MUSIQUALIDADE

                                                                                                                                    

R E S E N H A   1

Cantora: THAÍS GULIN

CD: “ôÔÔôôÔôÔ”

Gravadora/Selo: SOM LIVRE/SLAP

 

 

Quando lançou, em 2006, através da pequena gravadora Rob Digital, o seu primeiro CD intitulado “Bloco da Solidão”, a cantora curitibana Thaís Gulin começou a ser conhecida no meio musical, embora de forma restrita aos aficcionados pela boa música popular brasileira. De lá para cá, ela vinha se preparando para o segundo disco, o qual, depois de considerável tempo de maturação, chegou recentemente às lojas através do selo Slap, ligado à gravadora Som Livre que faz parte das Organizações Globo.

Só por isso já é de se esperar que este ano o Brasil será bombardeado por uma potente campanha de marketing que terá como objetivo, nos moldes do que aconteceu recentemente com Maria Gadú, tornar Thaís conhecida de norte a sul do país. A certeira inclusão de algumas canções desse recém-lançado trabalho em trilhas de telenovelas globais servirá como alavanca para a execução maciça do aludido álbum que se fez caracterizado por uma sonoridade moderna e recebeu o título de “ôÔÔôôÔôÔ”, a primeira faixa de trabalho, um (bom) anti samba-enredo de autoria da própria artista.

Sim, Thaís faz parte da categoria das cantoras que também compõem. Inteligente, no entanto, e ciente de que uma intérprete que se preza não deve (e nem pode) se restringir às suas próprias criações sob o risco de se tornar repetitiva (compositor eclético é, de fato, hoje, uma raça em extinção), ela construiu um disco plural, dosando-o com material próprio e alheio e com canções inéditas e regravações, estas, contudo, sabiamente fugindo das escolhas óbvias.

Cantora sensível, segura e afinada, ela não é dona de um timbre particularmente especial, mas possui incontestável carisma, o que se pode depreender de uma audição inicial do disco, o qual, após repetidas vezes, vai-se mostrando realmente sedutor. Produzido por dois dos melhores profissionais da área na atualidade, Kassin e Alê Siqueira, o CD é composto por treze faixas (a última alocada, “Paixão Passione”, de Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza, surge como bônus track), embora uma delas, “The Glory Hole” seja tão somente uma vinheta instrumental assinada pela cantora ao lado dos já citados produtores. Dentre as canções de autoria de Thaís, a melhor delas é, sem sombra de dúvida, a bonita e soturna valsa “Horas Cariocas”, muito embora “Quantas Bocas” (parceria dela com Ana Carolina e Kassin), também tenha lá o seu charme com sua aura de tango.

O grande mérito do repertório, no entanto, reside no fato de apresentar duas ótimas canções inéditas, uma de Chico Buarque (“Se Eu Soubesse”), que atual e supostamente estaria tendo um romance com Thaís, e outra de Tom Zé (“Ali Sim, Alice”), esta um verdadeiro achado do compositor baiano. Os dois, aliás, surgem como convidados especiais do álbum, cada qual presente na faixa de sua autoria. Outros grandes momentos ficam por conta das apropriadas releituras de “Revendo Amigos” (de Jards Macalé e Wally Salomão), “Cinema Americano” (do emergente e talentoso Rodrigo Bittencourt) e “Água” (tema de Kassin que também vem sendo propagado por Caetano Veloso).

Trata-se de um CD bem interessante que já se consubstancia como um dos grandes lançamentos deste ano. Vai virar moda. Antes disso, seja rápido e ouça-o!

 

R E S E N H A   2

 

Cantor: MARCELO CAMELO

CD: “TOQUE DELA”

Gravadora: UNIVERSAL

 

 

Egresso da banda Los Hermanos, aquela que (embora hoje, a contragosto de seus ex-integrantes) explodiu nacionalmente com o megahit “Anna Júlia”, o cantor e compositor Marcelo Camelo viu seu nome ser reverenciado quando teve três de suas criações gravadas, em 2003, no aclamado CD de estreia da cantora Maria Rita, a eterna filha de Elis Regina (as ótimas “Cara Valente”, “Santa Chuva” e “Veja Bem Meu Bem”). É bem verdade que, antes disso, em 2001, ele já havia mostrado grandes doses de inspiração no álbum “Bloco do Eu Sozinho”, de longe o mais interessante da curta discografia da supracitada banda e do qual constam as belas “Todo Carnaval Tem Seu Fim” e “Casa Pré-Fabricada”. Quando partiu para a carreira solo, Camelo lançou, em 2008, um primeiro disco (“Sou”) marcado por enorme melancolia e a verdade é que, ali, não conseguiu manter acesa a chama da criatividade demonstrada anteriormente.

Três anos depois, acaba de chegar ao mercado, através da gravadora Universal, o seu segundo CD. Sugestivamente intitulado “Toque Dela”, denota amadurecimento, inclusive a nível sentimental, posto que a maioria das letras das dez faixas que compõem o repertório revela um amante entregue às suas paixões (Camelo namora atualmente e já há algum tempo a também cantora Mallu Magalhães, cuja presença, nesse recém-lançado trabalho, se restringe ao coro da canção “Vermelho”, um dos destaques da nova safra do artista).

Inteiramente autoral (todas as músicas são assinadas por ele sozinho, exceção feita apenas para “Três Dias”, outro dos bons momentos, uma parceria com o quadrinista André Dahmer), o CD, nos quesitos sonoridade e estética, não se distancia muito do primeiro: Camelo escora os arranjos, em sua maioria, em naipe de sopros e o grupo Hurtmold desta feita o acompanha em sete faixas (três a mais que no anterior). Marcelo Jeneci é um outro nome frequente na ficha técnica de um álbum que cresce consideravelmente em sua segunda metade. Dentre os melhores instantes estão as canções “Pra Te Acalmar”, “Meu Amor É Teu” e “Despedida” (esta também já gravada pela mesma Maria Rita em seu CD “Segundo”, de 2005).

Multi-instrumentista, Camelo nunca foi (e decerto não será) o melhor intérprete de suas próprias composições. Cantor mediano, seu timbre é comum e ele não chega a empolgar (mesmo que pareça não ser mesmo esse o seu intento), mas como autor continua a ter alguns ótimos lampejos criativos.  

Com um estilo extremamente pessoal e demonstrando afinco no que faz, Marcelo Camelo segue seu caminho musical, abraçando suas dúvidas e certezas. Conferir isso pode ser uma boa!

 

 N O V I D A D E S

 

* Thiago Ribeiro é um artista sergipano que reside em Salvador (BA) há anos. E foi lá que ele gravou o seu primeiro CD, o qual foi recentemente lançado de maneira independente. Intitulado “Fragmentada” e produzido por ele próprio, o álbum é composto por onze faixas, todas elas de sua autoria (em apenas duas delas ele se abre a parcerias com Santana da Silva). Exímio instrumentista (toca com destreza especialmente guitarra e violão), Thiago é um grande cantor, de voz potente e afinada. Como compositor, expõe suas vivências, por vezes recheadas de melancolia e solidão, através de melodias onde a pegada roqueira se destaca. Dedicado à irmã Gena Ribeiro, cantora especialíssima que nos deixou tão cedo, o CD conta com a participação de alguns dos melhores músicos sergipanos, a exemplo de Diogo Montalvão (teclados), Robson Souza (baixo), Júlio Rêgo (gaita) e Dudu Prudente (percussão). Entre os destaques do repertório, além da faixa-título, estão “A Correnteza”, “Soraya Só”, “A Teia” e “Sombra”, esta contando, no inspirado arranjo, apenas com o violão e um punhado de vozes, todas elas a cargo do talentoso Thiago. Muito legal!

* Ainda neste primeiro semestre estará chegando às lojas o segundo CD da sambista Aline Calixto. A cantora, que tem trânsito livre entre os bambambãs do gênero, ganhou de Zeca Pagodinho uma música inédita: trata-se de “Flor Morena”, composta por ele ao lado de Arlindo Cruz e Junior Dom.

* Com ideia original de Mariana Aydar, Duani e Eduardo Nazarian, o cineasta Felipe Briso encontra-se a todo vapor com as gravações do documentário “Dominguinhos, Volta e Meia”, o qual homenageia o famoso sanfoneiro. Recentemente, o artista recebeu o compositor e pianista João Donato e, em estúdio, acompanhados por Wilson das Neves na bateria e por Luiz Alves no baixo, os dois registraram as músicas “Plantio do Amor” (de Dominguinhos) e “Minha Saudade” (de Donato). Deverão também participar da película nomes ligados à trajetória musical do homenageado, tais como Elba Ramalho, Nando Cordel e Gilberto Gil, entre outros.

* Theodoro Reis é filho do cantor e compositor Nando Reis e integrante da banda de reggae Zafenate, a qual acaba de lançar o primeiro CD através da gravadora Universal. A produção ficou sob a responsabilidade do baixista Fernando Nunes.

* Para comemorar as oito décadas de vida de Cauby Peixoto, a gravadora Lua Music anuncia para muito em breve o lançamento de um box intitulado “Cauby Peixoto – O Mito – 60 Anos de Música”, o qual conterá três CD’s. No volume 1 (“A Voz do Violão”), o artista interpretará canções de Caetano Veloso, Gonzaguinha, Chico Buarque e outros apenas acompanhado pelo violonista Ronaldo Rayol. O volume 2 (“Caubytles”) abordará o cancioneiro mais romântico dos Beatles. Já o volume 3 (“Cauby ao Vivo com seus Amigos”) se trata do registro ao vivo de apresentações realizadas recentemente no Teatro Fecap, em São Paulo, em que o grande intérprete de “Conceição” recebeu amigos como Ângela Maria, Agnaldo Rayol, Agnaldo Timóteo, Emílio Santiago, Fafá de Belém e Vânia Bastos.

* “Alma Música” é o título do CD que chegará ao mercado ainda neste primeiro semestre através da gravadora Biscoito Fino e que reunirá pela primeira vez Francis e Olívia Hime, marido e mulher há décadas, em um trabalho inteiro. O repertório contemplará sucessos de várias épocas da música popular brasileira.

* Daniel Chaudon é cantor brasiliense que reside no Rio de Janeiro há anos. Participante, em 2004, da terceira edição do programinha “Fama” da Rede Globo, o jovem encontra-se atualmente em estúdio gravando as canções que farão parte de seu primeiro CD, o qual estará chegando ao mercado em breve. Com a produção a cargo de Clemente Magalhães, o trabalho já tem como certa a participação especial de Maria Gadú na faixa “Luzia”, insuspeita parceria do artista com a atriz Alinne Moraes. Quem viver, ouvirá!

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor

Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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