Musiqualidade

R E S E N H A     1

Cantora: LUCIANA MELLO
CD: “6º SOLO”
Gravadora: APE MUSIC

Luciana Mello

Quando surgiu no mercado fonográfico nacional, em 2000, a cantora Luciana Mello veio acompanhada por um grupo de outros artistas como o irmão Jair Oliveira (ambos são filhos de Jair Rodrigues), Pedro Mariano (filho de Elis Regina), Daniel Carlomagno, Max de Castro e Simoninha (os dois últimos, filhos de Wilson Simonal), o qual se autodenominou de Artistas Reunidos. Única mulher entre os cinco marmanjos, ela logo se destacou pela beleza vocal aliada à forte presença cênica. Escolhas equivocadas de repertório, no entanto, contribuíram significativamente para que a artista não pudesse contabilizar os louros à altura de seu talento.

Tentando compensar o tempo perdido, ela acaba de lançar um novo CD. Intitulado “6º Solo”, o trabalho foi produzido por Otávio de Moraes e apresenta um repertório composto por onze faixas.

Nota-se que, desta vez, Luciana foi bem mais seleta na escolha das músicas. Um e outro momento ainda ficam a dever, mas, no geral, o álbum se consolida como o melhor de sua discografia, abrindo-lhe possibilidades para voos bem interessantes. Cantando cada vez melhor e se mostrando totalmente à vontade com sua arte, ela rebobina com bastante propriedade tanto um tema já bastante conhecido de Gonzaguinha (“Recado”, em alta rotatividade atualmente por fazer parte, na voz de seu autor, da trilha sonora da telenovela global “Fina Estampa”) como uma canção de Djavan que passou praticamente batida (o samba-jazz “Deixa o Sol Sair”, lançado por ele no CD “Malásia”).

Esperta, ela se aproxima da turma que vem contribuindo com a parcela inteligente da música popular brasileira de hoje e põe sua voz a serviço de Chico César (“Descolada”, parceria com Márcio Arantes) e de Arnaldo Antunes (“Se For Pra Mentir”, feita com Cézar Mendes). E ainda abre espaço para a africanidade nativa na bem construída “África” (de Sérgio Santos e Paulo César Pinheiro) e para a liberdade de fronteiras em “Couller Café” (do francês Serge Gainsbourg que conta, nos vocais, com a participação de Cornelle, cantor alemão radicado no Canadá). No entanto, os dois melhores momentos do disco ficam mesmo em casa: é que são de autoria do mano Jairzinho tanto a bela balada “Tchau” como a contagiante “Mentira”, sambão que traz o pai Jairzão como convidado especial.

Seguindo em frente na sua trajetória musical, Luciana Mello abandona em muito boa hora o pop descartável que dominava seus trabalhos anteriores e dá lugar a uma intérprete mais leve que parece ter definido o que quer de verdade para a sua carreira. Quem tiver bons ouvidos para escutar, que o faça!

R E S E N H A     2

Cantora: MANU SANTOS
CD: “NOSSA ALEGRIA”
Gravadora: SALADESOM RECORDS

Manu Santos

“Nossa Alegria” é o título do primeiro e ótimo CD da cantora Manu Santos, mais uma cria da Lapa carioca, que traz uma sonoridade que transita entre Rio de Janeiro e Bahia. Trata-se de um lançamento da gravadora Saladesom Records, o qual foi produzido a quatro mãos por André Agra e Rodrigo Santiago e é composto por treze faixas.

Manu é cantora de timbre inegavelmente muito bonito, mas que, decerto, terá que saber se livrar das comparações com Roberta Sá (esta também, quando surgiu, teve sua voz associada à de Marisa Monte que, por sua vez, já foi comparada inicialmente a Gal Costa). De fato, em alguns momentos (como em, por exemplo, na faixa “Domingo É Dia”, de Moacyr Luz e Rogério Batalha, um dos destaques do álbum), as semelhanças são incontestáveis, até porque, assim como Roberta, Manu também optou por enveredar pelo caminho do samba e suas variações mais próximas.

Diferentemente do que ocorre em geral, no entanto, aqui são as regravações que se tornam desnecessárias (caso de “Lua de São Jorge”, de Caetano Veloso, e “Lugar Comum”, de João Donato e Gilberto Gil), posto que muito pouco há a se acrescentar em temas já exaustivamente visitados. É quando mostra músicas inéditas que realmente Manu comprova ser um talento de real futuro. Entre os melhores momentos do brejeiro repertório apresentado estão “Eu Vou Cair na Balada” (de Giana Viscardi e Michi Ruzitschka), “Chão de Jardim” (de George Israel e Marcelo Camelo) e principalmente ”O Samba me Diz” (primorosa parceria de Fred Martins e Marcelo Diniz). Vale a pena conhecer!

N O V I D A D E S

* A percussionista Simone Sou (que artisticamente já assinou Simone Soul) ficou conhecida por acompanhar em shows e gravações de estúdio nomes como Chico César e Zeca Baleiro. Agora, ela resolveu também mostrar sua voz e o faz através do lançamento de seu primeiro CD intitulado “Sim One Sou”, o qual chegou recentemente ao mercado. Produzido pela própria artista e composto por treze faixas autorais (algumas compostas ao lado de parceiros), o álbum não traz canções em seu formato tradicional, tornando-se uma espécie de “disco de instrumentista”. Simone possui um timbre vocal bonito, mas as experimentações sonoras terminam sobressaindo em faixas que duram quase sempre mais de cinco minutos. Entre os melhores momentos do repertório apresentado estão “Mulher que Come Terra”, “Pétalas” e “Choro Seco”.

* Gravado ao vivo, em abril passado, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, o projeto “Música de Brinquedo Ao Vivo” (já disponível em CD e DVD) tem o repertório calcado no álbum homônimo registrado em estúdio e lançado no ano passado pelo Pato Fu. Todavia, abre espaço para canções da banda mineira, a exemplo de “Simplicidade”, “Perdendo Dentes”, “Sobre o Tempo” e “Made in Japan”, o que não ocorreu no trabalho original. Fernanda Takai, a vocalista, põe o seu timbre delicado a serviço de músicas bastante conhecidas, mas vertidas para um universo lúdico através de arranjos executados por instrumentos de brinquedo. Integrantes do grupo de teatro de bonecos Giramundo fazem o contraponto das vozes, através de dois monstros manipulados em cena, numa sacada bem legal. Entre os destaques estão as faixas “Ovelha Negra” (de Rita Lee), “Todos Estão Surdos” (de Roberto e Erasmo Carlos) e “Live and Let Die” (de Paul e Linda McCartney).

* Rodrigo Vidal, conhecido no meio musical por capitanear os discos de Maria Gadú e Monique Kessous, será o responsável pela produção do novo álbum de Ivan Lins que chegará em breve ao mercado através da gravadora Som Livre e trará, como convidado especial, o cantor português Antonio Zambujo.

* Com uma sonoridade basicamente roqueira (como, aliás, não poderia deixar de ser), está chegando ao mercado o CD “Celebração & Sacrifício” do cantor, compositor e guitarrista Beto Lee, um dos filhos do casal Rita Lee e Roberto de Carvalho. Produzido por Tadeu Patolla e composto por onze faixas (oito delas autorais compostas ao lado de parceiros como Kiko Zambianchi, Nicolas Graves e Leandro Parente), o álbum é um lançamento da gravadora Som Livre e mostra que Beto tem potencial, munido por um timbre vocal perfeitamente adequado ao universo musical escolhido. O artista homenageia a filha em “Izabella” e a mãe famosa ao regravar “Corista de Rock” (seminal parceria dela com Luiz Sérgio). Entre os destaques do repertório, além da faixa-titulo, estão “Encrenca”, “O Controle” e o blues “You Got To Move” (de Gary Davis e Fred McDowell). Há as participações especiais de Supla em “Going With You” (dele próprio) e de Skowa em “Era Tarde Demais”.

* Embora ainda em caráter sigiloso, já se sabe que Maria Bethânia começa a formatar o repertório de seu próximo CD de inéditas a ser lançado no próximo ano. A cantora, inclusive, ganhou recentemente de Djavan a inédita música “Vive”, a qual deverá ser um dos destaques do novo álbum.

* Chegou às lojas no final do mês passado a coletânea “Relicário”. Trata-se de uma iniciativa da gravadora Universal para lembrar os dez anos de falecimento de Cássia Eller a serem completados em dezembro próximo. Composto por quatorze faixas, todas elas de autoria de Nando Reis, o álbum traz, como chamariz para fãs, a inédita “Baby Love”. Há ainda registros inéditos de duetos de Cássia com Nando em “As Coisas Tão Mais Lindas” e “Um Tiro no Coração”, embora ambas as canções já tenham merecido gravações anteriores da cantora. O repertório selecionado contempla hits como “O Segundo Sol”, “E.C.T.” e “All Star”.

* Os seis discos que Celly Campello gravou pela gravadora Odeon entre 1959 e 1968 integram a caixa “Estúpido Cupido” que a gravadora Discobertas acabou de lançar. Para quem curte os primórdios do rock nacional, trata-se de uma ótima pedida!

* E para lembrar os sessenta anos em que foi gravado o primeiro disco de Doris Monteiro, cantora de voz bonita e suave, é também a Discobertas que está lançando um CD duplo contendo os primeiros fonogramas por ela registrados, ainda na década de cinquenta do século passado, pelas gravadoras Todamérica e Continental. Trata-se realmente de uma coletânea com grande valor documental, a qual traz, entre as vinte e nove faixas selecionadas, canções como “Se Você Se Importasse” (de Peterpan), “Lili” (de Mário de Camargo e Orlando de Soares Filho), “Desejo” (de Wilson Moreira e Jorge de Castro), “Dó-Ré-Mi” (de Fernando César), “Quando Tu Passas por Mim” (de Antônio Maria e Vinicius de Moraes), “Se É por Falta de Adeus” e “Engano” (ambas de Tom Jobim, parcerias com Dolores Duran e Luiz Bonfá, respectivamente). São boleros e sambas-canções que iriam sedimentar os passos de Doris que, poucos anos depois, mergulharia num estilo de canto bastante pessoal no qual predominava o sambalanço e a bossa e que terminou por marcar a melhor fase de sua carreira.

* Além de “Oração ao Tempo”, de Caetano Veloso, o segundo CD da cantora Maria Gadú trará outra regravação: trata-se de “Amor de Índio”, famosa parceria de Beto Guedes e Márcio Borges, já gravada por muitas vozes, dentre as quais Milton Nascimento e Elba Ramalho. No campo das inéditas, um dos destaques será “Axé a Capella”, de autoria de Dani Black, filho de Tetê Espíndola. A cantora, compositora e baixista norte-americana de jazz Esperanza Spalding surgirá em participação especial.

* Em breve estará chegando às lojas a trilha sonora de “Aquele Beijo”, a nova e divertida telenovela global das 19 horas. Entre os fonogramas selecionados estão gravações feitas por Zé Ricardo (“Exato Momento”), Zeca Baleiro (“Vai de Madureira”), Vanessa da Mata (“Te Amo”), Patrícia Mello (“Não”), Michael Sullivan (“Maior que Eu”) e Daniel Jobim com Xuxa (“Garota de Ipanema”, o tema de abertura).

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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