M U S I Q U A L I D A D E CD: “MUNDO DE DENTRO” Gravadora: MUSIC TASTE DNA mais musical impossível! Filho de Dorival Caymmi, um dos compositores que ajudaram a formatar a música popular brasileira, e irmão de Danilo e Nana, esta uma das maiores intérpretes do nosso cancioneiro, Dori Caymmi herdou a voz grave do pai e o talento da família. Violonista, produtor, arranjador e compositor, ele começou a ver seu nome efetivamente reconhecido já na década de sessenta quando participou dos lendários festivais de música da época, chegando a alcançar excelentes colocações com “O Cantador” e “Saveiros”, ambas as canções compostas com o parceiro Nelson Motta. Desde os anos oitenta ele se dedica ao mercado norte-americano, tendo chegado a se radicar em Los Angeles. A partir daí, seu talento começou de fato a ser projetado internacionalmente. Dono de um gênio introspectivo (o que o diferencia ao oposto da irmã famosa), Dori não é um compositor compulsivo, daí porque suas incursões no mercado fonográfico são relativamente escassas. Quando o faz, no entanto, o ouvinte sabe que está diante de um produto de qualidade acima da média. Ratificando essas expectativas é que Dori fez chegar recentemente ao mercado nacional, através da gravadora Music Taste, o seu mais novo CD. Intitulado “Mundo de Dentro”, é o primeiro trabalho autoral do artista desde “If Ever…”, lançado em 1994 – como intérprete, ele gravou, depois disso, dois bons álbuns (“Influências”, em 2001, e “Contemporâneos”, em 2002), além de ter dividido um bom disco com Joyce (“Rio-Bahia”, em 2006). Com expressa dedicatória aos pais (Dorival e Stella, os quais partiram para o andar de cima praticamente ao mesmo tempo em 2008), o CD foi produzido pelo próprio Dori e é composto por treze faixas. Delas, onze resultaram de parcerias do próprio artista com o incansável Paulo César Pinheiro, uma outra (a faixa-título) contou, além dos dois, com a colaboração do mano Danilo, e “Fora de Hora” foi criada com Chico Buarque especialmente para o filme “Lara” (de 2003). Nem todo o repertório apresentado é inédito: algumas das canções já receberam registros anteriores. É o caso, por exemplo, de “Sem Poupar Coração”, música que deu título ao último CD de Nana, e de “É o Amor Outra Vez”, faixa referendada por Maria Bethânia em seu mais recente álbum “Tua”, dois ótimos momentos. E ainda de “Rio Amazonas”, outro ponto alto do recém-lançado álbum, que agora surge com letra (no registro feito para o CD “Brasileiras”, em 1996, as cantoras Wanda Sá e Célia Vaz apresentaram-na urdida unicamente com vocalises). No geral, o novo disco tem uma sonoridade elegantemente elaborada, uma das características da obra de Dori, e vem moldado com um tom denso e melancólico. Esse é, de repente, o único senão de um trabalho que, se entremeado por alguns lampejos de alegria, talvez viesse a beirar a perfeição. Há as participações especiais de Edu Lobo, amigo de longa data, no frevo “Chutando Lata” (tema que batizou, na versão em inglês, o álbum “Kicking Cans”, lançado por Dori em 1992) e de Renato Braz, um discípulo de Dori, na bonita “Quebra-Mar”, faixa em que fica claro o passeio pelo universo praieiro de Dorival. Do seleto repertório também merecem ser destacadas a nordestina “Flauta, Sanfona e Violão”, a contundente “Armadilhas de um Romance” e a delicada “Saudade de Amar”. Trata-se, enfim, de um CD em que os temas de amor predominam. No entanto, pelas mãos de Dori Caymmi isso se faz de forma serena, passando longe dos lugares comuns melódico-harmônicos que costumam infestar várias das canções do gênero. Sensível, o artista construiu um disco bacana, apropriado para quem reserva um tempo para mergulhos interiores. Vale a pena conhecer! N O V I D A D E S · “Breque Moderno” é o título do CD que a gravadora Rob Digital está pondo no mercado e que reúne os talentos da cantora e atriz Soraya Ravenle e do cantor Marcos Sacramento. Produzido pelo violonista Luiz Felipe de Lima e com texto de apresentação escrito por Ruy Castro, o álbum é composto por quatorze faixas e tem como base o samba-choro, ritmo que serve para trazer letras recheadas de bom humor. Abusando das pausas, intercalações e citações características, os arranjos bem concebidos servem de confortável cama para que os dois intérpretes deitem e rolem à vontade, especialmente nas faixas em que cantam juntos. Os melhores momentos ficam por conta de “Tem Que Rebolar” (de José Batista e Magno de Oliveira), “Não Quero Saber Mais Dela” (de Sinhô), “E Bateu-se a Chapa” (de Assis Valente) e “Quem É?” (de Custódio Mesquita e Joracy Camargo). · A gravadora Biscoito Fino pôs recentemente à venda o primeiro DVD de Badi Assad, exímia violonista e que, de uns tempos para cá, também vem se aventurando na arte de cantar. Gravado ao vivo em estúdio, o trabalho apresenta quinze números, distribuídos em três cenários. O repertório vai de samba tradicional em versão cool (“Vacilão”, de Zé Roberto, gravado originalmente por Zeca Pagodinho) a tema conhecido da MPB (“Ponta de Areia”, de Milton Nascimento e Fernando Brant), passando por Cartola, Chico Buarque e até Björk. · A gravadora MZA Music acabou de pôr nas lojas o CD com a trilha sonora do documentário “O Pequeno Burguês – Filosofia de Vida” que foi levado ao ar pelo Canal Brasil, contando a trajetória do sambista Martinho da Vila (ele mesmo que, há três meses atrás, lançou o álbum “Poeta da Cidade”, no qual abordou a obra de Noel Rosa). Com direção musical a cargo de Marco Mazzola, o disco traz quatorze faixas e, delas, duas são versões diferentes para a bonita canção “Filosofia de Vida” (parceria do artista com Fred Camacho e Marcelinho Moreira): uma cantada pelo próprio Martinho e a outra, em versão mais intimista, por Ana Carolina. Fora da seara autoral, Martinho pôs sua voz cadenciada a serviço de “Lisboa, Menina e Moça” (de Joaquim Pessoa, Ari dos Santos, Paulo de Carvalho e Fernando Tordo) e “Aquarela Brasileira” (de Silas de Oliveira). No repertório estão presentes também dois temas em versões instrumentais: “Disritmia” (do próprio artista) e “Um a Zero” (de Pixinguinha e Benedito Lacerda). Dentre os melhores momentos estão “Madalena do Jucu”, “Ó Nega” e “Pra Mãe Tereza” (esta, uma parceria com Beto Sem Braço). · O projeto Acústico MTV (que tanto sucesso vez há alguns anos atrás) estará de volta. Para comemorar os vinte anos de sua entrada no ar no Brasil, a MTV registrou a apresentação feita por Lulu Santos, no Rio de Janeiro, no final de junho e já divulga o seu lançamento (em CD, DVD e blu-ray) para o próximo mês. Além de alguns dos grandes sucessos da vitoriosa carreira, Lulu apresenta personalíssimas versões para temas criados por Caetano Veloso (“Odara”), Gilberto Gil (“Ele Falava Nisso Todo Dia”) e Jorge Ben Jor (“Tuareg”), além de mostrar uma canção inédita. A cantora Marina de la Riva se fez presente em participação especial. · “Hein?”, o segundo CD da cantora Ana Cañas, lançado originalmente no ano passado, ganha reedição que chega agora às lojas com uma faixa-bônus: é a canção “Luz Antiga”, balada que Nando Reis compôs especialmente para ela. · A roqueira Pitty está desenvolvendo atualmente e de forma paralela à sua carreira solo um trabalho com Martin Mendezz, o guitarrista da banda que a acompanha. Trata-se do duo Agridoce, cujo som é mais voltado para o folk. Uma primeira canção (a balada intitulada “Dançando”) já se encontra disponível na net. · Quem está hoje na faixa etária dos quarenta anos certamente se lembra de uma menininha chamada Aretha, a segunda filha do casal de cantores Antônio Marcos e Vanusa, que participou, na década de oitenta, de alguns especiais infantis da Rede Globo. A hoje bela mulher se tornou uma ótima cantora e acaba de pôr nas lojas, através da gravadora Discobertas, um CD que leva apenas o seu nome como título, mas que mostra uma intérprete afinada e vigorosa. Ancorada por arranjos muito bem concebidos, o álbum é composto por onze faixas, duas delas cantadas em inglês (“Because” e “A Little Less Conversation”) e uma em francês (o clássico “Non, Je Ne Regrette Rien”). O maior mérito do disco, contudo, é mostrar uma artista corajosa, que passa à margem da cartilha que vem assolando a música popular brasileira da atualidade. Dona de um estilo bastante pessoal, ela se joga por vezes em canções que até podem não ser exemplos do que se convencionou chamar de politicamente correto, tais como “A Mulher do Sacana” (de sua própria autoria) e “Escada Abaixo” (de Eduardo Pitta e Xande Mello), mas que, adornadas com ares de salutar irreverência, terminam por se destacar no repertório coeso e agradável que tem entre os seus melhores momentos as faixas “Malabarista” (de Marília Duarte), “Na Telha” (de Kleber Albuquerque) e “Tempero” (outro tema assinado por Xande Mello). De quebra, Aretha ainda desconstrói de forma bem inteligente “Resposta ao Tempo” (de Cristóvão Bastos e Aldir Blanc), canção imortalizada na voz de Nana Caymmi. Vale super a pena conhecer! · Carlinhos Brown resolveu adiar para o próximo ano o lançamento do CD de rock que gravou com o grupo Mar Revolto, mas seus fãs podem ficar tranquilos que até outubro próximo já terão em mãos um novo trabalho do irrequieto artista baiano. É que ele está terminando de gravar um novo álbum de inéditas, patrocinado pela Natura, o qual contará com a participação especial da banda Os Paralamas do Sucesso. Quem viver, ouvirá! RUBENS LISBOA é compositor e cantor Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br Cantor: DORI CAYMMI
· Delicioso! Este é o adjetivo mais apropriado para definir o CD de estreia da cantora baiana Marcela Bellas. Trata-se de uma produção independente sugestivamente intitulada “Será Que Caetano Vai Gostar?” e que foi produzido por ela ao lado de Tadeu Mascarenhas e Rovilson Pascoal. O repertório é composto por doze canções, metade delas resultante de parcerias da própria artista com Helson Hart, Hebert Valois e Tenison Del Rey. Apenas uma das faixas é regravação: o belo tema “Bloco do Prazer” (de Moraes Moreira e Fausto Nilo) que surge em andamento bem mais lento que o conhecidíssimo registro de Gal Costa. Marcela canta de forma cativante e seu trabalho soa alegre e criativo. Entre os melhores momentos estão as faixas “Alto do Coqueirinho”, “Quando o Samba Quer”, “Bacana”, “Por Favor”, “Crimes de Amor” e “Por Outro Lado”. Realmente imperdível!
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