M U S I Q U A L I D A D E R E S E N H A CD: “SÓ DANÇO SAMBA” Selo/Gravadora: SANTIAGO MUSIC/UNIVERSAL O cantor carioca Emílio Santiago começou a cantar em festivais universitários na década de setenta, enquanto frequentava a faculdade de Direito. Participou, logo em seguida, de programas de calouros na televisão, chegando às finais de um concurso no programa Flávio Cavalcanti, na extinta TV Tupi. Foi ainda crooner de orquestra e cantou em várias boates e casas noturnas. Sua estreia fonográfica deu-se através da gravadora CID em 1975, mas foi a partir do ano seguinte, quando assinou contrato com a Polygram, que começou a ver o seu nome realmente projetado. O auge, no entanto, somente viria a acontecer a partir de 1988 quando, já na gravadora Som Livre, deu início ao vitorioso projeto “Aquarelas Brasileiras” (composto por sete volumes que chegaram a alcançar a marca de quatro milhões de cópias vendidas), dedicado a regravações de canções antológicas do nosso cancioneiro. Dono de voz poderosa e aveludada, de belo timbre grave e afinado ao extremo, ele acaba de fazer chegar às lojas o seu mais novo CD. Trata-se de “Só Danço Samba”, um trabalho produzido por José Milton e composto por quatorze faixas, o primeiro lançamento de seu próprio selo, Santiago Music, em parceria com a multinacional Universal. O álbum tem como escopo homenagear o maestro Ed Lincoln (com quem Emílio começou sua carreira), músico cearense que migrou para o Sul e, pilotando seu órgão elétrico, se tornou um dos reis dos bailes em épocas mais românticas. Trata-se de um ótimo CD que vem ratificar que o artista ainda se encontra em perfeita forma vocal, como se o passar dos anos para ele não tivesse se dado. O suingue predomina no geral e o grande mérito é que o set list não se restringe a temas surradamente conhecidos. Muito embora haja espaço para brechas, estas se restringem a apenas quatro faixas: a canção-título (parceria de Tom Jobim e Vinicius de Moraes), “Samba de Verão” (de Paulo Sérgio Valle e Marcos Valle), “Sambou… Sambou” (de João Donato e João Mello) e “Influência do Jazz” (de Carlos Lyra, contando com a adesão de uma percussão com nítido sotaque cubano). Nas demais, o ouvinte médio se depara com músicas interessantes mas que não chegaram a se firmar como grandes sucessos. Situam-se nesse patamar três canções de autoria do próprio Ed Lincoln (“Olhou Pra Mim” e “Nunca Mais’, compostas com Sílvio César, e a deliciosa “Deix’isso Pra Lá”, parceria com Luiz Paulo) e dois dos melhores momentos do álbum, as canções “A Cada Dia que Passa” (de Antônio Adolfo) e “Confissão” (de Djalma Ferreira e Luiz Bandeira). No final, fechando o projeto com chave-de-ouro, o cantor condensa, num medley, três temas pra lá de contagiantes: “Zum Zum Zum” (de Durval Ferreira e Orlandivo, este um outro mestre do balanço tupiniquim), “Vou Rir de Você” (de Heitor Menezes) e “Na Onda do Berimbau” (de Osvaldo Nunes). Mas Emílio, como todo bom garimpador de canções, não se ateve apenas a composições de épocas passadas. Antenado, ele soube também pescar criações mais recentes e, utilizando-se do conceito abraçado, transportou-as para o universo bailístico do homenageado. Estão entre essas músicas a bonita “Tendência” (resultante de vigoroso encontro dos talentos de Dona Ivone Lara e Jorge Aragão, dois de nossos melhores sambistas) e “Chega” (um dos inspirados temas criados por Mart’nália ao lado de Mombaça). Já nos arranjos, que soam arejados, mister se faz destacar o som do órgão tocado por Julinho Teixeira, fiel à sonoridade de Ed Lincoln. O fato é que, com um balanço característico, Emílio Santiago construiu um CD que se transforma, desde já, em um dos pontos altos de sua discografia. Corra e ouça! N O V I D A D E S · Em breve estará sendo lançado o disco de estreia da cantora carioca Elisa Addor. O álbum está sendo produzido pelo compositor Edu Krieger. O repertório prioriza temas inéditos, mas abre espaço para “Roendo Unha” (de Luiz Gonzaga e Luiz Ramalho), “Mar de Copacabana” (de Gilberto Gil) e “Sorri e Canta como Bahia” (de Galvão e Moraes Moreira). Moraes, inclusive, se faz presente como convidado especial da faixa (também de sua autoria) “Tia Ciata”. · Depois de um trabalho de garimpo feito pelo pesquisador Marcelo Fróes, chegou recentemente ao mercado, através da gravadora Discobertas, o CD duplo intitulado “Retirante” que reúne as primeiras gravações fonográficas feitas por Gilberto Gil. No CD 1 estão alguns registros que o artista efetuou junto a JS Discos, uma gravadora de Salvador, quando ainda residia na capital baiana, e os que ele fez para compactos da RCA, logo que chegou ao Rio de Janeiro. Já o CD 2 traz, em versão voz e violão, dezoito canções de sua inicial fase autoral, as quais foram gravadas em 1966 como amostra para a editora musical Arlequim. O projeto vale como curiosidade, até porque traz a lume músicas até hoje inéditas como “A Última Coisa Bonita”, “Me Diga, Moço” e “Rancho da Boa Vinda”, além da faixa-título. · Durante show recentemente realizado no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro, foram colhidas as imagens que resultarão no segundo DVD da Velha Guarda da Mangueira. O produto chegará ao mercado com as participações especiais de Jorge Vercillo, Nelson Sargento e Lenine. · “Ribeirão do Tempo”, a nova telenovela da TV Record tem como um de seus temas principais a canção inédita “Ela É a Tal”, parceria de Zeca Baleiro com Lúcia Santos e que foi gravada pela cantora Paula Lima. E falando em Baleiro, para comemorar seus treze anos de carreira, o maranhense está lançando dois discos. Um dos álbuns, “Trilhas”, é uma coletânea de temas por ele compostos para filmes e espetáculos de dança e conta com a participação da atriz Rosi Campos. O outro, que se intitula “Concerto”, é o registro ao vivo do show feito pelo cantor no Teatro Fecap (SP), em março deste ano, na companhia dos músicos Swami Jr. e Tuco Marcondes, no qual ele cantou as inéditas “A Depender de Mim” e “Mais um Dia Cinza em São Paulo”, esta gravada em estúdio. Até o fim do ano serão lançados também dois livros: um é um songbook e o outro traz impressões do artista sobre diversos assuntos. · O longa metragem “Amor de Mulher” em que o cineasta Rafael Saar retratará a carreira e a vida das cantoras Luhli e Lucina já se encontra em fase de produção. A espécie de documentário deverá chegar à telona no próximo ano e será concretizado através de uma parceria com o Canal Brasil. · O repertório do primeiro CD de Maria Gadú (que, aliás, realizou belo espetáculo semana retrasada aqui em Aracaju) é a base do DVD “Maria Gadú – Multishow ao Vivo” que chegará ao mercado em outubro próximo. O registro foi feito durante show recentemente realizado no Credicard Hall, em São Paulo. As surpresas do repertório ficaram por conta de “Trem das Onze” (de Adoniran Barbosa), “Quase sem Querer” (da Legião Urbana) e “Right Through You” (de Alanis Morissette). · E como já é de praxe, logo após um disco de estúdio, o cantor Ney Matogrosso lança um CD ao vivo, cujo registro tem como origem o show homônimo. Desta feita, o fato diz respeito a “Beijo Bandido” que foi gravado há dias atrás em show realizado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e irá se transformar também em DVD. Os produtos chegarão às lojas até o final deste ano através da gravadora EMI. · “Eu Sou Caboca” é o título do CD que Patricia Bastos lançou recentemente. Cantora do Amapá, ela teve o seu trabalho selecionado na última edição do Projeto Pixinguinha e comprova que música de qualidade pode acontecer fora do costumeiro eixo Rio-São Paulo. Apenas intérprete, ela se revela inteiramente pronta. Dona de belíssima voz, melodiosa e de timbre super agradável, Patricia soube selecionar, no prazeroso repertório, grandes canções. O baixista Joãozinho Gomes surpreende ao assinar, ao lado de parceiros, cinco das quatorze faixas, transformando algumas delas nos melhores momentos do álbum, como é o caso de “Gogó do Nego” (composta com Zeca Baleiro), “Triste Que Só” (com Enrico Di Miceli) e “Pequeno Pescador” (com Vicente Barreto, esta contando com a participação especial de Vítor Ramil). Outros destaques ficam por conta de “Cruviana” (de Neuber Uchôa) e da regravação de “Natureza” (de Leci Brandão e Rosinha de Valença). Muito legal! RUBENS LISBOA é compositor e cantor Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br
Cantor: EMÍLIO SANTIAGO
· Chegou recentemente às lojas o primeiro CD da cantora paulista Ilana Volcov. Intitulado “Bangüê”, trata-se de um belo álbum independente produzido pela própria artista ao lado de Ricardo Mosca e Michi Ruzitschika e que traz, em seu repertório de treze faixas, um som eminentemente acústico. São canções escolhidas a dedo e que têm como fio condutor a evocação de um Brasil antigo e mulato. Ilana, que foi integrante do grupo Barbatuques, canta de forma delicada e límpida e se nota muita técnica em sua emissão. É daquelas intérpretes da escola que tem Mônica Salmaso como representante máxima. Aliás, os timbres das duas cantoras chegam a se assemelhar, embora a voz de Ilana seja mais aguda. Dentre os melhores momentos do recém-lançado disco estão os resgates de grandes canções pouco conhecidas de Edu Lobo (“Estatuinha”, parceria com Gianfrancesco Guarnieri), Paulinho da Viola (“Encontro”) e Capiba (“Recife, Cidade Lendária”), além de três ótimos temas escritos por Paulo César Pinheiro para melodias compostas por Guinga, Breno Ruiz e Chico Saraiva (“Procissão de Padroeira”, “Contradança” e “Na Virada da Costeira”, respectivamente).
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