M U S I Q U A L I D A D E R E S E N H A CD: “NEGRA MELODIA” Gravadora: JOIA MODERNA Embora tenha começado a cantar profissionalmente, no início dos anos setenta, em casas noturnas como as boates Balacobaco e Telecoteco, foi necessário que Zezé Motta explodisse de norte a sul do Brasil como atriz principal do filme “Xica da Silva”, lançado em 1976, para que viesse, dois anos depois, a gravar o seu primeiro disco. Naqueles idos, chegou a emplacar alguns sucessos, entre eles as canções “Senhora Liberdade” (de Wilson Moreira e Nei Lopes), “Dores de Amores” e “Magrelinha” (ambas de Luiz Melodia). A promissora intérprete, no entanto, não conseguiu sedimentar a carreira musical e a verdade é que Zezé, de lá para cá, terminou desenvolvendo bem mais o seu lado de atriz, tanto que foi assim que ficou conhecida nacionalmente, até porque sua discografia é consideravelmente pequena. Quebrando um jejum de onze anos, posto que seu último álbum foi lançado em 2000 (“Divina Saudade”, um tributo a Elizeth Cardoso), chegou ao mercado recentemente, através da gravadora Joia Moderna, o CD intitulado “Negra Melodia”, no qual Zezé, em um repertório de doze faixas, mostra-se em forma ao equilibrar, meio a meio, canções de Luiz Melodia e de Jards Macalé. Produzido por Thiago Marques Luiz e sob a direção musical de André Bedurê e Rovilson Pascoal, o novo trabalho foi construído de maneira simples. Não há arranjos grandiosos nem ousadias estilísticas. A sonoridade é de banda e Zezé põe sua voz a serviço de canções que nunca alcançaram o grande público. Essa opção pelo não óbvio – o chamado lado B – é um dos pontos altos do projeto. Outro é evidentemente lançar luzes para essa grande artista que possui perfeito entendimento do que canta. Zezé sempre foi uma intérprete inteligente e, ao aceitar mergulhar no universo dos dois supracitados compositores, decerto o fez por se sentir segura e em casa. De Melodia ela já havia cantado muita coisa e ele é um dos seus autores preferidos. Criador versátil, está há muito entre os do primeiro time da nossa MPB. Jards Macalé, por seu lado, embora menos conhecido pelo público em geral, é nome de referência de toda uma geração que aprecia música de qualidade. Faz parte do time dos “malditos” e é o autor, entre outras pérolas, de “Vapor Barato” e “Movimento dos Barcos”. É claro que, no recém-lançado álbum, há alguns momentos mais felizes que outros. Um dos melhores é “Decisão” (parceria de Melodia com Sérgio Mello), o que não se pode estender para a versão apresentada de “Anjo Exterminado” (de Macalé), canção gravada originalmente por Maria Bethânia em 1972, a qual, ao surgir agora com uma pegada mais para o rock, termina descaracterizando a contundência da letra. O velho e bom rock, no entanto, aparece bem adequado na underground “Soluços”, faixa em que a artista chega ao ápice da entrega. Geralmente uma cantora à vontade no terreno da alegria, Zezé acerta em cheio tanto no samba (em “Pano Pra Manga”, de Macalé e Xico Chaves) quanto no reggae (em “Vale Quanto Pesa”, de Melodia). Já pausas para momentos mais suaves aparecem com “Começar pelo Recomeço” (boa canção pouco conhecida resultante da parceria entre Melodia e Torquato Neto) e “Mal Secreto” (de Macalé e Wally Salomão, em registro mais linear que o de Gal Costa lançado no disco “Fatal” de 1971). E se a grife musical de Melodia aparece claramente em “Onde o Sol Bate e Se Firma”, os contornos melódicos de Macalé com suas indissociáveis características soturnas são a referência principal de “The Archaich Lonely Blue Star” (parceria com Duda). Há de se ressaltar o fato de que Zezé continua cantando bonito, não obstante o passar dos anos. Seu retorno ao mercado fonográfico merece, portanto, todo o entusiasmo de quem aprecia a música popular brasileira de qualidade. Agora, é ouvir e divulgar! N O V I D A D E S · O segundo álbum da cantora Tiê chegará às lojas, através da gravadora Warner, no comecinho de abril. Intitulado “A Coruja e o Coração” e produzido por Plínio Profeta, o trabalho (que foi gravado com banda, diferentemente do disco de estreia) contará com a participação especial do cantor e compositor uruguaio Jorge Drexler. O repertório prioriza temas autorais inéditos, mas também foram incluídas as regravações de “Mapa-Múndi” (de Thiago Pethit), “Só Sei Dançar com Você” (de Tulipa Ruiz) e “Você Não Vale Nada” (megahit da banda sergipana Calcinha Preta). · “Amor e Revolução”, a próxima novela do STB, terá uma trilha sonora formada por grandes nomes da nossa MPB, dentre os quais o da cantora Fafá de Belém que regravou especialmente para esse projeto as canções “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores” e “Carcará”. · Se vivo estivesse, Nelson Cavaquinho, um dos maiores nomes do nosso samba, estaria completando, em 2011, cem anos de vida. Para homenageá-lo, a gravadora EMI acaba de pôr no mercado o projeto “Degraus da Vida”, produzido pelo pesquisador musical Rodrigo Faour e composto por dois CD’s. No volume 1, podem ser ouvidos os maiores sucessos do compositor, várias deles criados ao lado de parceiros, dentre os quais Guilherme de Brito, o mais freqüente. Estão lá, por exemplo, pérolas do nosso cancioneiro tais como “Folhas Secas”, “A Flor e o Espinho”, “Juízo Final”, “Palhaço” e “Luz Negra” na interpretação de nomes como Beth Carvalho, Clara Nunes, Elizeth Cardoso, Elza Soares e Dalva de Oliveira. Já o volume 2 apresenta uma compilação de temas menos conhecidos, mas nem por isso de qualidade inferior. É o caso, entre outras, das faixas “Quero Alegria”, “Mesa Farta” e “Se Você Me Ouvisse” e aí se fazem presentes Emílio Santiago, Carlos Galhardo e Paulinho da Viola. Trata-se de uma excelente pedida enquanto não chega o tributo de regravações inéditas que a gravadora Lua Music tenciona pôr no mercado até o meio do ano! · Paulinho Pedra Azul celebra três décadas de carreira com o CD “30 Anos” que acaba de ser lançado através da gravadora Som Livre. Artista que sempre correu à margem das estratégias do mercado, ele apresenta um álbum coerente que é composto por doze faixas e conta com a participação especial do Padre Fábio de Melo em “Ave Cantadeira”. Os melhores momentos ficam por conta da belíssima “Cantar” (de Godofredo Guedes), “Jardim da Fantasia” e “Valsa do Desencanto” (ambas criações do próprio Paulinho, responsável também pela produção do disco). · A telenovela global “Insensato Coração” ganha mais um CD oficial para compor sua trilha sonora, desta feita uma edição totalmente voltada para o samba. Com a atriz Camila Pitanga na capa, o repertório traz nomes como Zeca Pagodinho (“Pôxa”), Arlindo Cruz (“Não Dá”), Marcelo D2 (“A Semente”), Marcos Sacramento (“A Voz do Morro”), Clara Redig (“Sonho Meu”), Paulinho da Viola (“No Pagode do Vavá”), Soraya Ravenle (“Tristeza”) e Teresa Cristina com Marisa Monte (“Beijo Sem”), entre outros. · A gravação ao vivo do show “Brasil Afora”, registrada em dezembro do ano passado no Espaço Tom Jobim, no Rio de Janeiro, chegará ainda neste semestre às lojas com o objetivo de comemorar os trinta anos de carreira dos Paralamas do Sucesso. Integrante da série “Multishow ao Vivo”, o projeto (que será disponibilizado em CD e DVD), conta com as participações de Zé Ramalho (em “Mormaço”) e Pitty (em “Tendo a Lua”). · O baterista carioca Domenico Lancellotti estará lançando, até o meio do ano, o CD intitulado “Cine Privê”, o qual chegará ao mercado através da Coqueiro Verde Records. O repertório prioriza temas autorais e inéditos. · E é também via Coqueiro Verde Records que será lançado o novo CD de Erasmo Carlos que terá como missão maior celebrar as sete décadas de vida do artista. Produzido por Liminha, o trabalho é aguardado com bastante curiosidade! RUBENS LISBOA é compositor e cantor Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br
· Cantora ainda pouco conhecida pelo público em geral, mas que já angariou assumidos fãs de categoria, como é o caso de Marisa Monte, a paulista Blubell acaba de lançar, através da gravadora YB Music, o seu segundo CD. Sugestivamente intitulado “Eu Sou do Tempo em que a Gente se Telefonava”, o álbum revela um constatável amadurecimento musical em relação ao disco de estreia (“Slow Motion Ballet”, de 2006). Produzido por ela ao lado de Maurício Tagliari, o novo trabalho tem nos arranjos o seu ponto alto. Com sonoridade que remete a um tom retrô, mas que no fundo traz muito de modernidade, o disco é composto por onze canções, embora “Chalala”, de longe a melhor das faixas, apareça em duas versões (frise-se que esse tema faz parte da trilha sonora da série “Aline” da Rede Globo). Blubell tem voz deliciosa que, embora soe às vezes infantil, revela uma artista pronta, o que se faz por realçar através dos vários efeitos utilizados, a exemplo do que ocorre em “Música”, a ótima canção de abertura. Como auxílio luxuoso, a artista conta com as participações especiais de Baby do Brasil (a que um dia já assinou Baby Consuelo) em “1,2,3,5” (outro destaque do repertório), Bruno Morais em “Triz” e Tulipa Ruiz em “Pessoa Normal” (mais um bom momento). Blubell assina sozinha a autoria de quase todas as faixas, abrindo-se a parcerias somente em três delas (com Luiz Venâncio e Pedro Baby). Quatro das canções foram compostas em inglês e nessa seara se destaca a balada-jazz “My Best”.
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