R E S E N H A
Cantora: CÉU
CD: “CARAVANA SEREIA BLOOM”
Gravadora: URBAN JUNGLE / UNIVERSAL
Céu (Fotos: Divulgação) |
Quando lançou, em 2005, o seu primeiro CD, o qual, à época, foi supervalorizado pela crítica dita especializada, a cantora paulista Céu parecia mais uma cantora que tencionava chamar a atenção com uma sonoridade pop moderninha recheada de scratches. Alçada instantaneamente ao posto de diva cult pelos descolados, ela chegou a emplacar música em trilha sonora de telenovela global (“Lenda” em “Pé na Jaca”), mas a verdade é que aquele trabalho trazia muito mais boas intenções do que música consistente e por isso se tomem canções que possam resistir ao passar dos anos.
O CD seguinte, que foi lançado em 2009 e igualmente produzido por Beto Villares, continha também um repertório prioritariamente autoral. No entanto, mostrou um considerável avanço no quesito “composição”, trazendo músicas bem palatáveis, a exemplo de “Cangote”, “Comadi” e da deliciosa “Bubuia”, além de uma apropriada releitura para “Rosa Menina Rosa” (de Jorge Ben Jor). A sonoridade, a reboque de uma produção mais experiente, ganhou contornos mais definidos e dançantes, embora a base pop tenha se mantido evidente com doses consistentes de samplers e programações.
Acaba de chegar às lojas através de uma parceria entre o selo Urban Jungle e a gravadora Universal o terceiro CD de Céu. Desta vez, o álbum que se intitula “Caravana Sereia Boom”, conta com a produção musical assinada pelo marido dela, o multi-instrumentista Gui Amabis, e isso fez a maior diferença no resultado sonoro final. Até porque, para executar o instrumental, foram arregimentados músicos da atual cena indie pernambucana, como é o caso do baixista Dengue e do baterista Pupillo (ambos da Nação Zumbi). Essa galera tem um entendimento todo próprio de como deve se construir um arranjo, utilizando-se de teclados vintage e de pegadas que transportam as canções para terrenos bem mais populares. Desta forma, Céu, neste recém-lançado álbum, terminou trocando dubs e afrobeats por um tecido quase brega estilizado. Se isso é bom ou ruim, trata-se de questão de gosto. O fato é que a guinada foi significativa e decerto, se mantido esse caminho, ela poderá vir a ganhar outra parcela de público, não restando dúvida, todavia, que, por outro lado, a aura de antenada foi para as cucuias.
Dona de voz pequena, Céu parece saber reconhecer suas limitações e, assim, as compensa através de interpretações corretas, fazendo da docilidade e malemolência de seu timbre suas principais armas. Na verdade, como já de há muito a potência vocal deixou de ser pré-requisito para se qualificar uma boa cantora, ela até que não faz feio como outras de sua geração. Suas interpretações, quando encontram canções palatáveis (e são algumas nesse novo trabalho), geralmente soam agradáveis já que ela não é daquelas que cansam o ouvinte; pelo contrário, tem-se a vontade de ouvi-la mais uma vez e isso – ressalte-se – é um ponto pra lá de positivo.
Das treze canções que compõem o repertório apresentado, apenas seis são de autoria da própria artista, o que confirma a tese de que, vagarosa, ela vem tentando dar mais espaço ao seu lado de intérprete. Delas, os melhores momentos ficam por conta de “Baile de Ilusão” e “Amor de Antigos” (ambas com grandes chances radiofônicas), além da vinheta “Sereia”, muito embora tenha sido “Retrovisor” a escolhida como primeira música de trabalho (já tendo ganhado, inclusive, videoclipe promocional). Dentre as demais, o ponto mais alto é a delicada regravação de “Palhaço” (pérola de Nelson Cavaquinho e Oswaldo Martins que conta com a participação de Edgard Poças, pai da cantora, no violão e assovio), corroborando que, quando se debruça sobre verdadeiras canções, Céu se mostra de fato bem interessante. Entre temas medianos de Jorge Du Peixe (“Chegar em Mim”), de Lucas Santtana (“Streets Bloom”) e do já citado Gui Amabis (“Falta de Ar”), o destaque fica por conta de “Contravento”, uma parceria entre estes dois últimos.
Na busca de outros caminhos para a sua música, Céu segue sua trajetória, apresentando novas propostas e texturas. É aconselhável ouvir com calma e sem preconceito para que se possa chegar às próprias conclusões…
N O V I D A D E S
* A gravadora Biscoito Fino pôs recentemente nas lojas o terceiro CD solo do cantor e compositor Moyseis Marques. Trata-se de “Pra Desengomar”, um trabalho produzido pelo próprio artista ao lado do cavaquinista Alessandro Cardozo e composto por uma dúzia de músicas inéditas e autorais. Moyseis, que é mineiro mas foi criado no Rio de Janeiro, canta muito bem e no novo álbum apresenta parcerias com, entre outros, Edu Krieger, Zé Renato, Zé Paulo Becker e Bena Lobo. Embora seja um sambista de melhor qualidade, ele permite a inclusão, no repertório apresentado, de baião (“Xodó da Lamparina”), ijexá (“Não Deu”) e samba-choro (“Como o Cravo Quer a Rosa”), este um tema em que homenageia a cantora Áurea Martins, presente na faixa como convidada especial. Outras participações vocais ficam por conta de Leila Pinheiro, Ana Costa e Moacyr Luz. Entre os melhores momentos estão as canções “Bicho do Mato”, “O Badabadá do Talarico” e “Meu Canto É Pra Valer”.
* A gravadora Biscoito Fino confirma para este ano o lançamento do novo CD de inéditas de Moraes Moreira. Intitulado “A Revolta dos Ritmos” e composto por treze faixas, o trabalho terá como um dos destaques uma canção que homenageará Jorge Amado, escritor que, se vivo estivesse, estaria a completar este ano cem anos.
* A cantora e compositora Tânia Maria vive na França há vários anos e por lá leva uma carreira musical regular. O seu mais recente CD intitulado “Tempo”, gravado unicamente por ela se acompanhando ao piano com a participação do contrabaixista Eddie Gomez, acaba de ser lançado no Brasil. O álbum é composto por apenas oito faixas, metade delas composta pela própria artista em parceria com Correia Reis. As outras quatro são regravações de temas da lavra de Tom Jobim & Luís Bonfá (“A Chuva Caiu”), Roberto & Erasmo Carlos (“Sentado à Beira do Caminho”), Alcyr Pires Vermelho & Nazareno de Britto (“Bronzes e Cristais”) e Bruno Martino & Bruno Brighietti (“Estate”).
* Chegou recentemente às lojas através da gravadora MCK o primeiro CD da cantora e compositora carioca Julia Bosco que vem a ser filha do mineiro João Bosco. Também intitulado “Tempo” e composto por treze faixas, nove delas de autoria dela própria com o marido e produtor do disco (ao lado de Plínio Profeta), o tecladista e guitarrista Fabio Santanna, o qual também assina sozinho os quatro temas restantes, o álbum, recheado de baladas, traz uma sonoridade eminentemente pop. Julia canta direitinho com sua voz de mezzo-soprano, embora não chegue de fato a empolgar, e se mostra uma compositora mediana, ainda longe da capacidade criativa do papai famoso que participa, como convidado, de “Na Oração”. Outra participação especial fica por conta de Marcos Valle na faixa “Curtição”, um dos destaques do repertório, ao lado de “Desavisados”, “Dia Santo” e da canção-título.
* Com espaço garantido na mídia nacional, a cantora paraense Gaby Amarantos receberá em breve mais um empurrão considerável na carreira. É que o seu primeiro CD (“Treme”) será lançado pela gravadora Som Livre e certamente receberá ampla divulgação por parte da Rede Globo. Produzido por Carlos Eduardo Miranda, o álbum será composto por quatorze músicas e chegará ao mercado em abril.
* “Só Danço Samba – Ao Vivo” é o registro da apresentação realizada por Emílio Santiago em março do ano passado na casa Citibank Hall de São Paulo. O projeto, que acabou de chegar às lojas através da gravadora Biscoito Fino (nos formatos CD e DVD), tem o repertório calcado naquele apresentado no disco lançado em 2010 em que o cantor prestou tributo a Ed Lincoln, mas traz algumas faixas adicionais, a exemplo de “Eu e a Brisa” (de Johnny Alf) e “Última Forma” (de Baden Powell e Paulo César Pinheiro).
* A sambista Aline Calixto gravou recentemente a bela marchinha “Nossa Fantasia”, de autoria de Edu Krieger, e já a disponibilizou para audição no portal SoundCloud. Muito legal!
* A gravadora Universal anuncia para breve o lançamento do CD e DVD “Quintal do Zeca”. Gravado no final do ano passado no sítio de Zeca Pagodinho, no Rio de Janeiro, trata-se da reunião de gravações feitas por compositores recorrentes nos discos do cantor.
* Conterá vinte e uma faixas o CD “A Voz da Mulher na Obra de Guilherme Arantes”, o qual chegará ao mercado no próximo mês através da gravadora Joia Moderna. Entre as cantoras que aceitaram participar do projeto regravando canções do compositor paulista estão Leila Pinheiro, Verônica Ferriani, Zizi Possi, Cida Moreira, Fabiana Cozza, Tiê, Vânia Bastos, Silvia Machete, Fafá de Belém, Marcia Castro e Vanessa da Mata. O repertório selecionado alia alguns dos maiores sucessos do artista (“Planeta Água”, “Meu Mundo e Nada Mais”, “Aprendendo a Jogar” e “Brincar de Viver”), a temas menos conhecidos (“Toda Vã Filosofia”, “Despertar do Amor”, “Vivendo com Medo” e “Primaveras e Verões”).
* A coletânea “Re-Trato” reúne trinta e três artistas que revisitam o repertório do grupo carioca Los Hermanos. Estão presentes, entre outros, Tiago Iorc, Pélico, Tibério Azul, Rafael Castro, Léo Fressato, Dan Nakagawa, Érika Machado, Cícero, Lula Queiroga, Bárbara Eugênia e Wado. Já disponível virtualmente.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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