MUSIQUALIDADE

R E S E N H A

Cantora: MARIANA AYDAR
CD: “CAVALEIRO SELVAGEM AQUI TE SIGO”
Gravadora: UNIVERSAL

Filha do cantor, compositor e grande instrumentista Mário Manga, um dos grandes fomentadores culturais de São Paulo, a cantora Mariana Aydar vem consolidando sua carreira à margem da imagem do pai, em caminho oposto aos que a grande maioria dos filhos de famosos opta por fazer.
Quando lançou o seu CD de estreia (“Kavita 1”), em 2006, a recepção da crítica já lhe foi bem favorável. Naquele trabalho de estreia, apenas se esboçava uma artista promissora. O talento para garimpar um repertório interessante veio a ficar claro quando, em 2009, chegou às lojas o seu trabalho seguinte, o ótimo álbum “Peixes Pássaros Pessoas”, o qual trazia entre suas faixas algumas canções realmente muito legais compostas pelo marido, o também músico Duani.
Ciente do fato de que o show não pode parar e que, nos tempos modernos, para se ficar em evidência há mesmo que trabalhar de forma contínua, Mariana acaba de lançar, através da gravadora Universal, o seu terceiro CD intitulado “Cavaleiro Selvagem Aqui te Sigo”.
Composto por treze faixas (a primeira delas é “A Saga do Cavaleiro”, uma vinheta instrumental) e produzido por Letieres Leite, maestro da baiana Orkestra Rumpilezz, ao lado do já citado Duani, não tem a força do disco anterior, mas tampouco pode ser considerado um produto de expressividade reduzida.
Mariana canta direito, embora não seja do time das intérpretes que rouba a cena de primeira. Sua obra exige certa disponibilidade do ouvinte pois é através de repetidas audições que se vai descobrindo as nuanças existentes nos arranjos e nos desdobramentos sonoros, sejam vocais ou de execução. Desta vez, ela preferiu mergulhar com maior assiduidade em searas alheias, permitindo-se mostrar o seu lado autoral em apenas quatro momentos. O mais expressivo deles é, sem sombra de dúvida, a interessante “Solitude”, parceria com Luisa Maita e Jwala (aliás, frise-se aqui que, enquanto compositora, Mariana prefere assinar como Kavita), mas “Cavaleiro Selvagem”, parceria com o rapper paulista Emicida também tem lá seu encanto próprio.
Mais regional que seus discos anteriores, o recém-lançado álbum mergulha explicitamente na cultura norte-nordestina em dois bons momentos: o carimbó “O Homem da Perna de Pau” (de Chico Xavier e Edson Duarte) e o xote romântico “Preciso do teu Sorriso” (de João Silva e Enok Virgulino, com a participação especial de Dominguinhos na sanfona).
Da cena indie, Mariana pinçou tanto músicas mais recentes como “Não Foi em Vão” (da contemporânea Thalma de Freitas) e “Porto” (um quase fado de Romulo Fróes e Nuno Ramos) quanto a pouco conhecida “Os Passionais” (em apropriada releitura do tema assinado por Dante Ozzetti e Luiz Tatit). E das canções que já ganharam alta rotação em oportunidades pretéritas ela regravou “Vai Vadiar” (samba de Monarco e Alcino Corrêa propagado por Zeca Pagodinho que agora ganha aura de tango), “Galope Rasante” (de Zé Ramalho, uma das músicas de maior sucesso do repertório de Amelinha) e “Nine Out of Ten” (pioneiro reggae brasileiro de Caetano Veloso).
Entre a tradição e a modernidade, Mariana Aydar segue sua trajetória com atitude e boas ideias. Seu novo CD é bom, recomendável para quem tem bom gosto!

N O V I D A D E S

* Já se encontra disponível no mercado “Pitanga”, o terceiro CD de Mallu Magalhães, que agora vem assinando somente Mallu. Trata-se de um lançamento da gravadora Sony Music, composto por doze faixas inéditas e autorais, as quais mostram a artista em fase ultra romântica. Produzido pelo namorado, o cantor e compositor Marcelo Camelo, esse novo álbum denota um considerável amadurecimento, transformando-se no melhor de sua curta discografia. Mallu continua cantando com voz infantil, porém, ainda que sua pronúncia por vezes soe confusa, não se pode negar que isso lhe confere um charme todo próprio. Como compositora, ela permanece se dividindo, nas letras, entre o português e o inglês. Os destaques do repertório ficam por conta das músicas “Velha e Louca”, “Sambinha Bom”, “Olha Lá, Moreno”, “Por Que Você Faz Assim Comigo?” e “Youhuhu”. O cultuado Kassin participa, como músico, em algumas faixas.

* E mais outra cantora chega ao terceiro álbum. Trata-se da mineira Patrícia Ahmaral que apresenta “Superpoder”, produto que chega ao mercado de maneira independente e que foi produzido com competência pelo baixista Fernando Nunes (também o responsável pelos vigorosos arranjos). Composto por treze faixas, o trabalho ratifica ser Patrícia uma intérprete interessante que sabe se safar dos limites naturais de sua voz. Três das canções apresentadas são de autoria da própria artista: “Do Querer”, “Sorry, Baby” (que conta com a participação especial de Chico César) e “Revoada” (parceria com Vander Lee). Vander, aliás, assina sozinho “Desejo de Flor”, indubitavelmente um dos destaques do repertório juntamente com “Do Romance” (de Zeca Baleiro) e da ótima releitura de “Espelho Cristalino” (de Alceu Valença). Uma boa surpresa é o ressurgimento da esquecida Lucinha Turnbull, autora e convidada da faixa “Trilha de Luz”.

* Caberá à gravadora Joia Moderna a distribuição de “Negro Azul da Noite”, o novo CD da cantora paulista Izzy Gordon, sobrinha de Dolores Duran. Nesse trabalho (que chega às lojas em breve), a artista regrava dez canções de autoria de compositores negros. Integram o repertório temas assinados por Milton Nascimento, Carlinhos Brown, Geovana, Marcelo Falcão, Leci Brandão, Tim Maia, Cassiano, Agostinho dos Santos, Dona Ivone Lara e Paulinho da Viola.

* Já se encontra disponível o projeto infantil que marca a volta da dupla gaúcha Kleiton & Kledir ao mercado fonográfico nacional depois de um hiato de dois anos. “Par ou Ímpar” é o título do CD dedicado à criançada, o qual conta com a participação especial da humorista Fabiana Karla na faixa “Trova do Guri e da Guria”. O álbum, que chega ao mercado através da gravadora Biscoito Fino, é composto por doze canções e foi produzido pela própria dupla. Já a direção musical ficou a cargo do múltiplo instrumentista Caio Fonseca, a quem se devem reais reverências. O repertório é quase inteiramente autoral (uma das poucas exceções é a divertida “Planeta Poft”, de Pery Souza e Ricardo Silvestrin). Entre os melhores momentos estão os temas “Pé de Pilão”, “O Mágico Estrambólico”, “Formiga Atômica” e “Bicho Gente”.

* E para quem curte Djavan, duas ótimas novidades: a primeira é que o alagoano será o responsável pela produção do próximo CD de Martn'nália que será gravado até o final deste ano. A segunda é que ele já se prepara para, logo em seguida, entrar em estúdio a fim de registrar as canções que comporão o seu novo álbum, o qual trará repertório majoritariamente inédito.

* A cantora Mona Gadelha está lançando o CD intitulado “Praia Lírica”, um tributo à canção cearense dos anos setenta. Acompanhada unicamente pelo piano de Fernando Moura, ela reúne doze temas, a maioria deles bastante conhecidos, que mostraram ao Brasil a força da musicalidade do Ceará. Entre os destaques do repertório selecionado estão as faixas “Astro Vagabundo” (de Fagner e Fausto Nilo), “Flor da Paisagem” (de Robertinho do Recife e Fausto Nilo) e “Longarinas” (de Ednardo).

* Sete anos após o lançamento de seu CD de estreia, o cantor e compositor pernambucano Junio Barreto (autor de “Santana”, canção gravada por Gal Costa e mais recentemente por Maria Rita) fará chegar no próximo mês às lojas o seu segundo álbum. Intitulado “Setembro”, foi produzido por Pupillo (baterista da banda Nação Zumbi) e traz repertório inédito e autoral (a única regravação é a faixa “Passione”, tema composto para a trilha sonora do filme “Febre do Rato”). Há as participações especiais de Céu, Luisa Maita e Marina de la Riva.

* Jay Vaquer já possui, é certo, um público cativo, mas também é incontestável que este se restringe, em sua maior parte, ao eixo Rio-São Paulo. Na expectativa de se fazer conhecido nacionalmente, o cantor e compositor carioca lança o seu sexto álbum intitulado “Umbigobunker!?” com a produção assinada por Moogie Canazio (trata-se do primeiro título do catálogo nacional do selo Lab 344, até então dedicado exclusivamente à edição, no Brasil, de discos da cena indie estrangeira). Jay canta muitíssimo bem e os arranjos pesados contribuem com uma massa sonora considerável para fazê-lo deitar e rolar nas interpretações das doze faixas autorais. Nem todas elas, contudo, são facilmente assimiláveis, por vezes soando repetitivas, o que pode prejudicar a aceitação do produto. Os melhores momentos ficam por conta de “Áh, Mas Bem que Você Gosta (Coprófaga)”, “E Assim, Saltar” e “Do Nada, me Jogaram aos Leões” (esta contando, nos vocais, com a participação especial de Maria Gadú).

* A cantora Joana Flor lançará, em 2012, aguardado CD. O convite veio da gravadora Joia Moderna e ela já está a selecionar o repertório.

* O segundo álbum da cantora paulistana Graça Braga homenageará a obra do sambista Candeia. O projeto, que chegará ao mercado ainda este ano através da gravadora Lua Music, tem a produção assinada por Thiago Marques Luiz e conta com as participações especiais de Leci Brandão e Marcos Sacramento. Quem viver, ouvirá!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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