Musiqualidade

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A

Cantor: DJAVAN

CD: “ÁRIA”

Gravadora: BISCOITO FINO

 

Natural da nossa vizinha Maceió, o cantor e compositor Djavan iniciou-se na música ainda jovem, integrando o conjunto Luz, Som, Dimensão (LSD) que tocava covers dos Beatles. Quando, em 1973, sentiu sua aldeia pequena demais para o seu talento, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde inicialmente trabalhou como crooner em boates, enquanto tentava mostrar seu trabalho autoral participando de vários festivais. Três anos depois, lançou seu primeiro disco, mostrando já ser um artista praticamente pronto, tanto que emplacou de imediato a canção “Flor de Lis”, um de seus maiores sucessos até hoje. Em seguida, vieram diversos outros, a ponto de ser tarefa complexa catalogá-los, mas não se pode deixar de destacar, por exemplo, “Meu Bem Querer”, “Álibi”, “Faltando um Pedaço”, “Sina”, “Samurai”, “Seduzir”, “Oceano”, “Açaí”, “Pétala” e “Lilás”.

Vinte e sete anos após a estreia fonográfica, Djavan ensaia uma volta ao começo ao lançar o CD intitulado “Ária”, que chegou recentemente ao mercado através da gravadora Biscoito Fino, o primeiro trabalho em que ele mergulha de cabeça no lado intérprete, deixando de lado sua obra autoral. Produzido pelo próprio artista, trata-se de um álbum de concepção bastante simples, lançado estrategicamente num momento em que a carreira de Djavan parece se encontrar em entressafra criativa. A pista do conceito escolhido se dá logo na primeira faixa, a bonita “Disfarça e Chora”, parceria de Cartola com Dalmo Castello, apresentada com o cantor se fazendo acompanhar unicamente ao violão. As outras onze canções que compõem o repertório receberam tratamento parecido: de sonoridade eminentemente acústica, o disco, ao longo de sua rotação, não mostra grandes arroubos estilísticos, permitindo-se tão somente a adição eventual de baixo acústico (André Vasconcellos), guitarra (Torcuato Mariano) e percussão (Marcos Suzano, Marco Lobo ou Leonardo Reis).

Não é, de fato, um trabalho que empolgue à primeira audição. Aliás, mesmo após reiteradas tentativas de se apaixonar por ele, o que termina ficando é uma sensação de que faltou alguma coisa. Isso deve decorrer da tal da liga que não aconteceu, muito por conta da superficialidade das interpretações que, em sua maioria, terminam por soar excessivamente cool e burocráticas (e isso fica claro em passagens como o bolero “Sabes Mentir”, de Othon Russo, incluída na trilha sonora da telenovela global “Passione”, e “Nada a Nos Separar”, versão de Romeo Nunes para criação de Wayne Shanklin). Também os arranjos, não obstante corretíssimos no quesito qualidade técnica, não chegam de fato a empolgar. Isso não quer dizer, no entanto, que não existem bons momentos. Sempre com grande capacidade de se adequar às divisões rítmicas, Djavan consegue tingir de novas nuanças a atemporal “Apoteose ao Samba” (de Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola). Resultados satisfatórios também ressaem das duas músicas de autoria de Caetano Veloso (a contemplativa “Oração ao Tempo” e a contundente “Luz e Mistério”, esta uma rara parceria do compositor baiano com o mineiro Beto Guedes), o que, todavia, infelizmente não ocorre no resgate de “Valsa Brasileira” em que se denota, inclusive, que a voz de Djavan já não possui a precisão de outrora.

Numa tentativa de fazer um elo do presente com seus tempos iniciais de crooner, Djavan resgata ainda “La Noche” (de Enrique Heredia Carbonell e Juan Jose Suarez Escobar, canção pinçada do repertório da cantora Montse Cortez) e “Fly Me To The Moon” (de Bart Howard) em seus idiomas originais, o espanhol e o inglês, e ratifica desenvoltura nos scats da versão instrumental de “Treze de Dezembro” (canção menos conhecida de Luiz Gonzaga e Zé Dantas). Completam o repertório a romântica “Brigas Nunca Mais” (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, outra que surge também somente no formato violão e voz) e a originalmente festiva “Palco” (de Gilberto Gil), agora providencialmente adaptada ao universo musical do alagoano.

Em seu primeiro CD de intérprete, a verdade é que o talentoso Djavan poderia ter ousado mais, arriscado mais, apresentado mais…

 

 

N O V I D A D E S

 

· Acabou de chegar às lojas o CD “Lenine.Doc – Trilhas”. Trata-se de uma ótima compilação de fonogramas gravados pelo artista pernambucano especialmente para trilhas de novelas, seriados, especiais de TV, cinema, dança e publicidade e que nunca chegaram a fazer parte de seus álbuns de carreira. Nela, constata-se a grife criativa inconfundível de Lenine, presente desde “Alpinista Social”, criada em 1990 (há vinte anos, portanto), até a recente “Aquilo que Dá no Coração”, tema de abertura da telenovela global “Passione”. Entre vigorosa canção instrumental (“Violenta”), ele abre espaço para músicas voltadas ao universo infantil (“De Sabugo a Visconde” e “A Mula Sem Cabeça”) e também para canções pouco conhecidas, mas de beleza inquestionável (“Diversidade”, “Quatro Horizontes” e “Sob o Mesmo Céu” estão entre elas). Um disco realmente imperdível para fãs!

 

· O terceiro CD de Max Viana, filho de Djavan, se intitulará “Um Quadro de Nós Dois” e aportará em breve no mercado. No repertório, há novas parcerias com Arlindo Cruz e Jay Vaquer. A cantora Alcione fará uma participação especial.

 

· O grupo argentino Los Fabulosos Cadillacs ganha mais um tributo em disco que conta, entre outros artistas sul-americanos, com a participação de Carlinhos Brown na faixa “Siguiendo la Luna”. Falando no irrequieto baiano, ele vai lançar em novembro dois novos CD’s. Um deles contará com a participação especial dos Paralamas do Sucesso e terá como primeiro destaque a canção “Tantinho”.

 

· Tereza Costa está lançando “A Sós”, um belo álbum que chega às lojas de maneira independente. Com a produção musical capitaneada por Sérgio de Carvalho e os arranjos a cargo de Felipe Pinaud, o CD traz um repertório composto por doze faixas nas quais se pode encontrar tanto releituras de canções bastante conhecidas (“O Que é Amar”, de Johnny Alf, e “Pra Que Chorar”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes estão entre elas) quanto ótimos temas inéditos (a exemplo da bonita faixa-título, de autoria de Fred Camacho e Cassiano Andrade, e da bem construída “Jardim das Estrelas”, de Ramon Cruz). Tereza tem voz muito bonita e canta de maneira suave e agradável. Dentre os melhores momentos estão as faixas “São Sebastião” (pérola de Antonio Villeroy), “Tu Es l’Infini” (de Lokua Kanza e Nathaile Taratle) e “Não Vou Pra Casa” (belíssimo samba de Antônio Almeida e Roberto Riberti, gravado originalmente pela dupla Joel e Gaúcho com grande sucesso no Carnaval de 1941 e ora resgatado de forma mais que apropriada).

 

· Chegou recentemente às lojas, através da gravadora EMI e nos formatos CD e DVD, o novo trabalho do pernambucano Reginaldo Rossi. “Cabaret do Rossi” foi gravado em maio passado em São Paulo durante show ambientado em clima de inferninho e alia, no abrangente repertório, canções inéditas (“Aceito Tudo de Você” e “Senha”) a sucessos do artista (“Leviana”, “Meu Fracasso” e “Dama de Vermelho”).

 

· A cantora Ana Carolina realizou recentemente, ao lado de um trio feminino formado por Délia Fischer (ao piano), LanLan (na percussão) e Gretel Paganini (violoncelo), o show “Ensaio de Cores” e nele incluiu algumas canções inéditas, já testando o repertório para um novo CD. Dentre elas estão “As Telas e Elas” e “Pra Tomar Três”, esta sua primeira inspirada parceria com Edu Krieger.

 

· A trilha sonora do musical “É com Esse que Eu Vou”, recheada de sambas atemporais, chega ao mercado através da gravadora Biscoito Fino em CD duplo. Sob a direção musical do violonista Luís Filipe de Lima, os cantores Alfredo Del-Penho, Beatriz Faria, Lilian Valeska, Mackley Matos, Marcos Sacramento, Pedro Paulo Malta e Soraya Ravenle soltam as vozes e mostram porque o nosso Brasil é mesmo o país mais musical do mundo.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor

Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br   

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