Cantora: MARINA LIMA
CD: “CLÍMAX”
Gravadora: LIBERTÀ RECORDS/FULLGÁS/MICROSERVICE
A música brasileira teve, em 1979, um de seus picos mais felizes. Foi naquele já distante ano do século passado que surgiram, no mercado fonográfico nacional, algumas cantoras que até hoje estão causando e criando por aí, a exemplo de Ângela Ro Ro, Elba Ramalho e Joanna. Uma delas, Marina (que vem, de uns tempos para cá, assinando artisticamente Marina Lima) também estava inclusa naquele “pacote” e se destacou de imediato por conta de sua voz charmosamente rouca e dos dotes de compositora inspirada, tudo já constatável em “Simples Como Fogo”, seu disco de estreia.
Carioca, foi na adolescência, quando morou nos Estados Unidos, que ela começou a se interessar pela música. Logo em seu segundo trabalho, alcançou o topo das paradas de sucesso com a canção “Nosso Estranho Amor” que ganhou de presente de Caetano Veloso, seu fã de primeira hora e que também participou da bela gravação da faixa. Daí em diante, ela criou vários hits, grande parte ao lado do irmão, o poeta Antônio Cícero, mas nunca se esqueceu de gravar composições alheias, desde que entendesse que as mesmas se adequavam à sua estética urbana e pop. Quem, por exemplo, não sabe cantarolar até hoje temas como “Fullgás”, “Pra Começar”, “Virgem”, “Me Chama” (de Lobão), “Uma Noite e Meia” (de Renato Rockett) e “À Francesa” (de Cláudio Zoli), canções por ela imortalizadas?
Em meados da década de noventa, no entanto, Marina foi acometida por problemas pessoais, os quais terminaram comprometendo sobremaneira a sua carreira. Tais questões reverberaram inclusive na sua voz que, desde então, teve a potência abalada. Alvissareiro, então, é poder constatar, com o lançamento de “Clímax”, seu novo CD que chegou às lojas na semana passada, que a artista já demonstra melhoras vocais, embora o caminho para chegar à antiga forma ainda seja longo. Trata-se de um álbum gerado em meio aos atuais questionamentos existenciais e angústias afetivas e que foi produzido por ela ao lado dos músicos Edu Martins e Alex Fonseca. Composto por onze faixas, é, aos cinquenta e cinco anos, o seu disco mais nitidamente confessional, uma vez que sete das faixas apresentadas são assinadas somente por ela. A única regravação é “Call Me” (de Tony Hatch, grande sucesso de Chris Montez em 1965). No idioma inglês, ela ainda apresenta a inédita e autoral “Keep Walkin”.
Marina abre-se a parcerias em apenas três canções, coincidentemente momentos de destaque do álbum: a febril “Não Me Venha Mais com o Amor” (feita com a gaúcha Adriana Calcanhotto), a radiofônica “Pra Sempre” (composta com o mineiro Samuel Rosa, presente como convidado especial) e a delicada “Desencantados” (criada com a nordestina Karina Buhr, Edgard Scandurra e Alex Fonseca, que conta com as participações dos dois primeiros, no vocal e na guitarra, respectivamente). Outra colega que dá o ar da graça é a mato-grossense Vanessa da Mata na interessante balada “A Parte que me Cabe”.
Com um tratamento que tenta equacionar as ambiguidades entre a música eletrônica e a sonoridade acústica, o novo álbum de Marina, entre momentos menos inspirados (caso de “Doce de Nós” e da bilíngue “De Todas que Vivi”), expõe a vivência dela na conturbada São Paulo (cidade em que reside há um ano) através da soturna “#SP Feelings”. Despudorada, ela se entrega inteira nos versos de “As Ordens do Amor” (que conta com texto declamado pela voz gutural de Edu Martins) e embarca de vez nos sentimentos lusitanos em “LEX” (em maiúsculas, pois se refere à sigla do aeroporto de Lisboa), tema que faz referência tanto à canção “Weid Fishes” (do Radiohead) quanto à música “Canto de Ossanha” (de Baden Powell e Vinicius de Moraes).
Marina Lima segue, entre abrigos e abismos, sua estrada musical. Observado com atenção, seu novo CD lhe abre novas e oportunas possibilidades. Agora é torcer para que ela consiga afastar de vez as pedras do caminho e continuar nos presenteando, como tanto já fez, com boas ideias e ótima música!
N O V I D A D E S
* A cantora Luciana Pires lançou recentemente “Deixe com o Destino”, o seu CD de estreia no mercado fonográfico. Como quase todos os trabalhos iniciais, esse também mostra uma oscilação na linha artística que a artista pretende seguir. Não obstante tal constatação, o álbum, cuja produção ficou a cargo do competente Carlos Savalla, apresenta uma intérprete de grande potencial. Dona de voz extremamente macia e bem colocada e amparada por arranjos inteligentes, Luciana cresce quando mergulha em canções que lhe permitem maiores arroubos, como é o caso das regravações de “Dentro de Mim Mora um Anjo” (de Sueli Costa e Cacaso), “Samba do Perdão” (de Baden Powell e Paulo César Pinheiro) e “Menino Bonito” (de Rita Lee). Autora mediana, ela assina cinco das dezesseis faixas, mas os melhores momentos ficam mesmo por conta de obras alheias, a exemplo de “Vesti Azul” (de Nonato Buzar), “Teu Sonho Não Acabou” (de Taiguara) e “Não Adianta Nada” (de Fred Jorge).
* A gravadora Universal Music põe nas lojas o CD contendo a trilha sonora da telenovela “Amor e Revolução”, levada ao ar atualmente pelo SBT. O repertório é basicamente composto por fonogramas antigos gravados por Caetano Veloso, Chico Buarque e Taiguara, entre outros, mas há a inclusão de três gravações inéditas feitas pela banda Ultraje a Rigor e pelas cantoras Fernanda Takai e Pitty (“Vem Quente que Eu Estou Fervendo”, “Menino Bonito” e “Cálice”, respectivamente).
* Zizi Possi vem retornando aos poucos a turnê do projeto “Cantos & Contos”, iniciado em 2008 visando a comemorar três décadas de carreira. Entre sucessos gravados por ela própria, a exemplo de “A Paz”, “Caminhos do Sol”, “Asa Morena” e “Per Amore”, a grande intérprete apresenta suas versões para temas de João Bosco (“Incompatibilidade de Gênios”), Zequinha de Abreu (“Tico-Tico no Fubá”) e Geraldo Vandré (“Porta-Estandarte”).
* O destaque da trilha sonora do filme “Estamos Juntos”, já em cartaz, do cineasta Toni Venturi, é a personalíssima versão de Elza Soares para “Paciência”, uma das obras-primas criadas por Lenine ao lado do parceiro Dudu Falcão. Nota dez!
* Enquanto grava um novo CD, Célia anuncia que os dois primeiros discos de sua carreira (gravados em 1971 e 1972) serão brevemente relançados, no formato “dois em um”, pela gravadora Warner Music. Nos repertórios estão canções assinadas, entre outros, por Roberto e Erasmo Carlos, Marcos e Paulo Sérgio Valle, e Synval Silva.
* “Vários em Um” é o quarto trabalho do cantor e compositor Zé Ricardo e o título já dá pistas de que o artista, antes associado somente ao funk e ao soul, tenta abrir o seu leque musical. Com repertório majoritariamente autoral, o CD, composto por doze faixas, foi produzido por Plínio Profeta e chegou recentemente ao mercado através da gravadora Warner Music. O único tema de seara alheia é “Eu Só Quero um Xodó” (de Dominguinhos e Anastácia) que ganhou uma releitura bem interessante. A balada “Exato Momento” (que surge em duas versões, uma delas contando com a participação especial de Tim) é um dos destaques, mas há outros bons momentos, como os sambas “A Corda Bamba” (parceria com Régis Faria) e “Chibata” (composto com Mauro Ribas) e o pop classudo “Encanto de Fada” (feito com Edu Krieger).
* Arnaldo Antunes regravou recentemente a canção “Fado Tropical”, de Chico Buarque e Ruy Guerra, para a trilha sonora do filme “O Brasil de Pero Vaz Caminha”, do cineasta Bruno Laet. E por falar em Arnaldo, em setembro próximo estará chegando às lojas, sob a produção de Gustavo Lenza, seu novo CD que surgirá dividido com o guitarrista Edgard Scandurra. Trata-se de um projeto que vem sendo acalentado por ambos os artistas já há algum tempo e que trará um repertório majoritariamente formado por canções inéditas. Algumas gravações foram feitas na África, com o auxílio de Toumani Diabaté, músico de Mali conhecido por sua habilidade na kora, instrumento africano parecido com uma harpa.
* Sobrinha de Dolores Duran, a cantora Izzy Gordon estará lançando, em breve, seu terceiro CD, desta feita pela gravadora Joia Moderna. Intitulado “Negro Azul da Noite”, esse novo trabalho trará, no repertório, músicas criadas por compositores negros, como Tim Maia, Paulinho da Viola e Agostinho dos Santos.
* E para marcar com chave de ouro os sessenta e cinco anos completados por Maria Bethânia no dia 18 de junho próximo passado, a gravadora Universal Music está lançando duas caixas (“Maria” e “Bethânia”), as quais condensam os vinte e seis álbuns lançados pela vigorosa intérprete quando fez parte do cast das gravadoras Elenco e Philips, o que ocorreu no período compreendido entre 1967 e 1995. Cada uma das caixas acondiciona treze CD's (doze álbuns originais de carreira e uma coletânea). Realmente, um grande presente para os milhares de fãs da Abelha Rainha da nossa MPB!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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