Musiqualidade

R E S E N H A

Cantor: TUNAI
CD: “ETERNAMENTE…”
Gravadora: MZA MUSIC

Tunai (Foto: Divulgação)

As gerações atuais infelizmente pouco devem ter ouvido falar em Tunai, compositor mineiro de Ponte Nova que, a reboque da visibilidade que lhe foi dada com a gravação de sua bela canção “As Aparências Enganam” (parceria com Sérgio Natureza, certamente o colaborador mais constante em sua carreira) por Elis Regina no já distante ano de 1979, teve, na década de oitenta, outras músicas gravadas por grandes intérpretes da nossa MPB, como Simone, Milton Nascimento, Fagner, Nana Caymmi, Emílio Santiago, Fafá de Belém e Gal Costa.

Tunai formou-se em engenharia, mas desde cedo mostrou aptidão para as artes, vez que sua família sempre foi muito musical (a mãe lhe deu as primeiras noções de piano). Ele é irmão do genial João Bosco, mas nunca se utilizou disso para se lançar no mercado fonográfico. Artista de talento próprio, chegou a alcançar as paradas de sucesso como cantor com a bastante conhecida “Frisson”, regravada pela Banda Eva (ainda com Ivete Sangalo como vocalista) no CD lançado em 1998. Tunai não possui uma voz exatamente marcante, mas ele sabe cumprir direitinho a lição de casa, conforme se constata através de seu novo álbum intitulado “Eternamente…”, o qual chegou recentemente ao mercado através da gravadora MZA Music.

Composto por dezessete faixas e produzido por ele próprio, trata-se de um disco de caráter revisionista, no qual Tunai reveste algumas de suas canções de maior sucesso com novos arranjos (alguns com a adesão de Wagner Tiso), recebendo, em vários momentos, convidados bastante especiais. Entre eles figuram os já citados Milton e Simone que emprestam suas vozes à também aqui já mencionada “As Aparências Enganam”, transformando a faixa em um dos destaques do recém-lançado CD. Milton (que é parceiro de Tunai em “Certas Canções”, “Rádio Experiência” e “Mar do Nosso Amor”, as três constantes do repertório ora revisitado) também se faz presente, em participação especial, nas duas primeiras (em “Rádio Experiência” se ouve ainda a voz de Jorge Vercillo.)
E se “Frisson” ressurge com o auxílio luxuoso de Patrícia Mellodi, a faixa-título (gravada originalmente por Gal em 1988), agora em um andamento jazzy, é outro dos pontos altos com a sempre bem-vinda presença de Zélia Duncan. Também gravada pela diva baiana em “Baby Gal”, “Olhos do Coração” ganha novas nuanças reverenciando, em sua letra, o talento de artistas deficientes visuais (Jane Duboc participa dos vocais). Já do repertório gravado por Simone, Tunai resgata “Só de Amor” e “Olhos Negros”, lançadas pela cantora em seus discos “Delírios, Delícias” e “Sedução” (de 1983 e 1988, respectivamente).

Entre canções mais ou menos conhecidas e por ele próprio gravadas (“Sobrou Pra Mim”, “Dom” e “Sintonia”), Tunai mostra seu ecletismo como criador ao ressaltar temas bastante inspirados como “Blues Afins” e “Dança das Cadeiras” (esta uma parceria com Cláudio Rabello). Completam o repertório as inéditas “Regina” e “Daniela”, compostas para sua esposa e sua filha, e “Manutenção”, esta uma crônica sobre a necessidade de se estar atento ao eterno reciclar.

Através desse trabalho, que, aliás, se consubstancia como uma espécie de songbook, Tunai comprova o brilho de sua obra autoral, a qual, em grande parte já eternizada pela inquestionável beleza, merece ser redescoberta por todos os que apreciam música de qualidade. Corra e ouça!

N O V I D A D E S

Assis Valente (Foto: Divulgação)

* Se vivo estivesse, Assis Valente estaria a completar em 2011 cem anos. Baiano de nascimento, mas carioca de coração, ele se suicidou, em 1958, ingerindo uma garrafa de guaraná com formicida, mas deixou como legado canções atemporais, tais como “Camisa Listrada”, “Tem Francesa no Morro”, “Recenseamento”, “Cai, Cai, Balão”, “Uva de Caminhão”, “Boas Festas” e “Brasil Pandeiro”. Parceiro de nomes como Herivelto Martins, Nélson Petersen e Lamartine Babo, por exemplo, ele tem canções gravadas por grandes nomes da nossa MPB: Chico Buarque, Carlos Galhardo, Nara Leão, Araci de Almeida, Moreira da Silva, Francisco Alves e Maria Bethânia estão entre eles. Mas a grande intérprete de Assis foi mesmo Carmen Miranda que projetou temas como “… E o Mundo Não Se Acabou”, “Tão Grande, Tão Bobo” e “Good Bye, Boy”. Ao contrário do que virou costume acontecer com os grandes nomes do nosso cancioneiro, infelizmente a única homenagem até o momento que foi feita a Assis consubstancia-se numa coletânea composta por vinte e uma faixas gravadas na década de trinta, a qual, intitulada “Assis Valente – 100 Anos”, foi recentemente lançada pelo selo Revivendo. Entre os melhores momentos desse produto estão as faixas “A Vida É Boa”, “Pra Que Você Me Tentou”, “Sacrifício Demais”, “Coração Que Não Entende” e “Maria Boa”. Realmente imperdível!

* Relembrando seu primeiro CD (“Aos Vivos”, lançado em 1995 pela gravadora Velas), o cantor e compositor Chico César realizou, na semana passada, no Teatro Fecap em São Paulo, um concorrido show, o qual devidamente registrado, se transformará em DVD. O projeto contou com a participação de Dani Black ao violão e a ideia do artista paraibano foi de resgatar o formato nu e cru do seu trabalho inaugural.

* O compositor pernambucano Fred Falcão está lançando o CD “Voando na Canção” através da gravadora Sala de Som. O álbum foi produzido pelo próprio artista e é composto por quinze faixas. Fred, que já teve canções de sua autoria gravadas por várias vozes da nossa MPB, recebeu diversos convidados especiais nesse recém-lançado álbum, a exemplo de Leny Andrade, Pery Ribeiro, Kay Lira, Zé Luiz Mazziotti, Claudia, Sanny Alves, Clarisse Grova, Marcos Sacramento, César Camargo Mariano, Maurício Einhorn e Guinga, além dos grupos Boca Livre, Chicas e Os Cariocas. O disco traz ainda uma gravação inédita na voz do saudoso João Nogueira (“Tia Ciata”) feita em 2000, três meses antes de seu precoce falecimento. Os destaques do repertório apresentado ficam por conta das faixas “Lourinha”, “Jam Session”, “Jogo do Amor”, “Shirley Sexy” e “Samba Iluminado”. Um lançamento bem legal!

* Chegará ainda este mês às lojas, através da gravadora Discobertas, uma coletânea dupla que reúne vários fonogramas gravados pela cantora carioca Dóris Monteiro ao longo de sua carreira que recentemente completou seis décadas. Entre as canções selecionadas há tanto alguns de seus maiores sucessos como também raridades.

* Roberta Nistra é mais um nome emergente da Lapa carioca. Cantora, compositora e cavaquinista, está lançando o seu primeiro e homônimo CD através da gravadora Biscoito Fino. Produzido por ela ao lado de Edu Krieger e com sonoridade acústica, o trabalho é composto por uma dúzia de faixas. O repertório (majoritariamente inédito) tem paradas no Nordeste brasileiro e passagens por ritmos afros. São canções miscigenadas, com celebrações às divindades do candomblé unidas à suavidade do cancioneiro ribeirinho. E entre sambas, afoxés e ijexás, Roberta faz valer sua voz de timbre suave e elegante. Os melhores momentos ficam por conta das faixas “Mãe África” (de Sivuca e Paulo César Pinheiro), “Guerreiros de Olodumaré” (de Toninho Geraes e Toninho Nascimento) e “Santo Antônio” (da própria Roberta). Os cantores Moyseis Marques e Lúcio Sanfillipo surgem em participações especiais nas faixas “Ogum de Ronda” (de Roque Ferreira) e “Francisco de Oxum” (de Sanfillipo), respectivamente.

* Rita Lee confirma para este ano o lançamento de dois novos CDs. Um deles se intitulará “Bossa’n’Movies” e conterá músicas lançadas em trilhas sonoras de filmes mundialmente conhecidos. O outro será um novo álbum de inéditas (o título está sendo escolhido entre “Macumbinha” e “Zzyzx”) e nele a cantora mostrará novas parcerias feitas com o maridão Roberto de Carvalho e com o cantor Léo Jaime.

* Os quarentões de plantão certamente se lembram da telenovela global “O Casarão”, levada ao ar em 1976. Na sua trilha sonora, além de “Fascinação”, na interpretação insuperável de Elis Regina, despontou imediatamente nas paradas a bonita canção “Nuvem Passageira”, interpretada por um até então desconhecido Hermes Aquino. Gaúcho, na esteira do repentino sucesso, ele lançou, no ano seguinte, o disco “Desencontro de Primavera”, o qual se transformou em um estouro de vendas até por conta da aceitação de sua faixa-título, inspirado fado logo incluído em outra telenovela famosa, “Locomotivas”. Outras músicas, as interessantes “Longas Conversas” e “Eu Quero Ser Teu Rei”, também se destacaram. Em 1978, o artista ainda manteve a chama acesa e com o álbum “Santa Maria” emplacou mais alguns hits, a exemplo da emocionante canção homônima, e também de “Senhorita” e de “Chuva de Verão”, estas incluídas nas trilhas sonoras de “Pecado Rasgado” e “Marrom Glacê”, respectivamente. Infelizmente, por motivos que a razão não consegue até hoje explicar, depois desses dois trabalhos Hermes sumiu de circulação, voltando para sua terra natal onde participou de algumas bandas e criou dezenas de jingles publicitários. Mas eis que, numa ótima sacada, a gravadora Discobertas acaba de trazer de volta às lojas, em caprichadas reedições, esses dois títulos… Trata-se de uma imperdível oportunidade de se conhecer a pequena mas bela obra de Hermes Aquino. Quem tiver bons sentidos para ouvir, que o faça!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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