MUSIQUALIDADE

R E S E N H A

Cantora: MARIA RITA
CD: “ELO”
Gravadora: WARNER

Depois de um primeiro CD sensacional, um segundo álbum mediano e um terceiro disco onde precipitadamente caiu no mundo do samba, Maria Rita está lançando “Elo”, seu quarto trabalho, o qual acabou de chegar às lojas através da gravadora Warner. Talvez não por coincidência, a foto esmaecida da capa entregue, logo de cara, o resultado: trata-se de um álbum raso, de pretensões pouco entendíveis (talvez, por contrato, uma exigência da gravadora) e que soa como uma espécie de disco de entressafra. Maria Rita, embora a anos-luz da extensão vocal da mãe (a insuperável Elis Regina), já demonstrou possuir carisma suficiente para poder se arriscar em voos mais altos. Deveria ter aproveitado o espaço para sedimentar sua carreira e, caso não quisesse se dar ao trabalho de garimpar canções de autores iniciantes, as quais certamente lhe são enviadas aos borbotões, sua já conquistada aura de estrela lhe permitiria conseguir facilmente montar um repertório inédito de grandes ou emergentes nomes da nossa música popular brasileira. Qual compositor, em sã consciência, não gostaria de ter uma música gravada por ela? Mas Maria Rita preferiu mostrar-se em estado de letargia, algo só justificável em ídolos com décadas de carreira, como é o caso, por exemplo, de Roberto Carlos.
Seu novo (?) disco, assim como o primeiro, ancora-se no tripé formado por piano, baixo acústico e bateria (executados pelos músicos Tiago Costa, Sylvinho Mazzucca e Cuca Teixeira), mas se, naquele disco inaugural, tal formação soou perfeitamente ajustada, neste termina por conferir um ar exageradamente monocórdio.
Produzido pela própria cantora e inteiramente gravado durante dez dias do mês de julho do ano corrente, o CD é composto por dez faixas (e mais uma bônus, “Coração em Desalinho”, de Monarco e Ratinho, gravada especialmente para servir como tema de abertura da recém finda telenovela global “Insensato Coração”), oito delas regravações de temas em sua maioria pra lá de batidos. De inéditas mesmo somente “Coração a Batucar” (de Davi Moraes e Alvinho Lancellotti) e “Pra Matar meu Coração” (de Daniel Jobim e Pedro Baby), dois sambinhas que podem até pegar, mas que vai dar um trabalho danado para isso acontecer, vai!
O álbum não traz as letras em seu encarte (pra quê, né?), mas nele Maria Rita tenta explicar, faixa a faixa, a razão de tê-las gravado. Há desde sobra de trabalho anterior até pedido de um amigo muito querido… E por aí surgem “Menino do Rio” (de Caetano Veloso) em versão que nem de longe roça a beleza da gravação original de Baby Consuelo, “Nem um Dia” (de Djavan) e “A História de Lilly Braun” (de Edu Lobo e Chico Buarque). Esta última até que se apresenta com algumas novas nuanças, não obstante já ter recebido belas interpretações de Gal Costa, Leila Pinheiro e Maria Gadú. Outra revisita que mostra algum sopro de inventividade é “Só de Você” (de Rita Lee e Roberto de Carvalho). Melhor sorte, no entanto, não tiveram as originalmente belas “Conceição dos Coqueiros” (de Lula Queiroga, Alexandre Bicudo e Lulu Oliveira) e “Santana” (de Junio Barreto e João Araújo) que se consubstanciaram em pálidos registros. Completam o repertório “A Outra”, opaca criação de Marcelo Camelo (compositor recorrente nos discos de Maria Rita), e “Perfeitamente”, parceria de Fred Martins e Francisco Bosco (tema já gravado pela cantora Regina Machado no álbum “Agora o Céu Vai Ficando Claro”, de 2010), decerto a melhor faixa deste CD surpreendentemente desnecessário.
Se particularmente eu gosto de Maria Rita? Com certeza que sim! Por isso a minha decepção! Fica, contudo, a esperança de que ela ressurja, em breve, com um trabalho à altura de seu talento.

N O V I D A D E S

* Depois de “Rock’n’Roll”, álbum lançado em 2009, o cantor e compositor Erasmo Carlos faz chegar às lojas, através da gravadora Coqueiro Verde, seu novo trabalho.

Trata-se do CD intitulado “Sexo” (não, não esperem um outro, “Drogas”, para formar possível trilogia!), composto por doze faixas autorais e inéditas e produzido pelo competente Liminha. Com uma capa que remete ao órgão sexual feminino (um coração em digitais aberto por uma fenda) e letras com claras alusões ao amor carnal, a exemplo de “Kamasutra” (em que se listam diversas posições), “Sexo e Humor” e “Sexo É Vida” (três dos destaques do repertório), Erasmo segue seu caminho, construindo rocks e baladas de melodias simples mas, no geral, eficientes. E se ao vivo o Tremendão já demonstra o peso do tempo em sua voz, o registro feito em estúdio resulta sem maiores arranhões. Há parcerias com Arnaldo Antunes, Adriana Calcanhotto, Liminha, Chico Amaral e Nelson Motta. Frejat aparece como convidado especial, tocando guitarra na faixa “Seu Homem Mulher”, e o trio carioca Filhos da Judith pontua os vocais da funkeada “Amorticídio”. Já confirmada na trilha sonora de “Aquele Beijo”, próxima telenovela global das 19 horas, a canção “Apaixocólico Anônimo” faz elegante ode ao sexo oral nas mulheres.

* A gravadora EMI adquiriu parte do catálogo da antiga Copacabana e está lançando a coleção “Os Maiores Sucessos”. Vendidos separadamente, já se encontram disponíveis bons títulos, como as coletâneas que reúnem algumas das canções mais conhecidas de Sivuca e Genival Lacerda, por exemplo.

* Estreando na gravadora Biscoito Fino, o cantor e compositor Danilo Caymmi (filho mais novo de Dorival e irmão de Nana) acaba de pôr no mercado “Alvear”, bom CD de inéditas autorais composto por treze faixas e produzido pelo violonista Flávio Mendes. Com sua voz grave, Danilo apresenta parcerias mais recentes feitas com Paulo César Pinheiro, Geraldo Carneiro, Ronaldo Bastos, Arthur Verocai, João Carlos Pádua e com a filha Alice Caymmi. Entre os melhores momentos desse bem-vindo álbum estão as canções “Retirança” (que conta com a participação especial de Nana), “Painel” e “Muito Chão”. Mas o maior destaque fica mesmo por conta da regravação da belíssima “A Vida Vai Mudar” (dele e Dudu Falcão).

* Produzido por César Bottinha, foi lançado recentemente “Meus Olhos Duas Sementes”, o terceiro álbum solo do cantor e compositor mineiro Elder Costa. Ele, que já tocou com Milton Nascimento, Ana Carolina e Maria Rita, apresenta um CD bem legal composto por quatorze faixas autorais (dentre elas, dois temas instrumentais), oito delas criadas ao lado do parceiro Madhan Bechara. Bom compositor, ótimo cantor e excelente violonista, Elder alcança os melhores momentos desse novo trabalho com as faixas “Mantiqueira Musa”, “Doze Cordas” e “Sem Olhar pra Trás”.

* O Teatro Mágico, capitaneado pelo cantor e compositor Fernando Anitelli, está lançando de maneira independente o CD intitulado “A Sociedade do Espetáculo”. Composto por dezenove faixas, esse novo álbum conta com as participações especiais de Nô Stopa (em “Folia no Quarto”) e de Leoni (em “Nas Margens de Mim”). Alguns dos destaques do repertório ficam por conta das faixas “Eu Não Sei na Verdade Quem Eu Sou”, “Fiz uma Canção pra Ela”, “O que se Perde enquanto os Olhos Piscam” e “Esse Mundo Não Vale o Mundo”.

* Miele foi um dos nomes mais comentados do país nas décadas de setenta e oitenta. Produtor por vocação, ele se transformou em um verdadeiro showman, chegando a apresentar um famoso programa mensal de entretenimento na Rede Globo ao lado da saudosa Sandra Bréa, a mais bonita atriz que já nasceu nestas terras tupiniquins. Jogado à margem do mercado já há alguns anos, ele gravou recentemente o CD “Bem-Vindo ao Rio”, o qual acaba de ser lançado pela gravadora Discobertas. Produzido por Pacífico Mascarenhas, também o autor da maioria das dez faixas que compõem o repertório, o álbum – como o título já entrega – é uma declaração de amor à Cidade Maravilhosa. Com arranjos e direção musical de Alberto Chimelli, Miele mergulha de cabeça na Bossa Nova, apresentando canções de construção simples, mas que possuem um certo charme. Vale a pena conhecer!

* Através de uma parceria entre a gravadora Deck e o Canal Brasil, acaba de chegar às lojas, nos formatos CD e DVD, o novo trabalho musical do cantor e compositor Eduardo Dussek, o qual é fruto do registro de apresentação realizada na casa de espetáculos Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro, em junho próximo passado. Trata-se de um projeto de nítido caráter revisionista uma vez que doze das treze canções que compõem o repertório foram sucessos na voz dele ou de intérpretes outros (a exceção é a hilária “Pilosofia Vurtuguesa” na qual o artista brinca com a fama de pouca inteligência dos lusitanos e se arrisca com um sotaque para lá de canastrão). Estão lá divertidas canções que assolaram as rádios nos anos oitenta, tais como “Rock da Cachorra”, “Brega Chique”, “Cantando no Banheiro”, “Barrados no Baile” e “Nostradamus”, este o tema que apresentou o talento de Dussek para o Brasil quando de sua classificação no Festival MPB 80, levado ao ar pela Rede Globo. Mas há também bonitas baladas a exemplo de “Aventura”, “Cabelos Negros” e “Eu Velejava em Você”. Ney Matogrosso surge em participação especial na inspirada “Seu Tipo” e Preta Gil é a convidada no medley que reúne “Caso Sério” e “Mania de Você” (ambas de Rita Lee e Roberto de Carvalho), bem como na esfuziante “Marchinha de Carnaval”. Dussek se faz o tempo inteiro acompanhado unicamente por seu próprio piano e mostra se encontrar em ótima forma vocal.

* O registro do show recentemente realizado por Roberto Carlos em Jerusalém será o trabalho do Rei para o final deste ano, adiando, mais uma vez, o seu tão aguardado CD de inéditas. O repertório contempla sucessos de sua vitoriosa carreira cantados em português, espanhol, italiano, inglês e hebraico. Sairá nos formatos CD, DVD e blu-ray.

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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