R E S E N H A
Cantora: MART'NÁLIA
CD: “NÃO TENTE COMPREENDER”
Gravadora: BISCOITO FINO
Mart'nália (Foto: Divulgação) |
Quando Mart'nália começou a ser reconhecida pelo grande público em 2001 com o CD intitulado “Pé do meu Samba” (bela canção homônima que ganhou carinhosamente de Caetano Veloso), ela já havia lançado anteriormente dois discos, ambos com repercussão bem restrita (um vinil, em 1987, que recebeu o seu nome, e o CD “Minha Cara” em 1995). Foi preciso, portanto, algum tempo de insistência para que o Brasil passasse a vê-la como o grande talento que realmente é. De lá pra cá, no entanto, ela vem colecionando sucessos e lançando trabalhos com invejável regularidade (já vieram três títulos ao vivo e mais os elogiados “Menino do Rio”, de 2005, e “Madrugada”, de 2008).
Através da gravadora Biscoito Fino, acaba de chegar ao mercado o novo CD de estúdio da cantora. Intitulado “Não Tente Compreender” (gostosa canção de autoria de Marisa Monte e Dadi), o projeto é composto por quatorze faixas, e o que é melhor, onze delas inéditas. A produção ficou a cargo do cantor e compositor Djavan, um fã de primeira hora que também participa da música de abertura, a balada soul “Namora Comigo”, de Moska.
Geralmente associada ao mundo do samba talvez por conta de ser filha de um dos principais representantes do gênero, o genial Martinho da Vila, Mart'nália, na verdade, nunca se prendeu a um só estilo. Eclética, ela prefere se fazer desenvolta e emprestar sua voz rouca e pra lá de agradável às mais diversas canções. Tal opção se torna mais explícita no recém-lançado álbum. Não que ela tenha abdicado dos sambas, claro que não! Eles estão lá presentes no repertório (até porque fazem parte do DNA da artista), mas não de maneira avassaladora. Inclusive, dois dos maiores nomes da nossa música popular, Caetano Veloso e Gilberto, por exemplo, fazem-se presentes com dois ótimos sambas (“Demorou” e “Eu te Ofereço”, respectivamente) e é também um interessante samba que se consubstancia em um dos melhores momentos do CD: “Itinerário” de Max Viana.
Mas carismática ao extremo, Mart'nália consegue equacionar muito bem tanto um rock da melhor cepa criado pelo inconfundível Nando Reis (“Zero Muito”) quanto um delicado tema romântico escrito por ela ao lado de Zélia Duncan e musicado por Ivan Lins (“Serei Eu?”). E mesmo também se sabendo compositora, opta espertamente por dar voz a autores outros, poupando o ouvinte de, como grande parte das intérpretes atuais que se aventuram no universo do criar, uma desnecessária sensação de canseira. Ainda assim, ela assina com Mombaça, seu parceiro mais constante, a canção “Que Pena, Que Pena” e com Arthur Maia e Ronaldo Barcellos a faixa “Surpresa”.
Se é fato que, em alguns momentos, o disco perde um pouco o pique (como em “Daquele Jeito”, de André Carvalho, e na releitura de “Reverso da Vida”, momento menos inspirado do papai famoso), ele vai o ápice quando Mart'nália escala canções realmente inspiradas, como é o caso das criadas pelo pernambucano Lula Queiroga (“Depois Cura”) e pelo alagoano Junior Almeida (“Os Sinais”), dois destaques do álbum. Completa o repertório a regravação de “Vai Saber”, samba composto por Adriana Calcanhotto para ser originalmente gravado por Mart'nália, mas que terminou sendo registrado primeiramente por Marisa Monte (em 2006).
Mart'nália – é certo – nasceu vocacionada para o palco. É lá que ela arrebenta, soltando a moleca que existe dentro de si e exalando uma alegria rara e pura. Seu novo CD tem munição de sobra para eletrizar plateias e, como certamente irá contar com a preciosa ajuda de ter alguma faixa brevemente incluída em trilha sonora de telenovela global, será mais um título que lhe trará boas vendas e boa dose de sucesso à já vitoriosa carreira. Vale a pena conhecer!
N O V I D A D E S
* O encontro musical entre Ivete Sangalo, Gilberto Gil e Caetano Veloso acontecido no final do ano passado e transformado em especial da Rede Globo teve o seu registro perpetuado no CD intitulado “Especial Ivete Gil Caetano”, o qual acaba de chegar às lojas através de uma parceria da Globo Marcas com a gravadora Universal. O repertório de quinze faixas não traz nenhum tema inédito, recaindo sobre grandes canções da nossa MPB, a maioria compostas por Gil e Caetano. Abre-se espaço somente para músicas de Chico Buarque e para o maior sucesso romântico da carreira de Ivete, a balada “Se Eu Não te Amasse Tanto Assim” (parceria de Herbert Vianna e Paulo Sérgio Valle). A cantora se sai especialmente bem nos momentos em que se apresenta sozinha (“Atrás da Porta”, “Olhos nos Olhos” e “Tá Combinado”). Alterando-se em solos (Caetano escolheu “Você É Linda” e “A Luz de Tieta” e Gil “A Linha e o Linho” e “Dom de Iludir”), em dupla (Caetano e Ivete em “O Meu Amor” e “Tigresa”, Gil e Ivete em “Toda Menina Baiana” e “A Novidade” e Caetano e Gil em “Drão“) ou os três juntos (“Super-Homem” e “Amor até o Fim”), os baianos mostram um entrosamento bacana e o resultado soa acima da média. O destaque fica por conta dos ótimos arranjos que não repetem os das gravações originais, conferindo novas tintas a várias das canções.
* A segunda versão de "Gabriela” estreará no próximo mês na Vênus Platinada, mas sua trilha sonora já se encontra em fase de produção, embora guardada a sete chaves. O que se comenta é que conterá alguns temas que fizeram parte do disco da primeira versão e outros inéditos. Dentre estes já se dá como certa a inclusão de dois poemas do livro de Jorge Amado que estão sendo musicados por João Bosco e Dori Caymmi (“Lamento de Glória” e “Cantiga pra Ninar Malvina”, respectivamente). Caetano Veloso e Gilberto Gil poderão se fazer presentes com criações que estariam sendo feitas especialmente para a minissérie. Comenta-se também a possibilidade de Ivete Sangalo (que participará como atriz, dando vida à cafetina Maria Machadão) vir a gravar um disco com as músicas executadas no cabaré Bataclan, palco e cenário das prostitutas da história.
* Lançado originalmente há trinta e cinco anos atrás devido a uma encomenda do Banco do Brasil ao pesquisador musical Ricardo Cravo Albin, o disco “O Dinheiro na Música Popular Brasileira” retorna ao catálogo, pela primeira vez em formato CD, por conta do selo Discobertas. Trata-se de dezessete canções reunidas em uma dúzia de faixas, todas elas tendo como mote o dinheiro. O projeto coletivo reuniu nomes como Marlene, Fafá de Belém, Moreira da Silva, Jackson do Pandeiro e Cauby Peixoto, entre outros. Entre as canções selecionadas estão, por exemplo, “Dinheiro Vem, Dinheiro Vai” (de Noca e Vovó Ziza), “Pra Que Dinheiro” (de Martinho da Vila), “Dezessete e Setecentos” (de Luiz Gonzaga e Miguel Lima) e “Pecado Capital” (de Paulinho da Viola). Por questões burocráticas, infelizmente terminaram de fora da reedição as duas músicas gravadas por Clementina de Jesus (“Dinheiro de Pobre” e “Meu Dinheiro Não Dá”).
* Chegaram recentemente às lojas através da Music Brokers reedições de CDs e DVDs lançados em meados dos anos 2000 pela gravadora Albatroz. Trata-se de registros ao vivo de shows de Leny Andrade, Os Cariocas, Pery Ribeiro e Maria Creuza. E se os volumes de Leny e dos Cariocas abrem espaço para clássicos da Bossa Nova, os de Pery e Maria Creuza mostram os intérpretes flertando com a MPB mais tradicional.
* “Afetivo” é o título do projeto que será lançado em breve pela gravadora Biscoito Fino para homenagear os quarenta anos de carreira do saxofonista Mauro Senise. Disponível nos formatos CD e DVD, o repertório da merecida homenagem trará as participações especiais de Sueli Costa, Edu Lobo, Egberto Gismonti, Gilson Peranzzetta, Wagner Tiso e Hermeto Pascoal, além do Quinteto Pixinguinha e do grupo Cama de Gato.
* Em meio ao rumoroso processo de sua separação, a garota sangue bom Fernanda Abreu anuncia o lançamento de um novo CD de inéditas ainda em 2012, o qual quebrará um jejum de seis anos dessa boa cantora que despontou como integrante da banda Blitz. Quem viver, ouvirá!
* Para comemorar os trinta anos de falecimento de Elis Regina, seu filho primogênito, o produtor musical João Marcello Bôscoli, idealizou o projeto “Viva Elis” que possui conceito multimídia e está sendo patrocinado pela marca Nívea. Além do show que vem sendo apresentado (a céu aberto e com entrada franca em cinco Capitais do Brasil) por Maria Rita, a filha caçula, no qual ela interpreta pela primeira vez várias canções eternizadas pela Pimentinha, está programado o lançamento de um livro escrito por Allen Guimarães e a realização de uma exposição com farto documentário.
* Toni Garrido anuncia que está de volta à banda Cidade Negra, a qual tenciona lançar um álbum de inéditas autorais ainda este ano. O grupo (que, além de Garrido, inclui o baixista Bino Farias e o baterista Lazão, ambos remanescentes da formação original) promete muitos reggaes da melhor qualidade!
* Com vistas às vendas do Dia das Mães, a gravadora Deck está lançando a coletânea intitulada “Mulher Popular Brasileira”. São quatorze fonogramas gravados, entre outras, por cantoras como Fafá de Belém, Teresa Cristina. Marcia Castro, Rita Lee, Fernanda Takai e Milena Monteiro. Para quem gosta de faixas avulsas, trata-se de um mosaico bem interessante…
* E os nossos Chiko Queiroga e Antônio Rogério estarão subindo na próxima sexta-feira, dia 11 de maio, ao palco do Teatro Atheneu para apresentar o show “Tributo à MPB”. Uma excelente oportunidade para matar a saudade da mais importante dupla da música sergipana. Já no final-de-semana, será a vez de Ivan Lins marcar presença em mais uma edição do “Projeto MPB Petrobrás” que se realizará no Teatro Tobias Barreto. No sábado, dia 12, às 21 horas, e no domingo, dia 13, às 20 horas, o autor de temas antológicos como “Madalena”, “Começar de Novo” e “Depende de Nós” estará revisitando seus grandes sucessos e mostrando suas mais recentes criações. O show de abertura ficará a cargo do talentoso Zek Oliver. Shows realmente imperdíveis!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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