesquisador musical Rodrigo Faour dos arquivos da gravadora Universal (antiga Philips), as

quais foram gravadas pela artista entre 1972 e 1981, período que compreende o começo de sua carreira e o início do estouro nacional. Há desde o resgate de quatro sambas-enredo do Carnaval de 1975 (lançados pela cantora em obscuro compacto duplo) até participações dela em trabalhos de colegas (as faixas “Fim de Festa”, gravada ao lado de Leci Brandão, e “De Babado”, com João Nogueira) e álbuns de trilhas de novela (“Planos de Papel”, de Raul Seixas, que fez parte da produção global “O Rebu”) e de peça de teatro (“O Casamento dos Pequenos Burgueses”, de e com Chico Buarque, composta para o musical “Ópera do Malandro”). Mas os maiores destaques são mesmo as três canções inéditas, sobras de discos de estúdio: “Por do Sol” (de André Mingas e Manuel Rui), “Não Suje o Meu Caixão” (de Panela e Garrafão) e especialmente “Sabiá Marrom” (com letra feita por Totonho e Paulinho Rezende para melodia criada por Pierre Delanoe em parceria com o maestro francês Paul Mauriat, o qual se encantou com o canto da maranhense desde que a conheceu em 1977, compondo especialmente para ela o belo tema que inexplicavelmente permaneceu guardado durante mais de três décadas). Imperdível!

 

· A excessivamente cultuada Marina de La Riva acaba de pôr no mercado, através da gravadora Universal, o seu segundo álbum de carreira. Intitulado “Ao Vivo em São Paulo”, o CD tem o repertório baseado naquele apresentado no disco de estreia da cantora (lançado em 2007). E embora seja nítido que ela se sente bem mais à vontade cantando em espanhol (o que ocorre em dez das quinze faixas), há alguns bons registros na nossa língua pátria como “Sonho Meu” (de Dona Ivone Lara e Delcio Carvalho) e “Adivinha o Quê?” (de Lulu Santos). No entanto, mesmo se fazendo mister reconhecer a alta qualidade dos arranjos, em momentos como “Bloco do Prazer” (de Moraes Moreira e Fausto Nilo) e “Aos Pés da Santa Cruz” (de Marino Pinto e Zé da Zilda), por exemplo, constata-se claramente que a artista ainda tem uma longa estrada a percorrer…

 

· O cantor e compositor Jair Oliveira resolveu contar como funciona todo o processo de feitura de um CD, desde a sua pré-produção até a fase da masterização e o fez lançando o livro “Sambazz” que chegou ao mercado (leia-se: livrarias) acompanhado de seu mais recente CD homônimo (ou seria o contrário?). Talentoso, o rapaz que conhece a música desde a mais tenra idade (além de ser filho do cantor Jair Rodrigues, integrou, ainda criança, a formação original do grupo infantil Balão Mágico), também assina a produção do trabalho no qual são apresentadas dezessete faixas autorais que passeiam, na sua maioria (claro!), entre o samba e o jazz. Dentre os melhores momentos estão “Corro Depressa”, “Vida em Sonho”, “Desejo e Desdém”, “Mulata Rainha” e “Samba da Doca”, esta uma parceria com Seu Jorge.

 

· O diretor musical do Casseta & Planeta, Mu Chebabi, acaba de lançar, de maneira independente, o seu segundo CD. Intitulado “Uma Coisa É Uma Coisa, Outra Coisa É Outra Coisa”, o trabalho registra sua recente produção autoral e apresenta parcerias do artista com Mombaça (“Sozinha”) e com o humorista Hélio de La Peña (“O Gringo”).

 

· O CD autoral e independente “Contra-Ataque – Samba e Futebol” que Carlinhos Vergueiro lançou em 1999 ganha reedição, aproveitando o recente boom da Copa do Mundo, e chega novamente às lojas, através da gravadora Biscoito Fino, com a substituição de três faixas por outras inéditas, quais sejam: “Romário”, “Linhas de Prazer” e “Irresistível”.

 

· Mauro Aguiar é letrista inspirado que vem conquistando, a cada dia, merecido espaço na nossa MPB (ele já tem composições gravadas por Ney Matogrosso, Carol Saboya, Verônica Ferriani, Ivan Lins e Mônica Salmaso). Agora, ele acaba de se revelar também um ótimo cantor com o lançamento de seu primeiro CD que acaba de chegar às lojas através da gravadora Biscoito Fino. Intitulado “Transeunte” e produzido pelo saxofonista Mário Sève, é composto por quatorze faixas autorais, criadas ao lado de vários parceiros, dentre os quais Edu Kneip, Kalu Coelho e Zé Paulo Becker. O álbum vem recheado de participações especiais. Estão lá: Paula Santoro, Marianna Leporace, Cecília Stanzione, Bárbara Mendes, Guinga e Edu Krieger (os dois últimos são também parceiros de Mauro). Trata-se de um produto altamente recomendável, o qual alcança seus melhores momentos com as faixas “Sertão do Vale”, “Pagode Jazz Sardinha’s Club”, “Nana, Nina, Não”, “Dreams e Mentiras”, “Calunga” e “Os Olhos da Cara”.

 

· Visando a comemorar o centenário do nascimento de Adoniran Barbosa, a gravadora Lua Music está pondo nas lojas o CD “Adoniran – 100 Anos”, produzido por Thiago Marques Luiz e composto por vinte e quatro faixas que condensam trinta e quatro canções de autoria do sambista mais conhecido de São Paulo, algumas delas criadas ao lado de parceiros como Vinicius de Moraes, Hervê Cordovil, Oswaldo Molles, Carlinhos Vergueiro e até a poetisa Hilda Hislt. São diversos os artistas que aderiram ao projeto e interpretam as canções selecionadas. Estão presentes, entre outros, nomes como Zélia Duncan, Tetê Espíndola, Fabiana Cozza, Cauby Peixoto, Arnaldo Antunes, Mart’nália, Maria Alcina, Marcia Castro e Vânia Bastos. Ao lado de pérolas conhecidíssimas como “Tiro ao Álvaro”, “Iracema”, “Saudosa Maloca”, “Bom Dia, Tristeza”, “Trem das Onze” e “Samba do Arnesto”, o ouvinte vai encontrar outros temas menos batidos, mas também muito interessantes, a exemplo de “Aguenta a Mão, João”, “As Mariposas”, “Samba Italiano”, “Armistício”, “Prova de Carinho”, “Pafunça” e “Mãe, Eu Juro”. Vale a pena conferir!

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor

Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br   

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