R E S E N H A
Cantor: JUCA NOVAES
CD/DVD: “GOA AO VIVO”
Gravadora: DABLIÚ
Não é a toa que o cantor e compositor paulista Juca Novaes (que também é advogado, especialista em direitos autorais) é apaixonado por música: sua mãe foi cantora de rádio e, desde pequeno, ao tempo em que passou a estudar piano, começou a escutar discos de Dorival Caymmi e Silvio Caldas. Logo em seguida, veio a paixão pelos Beatles, pela Jovem Guarda e por João Gilberto. Desde então também um leitor contumaz, assim ia se formando a personalidade musical de Juca que, ao estudar violão, mergulhou no mundo dos festivais, primeiro como concorrente e depois como organizador do Fampop (Festival Avarense de Música Popular), certame dos mais importantes do Brasil e que, realizado há mais de três décadas, já projetou nomes como Chico César, Lenine, Zeca Baleiro, Ceumar e Jorge Vercillo, entre vários outros.
Depois ter lançado quatro álbuns em parceria com Eduardo Santhana, Juca (que também integra o grupo Trovadores Urbanos) resolveu seguir carreira solo, não sem antes ter várias de suas composições gravadas por gente do primeiro time da nossa MPB, a exemplo de Alaíde Costa, Jane Duboc e Daisy Cordeiro.
É esse artista singular que acaba de lançar, através da gravadora Dabliú Discos, o seu novo projeto musical: trata-se de “Goa Ao Vivo”, registro em CD e DVD (vendidos juntos em uma mesma embalagem) de apresentação realizada no SESC Vila Mariana, em São Paulo, em abril do ano passado, a qual contou com as participações especiais de Bruna Caram, Danilo Caymmi, Lenine, Lucila Novaes e Tavito, além do já citado Eduardo Santhana.
O repertório do novo CD se faz composto por dezoito canções, quatro a mais que o álbum de estúdio (o ótimo “Goa”), lançado em 2010 (são elas: “Fim de Tarde”, “Rua Ramalhete”, “Quilombo” e “Nossa Dança”) e que deu base ao show. Nesse projeto estão presentes as várias influências adquiridas por Juca durante sua trajetória musical. E é num caldeirão sonoro muito bem temperado que convivem harmonicamente pop, bossa, choro, fado e blues, sem deixar de lado reminiscências orientais muito bem-vindas. No tocante às letras, estas merecem uma atenção à parte. São fruto de ideias muito bem construídas permeadas com várias tiradas inteligentes e, no geral, não se prendem a um tema único, o que, por si, já denota a versatilidade do artista. Amante das artes, Juca cita em seus versos ícones de várias vertentes artísticas (estão lá John Lennon e Yoko Ono, Jorge Luiz Borges, Fernando Pessoa, Almodóvar e Fellini).
Costurando todo esse mosaico está a voz de Juca, bem colocada e que, sem grandes arroubos interpretativos, se mostra completa em todas as suas inflexões. É ele um intérprete gabaritado para apresentar as próprias canções, embora (e aqui vai algo em primeira mão) em seu próximo trabalho, a ser lançado no ano que vem, ele vá dar vazão somente ao seu lado de intérprete.
A bonita faixa-título, repleta de segundas e terceiras intenções, é uma verdadeira viagem musical e abre o caminho para várias outras canções muito bem resolvidas: uma delas é “Meio Almodóvar”, inteligente e romântica nas medidas certas; outra é “Sete Vidas”, blues não convencional que se revela delicioso. No campo dos destaques há ainda que se registrar a sinuosa “Samba das Índias”, a envolvente “Verão” e a espirituosa “Alma de Traíra”.
E é fato também que há canções que crescem nesse registro ao vivo, caso de “Eu Te Amo, sua Louca” (momento mais suave do primoroso repertório) e de “Voz” (em que transparece nítida a emoção sincera do intérprete).
Entre tessituras ora mais modernas (“Olhos de Mangá” e “Quem Viver Verá”), ora mais tradicionais (“Só da Saudade” e “Lembrei de Você”), Juca Novaes é um artista que tem muito a dizer. E o faz de forma simples e eficiente. Plural, com vestígios cosmopolitas e interioranos, ele merece ter sua obra reconhecida por um público cada vez maior. Vale super a pena conhecer!
N O V I D A D E S
* Para comemorar os quinze anos de carreira, o grupo mineiro Jota Quest vem, já há alguns meses, rodando o Brasil numa turnê na qual revisita os maiores sucessos da vitoriosa trajetória e recebe convidados. Alguns dos melhores registros desses shows foram compilados em CD e DVD que acabam de chegar às lojas dentro do projeto “Multishow ao Vivo” sob o título de “Folia & Caos”. O CD, em especial, foge das escolhas óbvias (exceção feita ao hit “Do seu Lado” que conta com a presença de seu autor, Nando Reis), trazendo, no repertório de dezesseis canções, alguns temas autorais menos conhecidos, tais como: “É Preciso”, “Mais uma Vez” e “Tudo me Faz Lembrar Você (Sea, Sex and Sun)”. No que tange às diversas participações especiais, dentre as quais se destacam Maria Gadú e Seu Jorge, o Jota Quest se permite mergulhar na praia de artistas como Erasmo Carlos (“Vem Quente que Eu Estou Fervendo”), Ney Matogrosso (“Pro Dia Nascer Feliz”), Pitty (“Me Adora”), Marcelo Falcão, o vocalista do grupo O Rappa (“Me Deixa”) e a dupla reminiscente da banda Legião Urbana, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá (“Tempo Perdido”). O repertório apresenta ainda quatro músicas inéditas: “Beijos no Escuro”, “Mais Perto de Mim”, “Tudo Está Parado” e “Quantas Vidas Você Tem?” (estas duas últimas nas versões ao vivo e de estúdio).
* Até o final deste ano chegará às lojas o CD gravado pela cantora Nina Becker com Marcelo Callado, o baterista das bandas Do Amor e Cê (que acompanha Caetano Veloso). Casados, os dois artistas apresentarão no trabalho um repertório basicamente autoral.
* O cantor e compositor goiano Odair José que, na década de setenta do século passado, dominou as paradas de sucesso mais populares com canções como “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar” e “Pare de Tomar a Pílula”, depois de anos afastado do mercado fonográfico, acaba de lançar um novo CD através do selo Saravá Discos. Intitulado “Praça Tiradentes” e produzido por Zeca Baleiro e Leonardo Nakabayashi, o álbum é composto por doze faixas, nove delas autorais, dentre elas “E Depois Volte Pra Mim” (parceria com Baleiro que também comparece dividindo os vocais, além de assinar sozinho “Como um Filme”). Odair gravou também temas inéditos de Chico César (“Você Tem Me Ensinado”) e Arnaldo Antunes (“Vou Sair do Interior”, parceria com Carlinhos Brown), todas perfeitamente inseridas no universo musical do artista, e contou com a participação especial do titã Paulo Miklos em “Sob Controle”. Alguns dos destaques do repertório apresentado ficam por conta de “Em Qual Verdade” e “O Fim de Nós Dois”, além da canção-título.
* Tendo sido efetivamente lançado no meio do ano passado, mas de forma independente, o CD intitulado “Canções de Apartamento” do cantor e compositor carioca Cícero está aportando agora nas lojas de maneira comercial através da gravadora Deck.
* O baterista Wilson das Neves está gravando seu quarto CD como cantor. Um samba inédito dele em parceria com Cláudio Jorge, “Se me Chamar, Ô Sorte”, dará nome ao aguardado álbum cuja produção é pilotada pela dupla Berna Ceppas & Kassin.
* A cantora e exímia violonista Antonia Adnet chega ao segundo CD mostrando considerável amadurecimento na arte de cantar. A bela artista, dona de voz doce e graciosa, já a projeta de forma bem mais segura que no seu trabalho de estreia. Com o título de “Pra Dizer Sim”, esse novo álbum chega às lojas através de uma parceria do selo MP,B com a gravadora Universal. Produzido pelo pai Mario Adnet e pelo tio Rodrigo Campello, o disco é composto por uma dúzia de faixas, sete delas resultantes de parcerias de Antonia com Daniel Basílio, Gabriel Pondé e João Cavalcanti. A artista regravou “Flor de Maracujá” (de João Donato e Lysias Ênio), “Nanã” (de Moacir Santos e M. Telles) e “Boogie Woogie do Rato” (de Denis Brean), esta com a participação especial de Pedro Miranda. Outros convidados são Lenine e Joyce Moreno que, respectivamente, dão brilho às faixas “Giz” e “Frevo em Tamandaré”, dois dos destaques do repertório, ao lado de “Garimpo” e “Movimento”. Homenageando o pai, Antonia registrou a instrumental “Trote da Raposa” (de autoria do mesmo).
* A cantora e compositora carioca Flávia Dantas estará lançando seu primeiro CD no final de junho. Intitulado “Dois Faróis”, o trabalho apresentará um repertório inteiramente autoral. Quem já ouviu, recomenda!
* Em outubro deste ano, o grande violonista e compositor Roberto Menescal estará comemorando setenta e cinco anos. E para marcar essa data, dois CDs serão lançados até o final deste ano pela gravadora Albatroz: um trará a cantora pernambucana Andrea Amorim interpretando quatorze canções de autoria dele e o outro mostrará o talento de quatro cantoras (Cely Curado, Nathália Lima, Márcia Tauil e Sandra Duailibe) que mergulharão de cabeça no repertório do homenageado.
* Foi recentemente registrado, para lançamento futuro em CD e DVD, o belo show que o quinteto Casuarina realizou nos Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro. Vários artistas marcaram presença e subiram ao palco como convidados especiais, entre eles: Délcio Carvalho, Moyseis Marques, Teresa Cristina, Ana Costa, Nilze Carvalho e Áurea Martins.
* A loja pernambucana Passa Disco, esteio da diversidade musical pernambucana, anuncia o lançamento de mais uma empreitada: trata-se da coletânea tripla “Pernambuco Forrozando para o Mundo” que reune vários fonogramas já conhecidos, além das canções inéditas “Senhora da minha Alegria”, cantada por Dominguinhos, e “Domingos”, interpretada pelo sanfoneiro Chambinho. Ótima pedida!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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