R E S E N H A
Roberta Sá participou do Fama |
Cantora: ROBERTA SÁ
CD: “SEGUNDA PELE”
Gravadora: MP,B / UNIVERSAL
Sem sombra de dúvida, de uns tempos para cá, a cantora que mais vem se destacando dentre as milhares que surgem diariamente pelas esquinas deste imenso Brasil é a potiguar Roberta Sá. Carioca de coração, ela participou de uma das versões do programinha musical “Fama”, levado ao ar sem grande repercussão pela Rede Globo, mas foi com o seu primeiro CD comercial, “Braseiro”, lançado em 2005 (antes, ela havia gravado especialmente para uma empresa privada um álbum com tiragem limitada), que viu seu nome começar a ser efetivamente construído no mercado fonográfico nacional.
Dona de voz de timbre belo e delicado (que, em muitos momentos, indiscutivelmente a remete a Marisa Monte), Roberta lançou em seguida um excelente disco, “Que Belo Estranho Dia pra se Ter Alegria”, de 2007, o qual ratificou para a crítica e para o público em geral as grandes expectativas criadas em torno dela. Logo depois, deu uma pequena derrapada, mergulhando com excessiva aura cool no repertório de Roque Ferreira, um grande compositor do recôncavo baiano, mas que exige, em seus sambas-de-roda, arranjos mais vigorosos e interpretações mais entusiasmadas.
Tentando se refazer daquele percalço pontual (o que de certa forma se faz natural na trajetória de todo artista que pensa e ousa), Roberta acaba de lançar, através de uma parceria entre as gravadoras MP,B e Universal, o seu novo CD, o qual já sai com uma respeitável tiragem inicial de vinte mil cópias. Intitulado “Segunda Pele”, o trabalho apresenta um material gráfico interessante, calcado em fotos da cantora em várias poses onde se acentuam a alegria e a sensualidade. A produção, como já é de costume, ficou com Rodrigo Campello, artista polivalente que também surge nos créditos de todas as doze faixas como instrumentista.
Que Roberta vem cantando cada vez melhor é inegável. Como também o é que ela já se mostra bem mais solta do que no início, embora sua aura de brejeirice seja uma característica inata e um charme à parte. O repertório selecionado é prioritariamente inédito, mas o fato é que, talvez por circunstâncias alheias à sua vontade, o resultado soa de certa forma não muito homogêneo.
Não que esse lançamento deixe de ser um álbum interessante até porque revela algumas canções bem legais de compositores ainda pouco conhecidos e que batalham salutarmente por um lugar ao sol, caso de João Cavalcanti (filho de Lenine) e Rubinho Jacobina, autores de dois dos melhores momentos do projeto (“O Nego e Eu” e “Bem a Sós”, respectivamente). No entanto, canções como “Esquirlas”, do uruguaio Jorge Drexler (que, aliás, comparece como convidado especial), e “A Brincadeira” (de Moreno Veloso, Quito Ribeiro e Domenico Lancelotti) soam triviais. Até a faixa de abertura, “Lua”, parceria de Mário Séve e Pedro Luís (este, o marido de Roberta), embora revestida por elaborado arranjo de cordas e caprichada percussão da Parede, não se mostra tão interessante assim. Melhor sorte tem outro tema assinado pelo geralmente ótimo Pedro Luís (e em parceria com a própria Roberta), a animada “No Bolso”. E se a faixa-título (de Carlos Rennó e Gustavo Ruiz) joga explicitamente a artista no terreno do pop, a releitura do frevo “Deixa Sangrar” (de Caetano Veloso), gravada com o auxílio luxuoso da Orquestra Criôla de Humberto Araújo, revela uma intérprete pronta para animar bailes e folias. Compositor com presença garantida nos álbuns de Roberta, o pernambucano Lula Queiroga desta vez comparece com duas boas canções: “Altos e Baixos” (parceria com Yuri Queiroga) e “Pavilhão de Espelhos”, esta com grandes chances de engatar em trilha de telenovela global, o que também parece ser o caso da balada “Você Não Poderia Surgir Agora” (de Dudu Falcão), faixa que conta com a participação de Daniel Jobim ao piano. No entanto, é fechando o CD que se encontra o que talvez seja a maior ousadia do trabalho: “No Arrebol”, originalmente um genuíno jongo composto por Wilson Moreira, mas que ganha insuspeita pegada de reggae, soando acima da média.
Roberta Sá já é uma das grandes representantes da nossa MPB atual. Seu novo CD – é verdade – poderia trazer muito mais bala na agulha, uma vez que ela possui cacife de sobra para se permitir à abertura de leques corajosamente multifacetados. Nada, porém, que venha a macular seu talento e sua graça!
N O V I D A D E S
Sururu na Roda: repertório de Nelson do Cavaquinho |
* O grupo carioca Sururu na Roda está lançando mais um CD, desta feita com o repertório totalmente voltado para a obra do grande sambista Nelson Cavaquinho. Trata-se de “Se Você Me Ouvisse”, álbum viabilizado através do incentivo coletivo dos fãs feito via internet e que chega ao mercado através da gravadora Rob Digital. Composto por Nilze Carvalho, Fabiano Salek, Juliana Zanardi e Silvio Carvalho, o Sururu se basta por si só, embora na ficha técnica o ouvinte possa também se deparar com as participações especiais de instrumentistas de ponta da nossa MPB, tais como PC Castilho (flauta), Dirceu Leite (clarinete), Alexandre Caldi (sax), Diego Zangado (bateria) e Zé Luiz Maia (baixo). Os melhores momentos dentre as dezesseis faixas apresentadas (as quais condensam vinte músicas) estão “Minha Festa”, “Degraus da Vida”, “Luz Negra” e “Juízo Final”. Imperdível!
* Realizado em julho do ano passado em São Paulo, o 22º Prêmio da Música Brasileira homenageou, naquela oportunidade, Noel Rosa, o Poeta da Vila. O show especial, que contou com as participações de Arlindo Cruz, Lenine, Sandra de Sá e Zélia Duncan, foi devidamente registrado e acaba de chegar ao mercado nos formatos CD e DVD. Grandes pérolas compostas por Noel foram selecionadas, a exemplo de “Feitio de Oração”, “Pierrot Apaixonado”, “Último Desejo”, “Feitiço da Vila”, “As Pastorinhas”, “Três Apitos” e “com que Roupa”. Sob a direção musical do competente pianista João Carlos Coutinho, os quatro intérpretes escolhidos fizeram bonito, mostrando-se iluminados. Entre os melhores momentos estão “Filosofia”, “Pela Décima Vez”, “Gago Apaixonado” e “Conversa de Botequim”.
* Catapultada ao reconhecimento nacional no segundo semestre do ano passado quando o clipe caseiro (mas muito legal) da canção “Oração” bombou na rede mundial de computadores, A Banda Mais Bonita da Cidade lançou, no finalzinho de 2011, o seu primeiro CD. De Curitiba, os seus cinco componentes apresentam um trabalho eminentemente pop, porém com vários lampejos de criatividade, como é o caso das músicas “A Balada da Bailarina Torta” e “Canção Pra Não Voltar” (ambas de Léo Fressato, o mesmo autor da citada “Oração” que – é claro – também está presente no repertório). A vocalista Uyara Torrente, dona de voz potente e de belo timbre, se mostra competente, saindo-se bem inclusive em temas mais rebuscados, a exemplo de “Aos Garotos de Aluguel” (de Rodrigo Lemos) e “Nunca” (de Vítor Paiva).
* A turnê “Jota 15” com a qual o grupo Jota Quest está comemorando seus quinze anos de carreira deu uma rasante, em dezembro do ano passado, no Credicard Hall de São Paulo e, devidamente registrado, o show originará CD, DVD e blu-ray que integrarão a série “Multishow ao Vivo” e chegarão às lojas através da Sony Music ainda neste primeiro semestre. O repertório (que alberga os maiores sucessos da vitoriosa trajetória) apresentará quatro canções inéditas. O projeto conta com as participações especiais de Nando Reis, Maria Gadú, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá.
* Em março estará chegando às lojas o Samba Book de João Nogueira, primeiro de uma série que vai apresentar gravações inéditas de obras de sambistas. Sob a direção musical de Diogo Nogueira e com a produção de Alceu Maia, o projeto contará com as participações de Djavan, Martinho da Vila, Beth Carvalho, Jorge Aragão, Mart'nália, Seu Jorge, Arlindo Cruz e Teresa Cristina.
* O primeiro CD da atriz e cantora carioca Anna Bello já está no forno e vai contar com a participação especial de Ademilde Fonseca que, aos noventa anos, pôs sua voz em “Arrasta-Pé” (de Waldir Azevedo e Klécius Caldas). Produzido por Edu Krieger, o álbum é inteiramente dedicado ao choro-canção e trará algumas regravações ao lado de temas inéditos assinados por Marcelo Caldi, Luís Barcellos e Zé Paulo Becker.
* Trinta anos se completaram recentemente da passagem precoce de Elis Regina para o plano astral superior e essa data redonda não poderia passar em branco, vez que se está a falar da maior cantora brasileira de todos os tempos. Assim, algumas gravadoras já se apressam em pôr produtos da Pimentinha nas lojas e, enquanto a Warner Music sai na frente lançando “Um Dia”, CD duplo que traz o registro ao vivo completo das duas apresentações feitas por Elis no Montreux Jazz Festival em julho de 1979, a Universal promete para breve tanto o registro ao vivo integral do show “Transversal do Tempo” quanto as caixas “Elis nos Anos 60” e “Elis nos Anos 70”. A primeira vem com um registro inédito: a canção “Comigo É Assim” (de João Bittencourt e José Menezes), sobra do LP “Elis Como & Porque”, lançado no já distante ano de 1969.
* O cantor e compositor carioca Rodrigo Bittencourt promete para este ano o lançamento de seu terceiro disco solo, o qual tem o título provisório de “Casa Vazia” e será produzido a quatro mãos por Marcos Cunha e Billy Brandão.
* Por conta de questões ligadas a direitos autorais restaram inviabilizadas, ao menos por enquanto, as reedições dos dois primeiros álbuns gravados pelo grupo Novos Baianos após a saída de Moraes Moreira. Os fãs, então, terão que esperar algum tempo para ter em mãos, no formato CD, os títulos “Caia na Estrada e Perigas Ver” e “Praga de Baiano”, lançados em 1976 e 1977, respectivamente.
* O cantor e compositor sergipano Doca Furtado, há anos radicado em Campinas (SP), lançou recentemente seu novo e bom CD intitulado “Cigano ou Monge?”. Artista carismático que iluminou, na década de oitenta, as noites da Atalaia Nova com seu canto eminentemente nordestino, ele apresenta suas mais recentes criações através das quais passam a se denotar várias novas influências. Produzido por ele ao lado do violonista Ricardo Saragioto, o álbum é composto por doze temas autorais, merecendo destaque, além da faixa-título, “Samba, Riqueza e Arte”, “Tempo Espera” e “Coco da Ilusão”. Há a regravação de “Tempero Moreno”, música originalmente gravada pela cantora Amorosa em seu CD “Aldeia”, e as participações especiais das ótimas cantoras Taís Regateli em “Cheiro Doce” e Angélica Aranha em “Mundo Monteiro Lobato”, o melhor momento desse muito bem-vindo disco.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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