Musiqualidade

L A N Ç A M E N T O    1

 

Cantor: TOQUINHO

CD: “MOSAICO”

Gravadora: CIRCUITO MUSICAL

 

E no apagar das luzes de 2005, chegou ao mercado um novo trabalho do compositor e cantor Toquinho. Trata-se do CD intitulado “Mosaico”, um lançamento praticamente independente, no qual o artista apresenta doze temas letrados por Paulo César Pinheiro.

 

As canções que compõem o disco se originaram da trilha sonora de uma peça de autoria de Millôr Fernandes, encenada em 2000, a qual tinha por objetivo comemorar os 500 anos do Brasil. Toquinho recebeu o convite da produção para compor as músicas e imediatamente ligou para Paulo César pedindo que este dividisse o trabalho com ele. Como ambos, de há muito, se admiravam mutuamente, mas nunca haviam trabalhado antes, o convite foi aceito de pronto. A peça ficou poucos dias em cartaz, porém as belas canções compostas não poderiam ficar engavetadas para sempre. Assim, cinco anos depois, chegou às lojas um disco primoroso que, em síntese, conta, através da música, a história do Brasil.

 

Toquinho ficou conhecido quando, nos anos setenta, compôs várias pérolas da nossa MPB com Vinicius de Moraes. Paulo César foi casado com a cantora Clara Nunes e é, de longe, o mais injustiçado dos autores brasileiros. Autor de diversas músicas que já se tornaram antológicas, sua produção é inesgotável e tão abundante quanto de qualidade. É um dos melhores compositores de toda a história da nossa música popular, mas, infelizmente, ainda é quase que desconhecido do grande público.

 

Não poderia, então, resultar em pouca coisa um disco assinado por essas duas “feras”. São belas melodias revestidas por letras de inteligência rara e emolduradas por eficazes arranjos. Há fado (a canção “Fado”), maracatu (“Tambor Cafuzo”), baião (“Descobrimento”, com a participação de Dominguinhos no acordeão), samba-reggae/ijexá (“Negro Rei”) e sambas (“História da Corte” e “Pindorama Brasil”), mostrando a pluralidade deste imenso Brasil (“Nossa raça é um mosaico disso / O Brasil é um país mestiço / É o clero, é a nobreza, é o mangue / É a favela, é o palácio, é o gueto / É o índio, é o branco, é o preto / É a herança que está no sangue”).

 

Enfim, um CD fantástico que não poderia deixar de estar presente em todos os lares tupiniquins!

 

 

L A N Ç A M E N T O    2

 

Cantora: PAULA SANTORO

CD: “PAULA SANTORO”

Gravadora: BISCOITO FINO

 

Anunciado pela gravadora Biscoito Fino como sendo o primeiro CD da mineira Paula Santoro, na realidade o álbum que acaba de chegar ao mercado é o terceiro da carreira da cantora. Antes, ela lançou dois discos sem qualquer expressividade e que passaram à margem do grande público (“Santo”, equivocado trabalho de sotaque eletrônico editado em 1996 e puxado pela releitura em estilo dance de “A Festa do Santo Reis”, hit antigo de Tim Maia, e “Sabiá”, gravado em 2002, contendo músicas de Vander Lee, Tom Jobim e Ary Barroso, entre outros).

 

O trabalho atual vem embalado pela produção do sempre competente Rodolfo Stroeter e mostra uma cantora segura, afinada e dona de rara técnica vocal. Todavia, não se pode deixar de ressaltar que, em alguns momentos, o timbre e a empostação vocal lembram muito Leila Pinheiro (as faixas “Nós Dois” e “Rainha do Meu Samba” são claros exemplos disso).

 

Paula, além de muito bonita, é dona de elegante presença de palco e no CD pretendeu combinar elementos de samba, MPB e jazz. Porém, o fato é que ela poderia ter ousado um pouco mais no repertório, o qual, por vezes, soa um pouco sem sal. Com exceção da já citada “Rainha do Meu Samba”, uma parceria de Seu Jorge com Robertinho Brant, e de “Não é Céu”, bela canção da recente safra do gaúcho Vitor Ramil, as demais canções pertencem a compositores bastante conhecidos, o que, querendo ou não, evidencia o caráter meio que datado da obra.

 

Há a releitura de uma canção menos conhecida e menos inspirada de Vinicius de Moraes (“Se Você Disser Que Sim”, parceria com o cultuado maestro Moacir Santos) e a participação especial de um Chico Buarque cansado em “Sem Fantasia”, bela música de autoria do poeta de olhos cor de ardósia. Entre bons achados (como “É Sério”, uma bissexta parceria entre Djavan e Fátima Guedes, e “Perfume de Cebola”, uma deliciosa quebrada de Filó Machado e Cacaso), Paula ainda solta a sua voz em “Yemanjá Rainha”, canção menor de Moacyr Luz e Aldir Blanc, e nas insossas “Como Se a Vida Fosse Música” (dos conterrâneos Nelson Ângelo e Murilo Antunes) e “Céu no Cio” (de Eduardo Neves e Mauro Aguiar).

 

O grande violonista Toninho Horta também participa do trabalho: toca em “Nós Dois” (de Vicente Paiva e Fernando Martins) e divide os vocais em “Segue em Paz” (inédita parceria dele com Milton Nascimento), em dois dos melhores momentos do CD. Desnecessária mesmo se fez a regravação de Paula para “Léo” (de Milton e Chico), uma das canções mais difíceis de cantar de que se tem notícia em toda a MPB. Aqui, ela derrapa feio, principalmente se for comparada a sua versão com a belíssima gravação original feita por Milton no disco duplo “Clube da Esquina 2”, lançado em 1978.

 

No entanto, como saldo geral, nada que possa vir a comprometer gravemente um trabalho que resulta bem acima da média. De resto, só torcer para que a carreira de Paula Santoro, daqui para a frente, deslanche de vez.

 

 

N O V I D A D E S

 

·               Inaugurando o selo Duncan Discos, da talentosa e incansável Zélia Duncan, está nas lojas o CD “Paralelas”. O projeto, que tem à frente a cantora Alzira Espíndola (irmã de Tetê) e a poetisa Alice Ruiz (esposa do falecido escritor Paulo Leminsky), é uma miscelânea de canções e poemas bem costurados e que revelam o talento de ambas as artistas. Se há algum problema a se registrar, este fica por conta dos arranjos (alguns meio insossos) que terminam por dar uma feição muito parecida à maioria das faixas. Há as participações especiais da própria Zélia e do ex-titã e atual tribalista Arnaldo Antunes. Os destaques ficam por conta de “Ladainha”, “Overdose”, “Para Elas” e “Invisível”.

 

·               Para comemorar vinte anos de carreira, o baiano fricoteiro Luiz Caldas terminou de gravar um DVD ao vivo, para o qual contou com as participações de Carlinhos Brown, Armandinho e Ivete Sangalo.

 

·               O segundo disco da banda Mombojó (que será lançado pela gravadora Trama) terá como convidado especial o cantor Tom Zé. O CD, que possui a produção dividida entre os músicos Lúcio Maia e Ganja Man, tem o seu lançamento previsto para o mês de abril. Tom Zé participa da faixa “Realismo Convincente” que cita versos do samba “Tô”, de sua autoria, o qual, em 2004, foi regravado pelas cantoras Adriana Maciel e Zélia Duncan.

 

·               Em seu quinto trabalho em CD, a paraibana Renata Arruda optou por fazer um álbum acústico, nos moldes de seu belo trabalho anterior. Dessa vez, todavia, regravou precipitadamente alguns hits de sua própria e ainda curta discografia (“Porta do Sol”, “É Ouro Pra Mim”, “Cidade de Isopor” e “Sangue Latino”) ao lado de outras canções por demais conhecidas do grande público (“Espumas ao Vento” e “Roendo Unha”). A sonoridade do disco é legal, a voz da garota é poderosa, mas a cantora deveria e poderia ter arriscado mais! Dentre os destaques do trabalho estão as faixas “Faço de Tudo” (parceria de Renata com Sandra de Sá), “Hoje eu Quero Sair Só” (de Mu Chebabi, Lenine e Caxa Aragão) e “Soberano Desprezo” (de Bráulio Tavares).

 

·               Com distribuição feita pela Sony & BMG, a pequena gravadora Albatroz põe no mercado oportuna coletânea de canções gravadas por Oswaldo Montenegro, as quais foram originalmente registradas em trabalhos que o menestrel lançou pelo selo. Dentre os destaques, “Meu Amigo, Meu Herói” (de Gilberto Gil), “Sinal Fechado” (de Paulinho da Viola) e “Muito Romântico” (de Caetano Veloso), além “A Lista” e “Drops de Hortelã”, estas de autoria do próprio Oswaldo.

 

·               Filmado no Carnaval de Salvador em 2005 com câmeras de alta definição, estará em breve chegando às lojas o DVD “Baile Barroco”, nova empreitada da talentosa Daniela Mercury. E por falar nessa baiana arretada, ela virou parceira de seu filho Gabriel Póvoas, de 19 anos. Juntos, os dois compuseram três músicas para a trilha sonora do filme “Os Desvalidos”, dirigido pelo cineasta Francisco Ramalho Jr. e baseado no romance homônimo do sergipano Francisco Dantas.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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