MUSIQUALIDADE

R E S E N H A

Cantor: BRUNO BATISTA
CD: “EU NÃO SEI SOFRER EM INGLÊS”
Gravadora: YB MUSIC

Como bem diz um conhecido meu, antenado no mundo das artes: “a produção musical de hoje não passa de uma tremenda enganação, que oscila do populacho vulgar e estridente ao falsamente cult sabor alface: sem conceito, sem arranjo, sem forma definida, sem vibração e sem originalidade”. Isso certamente não se adequa a Bruno Batista, um dentre os muitos dos novos nomes que anseiam por um lugar ao sol na nossa MPB, mas de fato um talento de real valor.

Bruno é maranhense e acaba de lançar o seu segundo CD sugestivamente intitulado de “Eu Não Sei Sofrer em Inglês”, o qual chega ao mercado através da YB Music (pequena gravadora paulistana que possui em seu cast nomes emergentes como Nina Becker, Tulipa Ruiz, Lucas Santtana e Romulo Fróes). Composto por uma dúzia de faixas, todas elas assinadas somente pelo próprio artista, o álbum foi produzido por Guilherme Kastrup e Chico Salem, dois dos mais cultuados músicos da atualidade, mestres na bateria e violão, respectivamente.
Foi necessário um período de seis anos entre o trabalho de estreia e o recém-lançado álbum. Um período de maturação que resultou em um disco muito bem concebido, recheado de canções pra lá de interessantes. Do CD anterior, Bruno (que agora reside em São Paulo) regravou duas canções: “Já me Basta” e “Acontecesse’, esta com letra inspirada no poema “Ai, Se Sêsse”, de autoria de Zé da Luz, e cuja nova versão conta com a participação do conterrâneo Zeca Baleiro.

Zeca, aliás, parece ser uma das fontes da inspiração criativa do Bruno compositor, vez que, em algumas passagens, constatam-se contornos melódicos que lembram a obra do autor de “Lenha”. Quanto ao Bruno cantor, este possui uma voz bastante interessante, cujo timbre (por incrível que possa parecer) passeia entre os registros de Chico César e Renato Braz.

Gravado praticamente ao vivo em três sessões de estúdio, o CD, além dos dois produtores acima citados que também aparecem na execução de seus instrumentos, conta com a presença de uma banda completada por Estevan Sincovitz e Gustavo Ruiz (guitarras), Márcio Arantes (baixo) e Marcelo Jeneci (teclados e acordeon).

As letras de Bruno são recheadas de tiradas inteligentes, conforme se pode constatar, por exemplo, em “Tarantino, meu Amor” e na faixa-título, esta contendo uma melodia simples mas muito bonita (aliás, talvez o grande destaque a se trazer a lume seja mesmo a facilidade com que Bruno cria canções facilmente assimiláveis e com qualidade, o que – frise-se – não é para qualquer um). Ambas as canções se constituem em dois dos melhores momentos do primoroso repertório ao lado das interessantes “Lia, Não Vá” e “Bonita”. Também não dá para deixar de ressaltar “Nossa Paz” e “Vaidade”, temas que trazem a cantora Tulipa Ruiz e o cantor Rubi como convidados especiais.

Enfim, trata-se de um CD muito legal e que vale super a pela conhecer… E tomara que as portas do reconhecimento se abram para o inspirado Bruno Batista!

N O V I D A D E S

* A cantora Vanusa frequentou assiduamente as paradas de sucesso, na década de setenta do século passado, com canções que caíram nas graças de um público mais popular, a exemplo de “Manhãs de Setembro” e “Sonhos de um Palhaço”. Em 1975, no entanto, ela tentou redirecionar sua carreira gravando o disco “Amigos Novos e Antigos” através do qual registrou canções de João Bosco, Milton Nascimento e Luiz Melodia. Essa espécie de “virada” prosseguiu dois anos após, quando ela lançou o álbum “30 Anos”, o qual serviu, inclusive, para que comemorasse três décadas de vida. Ela tinha, à época, se separado há pouco do cantor e compositor Antônio Marcos e se casado com o produtor da Rede Globo Augusto César Vanucci que assinou a direção do disco ao lado de Lincoln Olivetti. Esse trabalho retorna agora ao catálogo através de uma iniciativa da gravadora Joia Moderna. Trata-se de um título bastante interessante e que mostra Vanusa no auge de sua forma vocal, interpretando canções de beleza ímpar como “Lá no Pé da Serra” (de Elpídio dos Santos), “Boas Festas” (de Assis Valente) e “Duas Manhãs” (de Caetano Veloso). O repertório ainda abriu espaço para lançar o até então desconhecido Zé Ramalho (“Avohai”) e para sedimentar a descoberta de Belchior (“Brincando com a Vida”). O maior sucesso do álbum, no entanto, foi “Estado de Fotografia” (de Sérgio Sá e Malim), incluída na trilha sonora da primeira versão da telenovela global “O Astro”. Recém adepta ao espiritismo, Vanusa incluiu também os temas “Maria Madalena” e “Prece de Cáritas”.

* Correndo na contramão da maioria dos artistas atuais que optam por um período considerável entre um álbum e outro, Ana Carolina já anuncia o lançamento de seu próximo projeto, o qual será disponibilizado nos formatos CD e DVD: trata-se do registro de “Ensaio das Cores”, show que ela vem realizando há alguns meses ao lado de LanLan (percussão e bateria), Délia Fischer (piano) e Gretel Paganinin (violoncelo) e cuja gravação se deu no início deste mês quando da apresentação realizada no Citibank Hall no Rio de Janeiro. O título vem por conta da ideia de forçar uma interação entre a música e a pintura e o repertório traz, entre outras canções autorais, “Pra Tomar Três”, “Stereo”, “Simplesmente Aconteceu” e “Você Não Sabe” (as quatro inéditas na voz da cantora), além de temas alheios, a exemplo de “Rai das Cores” e Força Estranha (ambas de Caetano Veloso), “Azul” (de Djavan) e “Violão” (de Sueli Costa e Paulo César Pinheiro). Em tempo: é bastante provável que a canção “Problemas”, composta por Ana ao lado de Chiara Civello e Dudu Falcão e já devidamente incluída na trilha sonora da telenovela global “Fina Estampa”, surja como faixa bônus.

* “Mulheres que Cantam Pedro Ivo” é o título do CD que, recentemente lançado pela Tumdum/Parabelo, mostra o trabalho autoral de Pedro Ivo, jovem talentoso que, filho de músicos, começou a estudar piano ainda na infância, tendo se mudado para o Rio de Janeiro na adolescência onde se formou em arranjo pela Escola Villa Lobos. Quatro cantoras ainda praticamente desconhecidas (Aline Paes, Karla da Silva, Luiza Borges e Pati Oliveira), mas de inquestionável talento musical, intercalam-se e, junto com Pedro, apresentam cirandas, valsas, frevos e sambas, a exemplo de “Leve o Porto”, “Quando o Lampião Apaga” e “Ele, o Homem”, os destaques do agradável repertório que surge executado por André Siqueira no violão, Tássio Ramos no baixo acústico e Geórgia Câmara na bateria. Vale a pena conhecer!

* O violonista Swami Jr. lançou recentemente o CD “Mundos e Fundos”. Produzido por ele próprio e colocado no mercado pela gravadora Borandá, trata-se de um belo disco instrumental composto por onze faixas. Dentre releituras de temas de Dorival Caymmi (“Saudade da Bahia”), Jacob do Bandolim (“Vibrações”) e João Roberto Kelly (“Cabeleira do Zezé”, parceria com Roberto Faissal), Swami apresenta canções inéditas de sua autoria feitas durante os sete anos em que realizou diversos shows pelo mundo acompanhando a cantora Omara Portuondo. Dentre os destaques do repertório figuram as faixas “Paladino” (uma homenagem a Dino 7 Cordas), “Helena” e “Abraço” (composta com Chico Pinheiro).

* Mais uma artista de peso já se utiliza da internet para divulgar o seu próximo trabalho. Agora é a vez de Marisa Monte que está disponibilizando, em seu site oficial, trechos de algumas das músicas que integrarão o seu novo e aguardado CD, inteiramente mixado nos Estados Unidos e que chegará às lojas até o final do ano.

* Max Viana, um dos filhos de Djavan, está lançando, através da gravadora Biscoito Fino, o seu terceiro CD. Intitulado “Uma Quadro de Nós Dois”, o novo trabalho é composto por onze faixas, dez delas assinadas por ele sozinho ou ao lado de parceiros como Dudu Falcão, Jorge Vercillo, Jay Vaquer, Lula Queiroga e Arlindo Cruz. A única faixa de lavra alheia é a regravação de “O Melhor Vai Começar”, antigo sucesso de Guilherme Arantes. O próprio artista assina a produção do álbum que conta, em “É Hora de Fazer Verão”, com a participação especial de Alcione (que soa quase irreconhecível com voz sem brilho e força, bem diferente do que lhe é característico). Compositor mediano e cantor de extensão limitada, Max alcança os melhores momentos do repertório com as canções “O que É que Você Quer de Mim” e “O Samba que Eu Guardei”.

* A turnê “80 Anos, Uma Vida Bossa Nova” que João Gilberto fará no Brasil será devidamente registrada e dará origem ao primeiro DVD do cultuado e polêmico artista. Serão cinco shows, os quais se realizarão nas cidades de Salvador (BA), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF) e Porto Alegre (RS) entre 28 de outubro e 25 de novembro. Quem viver, verá!

* Durante três anos realizou-se uma apresentação especial, na véspera do Dia do Trabalhador, a qual reunia vários artistas e uma enxurrada de público. A de 1979 não foi teve o seu áudio registrado. A de 1980 foi gravada e alguns dos registros, os feitos por artistas independentes e pelos contratados, à época, das gravadoras Ariola e Wea saiu em um disco intitulado “Show 1º de Maio” que trouxe faixas interpretadas por Alceu Valença, o grupo vocal Boca Livre, Dorival Caymmi, As Frenéticas, João do Vale, Milton Nascimento, Moraes Moreira e Sérgio Ricardo. É esse registro histórico que ora retorna ao mercado através de uma feliz iniciativa da gravadora Discobertas, a qual concomitantemente também torna disponível e pela primeira vez, embora aprsentando áudio com qualidade questionável, a parte final do evento realizado no Riocentro em 1981, na noite em que explodiram bombas do lado de fora do local. Pode-se ouvir, inclusive, a comunicação do atentado feita no palco por Gonzaguinha, assim que se ficou sabendo do ocorrido. Além dele, integram o CD: Beth Carvalho, Dona Ivone Lara, Gal Costa, Moraes Moreira e Luiz Gonzaga.

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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