R E S E N H A
Cantora: AMELINHA
CD: “JANELAS DO BRASIL”
Gravadora: JOIA MODERNA
Amelinha: Janelas do Brasil (Foto: Divulgação) |
Há cantoras que fazem parte indissociável do inconsciente coletivo musical do nosso cancioneiro e, ainda que se afastem por um período do centro estelar, seus nomes sempre são lembrados com uma saudade absurda. Uma delas é Amelinha, intérprete cearense que, especialmente na virada da década de setenta para a de oitenta do século passado e, a princípio, sem grande investimento por parte de qualquer gravadora, estourou rapidamente de norte a sul do Brasil, a reboque de sucessos inesquecíveis como “Frevo Mulher”, “Foi Deus que Fez Você” e “Mulher Nova, Bonita e Carinhosa Faz o Homem Gemer sem Sentir Dor”. Surgida durante a onda nordestina que assolou a nossa MPB e que trouxe junto artistas como Zé Ramalho (seu ex-marido), Fagner, Ednardo, Belchior, Alceu Valença e Elba Ramalho, Amelinha soube se firmar como uma intérprete corajosa que, não se desvinculando de suas raízes, propagava a cultura regional sem se fechar a várias outras necessárias e salutares influências.
Depois de quase uma década longe do mercado fonográfico, chegou recentemente ao mercado, através da gravadora Joia Moderna, o seu novo e bem-vindo CD. Intitulado “Janelas do Brasil”, produzido por Thiago Marques Luiz e composto por uma dúzia de faixas, trata-se de um álbum de sonoridade minimalista, calcado apenas em instrumentos de cordas (violões, violas e guitarras), todos eles executados com maestria pelo grande instrumentista Dino Barioni.
Ainda em ótima forma vocal, Amelinha comprova que, durante o hiato em que se furtou de lançar projetos, realmente fez muita falta. Sua voz encorpada e única, à qual durante sua trajetória fez vários fãs se renderem por destilar lirismo e melancolia (caso, por exemplo, de Vinicius de Moraes), traz enraizadas várias possibilidades. E elas vão se sucedendo faixa a faixa desse recém-lançado projeto, conforme o ouvinte mais atento poderá constatar. Não espere, contudo, se deparar com um disco que envolve fácil. É, na verdade, daqueles trabalhos que devem ser apreciados com calma até porque o repertório foi selecionado em sua maior parte dentre temas pouco conhecidos.
Compositores contemporâneos da artista se fazem presentes: Fagner (“Asa Partida”, parceria com Abel Silva), Ednardo (“Terral”), Belchior (“Galos, Noites e Quintais”) e Alceu Valença (“Quando Fugia de Mim”, parceria com Emmanoel Cavalcanti). Esta, aliás, se consubstancia como um dos melhores momentos apresentados, ao lado de “Olhos Profundos” (de Renato Teixeira) e “Felicidade” (de Marcelo Jeneci e Chico César). Já o Brasil interiorano/sertanejo se faz representado por autores ligados a esse segmento rural: Amaro Penna (“Pra Seguir um Violeiro”), Geraldo Espíndola (“É Necessário”) e Almir Sater (“Planície de Prata”, parceria com Paulo Simões). Completam o set list uma soturna criação de Zeca Baleiro (“O Silêncio”), um interessante tema de Cátia de França (“Ponta do Seixas”) e uma rara parceria entre Vinicius de Moraes e Marília Medalha (“Algum Lugar”).
Que seja esse CD o primeiro passo do esperado retorno de Amelinha ao lugar de destaque que ela merece e de onde nunca deveria ter se afastado!…
N O V I D A D E S
Eduardo Rangel: Estúdio (Foto: Divulgação) |
* Depois de lançar dois discos gravados ao vivo (“Pirata de Mim”, de 1998, e “Eduardo Rangel & Orquestra Filarmônica de Brasília”, de 2006), o cantor e compositor Eduardo Rangel está lançando o seu terceiro trabalho, Curiosamente intitulado de “Estúdio”, o álbum traz a produção musical e os arranjos a cargo de Leo Brandão e é composto por treze faixas, doze delas de autoria do próprio artista. Completa o repertório a releitura de “Minha Alma”, sucesso do Rappa, tema que ganha insuspeitas novas tintas na interpretação de Eduardo. Ótimo compositor, ele (um carioca que foi criado em Brasília) se mostra também um cantor acima da média, com características de timbre e extensão bastante pessoais. A ficha técnica do CD conta com nomes de peso, como o guitarrista Kiko Pereira, o baixista André Vasconcellos e o saxofonista Léo Gandelman e é bom ressaltar que algumas das canções apresentadas já haviam sido gravadas anteriormente, como é o caso da belíssima “Viúva Negra” e da reflexiva “Copacabana Blues” (por Edson Cordeiro e Renata Arruda, respectivamente). Entre os destaques do repertório apresentado estão as faixas “Bicicleta”, “O Clown”, “Vênnus” e “Abóbada”. Muito legal!
* “Caravana Sereia Bloom” é o título do terceiro CD da cantora Céu que assina a produção do trabalho ao lado de Gui Amabis. Nas lojas no comecinho do próximo mês.
* O novo CD de Maria Bethânia já se encontra pronto esperando tão somente que a gravadora Biscoito Fino se decida pelo melhor momento de lançá-lo. Do repertório de dez faixas consta a regravação de “Calúnia”, samba-canção de Marino Pinto e Paulo Soledade gravado originalmente por Dalva de Oliveira, e três canções do baiano Roque Ferreira (“Barulho”, “Casablanca” e “Fado”), além de “O Velho Francisco”, samba de autoria de Chico Buarque. E por falar em Chico, Bethânia realizou recentemente um show que integrou o Circuito Cultural Banco do Brasil e no qual interpretou somente canções do compositor. Foi esse espetáculo o ponto de partida para a concretização do projeto que ela tem de gravar um songbook com o cancioneiro dele, o qual, se mantida a ideia inicial, deverá contemplar cinco volumes.
* O aguardado segundo CD da cantora baiana Marcia Castro recebeu o título de “De Pés no Chão” e estará chegando às lojas em breve através da gravadora Deck. O repertório alia temas inéditos a algumas regravações, como é o caso da faixa-título (de Rita Lee), “Preta Pretinha” (de Moraes Moreira e Luiz Galvão) e “História de Fogo” (de Otto e Alessandra Negrini).
* O próximo CD de Lulu Santos, nas lojas ainda este ano, trará no repertório uma nova parceria entre ele e Nelson Motta. A canção se intitula “Nós e o Tempo”.
* Em março próximo, a cantora Zélia Duncan estará começando a gravar o CD em que abordará a obra do compositor paulista Itamar Assumpção. Tal projeto promete desde já ser um dos melhores lançamentos de 2012.
* A extraordinária cantora Zizi Possi lançou recentemente na internet um divertido samba de sua autoria que fala sobre a celulite. Trata-se de “Quem Viver Terá” e poderá ser ouvido na Rádio UOL.
* ”Praga” é o curioso título da canção inédita que Gilberto Gil deu para sua filha Preta Gil. A música integra o repertório do álbum de inéditas que a cantora tenciona lançar ainda neste primeiro semestre de 2012.
* Este ano estamos celebrando o centenário de nascimento de Luiz Gonzaga e, assim sendo, é certo que várias serão as homenagens que lhe serão prestadas. Uma delas já está em fase de produção na gravadora Lua Music. Sob a batuta de Thiago Marques Luiz, está sendo gravado um CD duplo que vai apresentar gravações inéditas de músicas famosas do Rei do Baião nas vozes de Amelinha, Dominguinhos, Elba Ramalho, Fabiana Cozza, Maria Alcina, Vânia Bastos, Fagner e Verônica Ferriani, entre vários outros.
* Acabada sua tarefa como produtor do novo CD de Mart'nália, o alagoano Djavan já grava as canções que comporão o repertório de seu próximo álbum, o qual aportará no mercado no segundo semestre.
* O segundo CD da cultuada Orquestra Imperial deverá ser lançado ainda este ano, logo após chegar às lojas o primeiro registro ao vivo do show (que será disponibilizado nos formatos CD e DVD) captado em apresentações realizadas no Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ).
* O cantor e compositor sergipano Vicente Coda está lançando o seu primeiro trabalho e, ousado, vem logo com um CD duplo. Trata-se do conceitual “Vicente Coda e a Paraphernália”, um projeto autoral composto por vinte e quatro faixas. Os arranjos são o ponto alto e abrem espaço para inserções de poemas bem interessantes, a exemplo de “Bem-Querer” e “Bodas”. Os melhores momentos ficam por conta das canções “Mais Nada”, “Mais Um na Multidão”, “Pé na Estrada” e “A Favor do Vento”. Vale a pena conferir!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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