R E S E N H A
Cantora: RITA LEE
CD: “REZA”
Gravadora: BISCOITO FINO
Que Rita Lee é uma figura única, isso ninguém pode negar! Polêmica do mais alto fio dos seus cabelos vermelhos até o dedão do pé, ela já surgiu causando espanto geral à frente da lendária banda Os Mutantes que, de pronto, aderiu à onda tropicalista capitaneada por Caetano Veloso e Gilberto Gil. Considerada a rainha do rock nacional, essa paulistana descendente de americanos e italianos começou na música estudando piano clássico, mas, logo em seguida, passou a tocar bateria.
O seu auge artístico aconteceu nas décadas de setenta e oitenta, quando era frequentadora assídua das paradas, engatando um sucesso após o outro. Quem não cantou, dançou ou se deixou contagiar pelos versos de hits como “Agora Só Falta Você”, “Ovelha Negra”, “Miss Brasil 2000”, “Mania de Você”, “Baila Comigo”, “Lança Perfume” e “Saúde”, entre tantos outros? Grande vendedora de discos, Rita diz ter se despedido dos palcos recentemente quando realizou, no município sergipano de Barra dos Coqueiros, um show que até hoje rende comentários nas redes sociais.
No entanto, mais importante que qualquer coisa é que essa grande compositora e cantora de voz super agradável continua a produzir, ainda que o peso de mais de seis décadas de uma vida de excessos não possa ser escondido. Desde 2003 sem lançar um CD de inéditas (o último tinha sido o bacana “Balacobaco”), Rita quebra está quebrando esse jejum agora com o lançamento de “Reza”, mais um bom título de sua vasta discografia, o qual chega ao mercado através da gravadora Biscoito Fino.
Produzido por Apollo Nove e Roberto de Carvalho, o parceiro e marido de longos anos, o álbum é composto por quatorze faixas inéditas e autorais. A dupla parece permanecer afiada, tanto que continua se utilizando de grandes sacadas nas letras, as quais jogam luzes sobre melodias geralmente interessantes que crescem aos ouvidos na medida em que se reiteram as rotações do disco. Gravado em retiro caseiro no estúdio montado pelo casal, a sonoridade traz pitadas de modernidade, mas o que domina mesmo é a marca musical dos artistas, incontestavelmente presente na deliciosa faixa-título (em alta rotação desde o seu lançamento, inicialmente de forma virtual, e agora cada vez mais até por fazer parte da trilha sonora da ótima telenovela global das 21 horas, “Avenida Brasil”), um dos destaques do repertório apresentado. Os dois, aliás, se mostram polivalentes ao extremo neste trabalho, pois enquanto Rita se reveza na voz, vocais, flautas, percussão e teremin, Roberto, por sua vez, vai na execução dos teclados, violões, guitarras, gaita e loops.
Sempre antenada com o que passa ao seu redor, Rita destaca a crueldade masculina de forma criativa no contagiante rock “As Loucas” e dá voz a reclamações e constatações (que, a princípio podem soar pessimistas, mas revelam na verdade um desencanto bem-humorado e sarcástico) em “Tô um Lixo” e “Vidinha” (ambas contando com a participação especial de Iggor Cavalera na bateria). E para os apressadinhos que podem pensar que são canções autobiográficas, Rita vem avisando que compõe investindo-se em outras personagens e incorporando vivências de pessoas com quem convive ou que observa no seu dia-a-dia.
Um dos momentos mais interessantes é a faixa de abertura (“Pistis Sophia”) na qual Rita puxa uma espécie de ladainha nordestina, simulando o canto das rezadeiras interioranas, acompanhada apenas pela percussão do lendário João Parahyba. Genial! Outros destaques ficam por conta do pseudo-blues “Rapaz” e da onomatopéica “Bagdá”, ambas tão diferentes entre si, mas tão inteligentemente construídas.
Rita Lee é nome cravado na história da nossa música popular brasileira e, ainda que leve em frente essa decisão de não mais realizar shows, certamente continuará sendo um diferencial de qualidade devido às muitas belas canções que criou e as que ainda criará. Seus seguidores são muitos e estarão sempre ávidos por conhecer novos versos e melodias. Ave, Rita!
N O V I D A D E S
* Saindo na frente no que diz respeito às homenagens que marcarão, este ano, o centenário de nascimento de Luiz Gonzaga, o Falamansa acabou de lançar, através da gravadora Deck, o CD intitulado “As Sanfonas do Rei”. Expoente máximo do chamado forró universitário, o grupo fez um álbum simples, mas muito honesto, transformando-o no ponto mais alto de sua discografia. Produzido por Tato, o vocalista (que também assina a autoria da inédita e interessante canção-título), o projeto é composto por dezesseis faixas e não se restringe somente a músicas de autoria do Rei do Baião posto que também alberga algumas de compositores outros que ele gravou ao longo de sua carreira. No primeiro time, estão temas atemporais como “Sabiá”, “Qui Nem Jiló” e “Xote Ecológico”. Já no segundo caso, destacam-se “Pense N’eu” (do filho Gonzaguinha), “Súplica Cearense” (de Gordurinha e Nelinho) e “Serena no Mar” (de Sivuca e Glorinha Gadelha). Alguns dos vários seguidores de Luiz Gonzaga aparecem como convidados especiais, a exemplo de Dominguinhos, Elba Ramalho e dos Trios Nordestino e Virgulino. As faixas são costuradas com breves falas e gravações do homenageado que também surge, ao final, dividindo os vocais com o Falamansa em “Hora do Adeus”.
* O nosso talentoso Alex Sant’anna estará lançando virtualmente hoje no Programa Rede Local da FM Aperipê, às 21 horas, o seu novo EP intitulado “Fragmentos”. Quem quiser conhecer desde já esse trabalho (que só estará chegando fisicamente às lojas em julho próximo) poderá baixá-lo diretamente no link http://bit.ly.IJeNck, onde serão encontradas as músicas, letras, ficha técnica e arte do encarte. Dá-lhe, garoto!
* A cantora Lia Sophia (que está com o carimbó eletrônico “Ai Menina” fazendo parte da trilha sonora da telenovela global “Amor, Eterno Amor”) nasceu na Guiana Francesa, mas desde adolescente reside em Belém (PA). É aproveitando a boa onda da cultura paraense que ela já se encontra em fase de gravação de seu quarto CD (que deverá se intitular “Salto Mortal”), o qual será lançado no segundo semestre e trará a assinatura de Carlos Eduardo Miranda na produção. O trabalho contará com as participações de Mestre Vieira (um dos expoentes do gênero musical rotulado como guitarrada), Félix Robato (integrante da já extinta banda paraense La Pupuña) e Felipe Cordeiro (nome em ascensão na nova cena tecnobrega).
* A voz suave da cantora Beth Marques é o fio condutor de seu primeiro CD, um lançamento da gravadora Rob Digital. Intitulado “Bordadeira” e com apresentação escrita de forma entusiasmada pelo sempre exigente Aldir Blanc, o álbum teve a direção musical dividida entre Luís Felipe de Lima e Zé Paulo Becker e conta, no repertório, com uma dúzia de faixas, dentre as quais merecem destaque “Mané Fogueteiro” (de Braguinha, com participação do Trio Madeira Brasil), “Amor Ausente” (de Paulo César Pinheiro), “Refém da Solidão” (outra de Pinheiro, agora em parceria com Baden Powell, com participação especial do grupo Tira Poeira) e “Rabo de Galo” (do já citado Becker em parceria com Roque Ferreira). O sambista Cláudio Jorge surge como convidado na faixa “Novos Tempos”, de sua própria autoria. Um trabalho bacana que vale a pena ser conhecido!
* O irrequieto e talentoso Tom Zé anuncia para breve o lançamento de um novo CD, o qual já está sendo por ele gravado. Intitulado “Tropicália Lixo Lógico” e produzido por Kassin, o álbum trará repertório inédito e contará com as participações especiais de Mallu Magalhães, Rodrigo Amarante e do rapper Emicida.
* A banda paulista de rock Huaska está lançando de maneira independente “Samba de Preto”, seu terceiro CD que traz as participações especiais da cantora Elza Soares e do pianista Eumir Deodato. Voltados, no início, para um som mais pesado, com espírito e densidade metal, os cinco componentes assumem ter incorporado o samba e a bossa nova à sonoridade apostada, de forma que o novo trabalho mostra uma espécie de simbiose entre esses gêneros musicais. Entre as dez faixas, os melhores momentos ficam por conta de “Ainda Não Acabou” e “Gávea”, além da ótima canção-título, mas a surpresa maior do repertório majoritariamente autoral é mesmo a inusitada releitura de “Chega de Saudade” (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes).
* Em junho, Marisa Monte estreará sua nova turnê nacional baseada em seu oitavo disco solo “O Que Você Quer Saber de Verdade”, lançado no ano passado. Quando o espetáculo estiver maduro nos palcos será devidamente registrado para se transformar no sétimo DVD da vitoriosa carreira dessa cantora e compositora carioca que sempre arrebata multidões.
* O show “Muito Pouco” com que Moska vem rodando o Brasil foi recentemente registrado no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, para futuro lançamento nos formatos CD e DVD. O repertório basicamente autoral prioriza as canções mais recentes do talentoso cantor e compositor, mas o artista vai fazer constar também a inédita “Somente Nela”, composta em parceria com Carlos Rennó, e a nova balada “Namora Comigo”, canção que ele deu para o mais recente CD de Mart’nália. O compositor norte-americano (criado na Argentina) Kevin Johansen esteve presente e dividiu com Moska os vocais das músicas “A Idade do Céu”, “Waiting for the Sun to Shine” e “Oh, My Love, My Love”.
* Enfim, deverá ser lançado este ano o aguardado primeiro CD solo de Marcelo Yuka. O trabalho contará com as participações especiais de Céu, Cibelle, Marisa Monte e Seu Jorge.
* No final do mês passado, o grupo Kid Abelha gravou ao vivo em casa de espetáculos do Rio de Janeiro o show “Glitter de Principiante”, o qual chegará em breve às lojas nos formatos CD e DVD. O repertório revisa a carreira de trinta anos e apresentará pelo menos uma canção inédita. Quem viver, ouvirá!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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