MUSIQUALIDADE

R E S E N H A

Cantora: SANDRA DE SÁ
CD: “AFRICANATIVIDADE – 30 ANOS AO VIVO”
Gravadora: UNIVERSAL

Sandra de Sá, conforme se pode depreender através de qualquer trecho de entrevista dela a que se assista, é carioca (o sotaque carregado de maneirismos não a permitiria mentir, mesmo se assim quisesse). Nascida no bairro de Pilares, em uma família ligada à música, desde pequena ela frequentava tanto blocos carnavalescos como bailes funk. Após alguns anos cantando e compondo sem maiores pretensões profissionais, veio a conhecer o imediato sucesso nacional com o estouro da canção de sua autoria “Demônio Colorido”, uma das finalistas do Festival MPB-80, levado ao ar com grande sucesso pela Rede Globo. Daí em diante, sua produção musical tem sido constante, destacando-se sobremaneira na década de oitenta quando emplacou vários hits nas paradas de sucesso, a exemplo das canções “Vale Tudo”, “Bye Bye Tristeza” e “Enredo do Meu Samba”, tema de abertura da telenovela global “Partido Alto”.
Sandra (que até os anos noventa assinava artisticamente Sandra Sá – sem o “de”, portanto) sempre esteve muito ligada ao funk e ao soul. No entanto, terminou, ao longo da carreira, por gravar discos de vários estilos, e o fato é que se notabilizou mesmo por conta das interpretações exacerbadas de canções românticas. Eclética, também é sabida sua queda pelo samba e se torna incontestável o seu talento para o blues.
É tudo isso, ainda que em doses homeopáticas, que está presente no CD de treze faixas intitulado “Africanatividade – 30 Anos Ao Vivo” (também disponível no formato DVD, com duas faixas adicionais: “Fé” e “Não Adiantou Saber”), o qual, recheado de convidados especiais, acaba de chegar ao mercado através da gravadora Universal. O disco homônimo de estúdio (lançado no ano passado) é a base do repertório, mas como agora se trata de um projeto comemorativo de três décadas de carreira, a cantora não poderia deixar de incluir, no repertório, canções que fazem parte de sua trajetória artística. Estão, lá, então, não apenas a já citada “Demônio Colorido”, em versão que conta com a participação de Maria Gadú, mas também “Pé de Meia”, outro dos primeiros hits, tema gracioso e bem humorado também de sua própria autoria. De modo similar, não poderia faltar o “Blues da Piedade”, uma das mais felizes parcerias entre Cazuza e Frejat, música que sempre fez parte dos roteiros dos shows de Sandra. “Sozinho” (de Peninha), outra canção que já reside no inconsciente coletivo nacional, trouxe a presença de Caetano Veloso, cantor responsável por seu melhor registro. E a fase em que Sandra roçou no romantismo brega faz-se representada pelo medley que reúne “Solidão”, “Contrato Assinado”, “Não Tem Saída”, “Quem É Você?”, “Retratos e Canções” e “Vamos Viver”. Em outros momentos, Sandra intencionalmente desacelera a conhecida “Sina” (de Djavan), mas em contrapartida se entrega inteira em “África” (de Gil Gerson e César Rossini) e “Ilê Ayê” (de Paulinho Camafeu).
É verdade que, às vezes, ela soa desnecessariamente over. No entanto, não se pode deixar de constatar que sua voz continua potente e afinada. E o timbre grave, sua característica inconfundível, permanece praticamente inalterado.
Resultante de parceria com o Canal Brasil, o projeto ora em tela é o registro ao vivo de show realizado em setembro do ano passado na Quinta da Boa Vista no Rio de Janeiro, evento que contou com a presença de um público considerável.
À vontade, Sandra recebeu no palco as Baterias das Escolas de Samba Mangueira e Caprichosos de Pilares (em “Movimento”) e o grupo Jongo da Serrinha (em “Olhos Coloridos”). Alguns dos destaques acontecem quando ela se encontra com colegas como Alcione (na autoral “Copacabana”, parceria com Zé Ricardo) e João Donato (em “Emoriô”, dele e Gilberto Gil, linkada na mesma faixa que “Crioulo”, de Sandra e Adriana Milagres, sua produtora). Nada, no entanto, supera o encontro com Elba Ramalho que, realmente iluminada naquele dia, arrebenta em “Imaginação” (outra de Sandra) e o que se vê é um verdadeiro duelo de titãs.
Sandra de Sá é guerreira. Sua carreira – é sabido – teve altos e baixos, mas ela continua mostrando garra suficiente para ressaltar os pontos positivos. Que venham, portanto, mais três décadas!

N O V I D A D E S

* A gravadora Discobertas está lançando o CD “Raridades” no qual são compilados dezoito fonogramas gravados por Fafá de Belém em projetos outros que não os seus discos de carreira. Foram participações em álbuns de colegas, em trilhas de telenovelas ou em projetos coletivos, as quais se deram entre 1992 e 2010 e que comprovam que Fafá sempre foi uma das grandes intérpretes nascidas em nosso país. Entre os destaques de um repertório amplo que abrange obras assinadas por Tom Jobim, Chico Buarque, Braguinha, Dorival Caymmi e Ataulfo Alves, destacam-se as faixas “Preciso Aprender a Só Ser” (de Gilberto Gil), “Abandono” (de Nazareno de Brito e Betinho, dividindo os vocais com Ângela Maria), “Sem Companhia” (de Ivor Lancelotti e Paulo César Pinheiro), “Universo no teu Corpo” (de Taiguara) e “Raça” (de Milton Nascimento e Fernando Brant, ao lado de Milton). Um projeto realmente bem bacana!

* E por falar na Discobertas, ela acabou do pôr nas lojas box contendo os seis primeiros discos do Zimbo Trio, aqueles gravados e lançados pela extinta RGE entre 1964 e 1969. Imperdível para fãs de música de qualidade!

* O desenho animado “Winnie the Poob”, já em cartaz nos cinemas nacionais, ganhou trilha sonora contendo versões em português. A cantora Fernanda Takai, vocalista do grupo Pato Fu, pôs sua delicada voz em duas faixas.

* O cantor e compositor mineiro Chico Lobo está pondo nas lojas, através do selo Saravá Discos, o seu mais novo CD. Intitulado “Caipira do Mundo”, o trabalho tem a produção assinada pelo percussionista Guilherme Kastrup e é composto por treze faixas. A única não autoral é a versão instrumental de “Dois Rios” (de Samuel Rosa, Lô Borges e Nando Reis), grande sucesso da banda Skank revisitada apenas por violas executadas pelo próprio Chico. As demais são parcerias dele com vários colaboradores, a exemplo de Sérgio Natureza, Fausto Nilo e Maurício Pereira. O universo musical de Chico é eminentemente regional e o álbum surge recheado de modas de viola e toadas, as quais se adaptam com perfeição a sua voz melodiosa. Entre os destaques do repertório figuram as faixas “Quando Falta o Coração” (parceria com Vander Lee), “A Mais Difícil Opção” (feita com Alice Ruiz) e “Cantata” (criada ao lado de Vítor Ramil). Certamente por coincidência, as letras de “Tristeza do Culto” (parceria com Chico César) e “Eu Ando Muito Cansado” (dividida com Arnaldo Antunes), outros dois bons momentos, abordam temas semelhantes. Há as participações especiais de Verônica Sabino, Virgínia Rosa, Zé Geraldo e Zeca Baleiro.

* O cantor e compositor Jay Vaquer estará lançando até o final deste mês, através do selo carioca Lab 344, o seu sexto CD. Intitulado “Umbigobunker!?”, o álbum contendo doze faixas inéditas e autorais foi gravado em Los Angeles com produção assinada por Moogie Canazio. A concorrida Maria Gadú é a convidada da faixa “Do Nada, me Jogaram aos Leões”.

* Chegou recentemente ao mercado o CD instrumental “Choro Baião”, no qual o pianista Antonio Adolfo entrelaça as obras de Chico Buarque e Guinga. São oito temas desses dois grandes compositores aliados a três canções autorais. A única parceria até hoje feita por Chico e Guinga, “Você, Você”, é também a única faixa cantada do álbum, tendo a gravação ficado a cargo de Carol Saboya.

* A gravadora Joia Moderna anuncia para este ano o lançamento de “Ame ou se Mande”, o novo CD da cantora Jussara Silveira. Trata-se do registro de estúdio do homônimo show que a cantora vem apresentando com o percussionista Marcelo Costa e o tecladista Sacha Amback. O repertório conta com canções de Caetano Veloso, Celso Fonseca e Carlinhos Brown, entre outros.

* E “A Voz da Mulher na Obra de Taiguara” será o primeiro DVD a ser lançado pela Joia Moderna. Com o repertório baseado no CD homônimo lançado em fevereiro, foi realizado, em junho próximo passado no Auditório Simon Bolívar, no Memorial da América Latina, em São Paulo, um belo show, o qual, devidamente registrado, será a base do novo produto que trará as presenças de Fafá de Belém, Verônica Ferriani, Aretha, Cida Moreira, Claudia, Claudette Soares, Vânia Bastos, Fernanda Porto e Silvia Maria.

* Mais uma da Joia Moderna: o CD ao vivo que juntava os talentos de Alaíde Costa e Fátima Guedes e anunciado como um dos próximos lançamentos da gravadora foi suspenso. Problemas técnicos em uma faixa resultaram em desentendimentos irreversíveis entre o produtor de uma das cantoras e o pessoal da gravadora. Infelizmente, o público ficará sem o registro desse feliz encontro…

* Nos últimos anos, o nome de Kassin vem sendo praticamente associado à produção musical, mas o fato é que ele já está com o seu primeiro trabalho solo pronto. O CD recebeu o sugestivo título de “Sonhando Devagar” e será lançado pela gravadora Coqueiro Verde no próximo mês. Quem viver, ouvirá!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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