Musiqualidade

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

Nossa primeira edição de 2011 tenta fazer um apanhado sobre os CD’s lançados no ano passado. Na realidade, 2010 não foi um ano que marque de forma indelével a discografia nacional. Nenhum novo grande talento despontou, consolidando-se apenas Maria Gadú que, através de um projeto gravado ao vivo e que saiu em CD e DVD, ratificou o resultado satisfatório de uma mídia bem planejada e executada. Dos nomes de primeira linha, Djavan lançou um disco monocórdio em que deu vez ao seu lado de intérprete e Roberta Sá tropeçou em seu terceiro disco ao rever o cancioneiro de Roque Ferreira de maneira linear. Carlinhos Brown gravou dois álbuns, mas o melhor, por incrível que pareça, foi o que se distanciou dos baticuns eletro-percussivos e roçou o minimalismo sonoro (“Diminuto”). E se a sambista carioca Teresa Cristina mostrou evolução incontestável ao lançar “Melhor Assim”, com direito a bela canção inédita de Adriana Calcanhotto, vai ser tarefa complexa para Vanessa da Mata alcançar vendas consideráveis como as que conseguiu com seus discos anteriores: é que seu mais recente álbum (“Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias”), embora cresça após repetidas audições, já ameaça fazer soar repetitiva a obra autoral da esguia cantora matogrossense. No terreno das estreias, não obstante a crítica tenha ovacionado os discos de Karina Buhr (“Eu Menti pra Você”), Luísa Maita (“Lero-Lero”) e Tulipa Ruiz (“Efêmera”), a impressão que fica, de fato, é que, mesmo incontestavelmente talentosas, as três garotas ainda têm muito chão para trilhar. Melhor sorte tiveram mesmo os veteranos Zé Renato e Renato Braz, duas vozes de ouro do nosso cancioneiro atual, que se reuniram em show que resultou no verdadeiro “Papo de Passarim”. Já no finalzinho do ano passado, chegaram ao mercado dois ótimos álbuns (os quais merecerão comentários nas próximas edições desta Musiqualidade): “Flor de Fogo”, do violonista Chico Pinheiro, e “Feito pra Acabar”, do cantor e compositor Marcelo Jeneci. Na música sergipana, merece destaque especial o trabalho da TV Aperipê que realizou edital que resultou na gravação de cinco videoclipes com artistas locais. Dentre as bandas desta terra do Cacique Serigy, merece ser vista com atenção a Cabedal, que vem ganhando cada vez mais espaço com talento e determinação. Espera-se para este ano um período musical mais alvissareiro, posto que se avizinham os lançamentos dos novos álbuns de Chico Buarque, Gal Costa, Marisa Monte, Maria Rita e Beth Carvalho. E, enquanto o mercado fonográfico deverá comemorar com merecido alarde os setenta anos de Ney Matogrosso que serão completados em agosto, a bola da vez deverá recair sobre a cantora Thaís Gulin que lançará seu segundo disco pelo selo Slap, um braço da gravadora Som Livre ligada à poderosíssima Rede Globo.

 

Agora, passemos aos doze melhores CD’s lançados no findo 2010:

 

01 – FÉ NA FESTA – Gilberto Gil voltou com garra ao terreno nordestino, trazendo um álbum em cujo repertório predominavam inspiradas canções inéditas. Ainda que a voz do artista baiano se encontre comprometida, o resultado foi um dos melhores trabalhos de sua vitoriosa carreira.

 

02 – PASSAGEIRO – Rodrigo Maranhão confirmou o grande talento para compor, o que já vinha sendo esboçado há algum tempo quando cantoras exigentes como Maria Rita, Roberta Sá e Verônica Sabino gravaram canções de sua autoria. Eclético e ancorado pela produção precisa do saxofonista Zé Nogueira, Maranhão mostrou que veio para ficar.

 

03 – NA BOCA DO LOBO – Vânia Bastos, uma das vozes mais cristalinas da nossa MPB, mergulhou fundo no cancioneiro de Edu Lobo e, sob a batuta do experiente Ronaldo Rayol, realizou um trabalho inatacável em que soube entrelaçar canções super conhecidas de Edu com outras que foram injustamente esquecidas com o passar dos anos. Bela homenagem!

 

04 – MEU SEGREDO MAIS SINCERO – Leila Pinheiro costuma brilhar a cada novo lançamento e isso não deixou de acontecer quando resolveu gravar um disco temático em homenagem a Renato Russo, líder da lendária banda Legião Urbana. Com sua voz privilegiada, ela desacelerou versões entranhadas no inconsciente do rock nacional, acertando em cheio.

 

05 – SÓ DANÇO SAMBA – Emílio Santiago começou sua carreira cantando na noite e foi para homenagear Ed Lincoln que ele gravou esse álbum, desde já um dos pontos altos de sua discografia. Aliando suingue e refinamento, Emílio pôs sua voz aveludada a serviço de canções que conquistam o ouvinte de primeira.

 

06 – … E A GENTE SONHANDO – Milton Nascimento poderia se deitar na fama conquistada e, como alguns, viver de regravações óbvias de seus inúmeros sucessos. Ao preferir se reunir com artistas jovens mineiros, no entanto, ele pôs no mercado um de seus melhores títulos e aliou, no repertório, bons temas inéditos a outros de lavras alheias.

 

07 – EXTRAVAGANZA – Silvia Machete começou sua carreira se destacando pelas acrobacias que fazia no palco onde trapézios e bambolês tomavam conta da cena. Com esse novo trabalho, ela comprova também ser uma das melhores cantoras da nova geração e que se encontra pronta para vôos cada vez mais altos. Repertório coerente, arranjos inspirados e interpretação irretocável.

 

08 – TANTAS MARÉS – Edu Lobo, depois de vários anos longe do mercado fonográfico nacional, lançou um trabalho que primou pela simplicidade. Mesmo assim, suas criações, tão belas quanto dotadas de intrincadas teias harmônicas, conseguiram fazer valer a máxima de que “quem é rei, nunca perde a majestade”.

 

09 – MARIANA BALTAR – Mariana Baltar vem devagarzinho conseguindo mostrar o que mais sabe fazer: cantar bonito. Seu timbre único, sua emissão correta e sua afinação perfeita são somente algumas características do canto dessa artista que tem tudo para, em breve, se consolidar como um dos grandes nomes da nossa música. Seu repertório prioriza o samba, mas ela sabe cantar de tudo, como, inclusive, já deixou bastante claro.

 

10 – MUNDO DE DENTRO – Dori Caymmi é mais conhecido como compositor, violonista e produtor. Mas a voz grave e bonita vem de família (afinal, ele é filho de Dorival e irmão de Nana) e ela se mostrou muito bem colocada nesse bem-vindo álbum que intercalou várias canções que já se consubstanciam como verdadeiras pérolas do nosso cancioneiro.

 

11 – O LADO OCULTO DAS CANÇÕES – Célia é daquelas cantoras que, injustamente, nunca obteve o merecido reconhecimento. Geralmente seus trabalhos primam pela exacerbação de impostação e floreios vocais. Ao diminuir esses arroubos interpretativos, ela construiu um álbum primoroso que tem lugar de destaque em toda e qualquer discografia que se preze.

 

12 – MÚSICA DE BRINQUEDO – Pato Fu é uma banda que conseguiu se manter no topo das melhores do país, mesmo com o passar do tempo. Tendo à frente a cantora Fernanda Takai, tão graciosa quanto possuidora de uma pequena voz, soube cercar-se de boas ideias a cada lançamento. Uma delas foi fazer um disco com temas conhecidíssimos, todos eles executados por instrumentos de brinquedo. O resultado foi bem bacana e as vendas confirmaram que, por vezes, a originalidade ainda desperta curiosidade.

 

 

N O V I D A D E S

 

·  Nesta quarta-feira (dia 12/01), o cantor sergipano Rogério estará lançando, no Teatro Tobias Barreto, a partir das 21 horas, o seu novo projeto que traz, no mesmo pacote, CD e DVD inéditos. O espetáculo vai contar com a participação especial de Léo Maia, filho do cantor Tim Maia, o qual se apresentará em Aracaju pela primeira vez. Muito massa!

 

·  E na quinta-feira (dia 13/01), será a vez de a cantora Amorosa autografar o seu novo livro. Trata-se de “Matheus em Cordel”, tido como um dos cinco maiores cordéis já escritos no Brasil. O evento terá início às 17 horas, na Livraria Escariz do Shopping Jardins. Feliz da vida, a artista informa que já recebeu convites para lançar sua a obra também em Salvador, em Recife e no Rio de Janeiro. Imperdível!

 

 

· Numa parceria entre a gravadora EMI e a Globo Marcas, chegou recentemente às lojas o DVD intitulado Abelim Maria da Cunha, especial gravado pela cantora Ângela Maria para a série “Grandes Nomes” e levado ao ar pela Rede Globo em 1980. Entre os quatorze números apresentados, a Sapoti recebeu como convidados João Bosco (em “Miss Suéter”) e Ângela RoRo (em “Amendoim Torradinho”, “Amor, meu Grande Amor” e “Me Acalmo Danando”).

 

· O famoso arquiteto Oscar Niemeyer debuta como compositor aos cento e três anos de idade. É que ele compôs recentemente o samba “Tranquilo com a Vida” em parceria com seu enfermeiro Caio Almeida e com o compositor carioca Edu Krieger.

 

· Já se encontra disponível em DVD o documentário “Uma Noite em 67”, dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil, o qual traz a lume os bastidores da final do III Festival da Música Popular Brasileira, acontecida em 21 de outubro de 1967, no Teatro Paramount, em São Paulo. Trata-se de um registro essencial para os amantes da nossa MPB, vez que por ali passaram nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Elis Regina, Nana Caymmi e Roberto Carlos.

 

· Já começa a ganhar definição a trilha sonora da nova telenovela global “Insensato Coração” que estreia de hoje a oito (dia 17/01) às 21 horas. Estão confirmados nomes como Maria Rita (o tema de abertura “Coração em Desalinho”, de Mauro Diniz e Ratinho), Maria Bethânia (“Trocando em Miúdos”, de Chico Buarque e Francis Hime) e Ney Matogrosso (“Quando a Saudade Chegar”, de Concessa Lacerda e Raul Mascarenhas). Outros nomes cogitados são os de Zeca Pagodinho, Simone e Mart’nália.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor

 

Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br  

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