R E S E N H A
Cantor: OSWALDO MONTENEGRO
CD: “DE PASSAGEM”
Gravadora: APE MUSIC
Se, na década de oitenta, as rádios tocavam, de norte a sul do país, várias das canções compostas por Oswaldo Montenegro, nome que se consolidou, tempos antes, por vitoriosas participações em festivais de música, dos anos noventa em diante ele viu sua popularidade estagnar, talvez muito por conta do excesso dos trabalhos de cunho revisionista que insistiu em pôr no mercado, não obstante tenha mantido até hoje um público cativo que sempre se faz presente nos shows que realiza.
Grande instrumentista (ele toca com destreza piano e violão), Oswaldo sempre teve um espírito mambembe e durante anos rodou o Brasil à frente de uma trupe alternativa de teatro e música (pouca gente sabe, mas ele chegou a residir aqui em Aracaju por meses). De alma atarantada, é uma das grandes vozes masculinas da nossa música popular e ainda hoje, aos cinquenta e cinco anos (aparentando mais), o alcance e a potência da mesma se mantêm praticamente intactos.
Isso pode ser facilmente constatável ao se ouvir “De Passagem”, o novo CD que ele acaba de lançar através da gravadora Ape Music e por ele próprio produzido. Trata-se, enfim, de um disco contendo farto material inédito e que chega em muito boa hora, dando uma baforada de novidade à obra do artista. São quatorze faixas, nove delas autorais, as quais mostram que ele se encontra em plena fase criativa, compondo melodias facilmente cantaroláveis e letras que falam de maneira direta dos mais cotidianos dilemas do ser humano.
Uma das que possui maior chance radiofônica é “A Vida Quis Assim”, de autoria de seu irmão Mongol (não por acaso o criador de um dos maiores sucessos da trajetória de Oswaldo, a tocante “Agonia”), canção que, se incluída na trilha sonora de qualquer telenovela global, certamente emplacaria de imediato. Da seara alheia, ele ainda interpreta a interessante “Palma” (de Ulysses Machado) e a sem gracinha faixa-título (de Léo Pinheiro, Tião Pinheiro e J. Bulhões). Esta, aliás, e a previsível “Anda” se transformam nos dois momentos dispensáveis de um álbum que, no geral, se consolida com um dos melhores já lançados pelo artista.
Dentre os destaques estão a crítica “Todo Mundo Tá Falando”, a bacana “Não Importa Por Quê” e a contagiante “Eu Quero Ser Feliz Agora”, escolhida como a primeira faixa de trabalho. Mas o blues “Sem Susto” (parceria com José Alexandre) e o rap “Quem É Que Sabe?” também merecem ser ressaltados (este último, inclusive, por conta do arranjo muito bem construído com uma flauta prá lá de interessante executada pela amiga de sempre Madalena Salles).
De fato, um bom CD que traz boas e novas canções e que, assim sendo, merece ser muito bem recebido por todos.
N O V I D A D E S
* Toquinho marcou seu nome na história da nossa música popular brasileira após compor diversos sambas com Vinicius de Moraes na década de setenta do século passado. Virtuose ao violão, ele conseguiu, após a passagem do Poetinha para o andar de cima, engatar alguns sucessos solo, a exemplo de “Aquarela”, “Ao que Vai Chegar” e “À Sombra de um Jatobá”. No entanto, de uns anos para cá, vinha se sustentando e se contentando com o lançamento de projetos revisionistas. Assim, é com grande satisfação que se vê chegar ao mercado o CD intitulado “Quem Viver, Verá”, novo e interessante álbum majoritariamente autoral do artista, o qual surge recheado de canções inéditas. Como cantor, Toquinho continua cumprindo direitinho a lição de casa, mas o recém-lançado disco (que chega às lojas através da gravadora Biscoito Fino) denota mesmo é que ele se encontra em fase bastante inspirada. São dezessete faixas compondo o repertório (sete delas criadas pelo artista solitariamente e outras nove compostas com os parceiros Carlinhos Vergueiro, Antonio Skármeta, Jade Pecci, Pino Danielle, Francis Hime, Dora Vergueiro e Eduardo Gudin, além do já citado Vinicius) no qual cabe apenas, como tema alheio, a obra-prima “Antonico” (de Ismael Silva). Os arranjos arejados contribuem para evidenciar as mensagens otimistas contidas nas letras. Entre os melhores momentos, além da faixa-título, estão “Bem-me-Quer”, “Joana”, “Por Que Razão?” e “Nada a Fazer”. Há as participações especiais de Zeca Pagodinho (na releitura de “Regra Três”), Ivete Sangalo (no frevo “Quero Você”) e Anna Setton (em “Porta do Infinito” e “Romeu e Julieta”).
* “Veraneio” é o título do quinto CD do grupo olindense Eddie. Produzido por BiD, o álbum conta com as participações especiais de Otto, Karina Buhr, Junio Barreto e do DJ Dolores. Entre os destaques do repertório composto por onze faixas estão “Ela Vai Dançar”, “Casa de Marimbondo” e “Delírios”.
* Em agosto do ano passado, a cantora Claudette Soares realizou show no Teatro Fecap, em São Paulo, o qual foi devidamente registrado e lançado, no apagar das luzes de 2011, pelo selo Discobertas. Com a produção a cargo de Thiago Marques Luiz e a direção musical sob a responsabilidade do pianista Giba Estebez (que, ao lado de Renato Loyola no baixo e Nahame Casseb na bateria formam o trio que deu a base instrumental ao projeto), o álbum, que se intitula “A Dona da Bossa”, termina por soar bem legal. É verdade que Claudette já sente o peso dos anos sobre sua voz, mas também se faz incontestável que ela continua mostrando invejável divisão rítmica. São doze faixas amarradas por uma interessante unidade, destacando-se “Mancada” (de Gilberto Gil), “Fato Consumado” (de Djavan) e “Samba com Pressa” (de Rosa Passos e Fernando Oliveira).
* Está chegando às lojas o novo CD da cantora Célia através da gravadora Joia Moderna. Trata-se de “Outros Românticos”, álbum em que, sob arranjos criados pelo violonista Rovilson Pascoal e pelo pianista Alex Vianna, se alinham dez músicas gravadas por Roberto Carlos, mas que não são de autoria do Rei. Entre os temas selecionados estão: “Jogo de Damas” (de Isolda e Milton Carlos), “Vivendo por Viver” (de Márcio Greyck e Cobel), “Sonho Lindo” (de Maurício Duboc e Carlos Colla) e “Abandono” (de Ivor Lancellotti). Já a canção “Amigos, Amigos” (outra de Isolda e Milton Carlos) pode ser ouvida (e baixada) apenas no site oficial da cantora. Em tempo: também estarão disponíveis em breve em novas reedições os primeiros quatro discos de Célia. Eles farão parte da série “Dose Dupla” idealizada pela gravadora Warner.
* Após uma boa estreia no mercado fonográfico em 2008, a cantora Aline Muniz está lançando o seu segundo CD. Trata-se de “Onde Tudo Faz Sentido”, um trabalho independente distribuído pela Tratore e composto por uma dúzia de faixas, cinco delas criadas pela própria artista ao lado de parceiros. Produzido por Lua Lafaiette e Marco de Vita, o álbum traz uma sonoridade pop sem soar descartável. Aline possui voz delicada e sabe se expressar de acordo com o que lhe exigem as canções. O repertório é majoritariamente inédito, mas se abrem espaços para três regravações: “Bloco do Prazer” (de Moraes Moreira e Fausto Nilo), “Deixa Chover” (de Guilherme Arantes) e “Mensagem de Amor” (de Herbert Vianna), alguns dos melhores momentos do disco. Outros destaques ficam por conta das faixas “Tudo Passa”, “Um Dia” e “Pesadelo”, todas estas de autoria de Andrea Lafa.
* “Tabaroinha” é o interessante título do novo CD que a cantora baiana Mariene de Castro já se encontra gravando sob a produção de Alê Siqueira e que chegará às lojas no primeiro semestre de 2012. O álbum trará como destaque do repertório a inédita canção “Amuleto de Sorte” (de Nelson Rufino).
* Tentando mais um retorno ao sucesso conhecido na década de oitenta, a banda RPM (formada por Paulo Ricardo na voz e baixo, Luiz Schiavon nos teclados e programações, Fernando Deluqui nas guitarras e violões e Paulo P.A. Pagni na bateria e percussão) volta a se unir e lança o CD “Elektra” em edição da Building Records. Composto por doze faixas inéditas e autorais, a sonoridade alia aquela que outrora consagrou o grupo a pitadas de modernidades eletrônicas. O destaque ainda é a voz bonita e sussurrante do vocalista. Entre os melhores momentos estão “Muito Tudo” (de longe, o melhor dos temas apresentados), “Dois Olhos Verdes”, “Cassino Royale” e “Ninfa”. Acompanha outro CD com versões remixes para sete das faixas apresentadas.
* O primeiro CD da cantora Julia Bosco, filha do cantor e compositor João Bosco, estará chegando ao mercado logo no início de 2012. Com a produção dividida entre Plínio Profeta e Fabio Santanna, o álbum se intitulará “Tempo” e trará várias canções assinadas pela própria artista. Há as participações especiais de Marcos Valle e do papai famoso.
* Em comemoração aos vinte anos de carreira, a cantora Carmen Queiroz lançou recentemente o CD intitulado “Enquanto Eu Fizer Canção”, cuja produção ficou a cargo do violonista Edmilson Capelupi. O repertório é composto por doze faixas, todas elas regravações de temas eternizados por algumas das grandes cantoras da história da nossa MPB, a exemplo de Angela Maria, Elis Regina, Nana Caymmi, Clara Nunes e Elizeth Cardoso. Carmen as homenageia com seu canto límpido e característico. Entre os melhores momentos estão canções que se enraizaram na memória afetiva da artista como é o caso de “Vai Trabalhar” (de Cyro de Souza), “Meu Cariri” (de Rosil Cavalcanti e Duli Melo) e “Nenhuma Lágrima” (de Sueli Costa).
* “Segunda Pele” é o título do novo CD que a cantora Roberta Sá estará lançando até o final deste mês. Com a produção assinada pelo competente Rodrigo Campello, o repertório é composto por doze faixas, figurando entre os seus autores nomes como Caetano Veloso, Lula Queiroga, Dudu Falcão, Pedro Luís, Wilson Moreira, Rubinho Jacobina, João Cavalcanti e o uruguaio Jorge Drexler. Massa!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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