M U S I Q U A L I D A D E Cantora: NÁ OZZETTI CD: “MEU QUINTAL” Gravadora: BORANDÁ Curioso um país como o nosso que superlota ginásios e estádios com ídolos pré-fabricados, os quais se esgoelam em agudos no mínimo irritantes, e não se deixa seduzir por cantoras como Ná Ozzetti, há anos no atento construir de uma carreira coerente, lançando discos com regularidade e dona de uma técnica irretocável. Egressa do grupo Rumo, Ná não frequenta as trilhas sonoras das telenovelas globais. Tampouco nenhum de seus álbuns se transformou em campeão de vendas. Seu nome, no entanto, é cultuado por quem realmente entende do riscado, sejam instrumentistas virtuosos que sonham em poder acompanhá-la nos palcos, seja uma pequena parcela do público que, de maneira alternativa e corajosa, insiste em valorizar os verdadeiros talentos. Acaba de chegar às lojas, através da gravadora Borandá, o nono e interessante CD dessa intérprete vigorosa, de timbre único e cativante, que não precisa levantar o tom para mostrar o que mais sabe fazer: cantar bonito. Produzido por Mário Manga e festejando os trinta anos da trajetória dela, o trabalho já se entrega no título escolhido, o mesmo da canção que o abre: “Meu Quintal” (Ná atualmente vive em um sítio nas redondezas de São Paulo). Esse é, decerto, o mais autoral dos discos já lançados pela artista. Composto por uma dúzia de canções, o repertório se concentra em onze parcerias dela com artistas que admira e que, de uma ou de outra forma, fazem parte de seu ambiente musical. A única exceção é a canção “A Velha Fiando”, uma parceria de seu irmão, o violonista Dante Ozzetti, com o exímio letrista Luiz Tatit. Nesta faixa, aliás, por conta do intrincado encaixe da letra com a melodia, Ná dá um banho à parte no que tange à respiração. Seu fôlego e o entendimento do que canta merecem, aliás, um louvor à parte. No todo, o CD não é fácil de ser degustado, nem há como se esquivar dessa realidade. Raros temas prendem o ouvinte à primeira audição, como é o caso, por exemplo, de “Onde a Vista Alcança” (parceria de Ná com Makely Ka) ou de “Acordo de Amor” (dela com Alice Ruiz e Neco Prates), dois dos melhores momentos apresentados. No geral, as músicas exigem redobradas audições para que possam se fixar de maneira mais profunda. É que a arte de Ná exige atenção, exige sensibilidade, exige tempo. Os arranjos surgem praticamente acústicos e é por aí que a voz doce e melodiosa da artista soa como mais um instrumento. Cercada por uma concisa banda formada pelos já citados Dante (violões) e Manga (guitarras, violoncelo e violão tenor), além de Sérgio Reze (bateria) e Zé Alexandre Carvalho (contrabaixo), Ná toma “Chuva” (parceria com Carol Ribeiro) sem medo de se molhar e mostra “Equilíbrio” (dela e Tati), mesmo quando se depara com harmonias complexas. Outros destaques do repertório ficam por conta de “Tupi” (de Ná e Arthur Nestrovski), “Sobrenatural” (composta ao lado de Zélia Duncan) e “Baú de Guardados” (outra feita com Alice Ruiz). Refinado e antenado nas medidas certas, o novo CD de Ná Ozzetti é mais um acerto dessa grande cantora, ela que já soube, com maestria ímpar, transitar tanto pela vanguarda como pela revisita à tradição. Altamente recomendado para quem prima pelo bom gosto! N O V I D A D E S · O clarinetista sergipano Luiz Americano, falecido em 1969, tão pouco conhecido e valorizado pelos seus conterrâneos, mas um nome de incontestável valor na história da nossa música popular posto que foi pioneiro ao utilizar a clarineta na instrumentalização do choro, tem três de seus discos remasterizados e lançados em formato CD através do selo curitibano Revivendo (cada um deles contém vinte faixas). O projeto surge sob o título “50 Anos de Saudade” e traz o talentoso músico executando choros, maxixes e valsas, além de rememorar encontros marcantes com feras como Radamés Gnatalli, Vadico e Vicente Paiva. · O Trio Madeira Brasil, formado por Marcello Gonçalves (violão de sete cordas), Ronaldo do Bandolim (bandolim) e Zé Paulo Becker (violão e viola caipira), que vem acompanhando a cantora Roberta Sá em shows relativos ao mais recente trabalho da potiguar (“Quando o Canto É Reza”), faz voltar ao catálogo, através de uma parceria entre as gravadoras Universal e a MP,B, e com nova capa e encarte, o belo CD instrumental originalmente lançado em 1998 via Kuarup. No primoroso repertório estão temas assinados, entre outros, por Ernesto Nazareth, Edu Lobo e Egberto Gismonti. · A gravadora Deck estará lançando no próximo mês, nos formatos CD, DVD e vinil, o mais novo projeto da cantora Pitty. Trata-se de “A Trupe Delirante no Circo Voador”, registro ao vivo do show apresentado em dezembro de 2010 e que traz, no previsível repertório, a inédita canção “Comum de Dois”. · No próximo mês estará chegando ao mercado, através da gravadora Biscoito Fino, o novo CD de Mônica Salmaso. Intitulado “Alma Lírica Brasileira”, esse aguardado álbum trará a voz macia e trabalhada da cantora em canções assinadas por nomes como Tom Jobim, Herivelto Martins e Zé Miguel Wisnik, entre outros. · O álbum mais vendido da discografia do Skank, “O Samba Poconé” foi lançado originalmente em 1996. Pois esse título retornará ao catálogo no segundo semestre com a adição de algumas sobras de estúdio, registros feitos em demo e a versão em inglês de “É Uma Partida de Futebol”, gravada para o disco oficial da Copa do Mundo de 1998, “Alllez! Ola! Olé!”. Um presente e tanto para os milhares de fãs do grupo! · Depois de um recesso opcional, a banda Kid Abelha anuncia sua volta aos palcos com “Glitter de Principiante”, show que ira ganhar registro ao vivo a ser editado em CD, DVD e blu-ray. O repertório alia algumas músicas inéditas com sucessos colecionados ao longo da vitoriosa carreira. RUBENS LISBOA é compositor e cantor Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br
· Três jovens talentos cariocas se reuniram para fazer música da melhor qualidade. É pop? Sim! É rock, sim? Mas resultou em uma combinação das mais felizes. Tanto que o CD intitulado “Quero Ser Cool”, um lançamento do selo Discobertas, já se encontra em sua segunda tiragem, fazendo com que o Les Pops se consolide como uma das grandes novidades do cenário musical brasileiro na atualidade. Formado por Rodrigo Bittencourt (guitarra), Daniel Lopes (guitarraxo) e Thiago Antunes (ukelele, acordeão, banjo e bandolim), todos eles também desempenhando concomitantemente carreira profissional solo, o grupo apresenta um trabalho majoritariamente inédito e autoral, vez que nove das onze canções que compõem o repertório do álbum são assinadas por eles próprios. As exceções ficam por conta das ótimas regravações da recente “Macaco Pavão” (de Wado) e da já antológica “Camisa Listrada” (de Assis Valente), temas separados por décadas de criação, mas que comprovam o universo plural escolhido. Os três responsabilizam-se pelos vocais e a voz solo das músicas também é alternada entre eles. Os temas ora passeiam pela crítica ao modismo musical indie, como na faixa-título, ora mergulham, de forma descontraída, sobre as peripécias amorosas, como na faixa “Esmalte”, um dos destaques do repertório, ao lado da contagiante “E La Nave Va”, da delicada “A Canção” e da espirituosa “Aluguel em Abbey Road”. Cumpre destacar, nos arranjos, a adesão sempre correta e eficiente do baterista Raphael Miranda. Vale super a pena conhecer!
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