Musiqualidade

R E S E N H A

Cantor: FILIPE CATTO
CD: “FÔLEGO”
Gravadora: UNIVERSAL

Filipe Catto (Fotos Divulgação)

Natural de Porto Alegre (RS), o jovem cantor e compositor Filipe Catto (ora residente em São Paulo) cantava, ainda menino, em bailes e festas com o pai, e decidiu, desde cedo, que abraçaria a música como norte para sua vida. Em 2009, gravou um EP, disponibilizando-o para download gratuito na internet. Começou, assim, a ser conhecido fora de sua aldeia a ponto de, dois anos após, ter sido contratado pela gravadora Universal por onde recentemente fez chegar às lojas o seu primeiro CD intitulado “Saga”.

Filipe é daqueles artistas que parece saber o que está cantando. Com um registro que pode ser classificado como de contratenor (que, tecnicamente falando, diz respeito a um cantor de voz extensa que atinge graves de barítono ou baixo, mas que lembra voz de mulher), ele pode ser atribuído à linhagem que tem Ney Matogrosso como principal representante, dela fazendo parte outros nomes como Edson Cordeiro, Fênix e Rubi. Assim, é lógico que nesse início de carreira as comparações lhe sejam inevitáveis, cabendo tão somente a ele enfrentá-las e superá-las.

O recém-lançado álbum foi produzido a quatro mãos por Dadi e Paul Ralphes e é composto por quinze faixas. Destas, oito são de autoria do próprio Filipe que se mostra um compositor criativo, de estilo notadamente dramático, sem, no entanto, soar nostálgico. Suas canções possuem charme e crueza em doses certas e geralmente têm como tema o amor em suas mais diversas formas, o que termina por fazê-lo assumir, em algumas delas, um alter ego feminino (como se pode constatar em “Juro por Deus” e “Roupa do Corpo”). Indiscutivelmente, o melhor momento autoral fica por conta da bonita “Adoração”, mas há outros destaques como o samba-choro “Crime Passional” e o tango “Saga”, este já conhecido por fatia considerável de público por ter sido incluído na trilha sonora da recém finda telenovela global “Cordel Encantado”.

Já em searas alheias, ele apresenta cacife para passear tanto pelo brega (em “Garçon”, de Reginaldo Rossi) quanto pela viagem psicodélica de Zé Ramalho (em “Ave de Prata”, belo tema que deu título, em 1979, ao disco de estreia de Elba Ramalho). Antenado, mergulha com maestria nos universos contemporâneos do famoso Arnaldo Antunes (“2 Perdidos”, parceria com o já citado Dadi) e dos pouco conhecidos Alexandre Kumpinski, Ian Ramil, Diego Grando e Marcelo Souto (em “Nescafé”).

Em um espaço que, no Brasil, é dominado pelas mulheres, Filipe Catto procura seu lugar ao Sol. Num tempo em que os lançamentos se multiplicam sobremaneira, ele (como todos os que se aventuram pelos caminhos da música) vai necessitar de sorte. Num mercado como o atual, assolado por estratégias de marketing as mais variadas, espera-se que seu CD seja trabalhado decentemente pela gravadora a fim de que ele possa vir a alcançar a merecida visibilidade pois fina estampa, talento e vontade ele já vem mostrando que possui. Vale a pena conhecer!

N O V I D A D E S

Klébi nori

* A cantora e compositora paulistana Klébi Nori faz um resumo dos dezesseis anos de carreira e dos seus cinco álbuns no projeto “Ao Vivo”, um lançamento da gravadora Biscoito Fino que acaba de chegar ao mercado nos formatos CD e DVD, os quais contêm quinze e dezenove faixas, respectivamente. Fruto do registro de apresentação realizada em maio do ano passado na Casa das Caldeiras, em São Paulo, o projeto conta com as participações especiais de Guilherme Arantes (em “Mania de Possuir”) e de Roger Moreira, o vocalista da banda Ultraje a Rigor (em “Amor”).

Klébi possui bonito timbre grave e se permite ser porta-voz de seus próprios sentimentos e intenções, uma vez que a maior parte do repertório é feita de canções de sua própria autoria, algumas compostas ao lado de parceiros. Mesmo assim, ela abre espaço para releituras alheias, como acontece com “Maria do Futuro” (de Taiguara) e “Salve Linda Canção Sem Esperança” (de Luiz Melodia). Seu maior hit, “Calendário Lunar” está lá, mas é indubitável que os melhores momentos ficam por conta de “Fiz”, “Saiba Você”, “Choro pela Cidade” e “Corcovado Sem Seu Senhor”.

* “Pra Te Pegar” é o título do primeiro CD da carioca Jozi Lucka que também assina a produção desse trabalho independente. Cantora acima da média com um timbre belíssimo e farta extensão vocal, o senão do álbum fica por conta do repertório. Não propriamente com a linha pop rock adotada que recebeu interessante roupagem, mas com a maior parte das treze faixas, todas de autoria da própria artista (que geralmente compõe com parceiros), as quais se mostram melodicamente medianas. Quando foge do comum, como na anordestinada “Ondanil”, fica nítida a impressão de que com outras canções Jozi poderia arrebentar. Entre os destaques, além da faixa-título, estão “Palavras em Vão” e “Esse meu Rio”.

* Martelo batido: a partir do próximo ano, o acervo da extinta gravadora Pointer será relançado, em formato CD, pela gravadora Discobertas. Os primeiros títulos a serem disponibilizados serão “Entre Amigos”, um projeto coletivo que reuniu grandes nomes como Emílio Santiago, Gal Costa e Lucinha Lins, e trabalhos de Leny Andrade, Joyce e Rosa Maria Colyn.

* De maneira independente chega às lojas o primeiro CD de Nuno Neto, cantor de voz bonita e melodiosa. Intitulado “Na Hora Certa”, o álbum foi produzido pelo próprio artista ao lado de João Pimentel, o parceiro mais constante. A dupla assina metade das doze faixas que compõem o repertório do disco que conta com as participações especiais de Mart’nália, Frejat e Elisa Addor. As faixas restantes são releituras de músicas de autoria, entre outros, de Sueli Costa e Cacaso (“Dentro de Mim Mora um Anjo”), Caetano Veloso e Gilberto Gil (“No Dia em que Eu Vim-me Embora”) e Luiz Melodia (“Congênito”). Alguns dos melhores momentos ficam por conta de “Novela Sem Atriz”, “Vanessa” e “Samba Vagabundo”.

* Em 1978, Marília Barbosa era nome conhecido no Brasil inteiro. Atriz de constante presença nas telenovelas da Rede Globo da época, ela também frequentava as paradas de sucesso como cantora, muito pela inclusão de fonogramas por ela gravados para diversas trilhas (como “Caso Você Case”, de Vital Farias, em “Saramandaia”, e “O Circo”, de Sidney Miller, em “A Sombra dos Laranjais”). Naquele já distante ano, a gravadora Som Livre lançou o primeiro disco solo dela intitulado “Filme Nacional”, produzido por Guto Graça Mello, o qual agora retorna ao catálogo, em formato CD, através da Joia Moderna. Trata-se de um oportuno relançamento que mostra uma intérprete segura, de voz rouca e bonita, que soube se equilibrar em um repertório com altos e baixos. Entre os momentos mais interessantes estão “Olha” (de Roberto e Erasmo Carlos), “Antes que Aconteça” (de Renato Teixeira) e “Melodia Inacabada” (canção pouco conhecida de Rita Lee). O alagoano Djavan, então em começo de carreira, se fez presente com dois temas: “Estória de Cantador” e “Total Abandono”.

* Paralelamente à sua carreira solo de roqueira, a cantora baiana Pitty está desenvolvendo um duo de folk com Martin Mendezz, guitarrista de sua banda, que atende pelo nome de Agridoce. O primeiro disco terá a produção de Rafael Ramos e já se encontra em processo de finalização.

* Neste ano em que comemora nove décadas de vida, a cantora potiguar Ademilde Fonseca vê relançado um belo disco lançado originalmente em 1975. Bastante louvável a iniciativa da gravadora Discobertas que, assim, não deixa passar em branco data tão importante para a nossa “Rainha do Chorinho”. O primoroso trabalho foi produzido por Jorge Coutinho e continha, em seu repertório de doze faixas, verdadeiras pérolas do cancioneiro nacional, a exemplo de “Brasileirinho” (de Waldir Azevedo e Pereira Costa), “O Que Vier Eu Traço” (de Alvaiade e Zé Maria) e “Lamentos” (de Pixinguinha e Vinicius de Moraes). Naquela oportunidade, Ademilde gravou também duas canções até então inéditas que lhe foram presenteadas por Martinho da Vila e pela dupla João Bosco & Aldir Blanc (“Choro Chorão” e “Títulos de Nobreza”, respectivamente). Imperdível!

* Rosa Passos, cantora resistente em gravar temas inéditos, anuncia o lançamento para breve de mais um CD, novamente dominado por regravações. Intitulado “É Luxo Só”, o mote será a homenagem a duas grandes intérpretes do nosso cancioneiro, as viscerais Elizeth Cardoso e Dalva de Oliveira, as quais antagonizam com Rosa na forma de cantar, esta sempre pautada no minimalismo.

* Produzido por ele próprio e efetivamente tendo sido lançado no ano passado, retorna ao catálogo em edição viabilizada pela gravadora Biscoito Fino o CD “O Tempo e a Música”, quinto álbum solo do famoso baixista Arthur Maia. A faixa-título, um suingante rap, traz as participações especiais de Mart’nália e Belieny. Já o choro instrumental “Um Abraço no João” conta com a intervenção de Gilberto Gil no violão. O repertório contempla valsas (“Tuca”, do próprio Maia, e “Abismo de Rosas”, de Dilermando Reis), samba (“Minha Palhoça”, de J. Cascata) e até maxixe (“Brejeiro”, de Ernesto Nazareth).

* E enquanto se exercita como atriz no espetáculo “Totatiando”, em cartaz em São Paulo e que homenageia o compositor Luiz Tati, a incansável Zélia Duncan já anuncia a gravação de seu próximo CD no qual mergulhará de cabeça nas canções de Itamar Assumpção. Certamente, virá coisa muito boa por aí!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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