MUSIQUALIDADE

M U S I Q U A L I D A D E

 

R E S E N H A

Banda: PATO FU

CD: “MÚSICA DE BRINQUEDO”

Selo: ROTOMUSIC

 

Quando se iniciou na carreira, em 1992, a banda mineira Pato Fu foi imediatamente comparada aos Mutantes, muito por, naquela formação inicial, vir com uma vocalista, Fernanda Takai, e dois homens, John Ulhoa e Ricardo Koctus. É fato que as influências sonoras de Rita Lee e companhia limitada ali se faziam presentes, assim como também havia ecos dos Beatles. Na verdade, o liquidificador musical do grupo condensava várias vertentes e quando o baixista Xande Tamietti e o tecladista Lulu Camargo juntaram-se aos demais, o Brasil já conhecia o trabalho daqueles jovens que tinham muito a dizer. Até há pouco tempo, inclusive, alguns faziam questão de classificá-la como banda de rock, enquanto outros preferiam enquadrá-la como pop. Na verdade, tudo isso é pura tolice mercadológica porque, acima de catalogações, o que se constata é que, cada vez mais, os seus componentes vêm mostrando um flerte irreversível com a MPB.

Durante o já considerável tempo de carreira, o Pato Fu vem acumulando alguns sucessos e participando de diversos projetos alheios. Também nesse período o casal Fernanda e John souberam se fazer destacar: ela, mesmo não sendo dona de uma voz poderosa, soube utilizá-la de forma inteligente, driblando as limitações naturais e fazendo-a soar simpática, e chegou a mergulhar, recente e temporariamente, em carreira solo, oportunidade em que lançou dois álbuns homenageando a cantora Nara Leão (outra boa intérprete de voz pequena); ele porque fez desenvolver concomitantemente (e com inquestionável talento) tanto o seu lado de compositor quanto o de produtor musical, estando à frente de trabalhos de nomes como Zélia Duncan e Érika Machado.

É nesse universo que acaba de chegar ao mercado, através do Selo Rotomusic, o décimo CD do grupo. Intitulado “Música de Brinquedo”, trata-se de um projeto bastante interessante. E se não é basicamente original (outros, lá fora, já haviam incursionado nessa seara), o fato é que o resultado soa acima da média, ainda mais quando se leva em conta que todos os arranjos do disco (que tentaram se manter fiéis aos originais) foram executados com instrumentos de brinquedo. Assim, o que se houve nas doze faixas que compõem o repertório são sons de caixinhas de música, tecladinhos de calculadora, kalimbas e vários mimos eletrônicos.

A semente de tudo deu-se quando John resolveu presentear sua filha Nina, no aniversário de quatro anos, com um pianinho de brinquedo. Quase três anos depois, esse instrumento juntou-se a uma coleção improvável de outros e, dessa forma, surgiu a ideia de se formatar o novo trabalho da banda. Assim, pouco tempo após e superadas incontáveis sessões de divertidas gravações, estava pronto o novo disco inteiramente com instrumentos de brinquedo (ou miniaturas de instrumentos de adulto). E, embora nos shows que a banda já vem realizando visando à divulgação do CD, estejam sendo tocadas algumas canções autorais já registradas em trabalhos anteriores, o set list do recém-lançado álbum se restringe a regravações de temas alheios, cinco deles em idioma inglês. Destes, merecem destaque “Live And Let Die” (de Paul McCartney e Linda McCartney) e “Rock And Roll Lullaby” (de Barry Mann e Cynthia Weil, canção devidamente incluída na trilha sonora da telenovela global “Ti-Ti-Ti”). Por seu turno, no lado das canções nacionais, a escolha se mostra bastante eclética e alberga desde o grande sucesso “Frevo Mulher” (de Zé Ramalho) até resgates de músicas que povoam até hoje o inconsciente da geração dos anos oitenta, a exemplo de “Sonífera Ilha” (dos Titãs) e “Ska” (de Herbert Vianna). E canções da pré-história do nosso cancioneiro também garantem seu espaço, como o manifesto pacifista “Todos Estão Surdos” (de Roberto Carlos e Erasmo Carlos), o hino rebelde “Ovelha Negra” (de Rita Lee) e a balada adocicada “Primavera” (de Tim Maia). Há que se registrar, alfim e contudo, não se tratar de um disco infantil. Trata-se, sim, de um trabalho que margeia o universo lúdico, tanto que os responsáveis pelos backings são as crianças Nina Takai e Matheus D’Alessandro, o que termina por conferir um charme todo especial ao projeto. Ponto para o Pato Fu! Agora, é correr e ouvir…

 

 

N O V I D A D E S

 

· Paula Morelenbaum junta seu talento ao de João Donato no CD “Água” que acabou de chegar ao mercado através da gravadora Biscoito Fino. Com a proposta de oferecer uma visão contemporânea da obra do compositor acreano são revistas várias de suas mais belas canções, algumas compostas ao lado de parceiros como Lysias Ênio, Gilberto Gil e Caetano Veloso. Paula está cantando melhor que nunca e Donato, como de costume, dá um show ao piano. Entre os melhores momentos estão “Flor de Maracujá”, “Café com Pão”, “Muito à Vontade”, “Mentiras” e “A Paz”, esta com trechos em japonês e espanhol. Muito legal!

 

· O cantor Marcos Ozzellin lança seu primeiro CD totalmente voltado para o mais genuíno dos ritmos brasileiros. Com o título de “O Samba Transcendental”, o trabalho é um lançamento do selo JSR, de propriedade do talentoso Arnaldo DeSouteiro. Bom intérprete, Ozzellin encontra os melhores momentos de seu álbum de estreia com as faixas “Treze de Ouro” (esquecida parceria de Herivelto Martins e Marino Pinto), “A Vida Leva” (belíssimo tema de Nelson Ângelo) e “O Dengo que a Nega Tem” (pérola conhecidíssima de Dorival Caymmi). A insuperável Ithamara Koorax é a convidada especial de “Bocochê” (e arrasa como sempre!) e o grande tecladista José Carlos Bertrami ratifica a sua versatilidade em “Como Será o Ano 2000?” (de Padeirinho da Mangueira).

 

· Enquanto se prepara para entrar em estúdio para registrar as canções que farão parte de seu próximo CD, o cantor Lobão já testa algumas músicas do repertório no show “Lobão Elétrico” que vem realizando atualmente em diversas cidades. Além de versões pesadas para “O Grito” e “Mal de Amor”, por exemplo, o roqueiro está apresentando alguns temas inéditos, a exemplo de “Das Tripas, Coração” e “Song for Sampa”.

 

· O compositor Wilson Baptista vai ganhar, no ano que vem, uma bela homenagem. É que o ator e dramaturgo Rodrigo Alzuguir produzirá um álbum duplo que contará com diversas participações especiais. Até o momento, já estão confirmadas  as presenças de Roberta Sá e Cristina Buarque.

 

· Amanda Garruth se lança no mercado fonográfico nacional com o CD independente “Hora & Lugar”. Produzido por Thiago Rudrea e composto por onze faixas, o álbum revela uma cantora afinadíssima e segura de sua arte. O repertório apresenta autores ainda pouco conhecidos e, embora a própria Amanda também mostre o seu lado compositora ao assinar seis das canções (quatro delas em parceria), os melhores momentos ficam por conta de criações alheias, a exemplo de “Percussivé” (de Felipe Azevedo), “Vertigem de Altura” (de Fábio Mendes e Mario Pimentel) e “Sim” (de Vilmar Filho). Boa promessa!

 

· As onze canções que compõem o terceiro álbum do Mombojó se encontram disponibilizadas para download gratuito no site oficial do grupo pernambucano. Intitulado “Amigo do Tempo”, o novo trabalho prima pela melancolia e foi produzido por Kassin, Pupillo, Evaldo Luna e Rodrigo Sanches. Entre os destaques figuram as faixas “Antimonotonia”, “Praia da Solidão”, “Casa Caiada” e “Passarinho Colorido”.

 

· A gravação do primeiro DVD da Farofa Carioca aconteceu no começo do mês passado no Circo Voador, no Rio de Janeiro, e, além de receber Elza Soares como convidada especial, o evento contou com a participação especial de três ex-integrantes da formação original do grupo: Seu Jorge, Gabriel Moura e Bertrand Doussain.

 

· Sandra de Sá registrou, também no mês passado, o show “Africanatividade – 30 Anos de Carreira” e o fez durante apresentação especial realizada ao ar livre na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. O projeto ao vivo sairá em breve em CD e DVD e conta com as participações de Alcione, Caetano Veloso, Elba Ramalho, João Donato, Maria Gadú, MC Marcinho e de ritmistas das escolas de samba Mangueira e Caprichosos de Pilares.

 

·  E agora parece que a coisa vai mesmo: Caetano Veloso, o produtor, delegou ao filho, Moreno Veloso, algumas tarefas que viabilizarão o novo projeto musical de Gal Costa. Com perspectiva de repertório majoritariamente inédito, o CD deverá ser gravado ainda este ano, mas somente chegará às lojas em 2011.

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor

Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br  

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