R E S E N H A 1
Cantora: ALINE CALIXTO
CD: “FLOR MORENA”
Gravadora: WARNER MUSIC
Quando lançou, em 2009, o seu primeiro CD, a cantora Aline Calixto foi muito bem recebida pela crítica especializada. Em um país de dimensões continentais como o nosso, no entanto, e até porque os lançamentos, especialmente de cantoras, vêm ocorrendo com uma assombrosa frequência, está se tornando cada vez mais complexo um estouro a nível inicial. Dessa forma, o incontestável talento de Aline até então tem se restringido a alguns espaços pontuais.
É tentando romper essa limitação que a gravadora Warner Music, insistindo em colocá-la em local de destaque no mundo do samba, acabou de pôr nas lojas o segundo trabalho da artista, o qual recebeu o título de “Flor Morena”, mesmo nome, aliás, da melhor faixa do set list apresentado, uma canção inédita que lhe foi presenteada por Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz.
Aline é uma cantora pronta. Carioca de nascimento, porém criada em Minas Gerais, ela é dona de um bonito timbre (embora não se possa catalogá-lo exatamente de único) e possui técnica apropriada para o universo musical que escolheu. Se lhe for disponibilizado um investimento correto de divulgação, poderá vir, de fato, a alcançar uma fatia bem maior de público.
O novo álbum leva, na produção musical, a assinatura do competente Arthur Maia, baixista dos melhores na atualidade, e é composto por quatorze faixas, apresentando um repertório majoritariamente inédito. Bem vista no mundo do samba, Aline ganhou também uma interessante canção inédita de Martinho da Vila (“Gemada Carioca”, a qual conta a história dos antepassados escravos da cantora) e, antenada que é, soube reunir, entre os autores das músicas gravadas, nomes de ponta do gênero, a exemplo de Paulinho da Viola (“Coração Vulgar”), Mauro Diniz (“Me Deixa que Eu Quero Sambar”), Moacyr Luz e Nei Lopes (“Ecumenismo”).
Como compositora, Aline demonstra bom senso especialmente por ocupar o espaço de apenas duas faixas. Não que não valha a pena conhecer essa sua faceta, já que ambas as suas músicas selecionadas, a animada “Conversa Fiada” e a mais calminha “Teu Ouvido”, têm lá seu charme, principalmente a primeira. Mas é que, não obstante essa constatação, o lado intérprete de Aline é mesmo o que deve preponderar. Alguns dos melhores momentos ficam por conta do afoxé “Caçuá” (de Edil Pacheco e Paulo César Pinheiro), da afro “Cafuzo” (de Toninho Geraes e Toninho Nascimento) e do samba-jongo “Reza Forte” (de Rodrigo Maranhão e Mauro Reza).
Um CD muito bem-vindo que já se credencia como um dos melhores lançamentos deste ano e ratifica Aline Calixto como uma das principais promessas da nova geração!
R E S E N H A 2
Cantor: ARLINDO CRUZ
CD: “BATUQUES E ROMANCES”
Gravadora: SONY MUSIC
A carreira de Arlindo Cruz iniciou-se há praticamente três décadas nas rodas de samba do bloco carioca Cacique de Ramos, mas foi ao lado do parceiro Sombrinha, ambos ex-integrantes do grupo Fundo de Quintal, que ele começou a ver suas canções tocadas no rádio e gravadas por outros intérpretes. Seu nome já era razoavelmente conhecido no meio musical, em especial no que tange aos aficcionados no bom e genuíno samba, quando, em 2007, a cantora Maria Rita incluiu no repertório de seu terceiro CD (“Samba Meu”) seis canções de autoria de Arlindo. Foi o aval que faltava para que, juntamente com Zeca Pagodinho e Jorge Aragão, ele passasse efetivamente a fazer parte do trio de ouro do samba nacional nos dias de hoje.
Com o público crescendo e o reconhecimento em alta, natural que grandes gravadoras começassem a se interessar pelo passe do artista, o qual terminou caindo nas mãos da Sony Music. É através dessa multinacional que acaba de chegar ao mercado o novo CD do sambista. Intitulado “Batuques e Romances” e com a produção assinada por Leandro Sapucahy, esse recém-lançado trabalho é composto por dezessete canções dispostas em quinze faixas.
A maioria do repertório é autoral e comprova que Arlindo nasceu mesmo com o dom da criação. Suas músicas são sempre feitas ao lado de vários parceiros (e, no álbum em tela, ele conta com a colaboração, entre outros, de Acyr Marques, Rogê, Fred Camacho, Almir Guineto e Marcelinho Moreira) e sua voz, de timbre e divisão talhados para o gênero, passeia macia, seja quando reverencia com orgulho o subúrbio (em “Meu Nome É Favela”, de Rafael Delgado), seja quando assume sua paixão pelo samba (em “Como um Caso de Amor”, de André Renato e Ronaldo Barcellos). Mas é quando se põe a serviço de sua própria obra que ele alcança os melhores momentos do disco, como é o caso de “Meu Poeta” (que conta com a participação especial do já citado Pagodinho), “Bancando o Durão” (em que surge Ed Motta como insuspeito convidado), “Pelo Litoral”, “O Bem” e “Cantando Eu Aprendi”. Esperto, Arlindo permite-se também passear por ritmos afins, como o jongo (em “Mãe”, de Carlos Sena, Maurição e Elmo Caetano) e o afoxé (em “Oferendas”, dele e Teresa Cristina).
Um CD que, com a força dos orixás (conforme sugerido no trabalho gráfico da capa e encarte), mostra Arlindo Cruz em grande momento e que decerto servirá para lhe garantir alguns outros bons hits. Bem legal de se ouvir!
N O V I D A D E S
* A potiguar Roberta Sá continua garimpando as canções que farão parte de seu próximo CD, o qual será lançado até o final deste ano sob a produção de Rodrigo Campello. Uma das faixas já garantidas é “No Arrebol”, título pouco conhecido de autoria do sambista Wilson Moreira.
* Quando estreou no mercado fonográfico, em 2006, com o CD intitulado “Tum Tum Tum”, a cantora mineira Déa Trancoso conquistou, logo em seguida, quatro indicações para o Prêmio da Música Brasileira. Por isso, faz-se bastante aguardado o segundo álbum da artista (“Serendipity”), o qual chegará às lojas ainda este ano e trará, no repertório, parcerias dela com Chico César e Badi Assad.
* O CD “Red Hot Rio + 2” já se encontra disponível e alia, em trinta e três gravações inéditas, artistas de diferentes estilos tais como Seu Jorge, Carlinhos Brown, Marisa Monte, Vanessa da Mata e Marcelo Camelo.
* “Samba Popular Brasileiro” é o título do novo CD do cantor Augusto Martins. No repertório estão diversas regravações, dentre as quais “Samba e Amor” (de Chico Buarque), “Feitio de Oração” (de Noel Rosa e Vadico), “Consolação” (de Baden Powell e Vinicius de Moraes), “Passarela” (de Carlos Dafé) e “Você Não Entende Nada” (de Caetano Veloso). Um bom cantor que, como vários outros, poderia render mais se fugisse das obviedades…
* O CD “Bambas Dois” será lançado pelo cultuado produtor BiD até o final deste ano. Sucessor de “Bambas & Biritas – Volume 1”, lançado em 2005, esse novo trabalho mistura sonoridades brasileiras e jamaicanas. Vários artistas da Jamaica criaram letras para as músicas do repertório e já estão confirmadas as participações especiais da cantora pernambucana Karina Buhr, do guitarrista Lúcio Maia (integrante da banda Nação Zumbi) e do baixista Bi Ribeiro (do trio carioca Paralamas do Sucesso).
* Em seu novo e comentado CD, o qual chegará às lojas no final do próximo mês através da gravadora Biscoito Fino, Chico Buarque contará com a participação especial de Thaís Gullin na faixa “Se Eu Soubesse”, composta por ele especialmente para constar do repertório do mais recente álbum da cantora onde os dois igualmente formaram um dueto. Outro convidado é o mineiro João Bosco.
* O documentário que atualmente vem sendo rodado em homenagem a Dominguinhos (com a direção de Felipe Briso) já conta com as participações de João Donato, Lenine e Hermeto Pascoal. Aqueles que já viram o material asseguram que os encontros têm sido de arrepiar!
* Para homenagear Nelson Cavaquinho no ano em que estaria o mestre do samba a completar cem anos, o grupo Sururu na Roda (formado por Nilze Carvalho, Sílvio Carvalho, Juliana Zanardi e Fabiano Salek) entrou recentemente em estúdio com vistas à gravação de um CD viabilizado com o incentivo monetário de seu próprio público. Muito bacana a iniciativa!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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