R E S E N H A
Cantores: CAETANO VELOSO e MARIA GADÚ
CD: “MULTISHOW AO VIVO – CAETANO E MARIA GADÚ”
Gravadora: UNIVERSAL / SOM LIVRE
Caetano Veloso é, sem sombra de dúvida, o artista da nossa música que há mais tempo é contratado da multinacional Universal. Ele faz parte do seu cast desde o início da carreira, em 1967, quando estreou no mercado fonográfico ao lado de Gal Costa no disco “Domingo” e a gravadora ainda se chamava Philips.
Maria Gadú é, decerto, a artista da nossa música que, de uns cinco anos para cá, mais se destacou. Lançada com estardalhaço através de uma bem bolada estratégia de marketing levada a cabo pela gravadora Som Livre (através de seu selo Slap), um dos braços da poderosa Organizações Globo, ela viu a maioria das faixas de seu bom primeiro CD incluída em trilhas sonoras de diversas novelas.
Caetano desde sempre se mostrou um artista aberto a novidades musicais e, de uns tempos para cá, inteligente que é, na contramão da maioria de seus acomodados colegas de geração, vem se unindo a nomes jovens e emergentes na salutar tentativa de arejar a sua obra e de conquistar fatias de público ligadas às gerações mais recentes.
Gadú é egressa de barezinhos noturnos e, quando neles se apresentava, costumava incluir canções de autoria de Caetano, de quem sempre se mostrou fã.
Aproveitando o momento que se mostrou propício, uma operadora de TV paga teve a ideia de uni-los em um show, o qual, viabilizado alternativamente nas brechas das apresentações solos dos dois, vem percorrendo o Brasil com enorme receptividade. É o registro desse encontro que acaba de chegar às lojas nos formatos CD duplo e DVD através de uma parceria entre as duas supracitadas gravadoras.
Com um repertório formado por vinte e seis faixas, o produto dirigido por Rodrigo Vidal e Paul Ralphes foi formatado de maneira simples, de modo que o palco é preenchido somente pelos dois artistas munidos de seus violões. A maioria das canções é de autoria dos dois (Caetano relembra os seus grandes sucessos, abrindo espaço mais recente apenas para “Odeio”, de seu CD “Cê”, lançado em 2006, e Gadú mostra, em estado bruto, as músicas que mais se destacaram de seu álbum de estreia, lançado em 2009, com destaque para a delicada “Dona Cila” e para a contundente “Escudos”). As incursões em searas alheias são raras e ficam por conta apenas de “Tudo Diferente” (de André Carvalho), “A História de Lilly Braun” (de Chico Buarque e Edu Lobo), “Trem das Onze” (de Adoniran Barbosa) e “Sozinho” (de Peninha).
Quando estão juntos (em onze faixas), Caetano e Gadú conseguem alcançar alguns dos melhores momentos, tais como “O Quereres”, “Vaca Profana”, “Rapte-me, Camaleoa”, “Nosso Estranho Amor” e “Vai Levando” (esta uma rara parceria do filho mais famoso de Dona Canô com Chico Buarque).
Em seguida, Gadú aparece sozinha em seis números e Caetano em sete (destes, é bom por demais constatar a inspiração plural de um autor que consegue criar pérolas tão bonitas quanto díspares, a exemplo de “Milagres do Povo”, “Desde que o Samba É Samba” e “Alegria Alegria”).
E, como que para coroar o entrosamento entre os dois, um homenageia o outro em número solo: enquanto Gadú traz para o seu universo “Podres Poderes”, obra-prima da fase mais roqueira de Caetano, este avaliza o talento da colega ao interpretar, de maneira respeitosamente sutil, o megahit “Shimbalaiê", canção responsável pelo estouro nacional de Gadú.
Um projeto que, sem sombra de dúvida, foi pensado visando a um grande e certeiro retorno comercial, mas que também registra o momento iluminado desses dois artistas. Corra e ouça!
N O V I D A D E S
• O CD duplo (composto por trinta músicas) que comemora os quinze anos de carreira da banda Jota Quest acabou de chegar ao mercado com três faixas inéditas, todas produzidas por Dudu Marote. Uma delas é “Corazón”, hit do grupo espanhol El Canto del Loco, que se transformou em “Coração” e já foi devidamente incluída na trilha sonora da telenovela global “Morde & Assopra”. As outras duas são “Luta de Viver”, do vocalista Rogério Flausino e seu irmão Wilson Sideral, e “É Preciso”, outra de Flausino agora em parceria com o baterista Paulinho Fonseca (a melhor das três). Há ainda a inclusão de “Jogo”, fonograma gravado de forma independente em 1995. Dentre os grandes sucessos colecionados durante a vitoriosa trajetória do grupo estão lá “Encontrar Alguém”, "De Volta ao Planeta”, “Fácil”, “Dias Melhores”, “Só Hoje”, “Amor Maior”, “O Sol”, “La Plata” e “Na Moral”, esta contando com a participação especial de Seu Jorge.
• O compositor, cantor, violonista e percussionista catarinense Luiz Gayotto acaba de lançar o seu quarto CD solo. Trata-se de “Proponhomix”, produzido por Estevan Sinkovitz e composto de nove faixas, todas elas assinadas pelo próprio artista, algumas ao lado de parceiros como Flávio Boaventura, Luiz Pinheiro e Lúcia Romano. Gayotto teve passagens pelo grupo Barbatuques, especializado na chamada percussão corporal, e por projetos de resgate da música indígena ao lado de Marlui Miranda. Ele alia todas essas informações na sua música bastante característica, a qual traz ainda referências dos ritmos notadamente brasileiros e da música eletrônica. O novo trabalho conta com as participações de Silas de Oliveira (nas vozes base de “Num Avião”) e de Marcelo Jeneci (no piano de “Pra Quê?”). Entre os destaques do repertório apresentado estão as faixas “Mim”, “Dê o Ar da sua Graça” e “Broto Bruto”.
• Depois de lançar álbuns dedicados às obras de Raul Seixas, Bob Dylan, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, o inquieto Zé Ramalho anuncia para breve, através do selo Discobertas, o lançamento do CD em que mergulhará de cabeça no cancioneiro dos Beatles.
• Fernando Anitelli, o cérebro pensante da trupe O Teatro Mágico, está lançando o seu primeiro CD solo. Intitulado “As Claves da Gaveta,” o álbum apresenta onze composições do artista que já podiam ser encontradas dispersas na internet no formato simples de violão e voz. Anitelli reuniu-as e, revestindo-as de tratamento sonoro adequado, as disponibiliza agora para o deleite de seu fiel séquito de fãs. Ótimo cantor, ele faz das faixas “Menina do Balaio”, “Cuida de Mim”, “Samba de Ir Embora Só” e “Saudade de Chumbo” os melhores momentos desse oportuno disco. A cantora Nô Stopa aparece como convidada especial na bucólica canção “Na Varanda”.
• Chegará em breve ao mercado o novo CD do cantor João Pinheiro (“Entrenós”) que contará com várias participações especiais. Estarão presentes Suely Mesquita (em “Corrente”, de Chico Buarque), Hermila Guedes (em “Tudo o que Eu Tenho”, versão de “Everything I Own”), o grupo Arranco de Varsóvia (em “Mar de Maravilha”, parceria do cantor com o grupo), Fênix (em “Barulho”, de Marcos Sacramento), Eliana Printes (em “Todo Mundo Sabe”, parceria dela com Adonay Pereira), Luanda Cozzetti (em “Vatapá”, de Dorival Caymmi) e Fred Martins (em “Chega”, dele próprio). Quem viver, ouvirá!
• O novo projeto da cantora Luiza Possi (“Seguir Cantando”) foi registrado durante apresentação feita na casa Citibank Hall em São Paulo nos últimos dias de abril e aportará no segundo semestre no mercado nos formatos CD e DVD. A artista contou com as participações especiais da mamãe Zizi Possi (em “Cacos de Amor” e “O Amor Vem para Cada Um”) e de Ivete Sangalo (em “O Circo Pega Fogo” e “Azul”). No repertório estão músicas conhecidas de autoria de Roberto Carlos e Rita Lee, entre outras.
• A trilha sonora da telenovela “Cordel Encantado” estará chegando às lojas na primeira quinzena de junho e trará, no repertório, fonogramas antigos (caso de “Na Primeira Manhã” com Alceu Valença, “Maracatu Atômico” com Chico Science e Nação Zumbi, “Chão de Giz” com Zé Ramalho e “Xamego” com Luiz Gonzaga) aliados a alguns mais recentes (a exemplo de “Bela Flor” com Maria Gadú, “Rei José” com Silvério Pessoa, “Candeeiro Encantado” com Lenine e “Coração” com Monique Kessous). Composto especialmente para a produção global, o tema de abertura “Minha Princesa Cordel” (nas vozes de Gilberto Gil e Roberta Sá) é um dos destaques juntamente com as versões de Djavan para “Melodia Sentimental” e de Otto para “Carcará”. Os irmãos Caetano Veloso e Maria Bethânia comparecem com “Circuladô de Fulô” e “Estrela Miúda”, respectivamente. E a geração mais recente da MPB marca espaço com Karina Buhr (“Tum Tum Tum”), Filipe Catto (“Saga”) e Núria Mallena (“Quando Assim”).
• O cantor e compositor carioca Raphael Gemal (que fez parte do extinto grupo Mafuá, formado, nos anos 90, com Edu Krieger e Rodrigo Maranhão) comemora uma década de carreira solo com o lançamento do CD intitulado “Gemal e a Máquina ao Vivo”. O repertório abrange algumas canções de sua safra inicial e temas inéditos. Muito legal!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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