Cantor: PEDRO LUÍS
CD: “TEMPO DE MENINO”
Gravadora: MP,B / UNIVERSAL
Quem ouve os primeiros segundos de “Nas Estrelas”, canção que abre o primeiro CD solo do cantor e compositor Pedro Luís (uma parceria dele com Sérgio Paes) pode ter a impressão de que o artista deixou de lado o som percussivo característico de seus trabalhos à frente da banda PLAP (Pedro Luís e a Parede) e do grupo carnavalesco Monobloco, mergulhando num terreno minimalista. Mas isso cai por terra logo em seguida, quando, ainda na mesma faixa (transformada em um toque de capoeira), ele mostra que sua impressão digital está lá e segue permeando todo o novo trabalho.
Pedro já é um nome de ponta da nossa música popular. Não é daqueles artistas que explodiu de repente nem tampouco é um dos queridinhos da mídia eletrônica atual. Construiu sua carreira aos pouquinhos, degrau por degrau, e hoje possui nome respeitado no meio musical, com composições gravadas por nomes de peso, como Roberta Sá (que vem a ser sua esposa), Ney Matogrosso e Adriana Calcanhotto, entre outros.
Como criador, ele se apresenta geralmente inspirado, aliando canções que trazem melodias altamente palatáveis (com destaque para os bem construídos refrões que grudam de primeira na mente do ouvinte comum) com letras inteligentes que recaem sobre temas que povoam o nosso cotidiano.
Como cantor, vem-se constatando um salutar amadurecimento. O recém-lançado álbum, que se intitula “Tempo de Menino” e chega ao mercado através de uma parceria entre as gravadoras MP,B e Universal, trazendo na produção a assinatura do MiniStereo (duo formado pelo produtor Rodrigo Campello com o guitarrista Jr. Tostoi), é prova inequívoca disso.
Pedro assina ao lado de parceiros doze das treze faixas selecionadas (a única exceção é a regravação de “Hoje e Amanhã Não Saio de Casa”, tema da lavra de Luiz Melodia) e, ao lado de Ivan Santos, criou “Crise”, um dos bons momentos do CD ao lado do samba “Na Medida do Meu Coração” (composta com Ricardo Silveira) e do rock “Só o Esqueleto” (feita ao lado de Ricardo Coelho).
No entanto, é honesto ressaltar que se torna tarefa complexa explicitar destaques quando se depara com um repertório de qualidade acima da média como é o ora apresentado, o qual abrange desde uma bem-humorada declaração de amor no funk “Menina do Salão de Beleza” (parceria com Beto Valente e Rodrigo Cabelo) até a ode à mulher carioca em “Bela Fera”, belo tema de abertura da série “As Cariocas” (levada ao ar pela Rede Globo no ano passado), em nova versão menos impactante que a original constante do CD que trouxe a correspondente trilha sonora. A efervescência do Rio de Janeiro, aliás, é motivo de orgulho do artista carioca, o qual é trazido a lume em “Rio Moderno” (parceria com Carlos Rennó).
Canções anteriormente gravadas por outros intérpretes também ganham espaço em releituras inspiradas. É o caso da bem sacada “Tá?” (parceria com Rennó e Roberta Sá, que conta com a participação desta nos vocais) e do inspirado baião “Os Beijos” (mais uma em parceria com Ivan Santos), as quais já ganharam ótimos registros feitos por Mariana Aydar e Elba Ramalho, respectivamente.
Outros convidados especiais são Erasmo Carlos na faixa-título, Milton Nascimento na delicada toada “Imbora” (parceria de Pedro com Zé Renato) e a cantora Carminho no fado “Lusa” (parceria com Antonio Saraiva).
O talento de Pedro Luís está presente em todos os detalhes desse CD muito bem-vindo e que põe, na linha de frente, sua moderna miscigenação sonora. Corra e ouça!
N O V I D A D E S
* Fã assumido dos Beatles desde a adolescência, Zé Ramalho tencionava lançar um CD interpretando canções do quarteto britânico já há mais de uma década. O desejo somente agora pôde se concretizar através do disco “Zé Ramalho Canta Beatles”, o qual acaba de chegar ao mercado através da gravadora Discobertas e cuja capa remete ao segundo álbum do grupo homenageado, lançado em 1963. Com sua voz grave e bonita ainda em forma, o paraibano, em um repertório composto por dezesseis faixas, joga luzes próprias sobre algumas parcerias famosas de John Lennon e Paul McCartney (“Golden Slumbers”, “In My Life” e “The Long and Winding Road” estão entre elas), mas também abre espaço para temas solos assinados por Lennon (“Jealous Guy”), Paul (“Another Day”) e George Harrison (“Beware of Darkness” e “I Need You”). Um trabalho realmente interessante até porque, nordestino típico, Zé traz para o universo regional canções como “Dear Prudence”, "While My Guitar Gently Weeps” e “God”.
* É também através da Discobertas que retornam ao catálogo dois títulos da cantora Maria Creuza. Trata-se de “Paixão Acesa” e “Pura Magia”, lançados originalmente em 1985 e 1987. O primeiro é muito superior ao segundo e traz, no seu repertório de doze faixas, canções bem interessantes como o samba “Estrela Cadente” (de Cláudio Jorge e Nei Lopes), a romântica “Vontade” (de Reginaldo Bessa) e o frevo “Maliciosa” (de Zé do Maranhão, Alex e Paulinho Rezende). Já o segundo é composto por dez canções, dentre as quais se sobressaem "Quando Amanheceu” (de Elton Medeiros e Délcio Carvalho) e “Sou Rei” (de Toni e Afonso), e conta com as participações especiais de Sivuca em “Luz” e Wando em “Da Tentação a Cantada”. A cantora encontrava-se, então, no auge de sua forma vocal, podendo, então, o ouvinte se deparar com o timbre claro e macio que a fez se transformar em uma das intérpretes preferidas de Vinicius de Morais.
* Edu Krieger, compositor dos mais inspirados da atualidade, já trabalha no repertório de seu terceiro CD. Uma das faixas garantidas é “Aos Vinte e Sete”, canção feita no ritmo de martelo agalopado que, em sua letra, fala sobre as trágicas mortes de grandes ídolos aos vinte e sete anos de idade, dentre os quais Amy Winehouse, Jimi Hendrix, Jim Morrison, Janis Joplin e Kurt Cobain.
* Já há algum tempo tentando um lugar no panteão da nossa música popular, a cantora e compositora da cena indie paulista Dani Gurgel está lançando mais um CD. Trata-se de “Viadutos”, trabalho que chega às lojas através da gravadora Borandá e é composto por dezessete faixas, dez delas resultantes de parcerias dela com colaboradores como, entre outros, Vicente Barreto, Tatiana Parra e Filó Machado. Gravado ao vivo durante dois dias, o álbum teve a produção musical dividida entre Thiago Rabello e Conrado Goys e a direção ficou a cargo de Vinicius Calderoni. A artista mostra temas em que, nas letras, se ressaltam os anseios do mundo atual. Com voz aguda, graciosa e afinada, Dani faz das canções “Da Boca pra Fora”, “Silêncio”, “O Mundo Mudou”, “De Graça” e “Santuário do Pau de Aroeira” os destaques do repertório apresentado.
* A gravadora Biscoito Fino confirma ainda para este ano o lançamento de um novo CD de inéditas de Toquinho. Intitulado “Meu Canto”, o álbum trará composições do artista feitas com parceiros como Eduardo Gudin, Francis Hime, Carlinhos Vergueiro e o escritor chileno Antonio Skármeta.
* Primeiro título lançado pelo seu próprio recém-fundado selo, já se encontra disponível “Como Diria Blavatsky”, o novo CD de Jorge Vercillo que traz na capa símbolos da ciência do ocultismo. Composto por quatorze faixas autorais (há parcerias com Dudu Falcão, João Bani e Gabriela Vercillo), o produto foi produzido caprichadamente pelo próprio artista ao lado do baixista André Neiva. Vercillo canta bem (e isso é inegável) e compõe direitinho, mas é fato que, de uns tempos para cá, ele vem soando um tanto repetitivo. Há homenagens a Fernando de Noronha (“Acendeu”), ao filho Victor (“Invictor”) e à escritora russa Helena Petrovina Blavatsky, fundadora da Sociedade Teosófica (a faixa-título). Pegando carona no sucesso de “Fina Estampa”, Vercillo rebobina de seu disco anterior a canção “Memória do Prazer” (que conta com a participação especial da cantora Nina Jô), incluída na trilha sonora da telenovela global. O tema “Nos Espelhos” aparece em duas versões, uma delas remix. Já o samba “Faixa de Gaza” surgiu como um desabafo do artista por conta das vaias recebidas quando participou de um show de Jorge Mautner em janeiro passado no Circo Voador, localizado na Lapa, famoso bairro do Rio de Janeiro. Entre os destaques do repertório selecionado estão as faixas “Ventou – Ventou” e “Me Leve a Sério”, além da releitura de “Sensível Demais”, canção propagada pela dupla Chrystian & Ralf em 1998.
*As quatro décadas de carreira da dupla Chitãozinho & Xororó estão sendo comemoradas com o lançamento de uma trilogia de DVDs. O último deles chegará ao mercado ainda este ano e será o registro de show realizado em agosto passado na Sala São Paulo, o qual contou com as participações de Alexandre Pires, Caetano Veloso, Fábio Jr., Fafá de Belém, Jair Rodrigues e Maria Gadú, além – é claro – dos rebentos Sandy & Junior.
* Também ator, o cantor e compositor paulista Dan Nakagawa está lançando o seu segundo CD. Trata-se de “O Oposto de Dizer Adeus”, composto por dez faixas autorais, o qual acaba de chegar ao mercado através da gravadora YB Music. Com a produção assinada pelo próprio artista ao lado de Rogério Bastos, o trabalho mostra um incontestável amadurecimento musical com relação ao seu trabalho de estreia. Dan, que começou a despertar curiosidade no meio artístico quando teve uma de suas composições (“Um Pouco de Calor”) gravada por Ney Matogrosso no disco “Inclassificáveis (de 2008), conta, nesse novo álbum, com as participações especiais de Tulipa Ruiz, Blubell, Nelo Johann e Pélico. Entre os melhores momentos de um repertório interessante e coerente estão, além da faixa-título, as canções “Coração Coragem”, “O Lobo e a Primavera”, “Assim Assim” e “Todo Mundo o Tempo Todo”.
* A ótima telenovela global das 18 horas, “A Vida da Gente”, terá sua trilha sonora em breve editada pela gravadora Som Livre e dela constarão fonogramas gravados por Chico Buarque (“Sou Eu”), Cássia Eller (“As Coisas Tão Mais Lindas”), Rita Lee (“Ovelha Negra”), Elba Ramalho (“Todo Sentimento”), Bebel Gilberto (“Mais Feliz”), Zizi Possi (“Explode Coração”) e Paula Toller (“Esotérico”), entre outros.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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