M U S I Q U A L I D A D E R E S E N H A CD: “… E A GENTE SONHANDO” Gravadora: EMI Pouca gente sabe que o cantor e compositor Milton Nascimento, um dos maiores expoentes da nossa MPB, é carioca. É que, mesmo nascido no Rio, ele se mudou, juntamente com os seus pais adotivos, para Três Pontas (MG) com menos de dois anos de idade e foi lá que começou a cantar, ainda na adolescência, chegando a integrar o conjunto Luar de Prata, ao lado do pianista e arranjador Wagner Tiso, figura com quem trabalha até hoje. Quando resolveu cursar Economia, Milton teve de se mudar para Belo Horizonte e foi na Capital mineira que ele conheceu nomes como Fernando Brant, Lô e Márcio Borges, os quais viriam a se tornar seus parceiros musicais. Em 1967, através de sua canção “Travessia”, ele alcançou reconhecimento nacional, o que lhe serviu de passaporte para gravar o primeiro disco. Em seguida, Milton fez-se o mentor do “Clube da Esquina”, espécie de movimento musical mineiro que catapultou para a fama artistas de talento inquestionável, tais como Toninho Horta, Beto Guedes e Nelson Ângelo. E não é à toa que ele é considerado, tanto em terras tupiniquins quanto no exterior, um dos maiores cantores da música brasileira, além de ser um compositor consagrado, tendo influenciado várias gerações de músicos. Temas de sua autoria como “Maria Maria”, “Nos Bailes da Vida”, “Coração de Estudante”, “Cálix Bento”, “Encontros e Despedidas” e “Canção da América”, por exemplo, já fazem parte do inconsciente coletivo nacional. É esse artista, desnecessário de maiores comentários, que está lançando mais um CD. Através da gravadora EMI, chegou recentemente às lojas “… E a Gente Sonhando”, merecidamente acondicionado numa bela embalagem luxuosa. Trata-se de um grande trabalho, muito bem-vindo (vez que seu álbum anterior de inéditas foi “Pietá”, gravado em 2002) e que se credencia como um dos melhores discos deste ano que ora se finda. Milton, depois de um período em que teve sua saúde abalada, voltou a cantar com segurança. Não que ele mostre a força vocal de seus áureos tempos, mas nesse novo CD já dá para ratificar que seu canto será sempre uma referência a ser seguida. E o espírito do trabalho em grupo, uma constante em sua carreira, mais uma vez também se cristaliza. Agora, Milton foi buscar em Três Pontas vinte e cinco músicos jovens e emergentes (entre cantores, compositores e instrumentistas) para colorir de novas tintas a sua obra. Arrebanhou, no meio deles, o violonista Marco Elizeo Aquino e é com ele que divide a produção do álbum. O repertório surge corajosamente composto por dezesseis faixas. Dentre elas, há temas inéditos, canções de Milton já gravadas anteriormente por ele próprio ou por intérpretes amigas e releituras de músicas assinadas por outros autores. No que tange às canções inéditas, há que se destacar “O Atheneu” (de Milton e Fernando Brant) e a belíssima “Amor do Céu, Amor do Mar” (parceria com Flávio Henrique), homenagem explícita a Elis Regina que, assim como várias outras, ganha brilho especial por conta da adição de um coro de peso regido pela preparadora vocal Clarissa Veiga (ao final desta faixa, o efeito de vozes trazida a lume por Hugo e Heitor Branquinho chega a arrepiar). Com relação a canções antigas de Milton, além da faixa-título, grandes momentos ficam por conta das inspiradas nuanças conferidas a “Me Faz Bem” e “Espelho de Nós”, gravadas original e respectivamente, na década de oitenta, por Gal Costa e Simone. Quanto ao mergulho em searas alheias, resultaram especialmente apropriadas as releituras de “O Sol” (de Antônio Júlio Anastácia, sucesso propagado pela banda Jota Quest), “Raras Maneiras” (de Tunai e Márcio Borges) e “Flor de Ingazeira” (de João Bosco e Francisco Bosco). De fato, é um CD muito bacana que mostra Milton Nascimento em momento iluminado. Corra e ouça! N O V I D A D E S · Por volta das 20 horas do dia 31 de dezembro, a baiana Daniela Mercury estará subindo em um dos palcos armados na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, para realizar apresentação especial de seu show “Canibália”. O evento será devidamente registrado e chegará às lojas, no primeiro trimestre do próximo ano, nos formatos CD e DVD. A artista irá receber grupos de percussão de diversas regiões do Brasil, dentre os quais a bateria da escola de samba Unidos da Tijuca, a baiana Banda Didá, o grupo carioca AfroReggae e o amazonense Boi Garantido, de Parintins. Realmente um espetáculo imperdível! · O selo Discobertas põe em catálogo, pela primeira vez no formato CD, o disco de estreia de Leila Pinheiro, lançado originalmente, de maneira independente, em vinil no distante ano de 1983. Já naquele trabalho inicial, a grande cantora demonstrava seu primoroso gosto quanto à escolha do repertório ao selecionar canções assinadas por, entre outros, Tom Jobim (“Falando de Amor” e “Espelho das Águas”), Ivan Lins & Vítor Martins (“Mãos de Afeto”), Toninho Horta & Ronaldo Bastos (“Bons Amigos”) e Sueli Costa & Paulo César Pinheiro (“Cão Sem Dono”). · Totalmente descabido de lógica o fato de “Acesa”, o novo CD da cantora Alcione (gravado ao vivo durante apresentação realizada, no mês de abril passado, em sua terra natal, São Luiz do Maranhão), vir trazendo somente doze faixas enquanto o DVD análogo contém vinte e sete números (mais da metade, portanto). Um tropeço fatal de marketing das gravadoras Universal e Indie Records que, em parceria, estão colocando o projeto no mercado. Isto posto, há de se destacar que a cantora continua cantando muito bem, com voz potente e afinada, embora a limpidez tenha ficado no passado. Entre canções de cunho romântico (“A Dor que Me Visita” e “Eu Não Domino Essa Paixão”) e sambas de primeira linhagem (“Fla X Flu” e “Eu Vou pra Lapa”), os destaques ficam por conta da faixa-título e das oportunas regravações de “Influência do Jazz” e “De Teresina a São Luiz”. O grupo Revelação surge em participação especial em “O Samba Me Chamou”. E exclusivamente no DVD também aparece, como convidado, Wilson Simoninha em “Chutando o Balde”. Outro ótimo momento que somente se encontra no vídeo é o medley que reúne duas grandes criações de Rita Lee: “Pagu” e “Todas as Mulheres do Mundo”. · A gravadora Lua Music homenageará Johnny Alf com o lançamento, em breve, de um box contendo três CD’s sob a produção de Thiago Marques Luiz. O CD 1, “Johnny Alf por seus Amigos”, apresenta gravações inéditas de sucessos do compositor nas vozes de cantores como Zé Renato, Leila Pinheiro, Leny Andrade, Joyce e Emilio Santiago. O CD 2, “Johnny Alf por Alaíde Costa”, reúne 10 temas do artista na bela voz da cantora. Já o CD 3, “Johnny Alf ao Vivo e à Vontade com seus Amigos” se trata de uma compilação de registros ao vivo feitos por Alf, incluindo encontros dele com colegas, a exemplo de Ed Motta e Cida Moreira. · O violonista Luiz Meira está lançando, de maneira independente, o CD intitulado “Te Chamo Felicidade”, produzido por ele ao lado de Marcos Brito. O trabalho mostra que o artista possui uma voz bastante agradável, o que pode ser constatado através da audição de nove das onze faixas do repertório (é que duas delas surgem em versão instrumental: “Começar de Novo”, de Ivan Lins e Vitor Martins, e “Autumn Leaves”, de Joseph Kosma, Jacques Prevent e Johnny Mercer, na qual Meira dá um show de virtuose em seu instrumento). Das cinco canções assinadas por ele ao lado de parceiros as mais interessantes são “Respeito É Bom” e “Desasada” (esta conta com a participação especial de Zeca Baleiro). Os destaques do álbum, no entanto, ficam por conta das releituras de “Pra Ficar no Ponto” (de Dudu Falcão e Danilo Caymmi), “Que Bandeira” (de Marcos Valle) e “Perfume de Cebola” (de Filó Machado e Cacaso). · Depois de ver algumas dezenas de músicas de sua autoria gravadas por vozes alheias, o compositor brasiliense (ora radicado em São Paulo) Magno Mello resolveu lançar, como cantor, seu primeiro CD, o qual aportou recentemente nas lojas. Trata-se de “Não ao Tempo”, uma produção independente produzida pelo próprio artista ao lado do parceiro musical Celso Salim, e que traz, no eclético repertório, treze faixas, todas elas assinadas por Magno (algumas ao lado de Pedro Moraes e Kadu Vianna). Dentre os melhores momentos desse trabalho estão as canções “Caminho Reto”, “Gasolina” e “Joga no Mato”. · Toquinho promete para 2011 o lançamento, através da gravadora Biscoito Fino, de um CD de canções inéditas compostas por ele ao lado do poeta e escritor chileno Antonio Skármeta. Quem viver, ouvirá! · Na próxima segunda-feira, extraordinariamente não será veiculada esta Coluna. Estaremos descansando em terras cariocas e agendando novidades importantes para a música sergipana. Voltaremos dia 10 de janeiro com os comentários sobre os melhores CD’s de 2010. · A nossa Musiqualidade, ao apagar das luzes de mais um ano, gostaria de desejar um Feliz 2011! Que possamos juntos ajudar a construir um mundo melhor onde todos sejam vistos pelo que são e não pelo que possuem. E que fé, amor, esperança, solidariedade e compreensão sejam as palavras de ordem! RUBENS LISBOA é compositor e cantor Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br
Cantor: MILTON NASCIMENTO
· Visando a comemorar os cinquenta anos de carreira de Elza Soares (sem dúvida alguma, um dos grandes expoentes de toda a história da nossa MPB), a gravadora EMI pôs recentemente no mercado o CD duplo intitulado “Deixa a Nega Gingar”. São trinta e uma canções compiladas pelo pesquisador musical Rodrigo Faour que vão desde as primeiras gravações da artista até quase os dias de hoje. Elza dá um banho de talento e mostra porque é conhecida (merecidamente) como a diva do suingue. Dentre os melhores momentos estão as faixas “Na Base do Bilhetinho” (de Ary Vidal e Luiz Reis), “Teleco-Teco nº 2” (de Nelsinho Maestro e Castelo), “Canoa Furada” (de Gisa Nogueira), “Bloco de Sujo” (de Luiz Reis e Luiz Antônio), “Negro Telefone” (de Herivelto Martins e David Nasser), “Doce Amor” (de Eduardo Gudin e Roberto Riberti) e “Perfume Cabochard” (de Sinval Mascarenhas e Ivan Mendonça, na qual Elza divide os vocais com Pedrinho da Flor).
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