R E S E N H A
Cantora: LEILA PINHEIRO
CD: “RAIZ”
Gravadora: ATRAÇÃO
Quando se viu projetada nacionalmente através de sua participação no Festival dos Festivais, o qual foi realizado pela Rede Globo no distante ano de 1980, a cantora Leila Pinheiro já batalhava na carreira artística há algum tempo, tendo, inclusive, lançado um disco de maneira independente. Naquele certame musical, ela terminou alcançando o terceiro lugar com o bonito samba “Verde” (de Eduardo Gudin e J. C. Costa Netto), mas foi, sem sombra de dúvida, o nome mais comentado do evento (ao lado da vencedora Tetê Espíndola).
De lá para cá, Leila confirmou o seu talento, transformando-se em uma de nossas melhores intérpretes. Passeou pelo terreno da bossa-nova, mergulhou nas obras de Guinga, Ivan Lins, Gonzaguinha e mais recentemente no cancioneiro de Renato Russo e lançou alguns discos memoráveis, como é o caso de “Outras Caras” (1991), “Na Ponta da Língua” (1998) e “Nos Horizontes do Mundo” (2005). Paraense, nunca, no entanto, ela havia mergulhado fundo em suas raízes. Essa lacuna acaba de ser preenchida exatamente com o lançamento do seu 17º CD intitulado “Raiz”, o qual chegou recentemente às lojas através da gravadora Atração.
Produzido a quatro mãos pelo percussionista Marco Bosco e pelo tecladista Paulo Calasans, o repertório do CD é composto por quatorze faixas (duas delas instrumentais) de autoria de compositores nortistas, completado por dois temas assinados por Tom Jobim (a versão em português de “Forever Green” que se transformou em “Sempre Verde” e a pouco conhecida “Domingo Azul do Mar”, parceria do Maestro Soberano com Newton Mendonça), posto que, como a própria Leila justifica na apresentação do novo trabalho, “era, ele próprio, a luz da natureza”.
Os arranjos que emolduram as canções são concisos e perfeitamente adaptados ao universo ecológico apresentado. Leila, com técnica irrepreensível e emoção na medida certa, passeia suave em um álbum fincado na cultural musical regional e recheado com cantos indígenas e reminiscências de termos, costumes e lendas locais, caso de “Guará Vermelho” (de Vital Lima) e “Flor do Destino” (outra de Vital, agora em parceria com Nilson Chaves). Algumas faixas soam especialmente sedutoras como “Longe Perto” (parceria entre Nilson e Joãozinho Gomes), “Tempo Destino” (outra dos já citados Nilson e Vital) e “Toque” (de Nilson e Ana Terra com a participação do primeiro). Esta última, aliás, se bem trabalhada, possui grandes chances de atingir o sucesso radiofônico.
Evidentemente a quilômetros de distância da onda tecnobrega que atualmente assola a região, Leila se permite abrir espaço a momentos menos íntimos e pessoais apenas no carimbó “Canto de Atravessar” (de Márcio Mantoril e Jorge Pimentel) e no hip hop “Ditados Impopulares” (de Eliakim Rufino, o qual comparece nos vocais da faixa). Cantigas que remetem ao folclore local também fazem parte do roteiro e os exemplos mais característicos ficam por conta de “Eu Agradeço ao Céu”, “Olha o Mar”, “A Lua” e “Nosso Ar”, todas de autoria da pajé cabocla Zeneida Lima.
Embora à primeira vista pareça voltado para um público mais específico, o recém-lançado CD de Leila Pinheiro, se ouvido com antenas abertas, alberga possibilidades muito mais amplas, consolidando-se como outro trabalho de fôlego dessa artista ímpar. Corra e ouça!
N O V I D A D E S
* Uma excelente novidade é o primeiro CD da cantora Luzia, o qual chegou recentemente ao mercado com distribuição da Tratore. Figura de incontestável beleza, a artista mostra sua voz de timbre delicado em uma dúzia de faixas produzidas por Alê Siqueira. Ancorando-se em um repertório muito bem escolhido, Luiza empresta seu talento a tema pouco conhecido de Vitor Ramil (“Ilusão da Casa”), a canção de inspiração ímpar resultante da feliz parceria entre Dominguinhos e Anastácia (“De Amor Eu Morrerei”, em sublime arranjo executado por Marcelo Jeneci) e a música inspirada de Antonio Villeroy (“Além do Paraíso”), transformando-as em três belos momentos desse muito bem-vindo álbum. Mas há ainda outros destaques que não podem ser esquecidos como a pseudo-lusitana “Dança para um Poema” (de Rubens Nogueira e Consuelo de Paula) e a deliciosa “Pestaneja” (da lavra de Carlinhos Brown que, aliás, participa ativamente do disco). O polivalente Paulo César Pinheiro faz-se presente em “Pássaro Solto” e “Cantiga de Menina” (parcerias com Vicente Barreto e Breno Ruiz, respectivamente) e Rafael Altério surpreende com duas canções do mais alto quilate (a linda “Minha Sorte” e a suave “Amador”, parcerias com Rita Altério e Élio Camale). Como convidado, Ivan Lins surge nos vocais de “Choro das Águas” (dele e Vitor Martins). Vale muito a pena correr atrás para conhecer!
* O trio vocal baiano Cama de Voz lançou recentemente o CD “Convida” no qual recebe uma dúzia de convidados especiais para dividir os vocais de temas compostos por autores conterrâneos. Estão lá, entre outros, Doris Monteiro, J. Veloso, Riachão, Carla Visi e Paulinho Boca de Cantor. Os melhores momentos ficam por conta das faixas “Ilha de Maré” (de Walmir Lima e Lupa), “Ijexá” (de Edil Pacheco) e “Eu Vim da Bahia” (de Gilberto Gil).
* Loalwa Braz, ex-vocalista do grupo Kaoma (famoso pelo estouro da canção “Chorando Se Foi”), está lançando o seu primeiro CD solo. Intitulado “Ensolarado”, o projeto gravado ao vivo (e também disponível em DVD) conta com a participação especial de Elba Ramalho na faixa “O Melhor do Amor”.
* Gravado ao vivo no Teatro de Arena da Caixa Cultural, no Rio de Janeiro, o projeto “Iluminado”, composto por CD e DVD (os quais são vendidos separadamente) e que serviu para comemorar a vitoriosa carreira do cantor e compositor Dominguinhos, chega às lojas através da gravadora Biscoito Fino. À vontade, ele reuniu um time seleto de convidados especiais que abrilhantam o repertório autoral apresentado. A maioria das faixas é instrumental e aí se destacam “Quebra Quenga”, “Lamento Sertanejo”, “11 de Abril” e “Noites Sergipanas”. Músicos de ponta deitam e rolam, como é o caso do violonista Yamandu Costa, do sanfoneiro Waldonys, do baixista Arthur Maia e dos pianistas Gilson Peranzzetta e Wagner Tiso. Há ainda as presenças do parceiro Gilberto Gil (que canta “Tenho Sede” e “Eu Só Quero um Xodó”) e da amiga Elba Ramalho (interpretando “De Volta pro Aconchego”, um de seus maiores sucessos). Muito legal!
* Depois de algumas negociações a respeito, Adriana Calcanhotto já garante que o show com que vem rodando o Brasil e derivado de seu mais recente álbum de inéditas (“O Micróbio do Samba”, lançado no ano passado) receberá registro audiovisual para se transformar em CD e DVD ao vivo que aportarão no mercado no primeiro trimestre de 2012.
* Lançado de maneira independente em 2011, “Encarnado Azul” é o interessante terceiro CD da cantora paraibana Sandra Belê que mergulha de cabeça no terreno do pastoril, festejo religioso de sua terra natal. Dona de bonito timbre vocal, o qual soa eminentemente nordestino, ela construiu um trabalho gostoso de se ouvir, procurando conferir tintas contemporâneas aos temas apresentados, mas sem desrespeitar sua sonoridade tradicional. O resultado dá-se acima da média, especialmente em faixas como “Saudação”, “Mestra, Contra-Mestra e a Diana” e “A Borboleta”, os destaques do enxuto repertório de dez faixas.
* A cantora Anna Ratto anuncia para breve o lançamento de seu quarto CD, o qual já se encontra inteiramente gravado. A produção ficou a cargo de Rodrigo Vidal e o álbum é composto por dez faixas, seis delas autorais. Completam o repertório temas inéditos assinados por Dani Black e Eugenio Dale e duas regravações de músicas criadas por Tom Zé.
* Ainda em surpreendente boa forma vocal a cantora Edith Veiga está lançando, através do selo Discobertas, um ótimo CD no qual coloca sua voz poderosa e afinada a serviço da obra musical de Lupicínio Rodrigues, um dos melhores compositores de toda a história do nosso cancioneiro. São quatorze canções que ressaltam o amor passional tão em voga em tempos pretéritos reunidas em doze faixas das quais se destacam “Nervos de Aço”, “Aves Daninhas”, “Foi Assim” e os medleys que reúnem “Um Favor” com “Esses Moços” e “Conselho” com “Se Acaso Você Chegasse”. Vale a pena conhecer!
* O cantor e compositor paulista Edvaldo Santana lançou recentemente “Jataí”, o melhor título de sua já considerável discografia. Produzido por ele ao lado do multi-instrumentista Luiz Waack, o CD é composto por treze faixas autorais que explicitam o DNA do artista. Melhor autor que intérprete, Edvaldo escreve letras inteligentes e faz das canções “Quando Deus Quer até o Diabo Ajuda”, “Nada no Mundo É Igual”, “Sampaio Melodia” e “Piá” os destaques do repertório apresentado, A irrepreensível Fabiana Cozza participa dos vocais da interessante “Eva Maria dos Anjos”.
* Na década de setenta do século passado, o cantor e compositor capixaba Sérgio Sampaio tornou-se famoso nacionalmente devido à sua canção “Eu Quero É Botar meu Bloco na Rua”. Mas o artista foi muito além, mostrando-se de fato talentoso e versátil, embora tenha passado rápido por este planeta. Lançou em vida apenas três discos (um quarto chegou às lojas postumamente). O último dessa tríade (e o único até então a não ser disponibilizado no formato CD) acaba de aportar no mercado através de uma iniciativa do selo Saravá Discos. Trata-se de “Sinceramente”, composto por onze faixas das quais se destacam “Nem Assim”, “Cabra Cega” e “Trinta Anos”. Luiz Melodia é homenageado na faixa “Doce Melodia” e surge também em participação especial.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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