Musiqualidade

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A

 

Cantor: GERALDO AZEVEDO

CD: “SALVE SÃO FRANCISCO”

Gravadora: BISCOITO FINO

 

Quem vivenciou a efervescência musical dos anos setenta, uma década que realmente marcou a história da música popular brasileira, não pode ter passado batido pelas canções de Geraldo Azevedo, cantor e compositor pernambucano, nascido em Petrolina, que frequentou por anos a fio as paradas de sucesso com canções como “Dia Branco”, “Bicho de Sete Cabeças”, “Moça Bonita”, “Caravana” e “Táxi Lunar”, por exemplo, e contribuiu com ótimos temas para os repertórios de Amelinha, Elba Ramalho e Fagner, outros exemplos da arte musical de qualidade advinda do Nordeste brasileiro.

Artista múltiplo, vez que além de cantar e compor, toca com destreza seu inspirado violão, Geraldo teve suas raízes musicais construídas com influências que vão do internacionalmente reconhecido percussionista Naná Vasconcelos (com quem atuou no grupo Construção, assim que se mudou para Recife no comecinho da carreira) a Geraldo Vandré (combatido compositor de esquerda, a quem acompanhou no Quarteto Livre), passando por contemporâneos como Zé Ramalho e Alceu Valença que, àquela época, já optavam por fazer uma música diferenciada que tentava aglutinar o regionalismo inato com a multiplicidade de informações que chegavam de fora (foi ao lado de Alceu, inclusive, que Geraldo gravou, em 1972, seu primeiro disco).

Participante de diversos festivais e com várias músicas incluídas em trilhas sonoras globais, Geraldo é um expert tanto na alegria (frevos e forrós pontuam seu repertório com maestria) quanto no lado sentimental (algumas de suas baladas serviram de pano de fundo para o romance de vários casais) e gosta de compor com diversos parceiros, o que contribui para uma pluralidade de resultado.

Depois dos dois volumes de “Uma Geral do Azevedo”, gravados ao vivo e lançados em 2009, acaba de chegar ao mercado, através da gravadora Biscoito Fino, o CD intitulado “Salve São Francisco” (o DVD homônimo sairá no final de abril). Nesse trabalho temático, Geraldo lança luzes sobre o rio que aprendeu a conviver e a respeitar desde criança. Gravado entre 2008 e 2009, somente agora o produto está sendo lançado e o fato é que vem em muito boa hora quando a outrora tão discutida transposição do Velho Chico parece ter sido de certa forma esquecida pela mídia. O trabalho resulta também em uma ótima baforada na carreira de Geraldo que, infelizmente, vinha se mostrando um tanto apática de uns tempos para cá. Composto por doze canções, o CD vem recheado de participações especiais. Cada uma das faixas traz um artista diferente, com exceção de “São Francisco Help” (de Geraldo em parceria com Galvão) que conta com a presença de cinco dos convidados.

Sete das canções são de autoria do próprio artista, criadas em parceria com seus colaboradores. Completam o repertório músicas de lavra alheia assinadas por Geraldo Amaral (“Águas Daquele Rio”, contando com a adição vocal deste), “Francisco Francisco” (de Roberto Mendes e Capinan, com a participação do primeiro), “Riacho do Navio” (conhecida canção de Luiz Gonzaga e Zé Dantas e que traz Alceu Valença), “O Ciúme” (uma das maiores pérolas de Caetano Veloso que tem Ivete Sangalo, nascida em Juazeiro-BA, como convidada) e “Saudade do Vapor” (de e com Vavá Cunha).

A voz de Geraldo – é constatável – já não possui a potência e a limpidez dos áureos tempos, mas a experiência faz com que ele consiga driblar os efeitos do cansaço, alcançando um resultado satisfatório. Alguns dos melhores momentos desse álbum ficam por conta de “Santo Rio” (parceria de Geraldo e Carlos Fernando, contando com a participação de Dominguinhos), “São Francisco São” (de Geraldo, Clóvis Nunes e Geraldo Amaral, com a voz de Márcia Porto) e “Opara” (outra de Geraldo e Clóvis, com a presença de Fernanda Takai). Completam o time de convidados Maria Bethânia (em “Carranca que Chora”, de Geraldo e Capinan), Djavan (em “Barcarola do São Francisco”, de Geraldo e Carlos Fernando) e Moraes Moreira (em “Petrolina e Juazeiro”, criação dos dois).

Geraldo Azevedo segue na estrada, desta feita cantando o rio da integração nacional. Sua trajetória musical é marcada pela sinceridade e coerência. Vale a pena conhecer!

 

 

N O V I D A D E S

 

· Custódio Mesquita é considerado um dos precursores da moderna música popular brasileira e teve seu período áureo nas décadas de trinta e quarenta. Compositor de melodias e harmonias requintadas, ele, também um virtuoso pianista, popularizou-se como autor de samba-canções e marchas e teve músicas de sua autoria gravadas por grandes ícones atemporais, a exemplo de Silvio Caldas, Carmen Miranda, Orlando Silva, Ângela Maria e Dalva de Oliveira. Se vivo estivesse, teria completado centenário em 2010 (faleceu precocemente, aos trinta e cinco anos). É em sua homenagem que está chegando ao mercado um mais que merecido tributo feito pelo cantor paulistano Carlos Navas (o qual, em 2007, já tinha dedicado seu ótimo álbum “Quando o Samba Acabou” ao repertório do cantor Mário Reis). Trata-se do CD intitulado “Junte Tudo que É Seu…”, gravado com o acompanhamento único do piano de Gustavo Sarzi. Carlos Navas é um intérprete corretíssimo que sempre sabe o que está cantando. Dono de voz bonita, segura e aveludada, com um timbre personalíssimo, ele soube escolher a dedo as doze faixas que compõem esse novo e especial trabalho. É claro que, no repertório selecionado, estão alguns dos grandes sucessos de Custódio, a exemplo de “Velho Realejo” (parceria com Sadi Cabral), “Saia do Caminho” (composta com Evaldo Ruy, o colaborador mais frequente) e “Nada Além” (criada ao lado de Mário Lago, fox que surge com a participação especial da cantora Rosa Marya Collin), mas o ouvinte também poderá encontrar pérolas menos conhecidas, como é o caso de “Valsa de um Subúrbio”, “Como os Rios que Correm pro Mar” e “Noturno em Tempo de Samba” (todas parceiras de Custódio e Evaldo), alguns dos melhores momentos do álbum ao lado da simples mas deliciosa “Doutor em Samba” (faixa que é assinada apenas por Custódio). E há ainda espaço para abrigar a única parceria do homenageado com Noel Rosa (“Prazer em Conhecê-lo”), além da versão instrumental de “Flauta, Cavaquinho e Violão” (de Custódio e Orestes Barbosa). Outra convidada desse recém-lançado trabalho é Alzira E, a qual se mostra perfeitamente adequada ao clima de “Nossa Comédia” (também de Custódio e Evaldo). Um disco acima de média que merece fazer parte de toda cedeteca que se preze!  

 

· O saxofonista Léo Gandelman está abrindo um selo próprio, o SaxSamba, que estreia no mercado fonográfico com o lançamento do CD intitulado “Origens – Concerto para Sax e Piano”. No disco dividido com as pianistas Estela Caldi e Maria Teresa Madeira, ele apresenta temas assinados por, entre outros, Heitor Villa-Lobos, Radamés Gnattali e Ernesto Nazareth.

 

· O segundo CD da sambista Aline Calixto já começa a ganhar forma. Com a produção assinada pelo baixista Arthur Maia, o novo álbum trará no repertório canções assinadas por bambas como Arlindo Cruz, Paulinho da Viola e Zeca Pagodinho, dentre outros, e contará com a participação especial de Martinho da Vila.

 

· A gravadora Biscoito Fino está lançando o CD intitulado “Alento”, primeiro título póstumo do clarinetista Paulo Moura. Gravado com o grupo carioca Teatro do Som, o álbum traz temas inéditos do músico em parceira com Alex Meirelles e Ricardo Feijão.

 

· “No Grau” é o título do novo CD do cantor e compositor pernambucano Silvério Pessoa que chega às lojas de maneira independente. Entre os destaques estão as faixas “A Volta do Mar”, “O Povo Canta”, “Ballet dos Pirilampos” e “Toma”. De forma concomitante, o artista também está lançando o álbum “Collectiu”, projeto conceitual que o conecta a bandas occitans do sul da França (a Occitânia é uma Nação sem Estado da Europa, situada entre Espanha, Itália e o sul da França) e no qual enfileira emboladas, cocos, cirandas, baiões e maracatus. Ao gosto do freguês!

 

· “Íntimo” é o título do novo CD de Fábio Jr., o qual estará chegando ao mercado ainda neste mês de março através da gravadora Sony Music. O trabalho conta com as participações especiais de seus filhos Fiuk e Tainá nas faixas “Carango” (de Nonato Buzar e Carlos Imperial) e “Fullgás” (de Marina Lima e Antônio Cícero), respectivamente.

 

· O segundo disco solo de Marcelo Camelo chegará às lojas em abril numa parceria entre a gravadora Universal e o selo do próprio artista, Zé Pereira. Camelo mesmo produziu o álbum que foi mixado pelo produtor norte-americano Victor Rice, do coletivo Easy Star All-Stars. Intitulado “Toque Dela”, o CD traz como primeira faixa de trabalho a canção “Ô, Ô” e aglutina, na ficha técnica, nomes como o grupo Hurtmold, o emergente Marcelo Jeneci e o famoso trompetista Jessé Sadoc.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor

Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br  

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