R E S E N H A
Cantor: JOÃO FÊNIX
CD: “A FOTO ONDE EU QUERO ESTAR”
Gravadora: SALA DE SOM RECORDS
Discípulo do estilo camaleônico de Ney Matogrosso, o cantor e compositor Fênix chega ao seu quarto CD passando a assinar João Fênix (João é o nome de batismo desse pernambucano radicado no Rio de Janeiro já há alguns anos e que atualmente se divide entre a Cidade Maravilhosa e os Estados Unidos) e a investir mais do que nunca no seu lado de autor.
Cantor dos melhores que temos atualmente em terras brazilis (ele é dono de alcance vocal considerável e possui um timbre andrógino bastante interessante) e intérprete que se entrega com volúpia à alma das canções, em seus discos anteriores Fênix se arriscava a assinar uma ou outra faixa. Não é o que ocorre em “A Foto Onde Eu Quero Estar”, seu novo álbum que está chegando às lojas através da gravadora Sala de Som Records. O artista compôs seis das dez canções do repertório apresentado e foi o responsável pela versão de mais uma (“O Equilibrista e os Animais”, tema originalmente criado pelo alemão Markus Acher e a faixa menos interessante do trabalho).
Com a produção musical dividida entre Jaime Alem (o maestro e violonista que acompanha, há anos, Maria Bethânia) e JR Tostoi (nome disputadíssimo na atual cena musical nacional, admirado, entre outros, por Lenine), a princípio produtores que permeiam universos musicais diferentes, o CD terminou por ganhar uma sonoridade moderna com programações diversas, embora surjam em várias passagens instrumentos mais tradicionais, como violoncelo, violino e viola, resvalando para um lado mais acústico.
Como cantor, não há o que se discordar: Fênix continua mandando muito bem. E é em canções complexas, como a bonita e camerística “Delírios” (parceria de Paulo César Pinheiro com Pedro Amorim) na qual se faz por acompanhar tão somente pelo virtuoso piano de André Mehmari, que isso se revela realmente incontestável. Como compositor, ele mostra lampejos de efetiva criatividade e inspiração, principalmente nas faixas “O Beijo” (estilizado tango composto com Edu Krieger), “Entrar na Dança” (parceria com Cláudio Lins) e “O Som do Amor pra Sempre” (faixa que conta com a interseção de Luís Capucho declamando verso de sua poesia “Sempterno”).
Eclético, Fênix permite-se arriscar também em uma inusitada releitura de “Hallelluia” (de Leonard Cohen, emoldurada por requintada camada de cordas) e joga luzes com destreza e propriedade em uma das mais obscuras canções da lavra de Caetano Veloso, o samba “Meu Rio”.
Seguindo na sua estrada musical, Fênix apresenta um CD maduro e antenado. É um nome que anda não explodiu como faz jus o seu talento, mas está mais do que na hora de isso acontecer…
N O V I D A D E S
* Um dos grandes nomes do samba, o carioca Candeia recebe bela homenagem através do recém-lançado CD “Dia de Graça – O Samba de Candeia”, novo trabalho da cantora paulistana Graça Braga, o qual chega ao mercado através da gravadora Lua Music. Produzido por Thiago Marques Luiz e sob a direção musical do arranjador Everson Pessoa, do grupo Quinteto em Branco e Preto, o álbum joga merecidas luzes sobre a obra do grande compositor, infelizmente ainda tão pouco reverenciado pelo público em geral. O repertório é composto por quatorze faixas, dentre as quais algumas verdadeiras pérolas do nosso cancioneiro como a faixa-título, “Pintura sem Arte” e “Último Bloco”. Candeia geralmente compunha sozinho, mas vez por outra se abria a parcerias, gerando ótimos resultados, caso de “Coisas Banais” (com Paulinho da Viola), “Minha Gente do Morro” (com Jaime) e “Sorriso Antigo” (com Aldecy). Graça possui um vozeirão de timbre grave belíssimo e se encontra em plena forma vocal. Leci Brandão surge como convidada especial na interessante “De Qualquer Maneira”. Vale a pena conhecer!
* A banda sergipana Maria Scombona realizará amanhã (dia 06/03), às 19:30 horas, no auditório do SESC Centro de Aracaju (SE), o pré-lançamento do terceiro álbum intitulado “UnNu”, o qual vem coroar uma década de carreira. Ali, acontecerá um mix de coletiva e pocket-show voltado para a imprensa e alguns convidados, oportunidade em que os quatro integrantes falarão sobre o novo trabalho que será vendido em breve nos formatos CD e vinil.
* Ex-integrante do grupo Mestre Ambrósio, o cantor e compositor pernambucano Siba lançou recentemente o seu terceiro CD solo, o qual foi produzido por ele próprio ao lado do guitarrista Fernando Catatau. Trata-se de “Avante”, um trabalho independente e eminentemente autoral composto por onze faixas das quais se destacam “Brisa”, “Ariana” e “Canoa Furada”.
* Depois de enfrentar problemas de saúde, a excepcional cantora Zizi Possi vem retornando devagarzinho às atividades musicais. Ela estreou recentemente em São Paulo um belo show, o qual chegará em abril no Rio de Janeiro e depois deverá rodar o Brasil. No repertório estão presentes alguns sucessos de sua carreira, além de releituras de temas compostos, entre outros, por Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Paulinho da Viola. Grande novidade!
* No ar como Baltazar, o homofóbico motorista da telenovela global “Fina Estampa”, o ator Alexandre Nero mostra que é também um ótimo cantor, o que pode ser comprovado através do CD intitulado “Vendo Amor em suas mais Variadas Formas, Tamanhos e Posições”, um lançamento do selo Discobertas. Dono de voz afinada e com surpreendente alcance, ele resgata temas de diferentes gerações da MPB (“Carinhoso”, de Pixinguinha e João de Barro, e “Acho”, de Carlos Careqa, por exemplo) e apresenta canções autorais muito bem construídas, caso de “Vendo à Vista” (que conta, nos vocais, com a participação especial de André Abujamra), “Águas em Prosódia”, “Cadê Meu Amor?” e “Lave, Leve, Love” (esta em parceria com a ex-mulher e também atriz Fabíula Nascimento).
* É também o selo Discobertas que está lançando o CD “O Filho do Imperador”. Trata-se de registro ao vivo de show realizado pelo sambista carioca Jorginho do Império no Teatro Rival (RJ) em novembro do ano passado e que marca a volta do artista ao mercado fonográfico após um hiato de vários anos. Filho do compositor Mano Décio da Viola, um dos fundadores e ícones da escola de samba carioca Império Serrano, Jorginho resgata várias canções do talentoso pai, a exemplo de “Apoteose ao Samba”, “Amor Aventureiro” (parcerias com Silas de Oliveira), “Apoteose ao Rio” e “Hora de Chorar” (parcerias com Jorginho Pessanha). Ele também revive os maiores sucessos de sua carreira, os quais foram colecionados durante a década de setenta (“Na Beira do Mar”, “Dinheiro Vem, Dinheiro Vai” e “Água no Feijão”, reunidas em medley que agrupa ainda “O que Você Tem, Garota”), resgata pérola de Sérgio Bittencourt (“Naquela Mesa”) e revisita sucesso gravado por Martinho da Vila (“Tá Delícia, Tá Gostoso”, de Alceu Maia e Zé Catimba).
* O CD que Maria Bethânia lançará este mês através da gravadora Biscoito Fino se intitulará “Oásis de Bethânia”. O repertório é composto por apenas dez faixas assinadas, entre outros, por Chico Buarque, Djavan, Roque Ferreira e Paulo César Pinheiro.
* Já está sendo executada por algumas rádios a primeira música de trabalho do novo CD de Rita Lee. Trata-se de “As Loucas”, a qual se junta ao repertório de inéditas que trará também os temas “Vidinha Besta” e “Tô um Lixo”.
* A temporada de 2011 do programa “Afinando a Língua” que o titã Tony Belloto (marido da atriz global Malu Mader) apresenta no Canal Futura já se encontra disponível em DVD e traz as participações de doze nomes da nossa MPB contemporânea: Aline Calixto, banda Gentileza, China, Edu Krieger, Flávio Renegado, Marcelo Jeneci, Pedro Luís, Roberta Campos, Rubinho Jacobina, Thaís Gulin, Tiê e Tulipa Ruiz. Legal!
* A cantora e compositora Cris Braun demora um bocado para lançar CD. Do primeiro para o segundo foram necessários sete anos e do segundo para o terceiro (“Fábula”, o qual aportou recentemente no mercado) passaram-se oito. Mas a demora valeu a pena posto que o ouvinte se depara com um trabalho de fato bem bacana. Composto por onze faixas e com uma sonoridade suave sem soar cansativa, o novo álbum revela a interação da artista com a música feita atualmente em Alagoas, refrescando, assim, suas influências musicais. E é por aí que ela registrou temas criados por Wado (“Ossos” e “Cidade Grande”) e Junior Almeida (“Memória da Flor”, parceria com Zé Paulo e que conta com a participação especial de Celso Fonseca). Cris canta legal e se faz presente nos arranjos tocando violão. Entre faixas instrumentais de autoria dela própria (“Artérias” e “Terra do Nunca Mais”) e incursão no universo de Marina Lima, uma forte referência para Cris em seu começo de carreira (na regravação de “Deve Ser Assim”, parceria com Alvin L.), os melhores momentos desse bem-vindo álbum ficam por conta das faixas “Tanto Faz para o Amor” (de Lucas Santtana e Quito Ribeiro), “Tão Feliz” (de Cris e Billy Brandão) e “A Viga” (de Cris e Fernando Fiúza).
* O novo CD de Ney Matogrosso será lançado neste ano de 2012 e trará uma sonoridade pop. O repertório está sendo majoritariamente selecionado entre autores e grupos que transitam na cena indie brasileira.
* O segundo volume do projeto “Duas Faces”, bolado pela cantora Alcione para comemorar seus quarenta anos de carreira acaba de chegar ao mercado através da gravadora Biscoito Fino. Desta feita, trata-se de registro ao vivo feito durante apresentação na quadra da Escola de Samba Mangueira, oportunidade em que a Marrom recebeu MV Bill, Diogo Nogueira, Leci Brandão e Jorge Aragão como convidados, além – é claro – da bateria da própria agremiação verde e rosa. Muito embora o ambiente contribuísse para que o repertório escolhido priorizasse os sambas, a artista decidiu dar um maior espaço, entre as dezessete faixas, às baladas românticas. Entre os destaques estão o medley que reúne “Tem Dendê” e “Figa de Guiné” (ambas de Nei Lopes e Reginaldo Bessa) e as canções “Beco Sem Saída” (de Telma Tavares e Roque Ferreira), “O Poder da Criação” (de João Nogueira e Paulo César Pinheiro) e “Brasil de Oliveira da Silva do Samba” (de Altay Velloso e Paulo César Feital).
* E o nosso Teatro Atheneu, enfim, reabre suas portas. A tão aguardada reinauguração acontecerá hoje (05/03), às 18:30 horas. Com novos equipamentos de som e luz, o mais tradicional espaço cênico da capital sergipana ressurge em muito boa hora e já agora em março haverá muita coisa boa acontecendo em seu remodelado palco. A gente se encontra por lá!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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