Musiqualidade

R E S E N H A

Cantor: VANDER LEE
CD: “SAMBARROCO”
Selo: LGK MUSIC

Vander Lee é cantor e compositor mineiro que, como muitos, iniciou tocando em barezinhos até que se deparou com os festivais de música da vida. Em 1997, ainda assinando Vanderly (seu nome de batismo), ele lançou de forma independente o seu primeiro CD através do qual conseguiu fazer com que suas canções chegassem a certos ouvidos preciosos, como foi o caso de Elza Soares que o convidou a fazer algumas participações em seus shows. Todavia, foi com o segundo CD (“No Balanço do Balaio”, lançado em 1999 pela gravadora Kuarup) que ele começou de fato a ver o seu trabalho apreciado, tanto que a partir dali várias outras cantoras começaram a dar voz à sua obra, caso de Rita Ribeiro, Gal Costa, Eliana Printes, Margareth Menezes, Daniela Mercury, Alcione e Leila Pinheiro.
Depois de lançar outros cinco álbuns, acaba de chegar ao mercado, através da gravadora LGK Music, o oitavo trabalho de Vander. Intitulado “Sambarroco” (certamente uma alusão a um possível diferente jeito mineiro de fazer samba) e produzido pelo violonista Thiago Delegado, trata-se de um trabalho gravado sem pressa em Belo Horizonte (MG) e composto por dez faixas, a maioria delas inéditas.
Vander é cantor correto que, se não possui uma grande extensão de voz, é dono de um timbre particularíssimo que agrada em cheio. Sua forma macia de enfileirar as notas encanta tanto quando a serviço de belas baladas (uma marca registrada de seu repertório) quanto quando destila ironia e bom humor em suas perspicazes observações sobre o cotidiano popular. Neste trabalho, o foco são as canções mais ritmadas e, não obstante o título leve a crer que o samba viesse a dominar o roteiro, este se faz presente tão somente em alguns momentos.
Compositor geralmente inspirado, Vander parece estar passando por um momento de transição (e isso logicamente se reflete na sua música). Abrindo-se a parcerias em apenas duas faixas (a canção-título, composta com Dudu Nicácio) e “Lado Bamba” (criada ao lado do já citado Delegado e que nasceu instrumental para abrir o show de preparação do disco, mas que terminou por ganhar letra), ele conta com a participação especial da ótima cantora Regina Souza, sua esposa, na marcha “Arlequim” e do grupo vocal As Formosas na eclética “Pimenta Malagueta” (que mistura salsa, merengue, samba e ijexá), dois dos destaques do set list apresentado.
Entre boas regravações de “Estrela” (grande tema congadeiro entregue a Maria Bethânia que a gravou lindamente em seu CD “Encanteria”, de 2009) e de “Sambado” (espirituosa canção registrada originalmente por ele próprio no seu disco ao vivo lançado em 2003), o artista flerta com o choro em “Boramar” (cuja inspiração surgiu durante uma viagem a Paris) e explicita a bossa de sua terra natal em “Terno Cinza”. Outros momentos interessantes ficam por conta do pagode de viola “Vai Assombrar Porco” (com suas expressões regionais bem diretas) e da valsa “Beleza Fria” (que critica com propriedade as pessoas ditas 'perfeitinhas').
Incontestavelmente talentoso, Vander Lee pode não ter feito o seu melhor CD e – é claro! – os seus fãs certamente irão sentir falta daquelas caprichadas e já costumeiras canções de amor, mas o fato é que ele continua sua trajetória com coerência e usando o jeito mineiro de quem sabe que a estrada é longa e por isso o melhor a fazer é segui-la passo a passo. Então, é isso: quem tiver bons ouvidos para escutá-lo, que o faça!

N O V I D A D E S

* Déa Trancoso estreou no mercado fonográfico em 2006 com o super elogiado CD “Tum Tum Tum”. Agora, cinco anos depois, volta à cena com “Serendipity”, seu aguardado segundo álbum, o qual ratifica o talento dessa artista mineira que se diferencia de grande parte de suas colegas pelo caminho adotado para a sua carreira: uma sonoridade minimalista com canções cujos temas remetem à vida e aos costumes interioranos. Déa, ótima cantora, que no trabalho anterior se apresentava somente como intérprete (fazendo apenas adaptações de músicas de domínio público), nesse recém-lançado disco se mostra uma profícua compositora já que todas as quatorze faixas que compõem o repertório são de sua autoria (e somente três delas com os parceiros Badi Assad, Chico César e Rogério Delayon, este o violonista responsável pela produção e arranjos). Urdido com uma sonoridade acústica (só se ouvem violão, viola, guitarra, violoncelo, ukelele, sítar e banjo), o CD é um passo à frente na carreira de Déa e traz as participações especiais da supracitada Badi em “Teu Colo, Tua Casa” e de Kristoff Silva em “Rapsani”. Os melhores momentos ficam por conta das faixas “Corpo”, “Obikawa” e “Bordado”. Vale a pena conhecer!  

* Com repertório essencialmente autoral, o exímio violonista Chico Pinheiro lançará em breve o seu primeiro DVD que contará com a participação especial da cantora Luciana Alves.

* Lançado originalmente em 1974, está retornando às lojas, pela primeira vez no formato CD, o único disco gravado pelo andrógino baiano Edy Star com produção e arranjos a cargo de Guto Graça Mello sob a coordenação geral de João Araújo, mentor da ideia de levar o artista para o estúdio depois de assisti-lo em boate carioca. Talvez o primeiro nome brasileiro a assumir sua homossexualidade, Edy deu pinta durante um tempo como cantor e ator por aqui, antes de embarcar para a Europa, onde viveu durante décadas (voltou há poucos anos e vem ensaiando um retorno às atividades musicais, realizando alguns shows ao lado de Maria Alcina). Mais performático do que exatamente um bom cantor, ele, à época, angariou vários fãs dentre os formadores de opinião, tanto que conseguiu recolher, para o repertório do disco, canções então inéditas assinadas por gente do porte de Caetano Veloso (“O Conteúdo”), Gilberto Gil (“Edyth Cooper”) e Roberto & Erasmo Carlos (“Claustrofobia”). Há vários temas realmente interessantes que terminaram se perdendo ao longo dos anos, caso da faixa-título (“Sweet Edy”, de Renato Piau e Sérgio Natureza), “Olhos de Raposa” (de Jorge Mautner) e “Briguei com Ela” (assinada pelo próprio Edy). Gravadora que lança somente trabalhos com mulheres, a Joia Moderna abriu uma exceção para a reedição desse único disco de Edy Star.

* E por falar na Joia Moderna, essa gravadora estará lançando até o final desde ano o CD que marcará a volta da cantora Rosa Marya Colin ao mercado fonográfico nacional. Ótima pedida!

* Sonantes é o coletivo paulista que agrupa a cantora Céu, músicos da Nação Zumbi (Dengue e Pupillo), Gui Amabis e o produtor Rica Amabis (do Instituto) e também o título do CD que, já lançado em 2008 nos Estados Unidos, acaba de chegar às lojas de todo o Brasil através do selo Oi Música. O repertório de dez faixas é assinado por alguns dos próprios integrantes ou recolhido de outros artistas da atual cena indie nacional, tais como Fernando Catatau, Beto Villares e Lucio Maia, com exceção de “Frevo da Saudade”, regravação de conhecido tema de Nelson Ferreira e Aldemar Paiva. Não se espere ouvir músicas facilmente assimiláveis. Na verdade, até pode se catalogar esse trabalho sob o rótulo de experimental. Entre os melhores momentos estão as faixas “Quilombo Te Espero”, “Braz” e “Miopia”. Há as intervenções de Apollo 9, B Negão, Jorge Du Peixe e Siba, entre outros.

* Mais uma merecida homenagem que marcará este ano o centenário de nascimento de Luiz Gonzaga ficará a cargo de Alceu Valença que anuncia para breve o lançamento, em CD e DVD, do registro de show que se intitula “Lua e Eu”, o qual entrelaça, em seu repertório, as obras do Rei do Baião com o seu próprio cancioneiro.

* A banda pernambucano Mundo Livre S/A, que é capitaneada por Fred Zeroquatro, lançou recentemente, através da gravadora Coqueiro Verde, um novo CD intitulado "Novas Lendas da Etnia Toshi Babaa”. O repertório autoral que traz nítida influência de Jorge Ben Jor é composto por onze faixas das quais se destacam “O Velho James Brouse Já Dizia”, “A Fumaça do Pajé” e “Ela é Indie”. A ótima cantora Silvia Machete surge como convidada especial na faixa “O Varão e a Fadinha” e há homenagem explícita a Vinicius de Moraes em “Soneto do Envelhecido sem Pretexto”.

* Até há pouco tempo, PC Castilho era conhecido no meio musical como o grande instrumentista que é. Exímio flautista e saxofonista, ele já acompanhou diversos grandes nomes da nossa MPB. Mas agora o público poderá conferir outros talentos do artista que se apresenta como cantor e compositor no álbum duplo independente que acaba de chegar ao mercado sob o título de “Vento Leste” (e nesse projeto ele também toca com destreza violão e percussão). O primeiro CD apresenta as canções criadas pelo artista que se mostra perfeitamente à vontade cantando. Dono de uma voz de timbre bonito e afinação precisa, ele recebe alguns convidados, como é o caso de Edu Krieger, Mart’nália e Nilze Carvalho. São doze faixas, a maioria autoral, das quais se destacam “Barco de Música”, “Pelourinho” e “Sopro do Vento”. Já o segundo volume é instrumental, composto por nove faixas e conta com a participação especial de Nivaldo Ornelas. Os melhores momentos ficam por conta de “Olhar Futuro”, “Pedras” e “Santa Teresa”.

* A sétima edição do “Concurso Nacional de Marchinhas Carnavalescas” realizado este ano acaba de ganhar registro em CD numa iniciativa da Fundição Progresso (RJ). Entre as dez faixas estão “Papagaio no Arame” (a vencedora, de autoria do pernambucano Fábio Ferreira), “Marcha Olímpica” (de Eduardo Galotti, Janjão, Nuno Neto e Pedro Holanda), “Jardim Encantado” (de Gilberto de Xangô) e “Anjo G” (de Eugenio Dale e Suely Mesquita).

* O selo Discobertas traz de volta ao catálogo seis títulos bastante interessantes gravados nas décadas de setenta e oitenta do século passado. Trata-se de “Magia Tropical” (álbum lançado por A Cor do Som, o primeiro após a substituição de Armandinho pelo guitarrista Victor Biglione e que lançou “Menino Deus”, de Caetano Veloso), “Aqui” do grupo Almôndegas (semente musical da dupla Kleiton & Kledir), “Leilíadas” de João Donato, “Som Mais Puro” do grupo O Terço e os discos de Sérgio Ricardo e Guilherme Arantes que continham respectivamente as obras-primas “Calabouço” e “Êxtase”. Todos foram devidamente remasterizados e trazem a reprodução fiel das capas, contracapas e encartes dos projetos originais. Muito legal!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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