Musiqualidade

Cantora: ALCIONE
CD: “DUAS FACES – JAM SESSION”
Gravadora: BISCOITO FINO

Quarenta anos não são quarenta dias. E a cantora maranhense Alcione parece saber muito bem disso tanto que, para comemorar quatro décadas de uma carreira que conheceu altos e baixos, está lançando o projeto “Duas Faces”, o qual é composto por dois CDs que chegarão ao mercado através da gravadora Biscoito Fino. O primeiro deles já se encontra disponível e recebeu o subtítulo de “Jam Session” porque é fruto de gravações ao vivo cujos registros ocorreram em clima caseiro, reunindo alguns convidados especiais,

Alcione, também uma grande trompetista, tornou-se conhecida nacionalmente a partir de meados da década de setenta quando engatilhou hits como “O Surdo”, “Não Deixe o Samba Morrer” e especialmente “Sufoco”. Nos anos seguintes, frequentou com assiduidade as paradas de sucesso e gravou ótimos discos, a exemplo de “Gostoso Veneno” (1979) e “E Vamos à Luta” (1980), chegando a comandar, em horário nobre, um programa musical veiculado pela Rede Globo. Naquele período, fazia parte do conhecido “ABC do Samba”, o qual se completava com Beth Carvalho e Clara Nunes.

Com o passar do tempo, no entanto, ela enveredou pelo caminho das baladas românticas de forte apelo popular. A voz de grande extensão e a cancha para duelar com músicas dos mais variados gêneros fizeram com que ela se adaptasse facilmente ao estilo passional dos temas abordados e, assim, foi se mantendo entre as grandes vendedoras de disco no Brasil.

De uns anos para cá, a Marrom (e é por esta alcunha que gosta de ser reconhecida) vem lançando álbuns com uma regularidade invejável (alguns gravados em estúdio, outros ao vivo), em todos eles dosando os chamados sambas de raiz assinados por grandes compositores do gênero com temas desbragadamente românticos. A fórmula parece ter dado certo, vez que terminou por consolidá-la como uma das mais conhecidas e premiadas cantoras brasileiras.

O recém-lançado “Jam Session” apresenta um repertório composto por dezesseis faixas. Nelas, constata-se que a potência da voz de Alcione já não é a mesma de outrora, mas o fato é que ela ainda mantém acesa a chama da grande intérprete que, logo na fala de abertura, declara seu amor à música. E entre canções inéditas (a faixa-titulo, de autoria de Altay Veloso, e “Quem Já Esteve Só”, de Ivor Lancellotti e Paulo César Pinheiro), ela resgata belos temas antigos (“Rua Sem Sol”, de Mário Lago e Henrique Gaudelman, e “Até às Lágrimas”, de Raul Sampaio e Benil Santos).

A cereja do bolo, no entanto, reside mesmo nas participações especiais. E se com Djavan, Alcione meio que se complica nas divisões intrincadas de “Capim” (grande canção do artista alagoano), ao lado de Martinho da Vila ela se mostra em casa no medley que reúne “Ilha de Maré” (de Walmir Lima e Lupa) e “Roda Ciranda” (do próprio Martinho). As amigas Maria Bethânia e Áurea Martins se fazem presentes em dois dos melhores momentos do projeto (“Sem Mais Adeus”, de Francis Hime e Vinicius de Moraes, e “Pela Rua”, de Dolores Duran e J. Ribamar, respectivamente), mas não há como deixar de ressaltar a felicidade do encontro com Lenine na deliciosa “Evolução” (de José Cavalcante de Albuquerque), embora o arranjo se ressinta de elementos com maior expressividade nordestina. Completa o seleto time de convidados o cantor Emílio Santiago (em “40 Anos”, outra de Altay, agora em parceria com Paulo César Feital).

O espírito festivo é o motor do projeto que traz ainda temas cantados por Alcione em espanhol e italiano e a releitura de mais uma pérola da lavra de Fátima Guedes (“Passional”). Então é isso: vamos comemorar com a Marrom que, afinal de contas, ela merece!

N O V I D A D E S

* Nome emergente no cenário musical nacional, o cantor e compositor Dani Black acabou de lançar, através da gravadora Som Livre, o seu homônimo CD de estreia. Rebento da cantora Tetê Espíndola e do compositor Arnaldo Black, ele impressiona pelo talento herdado, mas desenvolvido à sua maneira, vez que trilha os seus próprios caminhos. Ótimo cantor e autor inspirado, ele assina doze das treze faixas que compõem o repertório do disco que foi produzido por Marcelo Mariano. A exceção é a interessantíssima releitura de “Comer na Mão”, hilário tema de autoria de Chico César (aliás, em alguns momentos torna-se nítida a influência do canto deste na forma com que aquele projeta a voz). Tetê comparece nos vocais de “Me Enlouquece” e Arnaldo é o parceiro do filho na faixa “Deixar o Barco Ir”. Há a participação especial de Pedro Altério em “Vem” (de autoria dos dois). Entre os melhores momentos estão as faixas “Pega de Jeito” (que tem toda a pinta de hit), “Devagarinho”, “Brincadeira” e “Aurora”, esta já gravada pela cantora Maria Gadú (que, aliás, vai incluir duas novas canções de Dani no CD que estará a lançar até o Natal). Vale a pena conhecer!

* Batido o martelo! Chamar-se-á “Recanto” o aguardado CD de Gal Costa, nas lojas no começo de dezembro. Nesse trabalho, a diva baiana interpretará somente canções de Caetano Veloso, entre elas “Cara do Mundo”, “Neguinho”, “O Menino”, “Mansidão” e “Sexo e Dinheiro”.

* A gravadora Warner põe nas lojas a coleção “Dose Dupla” através da qual reúne dois títulos de um mesmo artista em um CD duplo. Dentre os nomes contemplados com a iniciativa estão Fafá de Belém, Guilherme Arantes, Hermeto Pascoal, Milton Nascimento, Almir Sater, Candeia, Célia, Tom Zé, Oswaldo Montenegro, Vânia Abreu, Gilberto Gil, Frejat e as bandas Raimundos e Ira!

* Sob a direção de Rodrigo Campello, já se encontra disponível nas melhores lojas, através da gravadora Warner, o quarto CD do grupo Casuarina. Intitulado “Trilhas – Terra Firme”. O repertório é inédito e autoral e o trabalho conta com as participações especiais do violinista Nicolas Krassik, do trompetista Silvério Pontes e do trombonista Zé da Velha. A faixa “Ponto de Vista” (de João Cavalcanti e Edu Krieger) é, de longe, o grande destaque do disco.

* O paulista Zé Miguel Wisnik é compositor admirado por aqueles aficcionados no melhor da nossa música popular, embora seu nome não seja de fato conhecido pelo grande público. Com canções gravadas por grandes divas do cancioneiro nacional, a exemplo de Maria Bethânia, Zizi Possi, Elza Soares, Zélia Duncan, Jussara Silveira, Ná Ozzetti, Mônica Salmaso e Gal Costa, ele também é um exímio pianista e se arrisca como cantor. Pois é esse artista plural que acaba de fazer chegar ao mercado o seu novo projeto musical: trata-se de “Indivisível”, produzido por Alê Siqueira e composto por dois CDs distintos com repertórios predominantemente inéditos, os quais são vendidos juntos e cujas capas possuem um ímã que atrai uma à outra numa sacada gráfica genial. O CD de cor creme apresenta uma dúzia de canções e nele Wisnik não toca piano. Mas põe melodia em poema de Fernando Pessoa (“Tenho Dó das Estrelas”) e conta com a participação especial do parceiro Chico Buarque em “Embebedado”. Os melhores momentos ficam por conta das faixas “Errei com Você”, “Anoitecer” (outro poema cujos versos ele musicou, desta feita da lavra de Carlos Drummond de Andrade) e do medley que reúne “Eva e Adão” e “Presente”. Já o CD de cor azul traz treze faixas nas quais o artista executa seu piano e divide parcerias com Guinga, Alice Ruiz, Marcelo Jeneci, Mauro Aguiar e Luiz Tatit. Este último, aliás, é o convidado especial da ótima “Tristeza do Zé”. Outros pontos altos são “Feito Para Acabar”, “Nossa Canção” e “Mortal Loucura” (mais um poema por ele musicado, agora fazendo uso de versos de Gregório de Matos). Wisnik não é definitivamente o melhor intérprete para a sua obra musical, mas dá conta do recado direitinho, fazendo assim com que as canções apresentadas se transformem em um prato cheio para futuras regravações.

* Milton Nascimento atualmente percorre o Brasil com o show “…E a Gente Sonhando”, cujo repertório tem como base o seu mais recente CD. Em parceria com o Canal Brasil, a gravadora EMI anuncia que as apresentações a serem realizadas nos dias 3 e 4 de dezembro próximo no Cine-Theatro Central em Juiz de Fora (MG) serão devidamente registradas para se transformar em CD, DVD e blu-ray que serão lançados no primeiro trimestre de 2012.

* O sambista Roberto Silva ganha, através da Microservice, a reedição de dois de seus títulos mais conhecidos. Trata-se de “Descendo o Morro” e “Descendo o Morro nº 2”, lançados em 1958 e 1959, respectivamente, os quais retornam ao catálogo dentro da série “Bilogia”. O repertório contempla músicas de autoria de grandes compositores, tais como Wilson Baptista, Lupicínio Rodrigues, Nelson Cavaquinho, Herivelto Martins, Ataulfo Aves e outros.

* O selo Discobertas anuncia para breve o lançamento de “A Dona da Bossa”, registro ao vivo de show que a cantora Claudette Soares realizou no Teatro Fecap, em São Paulo, em agosto passado. O repertório traz canções assinadas, entre outros, por Roberto Menescal, Carlos Lyra e Ivan Lins.

* Com algumas alterações de faixas, a gravadora Deckdisc relançou recentemente o CD intitulado “Pum!”, voltado para o público infantil. A melhor novidade é a inclusão da música “Iô Iô” (de Michael Sullivan, Miguel Plopschi e Paulo Massadas) na voz da cantora Roberta Campos, a qual termina se consubstanciando como o destaque maior do repertório de dez faixas que ainda alcança outro bom momento com a canção “Barata” (de John Ulhoa) gravada pela banda Pato Fu. Também participam da coletânea, entre outros, Erasmo Carlos, Pitty e a banda Ultraje a Rigor.

* O registro do show que Sandy realizou em agosto passado no Teatro Bradesco em São Paulo servirá de base para o primeiro DVD solo de sua carreira, o qual deverá aportar nas lojas até o final deste ano. A cantora contou com as participações especiais de Seu Jorge e Lenine, além da pianista britânica Nerina Pallot.

* O cantor e compositor Jards Macalé está lançando mais um CD de releituras através da gravadora Biscoito Fino. Trata-se de “Jards”, um dos melhores títulos de sua discografia, álbum que tem a direção musical assinada pelo pianista Cristóvão Bastos e é composto por treze faixas, dez delas de autoria do próprio Macalé ao lado de seus parceiros mais constantes como Waly Salomão, Duda e Capinam. Completam o repertório “Black and Blue” (de Andy Razaf, Fatz Waller e George Brooks), “Unicornio” (de Silvio Rodrigues) e “Juízo Final” (de Élcio Soares e Nelson Cavaquinho), pérola que conta com a participação especial do grande sambista Elton Medeiros. Outros convidados, todos bastante apropriados nas faixas em que se fazem presentes, são: Luiz Melodia (em “Negra Melodia”), Ava Rocha (em “Berceuse Crioulle”), Frejat (em “Mal Secreto”) e Thaís Gullin (em “Hotel das Estrelas”). Em muito boa hora, Macalé revive ótimos temas autorais, a exemplo de “Movimento dos Barcos”, “Revendo Amigos” e “Mulheres” (esta, uma rara parceria dele com Zé Ramalho). Muito legal mesmo!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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