M U S I Q U A L I D A D E R E S E N H A Cantor: SEU JORGE CD: “SEU JORGE E ALMAZ” Gravadora: EMI No ano passado, Seu Jorge resolveu arriscar e, juntando-se com os músicos Antonio Pinto (baixista), Pupillo (baterista) e Lúcio Maia (guitarrista), este dois últimos integrantes da banda pernambucana Nação Zumbi, gravou o CD intitulado “Seu Jorge e Almaz”, o qual chegou ao mercado nacional através da gravadora EMI. Composto por uma dúzia de faixas e com supervisão de produção do competente Mario Caldato Jr., trata-se de um álbum que se apropria de temas alheios, para, com doses maiores ou menores de desconstrução, mostrá-los sob uma ótica bastante particular. Decerto que, a princípio, os fãs do Seu Jorge suingante deverão sentir um certo estranhamento. E surpreendentemente, embora bem recepcionado no exterior, o CD tem recebido algumas críticas negativas por aqui, a maioria delas, contudo, bastante exageradas. É que o resultado final é, sim, muito bom. E o melhor de tudo é que Seu Jorge comprovou ter talento para ir além dos gêneros musicais que o consagraram. Sua voz grave e bonita é, assim, posta a serviço de um roteiro eclético que reúne temas díspares como a singela “Tempo de Amor” (de Baden Powell e Vinicius de Moraes) e a originalmente pulsante “Rock with You” (pinçada do repertório Michael Jackson). E se a melodia simples de “Cala Boca, Menino” (de Dorival Caymmi) é apenas esboçada, “Cristina” (de Tim Maia e Carlos Imperial) aparece em versão bastante similar à lançada pelo Síndico. Seu Jorge resgata ainda “Cirandar” (esquecida parceria de Martinho da Vila e João de Aquino) e “Das Model” (do grupo alemão Krafterk). Entre os melhores momentos estão “Juízo Final” (de Nelson Cavaquinho e Élcio Soares), “Saudosa Bahia” (de Noriel Vieira e Sidney Martins) e “Errare Humanum Est” (de Jorge Ben Jor). Um trabalho muito legal que abre novas possibilidades para Seu Jorge. Merece, portanto, ser ouvido e repercutido! N O V I D A D E S · Realmente digno de nota o salto qualitativo que a cantora niteroiense Arícia Mess deu do primeiro para o segundo CD, este tendo chegado recentemente ao mercado de maneira independente. Trata-se de “Onde Mora o Segredo” que, transitando entre sons elétricos e acústicos, foi produzido por ela ao lado de Carlos Trilha e Fernando Morello. Nesse álbum composto por onze faixas, constata-se o elogiável trabalho de garimpo feito pela artista não apenas no tocante ao repertório (majoritariamente temático, tanto que o disco é dedicado por ela explicitamente às mulheres negras e índias), mas também por conta dos engenhosos e caprichados arranjos, repletos de detalhes e sutilezas. Arícia está cantando muito bem. Seu timbre (que, por vezes, lembra o de Marina Lima em seus tempos áureos) é bastante agradável e ela sabe se utilizar de seu suingue black para abrilhantar diversas passagens. Também boa compositora, ela assina cinco faixas, três delas ao lado de Suely Mesquita (“Porta Aberta”, a bonita “Hora Boa” e a contagiante faixa-título), uma com Paula Pretta (“Bate Folha Jurema”) e outra sozinha (a deliciosa “Gosto Mais”). De lavras alheias, merecem especialmente destaque “Black is Beautiful” (de Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle), “Dengue” (de Leci Brandão) e “Clariô” (de Péricles Cavalcanti), canções que já mereceram grandes registros por parte de Elis Regina, Zezé Motta e Gal Costa, respectivamente, mas que terminaram por adquirir insuspeitas luzes na interpretação orgânica e precisa de Arícia. Um CD que, de fato, merece ser conhecido! · Mateus Aleluia, integrante do grupo vocal Os Tincoãs, está lançando, aos sessenta e seis anos e pelo selo Garimpo Discos, o seu primeiro CD solo. Intitulado “Cinco Sentidos”, trata-se de um trabalho em que ele mergulha com força na cultura africana. Com bela voz extremamente grave, o artista traz como destaques de um repertório impregnado de religiosidade e negritude as faixas “Ogum Pa”, “Palavra que Reza” e “Cordeiro de Nanã”. · Juliana Caymmi é filha de Danilo Caymmi (o rebento caçula de Dorival Caymmi) com a letrista Ana Terra. Consolidando a herança musical familiar, ela acaba de lançar, de maneira independente, o seu primeiro CD, o qual chega ao mercado sob a produção do violonista Ricardo Matsuda. Dona de voz classuda que transita entre o agudo e o grave, bem colocada e afinada, a artista mostra ao público “Para Dançar a Vida”, um álbum composto por treze faixas, dentre as quais quatro assinadas por ela própria. Os destaques maiores do repertório ficam por conta do belo medley que reúne “Vento Noroeste” (de Elpídio dos Santos e Juraci Rago) e “Flecha de Prata” (de autoria do papai famoso), da releitura de “Flor de Ir Embora” (pérola da lavra de Fátima Guedes) e de insuspeito mergulho em ritmo eminentemente nordestino (“Coco Praieiro”, de Eudes Fraga e Paulo César Pinheiro). · Gilberto Gil pôs nas lojas, no finalzinho de 2010, “Fé na Festa – Ao Vivo”, o projeto em CD e DVD que foi gravado, em outubro do ano passado, no Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro. Contando com a participação especial de Dominguinhos, parceiro na faixa “Um Riacho, Um Caminho” (a única canção inédita do roteiro), Gil passeou com destreza pelo repertório que lançou no ótimo álbum de estúdio anterior, totalmente voltado ao cancioneiro nordestino, e por canções atemporais da lavra de Luiz Gonzaga, tais como “Olha Pro Céu”, “Juazeiro” e “Qui Nem Jiló”. O trabalho foi dedicado (merecidamente) à cantora Carmélia Alves, conhecida como a Rainha do Baião. · Lançado no final do ano passado de maneira independente, “Edição ao Autor” é o primeiro CD dos compositores Tuninho Galante e Marceu Vieira. Especialistas em sambas, os dois não se resumem a esse gênero no bom trabalho de estreia fonográfica. Dentre os destaques do repertório formado por quatorze faixas estão “Papo no Maracanã”, “Língua de Gente”, “Dia Não” e “O Tamanho do Nosso Amor”. · O terceiro CD da cantora Mariana Aydar já começa a ser formatado e chegará às lojas ainda este ano. Outro lançamento confirmado para breve é o sexto álbum de estúdio de Lenine. Quem viver, ouvirá! · Gravado em 2007 quando se completaram três décadas de união afetiva e musical, o CD “Samba-Jazz & Outras Bossas” da cantora e compositora Joyce e do baterista Tutty Moreno, seu marido, somente chegou ao mercado nacional, através da gravadora Biscoito Fino, no finalzinho do ano passado. Trata-se de mais um trabalho elegante da artista que continua cantando de maneira super afinada, mostrando-se também uma grande violonista. São quatorze faixas (metade delas em versão instrumental, mas que contam com seus vocalises precisos) que homenageiam gênios como Luiz Eça, Durval Ferreira, Paulo Moura, Garoto, Baden Powell e Moacir Santos, entre outros. Os melhores momentos ficam por conta das faixas autorais “Compositor” (pérola composta ao lado de Paulo César Pinheiro) e “Sabe Quem?” (feita com Zé Renato), além da apropriada releitura da deliciosa “Devagar com a Louça” (de Luiz Reis e Haroldo Barbosa). RUBENS LISBOA é compositor e cantor Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br
Atualmente um dos nomes de ponta da nossa música nacional, o carioca Jorge Mário da Silva, mais conhecido como Seu Jorge (nascido em Belfort Roxo e que ganhou esse apelido do amigo Marcelo Yuka, um dos fundadores da banda O Rappa), ralou um bocado para chegar (merecidamente) onde está. Ele já trabalhou como borracheiro, contínuo, marceneiro e chegou, inclusive, a servir o Exército de onde saiu em 1990. A música, sua verdadeira paixão, estava há muito a pulsar em suas veias e a entrada no mercado profissional aconteceu quando o clarinetista Paulo Moura o convidou para fazer um teste para um musical de teatro. Em 1998, Seu Jorge começou a se destacar como vocalista da banda Farofa Carioca, a qual misturava samba, reggae e funk com eficiência. Não foram necessários mais que três anos para que ele sentisse a necessidade de mergulhar de cabeça na carreira solo e eis que em 2001 chega às lojas o CD “Samba Esporte Fino”, sendo recebido com grande entusiasmo pela crítica especializada. Logo no ano seguinte, deu-se sua estreia no cinema e foi juntando essas duas atividades, a de ator (disputado, inclusive, por produções internacionais) e a de cantor, que toda uma aura especial se foi criando ao seu redor. Em 2004, ele lançou o mediano “Cru”, mas foi no ano seguinte, quando se uniu a Ana Carolina em um mais que bem sucedido projeto registrado ao vivo, que conheceu, de fato, o reconhecimento popular. Seu som se caracteriza por possuir uma pegada única e traz, entre suas principais influências, elementos do samba e do funk. Quando pôs no mercado, em 2007, o álbum “América Brasil”, ele já era um dos artistas mais comentados pela mídia, com participações disputadas em trabalhos de colegas e uma agenda repleta de shows, tanto no Brasil quanto no exterior. Hits como “Burguesinha”, “Mina do Condomínio”, “Carolina”, “É Isso Aí” e “Tive Razão”, por exemplo, vêm sendo cantaroladas de norte a sul e por gente de todas as classes sociais.
· Majestosamente acompanhada pelo trio do trompetista suíço Peter Schärli, a extraordinária cantora Ithamara Koorax está lançando mais um CD. Intitulado “O Grande Amor”, o novo trabalho mostra a intérprete em ótima forma vocal e reúne, entre outras, composições de Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Ary Barroso. Os melhores momentos ficam por conta das faixas “Sandália Dela” (de Luiz Cláudio), “Zum Zum” (de Fernando Lobo e Paulo Soledade) e “Setembro” (de Ivan Lins e Gilson Peranzzetta).
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