R E S E N H A
Cantora: ELIANA PRINTES
CD: “CINEMA GUARANY”
Gravadora: INDIE RECORDS/UNIVERSAL
Natural de Manaus, capital do Estado do Amazonas, Eliana Printes desde cedo, em suas brincadeiras de criança, aventurava-se em cantar, o que fazia movida pela influência familiar, já que em sua casa sempre se ouviu muita música: o pai gostava de samba, enquanto que a mãe apreciava canções mais populares. Na adolescência, ela se iniciou ao violão e se matriculou em um curso de musicalização. Ainda menor de idade, começou a cantar profissionalmente e, logo, em seguida, a participar de festivais de música.
Em 1994 e de forma independente, Eliana gravou o seu primeiro CD no Rio de Janeiro e com ele integrou o Projeto Pixinguinha, chegando a concorrer ao Prêmio Sharp na categoria “Revelação”. Desde aquele trabalho inaugural que o repertório traz parcerias dela com Adonay Pereira, companheiro das artes e da vida. Depois de um segundo disco lançado em 1996, Eliana mudou-se efetivamente para a Cidade Maravilhosa e, dois anos depois, chegava às lojas o terceiro álbum da cantora, o antecessor de “Pra Lua Tocar”, CD lançado em 2001 que lhe garantiu ótimas execuções nas rádios com as faixas “Da Laia do Lama” (de Antonio Villeroy) e “Crepúsculo de uma Deusa” (de Mona Gadelha), fato que chamou a atenção de Mariozinho Rocha, diretor musical da Rede Globo, que a convidou para gravar a canção “Quando Você Não Vem” (de Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza), a qual foi incluída na trilha sonora da telenovela “Porto dos Milagres”. O quinto disco (“Pra Você me Ouvir”) saiu em 2003 com produção assinada por Chico César e o sexto (“Mais Perto de Mim”) foi lançado em 2007, trazendo as participações especiais deste grande artista paraibano e de Pedro Luís.
O pequeno preâmbulo ora apresentado tem tão somente o objetivo de fazer com que o leitor possa se situar na obra fonográfica de Eliana, uma das mais bonitas vozes brasileiras da atualidade. De timbre grave, límpido e ao mesmo tempo aveludado, ela se mostra uma intérprete extremamente afinada e segura o bastante para se arriscar em várias linhas musicais sem deixar, contudo, de imprimir a sua marca pessoal.
Acaba de chegar às lojas, através de uma parceria entre as gravadoras Indie Records e Universal, o mais novo CD dessa artista. Intitulado “Cinema Guarany” é, sem sobra de dúvidas, um dos pontos altos de sua discografia. Produzido por ela ao lado do já citado Adonay, o álbum é composto por dez faixas, seis delas de autoria da dupla (destas, cinco soam inéditas, mas há uma bela regravação de “O Próximo Beijo”, já gravada por ela mesma em disco homônimo de 1998). O casal demonstra inegável química no quesito composição e isso se torna facilmente constatável ao se ouvir a romântica “Preciso de Você”, a animadinha “Todo Mundo Sabe” e, especialmente, a suave “Anjo de Prata”, um dos melhores momentos do recém-lançado disco. Outros destaques ficam por conta de “Festa” (inspirado tema de Sérgio Souto) e da apropriada regravação de “Amazonas” (de João Donato e Lysias Ênio). Completam o seleto repertório a delicada valsa “Poema” (de Rubens Lisboa) e o roquezinho bacana “Não Fico Mais Sem Teu Carinho” (de Roberto Correia e Sylvio Son, sucesso antigo na voz do cantor Antônio Marcos).
Com bonita sonoridade acústica, a base musical do sétimo CD da carreira de Eliana Printes apoia-se no tripé formado por piano, baixo e bateria, instrumentos executados com talento por Julinho Teixeira, Francisco Falcon e Sérgio Nacife, respectivamente. Trata-se, de fato, de uma excelente cantora com um ótimo trabalho, o qual merece ser conhecido por todos os que curtem MPB de qualidade. Quem tiver bons ouvidos, que a escute!
N O V I D A D E S
* Embora ainda pouco conhecido nacionalmente, Geraldo Maia é artista muito cultuado dentro de sua aldeia, o Estado de Pernambuco. Com alguns bons discos lançados, o também compositor canta bonito, com um estilo bem característico, e é isso o que se pode constatar através do CD “Ladrão de Purezas”, originalmente lançado no passado de maneira independente e que agora retorna ao mercado, em nova edição, através da gravadora Biscoito Fino. Trata-se de um merecido tributo ao conterrâneo Manoel Pereira de Araújo, mais conhecido como Manezinho Araújo, o qual teria completado cem anos de vida em 2010 (ele nos deixou em 1993). Manezinho ficou conhecido, no meio musical, como o “Rei da Embolada” e teve o seu apogeu artístico entre as décadas de trinta e cinquenta do século passado. Através das doze faixas selecionadas para compor o álbum ora em análise, torna-se claro que a obra de Manezinho sempre foi bastante eclética, posto que criava com maestria samba, coco, frevo, toada, valsa e baião. De fato um compositor inspirado, infelizmente Manezinho nunca recebeu as loas a que faz jus, como acontece com outros criadores de sua época. Também um pintor de extrema originalidade, são dele algumas das telas presentes no belo encarte do álbum, mostrando, assim, seu outro lado criativo. De sonoridade orgânica, o CD é todo ancorado no violão de Vinicius Sarmento e na percussão de Lucas dos Prazeres, dois instrumentistas acima da média. Explicitar destaques do repertório é tarefa hercúlea, mas não dá para deixar de ressaltar canções como “Não Sei o que É que Faça”, “Juntou a Fome”, “Novo Amanhecer”, “Beata Mocinha” e “Quando a Rima me Fartá”. Imperdível!
* Caberá à gravadora Coqueiro Verde distribuir “Longe de Onde”, o segundo CD da cantora e compositora Karina Buhr, o qual foi gravado sob o patrocínio do projeto Natura Musical e chegará às lojas em outubro próximo. O repertório será composto por dez músicas autorais e inéditas.
* Superando em muito o álbum de estúdio que lhe deu origem, “Ária – Ao Vivo”, o novo projeto de Djavan (gravado em abril passado durante duas apresentações realizadas no Palácio das Artes, em Belo Horizonte-MG), já se encontra disponível nos formatos CD, DVD e blu-ray (lançamentos da gravadora Biscoito Fino). O CD apresenta dezesseis faixas, enquanto que o DVD e o blu-ray surgem com quatro números a mais. Djavan já não possui a clareza da voz de outrora, mas nada empana seu brilho, principalmente quando mergulha (de novo e mais uma vez) em seu repertório autoral. Assim, impossível não sucumbir à emoção ao se ouvir, por exemplo, “Seduzir”, “Lambada de Serpente”, “Transe” e “Samurai”, entre outras. De lavra alheia, ele tenta se apropriar de pérolas de Caetano Veloso (“Oração ao Tempo”) e Gilberto Gil (“Palco”), mas se sai melhor quando mergulha em universo mais antigo, como em “Disfarça e Chora” (de Cartola) e “Brigas Nunca Mais” (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes). Que venha logo o próximo CD de inéditas (o qual, aliás, será gravado ainda este ano para lançamento no primeiro trimestre de 2012)!
* Através da gravadora YB Music, o cantor e compositor paulistano Pélico está lançando o seu terceiro CD intitulado “Que Isso Fique Entre Nós”. Produzido por Jesus Sanchez, o trabalho é composto por dezesseis faixas autorais, dentre as quais se destacam “Vamo Tentá”, “Recado”, “Minha Dor”, “Não Éramos Tão Assim” e “Levarei”. Em suas letras, o artista (que dessa vez traz um som mais limpo, com menos guitarras) revela suas angústias de amor e desamor, solidão, esperança, desapego e saudade. O encarte mostra que músicos de responsa acompanham Pélico, a exemplo de Régis Damasceno (Cidadão Instigado), Richard Ribeiro (SP Underground), João Erbetta (Los Pirata), Tony Berchmans e Guilherme Kastrup.
* Após cinco anos do lançamento de seu primeiro e comentado CD (“A Estética do Rabisco”) e três do segundo e obscuro trabalho (“Buscador”), o cantor e compositor carioca Marcelo Frota, cujo nome artístico é MoMo, acaba de lançar seu terceiro álbum através do selo Pimba, vinculado à gravadora Dubas Música. Intitulado “Serenade of a Sailor” e produzido por ele próprio ao lado do guitarrista e baixista Caetano Malta, o disco é composto por onze faixas autorais (delas, duas são instrumentais e cinco possuem letras em inglês). A música de MoMo traz uma sonoridade praticamente acústica e surge carregada de melancolia. O fato é que não se apresenta como uma obra facilmente assimilável pelo ouvinte médio, mas o artista se mostra inspirado em vários momentos, especialmente nas faixas “Blue Bird” e “Barco”.
* A gravadora Joia Moderna repõe em catálogo o álbum “Feiticeira”, originalmente lançado pela atriz e cantora Marília Pera em 1975. Registro de um show que não deu muito certo, o qual foi elaborado por Nelson Motta, marido da artista na época, o disco, ao contrário, resultou bem interessante. Entre canções de compositores então em início de carreira, a exemplo de Alceu Valença (“O Medo”) e Eduardo Dussek (“Alô Alô Brasil”), surgem interpretações interessantes para temas assinados por Jorge Mautner (“Samba dos Animais”) e Lamartine Babo (“Canção pra Inglês Ver’). Walter Franco participa da faixa “Dança da Feiticeira” (de Guto Graça Mello e Nelson Motta) e a dupla Luli e Lucina toma a linha de frente em “Bentevi” (de autoria das duas). Um dos destaques do repertório é a pouco conhecida “Não Diga Nada” (poema de Fernando Pessoa musicado por João Ricardo, este o fundador do lendário grupo Secos & Molhados que alçou Ney Matogrosso ao estrelato).
* Maria Gadú (que estará no próximo mês aqui em Aracaju, realizando show ao lado de Caetano Veloso) se encontra atualmente em estúdio carioca gravando as canções que farão parte de seu segundo CD de carreira, o qual contará com a participação especial do fadista português Marco Rodrigues. Será certamente um degrau definitivo em sua trajetória e servirá para mostrar se, de fato, a garota tem esteio para seguir em frente ou se o seu estouro nacional foi fruto de bem bolada estratégia de marketing da gravadora Som Livre. Em tempo: Gadú regravou “Oração ao Tempo” (de Caetano Veloso) especialmente para ser o tema de abertura da nova telenovela global “A Vida da Gente” que estreia hoje às 18 horas.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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