Musiqualidade

R E S E N H A

Cantora: MARIENE DE CASTRO
CD: “TABAROINHA”
Gravadora: UNIVERSAL

Mariene de Castro (Foto: Divulgação)

Quer queiram, quer não, o fato é que a Bahia continua a ser o grande celeiro musical do Brasil. E se não dá para afirmar que, por uma conjunção astral qualquer, a Terra de São Salvador concentra os maiores talentos nacionais (até porque não se pode mensurar talento), dá para assegurar que os baianos possuem uma garra inata e uma vontade toda própria de chegar lá, características imprescindíveis para se conseguir um lugar ao sol.

Esse parece ser o caso da cantora Mariene de Castro, incontestavelmente talentosa, e que vem galgando passo a passo, mas com bastante persistência, o caminho do reconhecimento. Ela, que começou a carreira profissional como vocal de apoio para os cantores Carlinhos Brown e Márcia Freire e para o grupo Timbalada, terminou, por uma bela armação do destino, indo parar na França onde se apresentou em mais de vinte cidades, alcançando uma aceitação imediata.

De volta ao Brasil, realizou shows em importantes palcos da capital baiana até que, em 2004, ganhou o Prêmio Braskem de Música, o que lhe rendeu a oportunidade de gravar seu primeiro CD "Abre Caminho", trabalho que, no ano seguinte, foi premiado como o melhor disco regional no Prêmio TIM de Música. Seis anos depois, Mariene lançou seu segundo álbum, "Santo de Casa – Ao Vivo", a princípio de forma independente, mas que, devido à considerável repercussão, logo em seguida foi relançado pela gravadora Universal que contratou a artista para integrar o seu cast.

É através da mencionada multinacional que acaba de chegar às lojas o terceiro CD de Mariane. Sugestivamente intitulado “Tabaroinha” (diminutivo feminino da expressão tabaréu, que serve para designar uma pessoa matuta e acanhada), foi dirigido por Alê Siqueira (que fez questão de montar um estúdio na Reserva de Sapiranga, no litoral norte da Bahia, especialmente para a gravação desse trabalho) e traz um repertório composto por treze faixas. Mariene vem, desde o começo, demonstrando sua preferência pelos ritmos característicos da nossa cultura regional. Sambas-de-roda, cocos e afoxés, por exemplo, geralmente se fazem incluídos nos roteiros de seus espetáculos e é por esse caminho que ela continua transitando com destreza e elegância.

Com uma peculiar forma de interpretar e dona de voz firme e singular, ela vem a preencher um espaço antes ocupado por Alcione e Clara Nunes e já há certo tempo em aberto na nossa música popular brasileira. A Marrom, inclusive, revela-se uma forte influência para Mariene, tanto que, já em seu álbum de estreia, a baiana regravou “Ilha de Maré” (de Walmir Lima e Lupa) e no atual trabalho ela resgata “Roda Ciranda” (de Martinho da Vila) e “Um Ser de Luz” (de João Nogueira, Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, com participação especial de Mateus Aleluia), grandes sucessos na voz da maranhense (a última, inclusive, uma belíssima homenagem à grande intérprete mineira que tão precocemente nos deixou).

No terreno do samba, Mariene gravou desde o tradicional “A Pureza da Flor” (de Arlindo Cruz, Jr. Dom e Babi) até o romântico “Amuleto da Sorte” (de Nelson Rufino). E denotando que sabe beber na fonte dos grandes mestres do cancioneiro nacional, a artista se rende a dois dos nossos maiores nomes: Dorival Caymmi e Luiz Gonzaga, deles tendo regravado “Tia Nastácia (Cantiga pro Sinhozinho)” e “Estrada de Canindé” (parceria com Humberto Teixeira), respectivamente.

Alguns dos melhores momentos do CD ficam por conta do samba-maracatu “Filha do Mar” (de Flávia Wenceslau) e do delicioso xote “Foguete” (de J. Velloso e Roque Ferreira). O prolífico Roque, aliás, é o compositor mais constante, fazendo-se presente ainda com o ijexá afro “Ponto de Nanã” e com a bacana “Orixá de Frente”.

Completam o repertório o lundu “Isto É Bom” (de Xisto Bahia, primeira música gravada no Brasil), “Marujo” (de Roberto Mendes e Nizaldo Costa, registrada somente com o violão de Mendes e as palmas da cantora e do compositor) e “Não Vou Pra Casa” (de Antonio Almeida e Roberto Riberti, contagiante canção que fecha com chave-de-ouro esse interessante álbum).
Mariene de Castro é cantora baiana de qualidade e densidade e que bem representa sua terra. Merece, agora, ser mais conhecida e reverenciada em todo o Brasil. Corra e ouça!

N O V I D A D E S

Joana Duah (Foto: Divulgação)

* Cantora totalmente pronta, Joana Duah está lançando “Dá Licença”, seu primeiro CD, um lançamento da gravadora Rob Digital. Afinada e dona de um belíssimo timbre, ela estreia com pé direito no mercado fonográfico através desse muito bem-vindo disco produzido por João Samuel e composto por onze faixas. O repertório entrelaça criações de grandes mestres como Chico Buarque (“Mambembe”), Gonzaguinha (“Recado”) e Djavan (“Pára-Raio”) com temas de autoria de nomes emergentes, a exemplo de Giana Viscardi (“Essa Não”, parceria com Michi Ruzitschka), Tó Brandileone (“Tranqueira”, parceria com Vinicius Calderoni) e Dani Gurgel (a canção-título, parceria com Débora Gurgel e Thiago Rabello).

Ótimos momentos ficam por conta das faixas “Tiro Cruzado” (de Nelson Ângelo e Marcio Borges), “Perfume de Cebola” (de Filó Machado e Cacaso) e “Cobra Criada” (de João Bosco e Paulo Emílio).

* Chegará às lojas no começo do segundo semestre o primeiro DVD da carreira de Amelinha. O registro foi feito durante apresentação da intérprete cearense ocorrida semana passada no Teatro Fecap, em São Paulo. Na oportunidade, ela recebeu Fagner, Toquinho e Zeca Baleiro como convidados especiais.

* “Em Outra Direção” é o título do novo CD da cantora e compositora pernambucana Andrea Amorim. Produzido por Roberto Menescal, o álbum conta com uma dúzia de faixas, dez delas assinadas pela própria artista e uma (o blues “Solidão Nunca Mais”) resultante da parceria dela com o citado Menescal. Completa o repertório a releitura de “Preciso Aprender a Ser Só” (de Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle) que conta com a participação especial de Lenine. A sonoridade é pop e Andrea canta com a desenvoltura exigida para o tipo de música que escolheu fazer. Entre os melhores momentos estão as faixas “Alice no País das Armadilhas” e “Eu Preciso”.

* A trilha sonora da série global “As Brasileiras” será lançada em breve pela gravadora Som Livre e um dos destaques certamente recairá na regravação da canção “Moça Bonita”, de Geraldo Azevedo, a qual ficou sob o encargo de Roberta Sá.

* Conhecido por conta de suas peças e livros, o escritor Plínio Marcos gravou em 1974 o disco intitulado “Plínio Marcos em Prosa e Samba com Geraldo Filme, Zeca da Casa Verdade e Toniquinho Batuqueiro”, o qual está sendo reeditado pela primeira vez no formato CD através da gravadora Warner Music por louvável iniciativa do produtor Charles Gavin. Vale a pena conferir as histórias contadas pelo artista, entrelaçadas com boas canções de autoria dos três sambistas.

* A cantora Anelis Assumpção já começa a formatar o repertório de seu segundo álbum e a primeira amostra é o reggae “Not Falling”, parceria dela com Giba Nascimento, o qual já se encontra disponibilizado para download gratuito no site da Scubidu Records.

* O cantor e compositor Lucas Santtana lançou recentemente o seu novo e melhor CD. Intitulado “O Deus que Devasta Mas Também Cura” e composto por dez faixas, o álbum traz a participação da cantora Céu em “Músico”, único tema não autoral do repertório apresentado (a canção é uma parceria entre Tom Zé, Herbert Vianna e Bi Ribeiro). Nas demais músicas, mostram-se as constatações das forças da natureza sobre o homem (a faixa-título), experiências amorosas (“É Sempre Bom se Lembrar” e “Para Onde Irá Essa Noite?”) e reflexões sobre a solidão (“Se Pá Ska S.P.”). Vale a pena conhecer!

* Foi nas coxias do Teatro Oficina, lendário templo de resistência cultural capitaneado pelo diretor Zé Celso Martinez Corrêa, que as atrizes, cantoras e compositoras Adriana Capparelli e Letícia Coura se conheceram. A parceria musical entre elas terminou resultando agora em dois CDs, “Ao Contrário” e “Aos Contrários”, os quais, gravados pelas duas, acabam de chegar ao mercado simultaneamente. São, ao todo, vinte e três faixas, a grande maioria inéditas e autorais, embora haja espaço para as regravações de “Amendoim Torradinho” (de Henrique Beltrão) e “Molambo” (de Jaime Florence e Augusto Mesquita). O projeto tem a produção musical assinada por Fabio Tagliaferri e conta com as participações especiais de grandes músicos, a exemplo de Arthur Nestrovski, Guilherme Kastrup e Bocato. Alguns dos destaques do repertório apresentado ficam por conta das faixas “Será que Você Perdeu”, “Física Quântica”, “Deserto”, “Carente”, “Marginal” e “Matarazo” (esta de autoria de Rafael Camargo).

* Os violonistas Rogério Caetano e Yamandu Costa unem os seus talentos no CD homônimo, já nas lojas através do selo Delira Música. O projeto é dedicado a outros grandes instrumentistas: Dino Sete Cordas, Raphael Rabello, Hélio Delmiro e Marco Pereira.

* Um dos produtores mais requisitados do momento, Kassin pilotará o aguardo CD em que Zélia Duncan interpretará somente canções de autoria de Itamar Assumpção. Deverá estar disponível ainda este ano. Quem viver, ouvirá!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais