Musiqualidade

Cantora: IVETE SANGALO

CD: “AO VIVO NO MADISON SQUARE GARDEN”

Gravadora: UNIVERSAL

 

Sem sombra de dúvida, o maior fenômeno midiático do Brasil, na área musical, da última década atende pelo nome de Ivete Sangalo. Baiana de Juazeiro, a bonita morena de voz grave e possante, embora tenha demonstrado aptidão para as artes desde muito cedo, veio a estrear oficial e profissionalmente somente em 1992 quando realizou apresentação solo tão bem recebida pela crítica e público soteropolitanos que terminou sendo agraciada com o Troféu Caymmi daquele ano. Em seguida, à frente da banda Eva, ela viu seu prestígio crescer já a nível nacional, emplacando sucessos como “Pra Abalar”, “Flores” e “Carro Velho”.

Não foi de se estranhar quando, alçada ao posto de musa e símbolo sexual, a cantora partiu para uma bem sucedida carreira solo. O primeiro CD, ao contrário do esperado, alcançou o maior êxito com uma canção calma e romântica (“Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim”, de Herbert Vianna e Paulo Sérgio Valle), o que lhe abriu também o inevitável filão de músicas incluídas em trilhas sonoras de telenovelas globais. De lá para cá, foram discos com vendas invejáveis e várias canções caindo na boca do povão, a exemplo de “Canibal”, “Pererê”, “Sorte Grande”, “Abalou” e “Quando a Chuva Passar”.

Ivete – é certo – adotou uma postura artística diferente de suas conterrâneas e antecessoras Margareth Menezes e Daniela Mercury. Enquanto Maga construiu seu axé nas bases africanas da música baiana e atualmente vem flertando com o pop e Daniela sempre se mostrou antenada, procurando fazer uma ponte entre a MPB e a música percussiva, sem se esquecer de incluir elementos eletrônicos, Ivete nunca se preocupou em fugir das canções sem muita profundidade nas letras e com refrões pegajosos. Seu compromisso é com a alegria e ela quer é se fazer querida pelo povão. E ninguém pode dizer que isso ela não sabe fazer. Aliando seu gênio extrovertido a uma bem bolada estratégia de marketing, ela vem, inclusive, fazendo escola. E o claro objetivo de manter seus trabalhos durante muito tempo no topo das listas dos mais vendidos vem sendo renovado a cada lançamento.

Nesta linha de raciocínio e depois de muito barulho a respeito, Ivete rumou, em setembro do ano passado, para Nova York (EUA) e, em uma de suas casas de espetáculo mais nobres, o Madison Square Garden, ela realizou um grandioso show, o qual foi devidamente registrado e chegou às lojas, nos formatos CD e DVD, ainda a tempo para ser consumido pelo público no último Natal.

Lançamento da gravadora Universal, trata-se de uma verdadeira salada de frutas no que tange ao roteiro apresentado. Não há como deixar de reconhecer, contudo, o esmero da produção e a qualidade da banda que acompanhou Ivete, o que resultou em arranjos caprichados nos quais se destacam os metais.

Com uma plateia repleta de brasileiros que faziam questão de acompanhar em coro a artista, ela vestiu figurinos exóticos, mostrou-se emocionada e recebeu convidados díspares como Juanes (em “Darte”), Nelly Furtado (em “Where it Begins”), Diego Torres (“Ahora Ya Sé”) e o brasileiro Seu Jorge (“Pensando em Nós Dois”). Entre os temas selecionados, ela se esmerou especialmente em alguns de seus hits e conseguiu fazer de “Brasileiro”, “Cadê Dalila” e “Berimbau Metalizado”, por exemplo, bons momentos do espetáculo. Quanto às novas “Acelera aê” e “Qui Belê”, é fato que possuem fôlego para ganhar maior projeção no Carnaval que se aproxima. As surpresas do repertório ficaram por conta das inclusões de “Easy”, de Lionel Richie (propagada mundialmente pelo grupo The Commodores na década de setenta), e da versão de “Human Nature”, gravada originalmente por Michael Jackson.

Incontestavelmente carismática, Ivete Sangalo possui ainda muita bala na agulha. Esperta, sabe que tem que aproveitar esses tempos de maior visibilidade, posto que em nosso Brasil, país de modismos tão poderosos quanto fugazes, ela vem sendo a bola da vez já há alguns anos. Resta esperar para ver como ela redirecionará sua carreira quando todo esse boom passar. Enquanto isso, saia do chão, minha gente!

 

 

N O V I D A D E S

 

· Atualmente bastante comentado na cena musical brasileira, muito por conta de sua considerável aceitação no circuito internacional, o cantor, compositor e violonista paulista Chico Pinheiro fez chegar às lojas, já no finalzinho do ano passado e através da gravadora Atração, “Flor de Fogo”, o seu quarto e ótimo CD (que havia sido anteriormente lançado nos Estados Unidos com o título de “There’s a Storm Inside”). Contando com doze faixas (dez delas autorais e três instrumentais), o álbum realmente denota um artista de inegável potencial. Cantor correto e compositor de harmonias requintadas, Chico destaca-se de verdade como virtuoso instrumentista (ele também produziu seu disco e foi o responsável pelos arranjos). Entre regravações de obras de grandes compositores como Stevie Wonder (“As”) e George & Ira Gershwin (“Our Love is Here to Stay”) e participações do saxofonista Bob Mintzer, da intérprete brasileira Luciana Alves e da cantora norte-americana de jazz Diane Reeves, os melhores momentos do trabalho ficam por conta de “Boca de Siri” (que traz forte influência de João Bosco), “Recriando a Criação” e da faixa-título (três parcerias de Chico com Paulo César Pinheiro). Outro destaque é “Sertão Wi-Fi” (de Chico e Pedro Luís). Bacana!

 

· João Ventura, neto do saudoso João Mello, estará homenageando o avô famoso em um show que se realizará amanhã (dia 1º de fevereiro), a partir das 21 horas, no Teatro Lourival Baptista. Na oportunidade, vários artistas sergipanos estarão presentes no palco, a exemplo de Amorosa, Pantera e Lina Sousa.

 

· Bem mais redondo que o álbum de estreia, chegou recentemente ao mercado “MCK”, o segundo CD do cantor e compositor Matheus Von Krüger. Produzido por Alê Siqueira e Rafael Gryner, o novo trabalho é composto por uma dúzia de faixas, sendo que a única não autoral é a regravação de “Tô”, parceria de Tom Zé e Elton Medeiros. Com reconhecidas doses de criatividade e passagens que lembram o grupo Pedro Luís e a Parede, Matheus traz a lume boas canções, a exemplo de “Um e Um Milhão”, “Pássaro”, “Domingo de Céu” e “N.D.A.”.

 

· À beira de completar oito décadas de vida, a cantora Lana Bittencourt anuncia para breve o lançamento de seu primeiro DVD, o qual foi gravado ao vivo durante show realizado em novembro do ano passado no Teatro Rival, no Rio de Janeiro. O evento contou com as participações de Mariana Braga, neta de Lana, de Rogéria e de Ney Matogrosso.

 

·  E por falar em Ney, acaba de ser lançado, nos formatos CD e DVD, o registro da apresentação que aconteceu em agosto do ano passado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (“Beijo Bandido Ao Vivo”). Acompanhado por uma enxuta mas competentíssima banda formada por Leandro Braga (piano), Lui Coimbra (cello e violão), Alexandre Casado (violino e bandolim) e Felipe Roseno (percussão), Ney reedita a sonoridade acústica presente nas faixas do CD homônimo. O repertório do projeto é basicamente o mesmo do álbum anterior de estúdio, mas cinco das quatorze canções apresentadas naquele CD (“Fascinação”, “A Bela e a Fera”, “Doce de Coco”, “Medo de Amar” e “As Ilhas”) deram lugar a outras (“Da Cor do Pecado”, “Tema de Amor de Gabriela”, “Poema dos Olhos da Amada”, “Fala” e “Incinero”). Já o DVD, por seu turno, contempla todas elas, totalizando dezenove números. Em tempo: incansável, Ney informou recentemente que tenciona gravar, ainda em 2011, um novo álbum cujo repertório reunirá canções de autoria de novos compositores, bem como temas criados por artistas que sempre estiveram meio que à margem da grande mídia, tais como Itamar Assumpção, Jards Macalé e Luiz Capucho. Muito legal!

 

· Gravado durante apresentações realizadas em novembro do ano passado no Teatro Fecap de São Paulo, o novo projeto do Zimbo Trio estará chegando às lojas, nos formatos CD e DVD, ainda neste primeiro semestre. De sua formação inicial, resiste apenas o pianista Amilton Godoy. Completam a formação atual o baterista Pércio Sápia e o contrabaixista Mario Andreotti.

 

· O jornalista e pesquisador musical Rodrigo Faour confirma a sua intenção de pôr no mercado, ainda este ano, CD’s contendo registros inéditos de shows feitos por Gal Costa na década de setenta. São eles: “Índia” (de 1973), “Cantar” (de 1974, com participação de João Donato) e “Gal Canta Caymmi” (de 1976, com participação do próprio Dorival Caymmi).

 

· “Herança” é o título do primeiro CD da cantora e compositora Jacinta Pinheiro. O trabalho chegou recentemente ao mercado de maneira independente e conta com quatorze faixas, a grande maioria composta pela própria artista, algumas ao lado de parceiros. João Donato e Roberto Menescal se fazem presentes em participações especiais. Entre os melhores momentos, além da faixa-título, estão as canções “De Pequim ao Cariri”, “Por um Triz” e “Bluezézimo”. Jacinta sabe o que faz, é boa cantora e compositora inspirada. Vale a pena conhecer!

 

· Se vivo estivesse, o compositor Noel Rosa teria completado, em 11 de dezembro de 2010, cem anos. Para marcar tal data, o selo Discobertas anuncia, sob a produção de Clemente Magalhães, o lançamento do CD intitulado “Noel Rosa – Universidade da Vila”, o qual traz doze faixas em gravações inéditas feitas por Ivan Lins, Isabella Taviani, Joyce, Moska, Jorge Vercillo e Zélia Duncan. Grandes momentos do projeto ficam por conta das faixas “Palpite Infeliz”, “Último Desejo”, “Feito de Oração”, “Três Apitos” e “As Pastorinhas”.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor

Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br  

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