R E S E N H A
Cantor: MARCO VILANE
CD: “VARAL DIVERSO”
Gravadora: ATRAÇÃO
Nascido em Jequié (BA), o cantor e compositor Marco Vilane efetivamente despontou para as artes quando de sua morada aqui em Aracaju, destacando-se no meio musical local na virada do século, ao cantar em diversos barezinhos e participar de alguns festivais. O amor pela música, no entanto, se lhe fez despertado ainda na pré-adolescência: precoce, com onze anos ganhou o seu primeiro violão e, dois anos depois, formou a primeira banda.
Sua trajetória teve como primeiro ponto alto o lançamento do CD de estreia, o ótimo “Avesso”, gravado ainda na Capital de Sergipe em 2001, o qual chegou a ter algumas canções bastante executadas, a exemplo de “Quando Era Eu”, “Haja Tempo” e “Camisa de Força”. Em 2003, já residindo em São Paulo, cidade que adotou há alguns anos, ao tempo em que pôs no mercado o seu segundo álbum, “Coisa Alguma” (que contou com a participação especial de Dominguinhos na faixa “Nem Sempre” e trouxe como destaques do repertório as canções “A Ordem das Coisas”, “Do Que Não Sei” e “Opostos”), Vilane viu-se selecionado para o importante Prêmio IBM de Música Brasileira, classificando-se entre os quatro primeiros colocados, o que lhe permitiu dividir o palco com Toquinho em show realizado no DirecTV Music Hall.
Através da gravadora Atração, ele acaba de lançar o seu mais novo projeto: trata-se do CD intitulado “Varal Diverso”, no qual pendura suas experiências pessoais e, mostrando considerável diversidade de ritmos, expressa pensamentos e reflexões de forma criativa e inteligente. Produzido por Edu Capello, músico polivalente também responsável pelos arranjos, o CD é composto por treze faixas. Diferentemente dos trabalhos anteriores em que Vilane assinava a autoria em praticamente todas as músicas, desta vez ele abre com vontade o seu lado de intérprete (o que é bastante salutar), fazendo-o em consideráveis quatro momentos: “Samba de Já Ir” (de Tiago Rocha e Márcio Lopes), “A Seta da Paixão” (de Ito Moreno e Léo Nogueira), “Dia de Feira” e “Coronelismo” (ambas de Bira Marques e Jara Marques), as três ultimas com um pé nos ritmos nordestinos.
É nítida a influência autoral que nomes como Lenine, Chico César, Zeca Baleiro e Moska exercem na música de Vilane. Nada, contudo, que esmaeça a personalidade desse talentoso compositor que, desde o primeiro disco, já vem mostrando saber onde quer e merece chegar. Já como cantor, é de se destacar as inflexões corretas que ele consegue imprimir ao que cada canção exige: ora gaiato como na interessante “Versa e Vice” (parceria com o já citado Capello), ora manemolente em “Mandinga, Macumba, Novena” (temperada com toques de ijexá), ora emotivo no limiar do sentimento maior na bela “Fingido” (parceria com Alex Sant'anna).
A ficha técnica conta com um respeitado time de instrumentistas. Estão lá, entre outros, Adriana Holtz (no violoncelo), Beto Vasconcelos (no baixo), Bocato (no trombone), Dino Barione (na guitarra), Eduardo Marques (na bateria), Rômulo Caetano (nos teclados), Simone Sou (na percussão) e Webster Santos (nos violões).
Entre os melhores momentos estão “Mar Inteiro” (primor de encaixe entre melodia e letra), “Truque de Menino” (parceria com Márcio Pazim, a qual remete aos cordéis dos cantadores do sertão) e “Tralha” (outra parceria com Alex Sant'anna).
Completam o repertório a suingante “Criando Asa” (mais uma feita com Capello), a camerística “Ladainha” (parceria com Tatá Brê) e a autobiográfica “Um Conto” (que traz a banda Saravah Soul em azeitada participação especial).
Utilizando-se de fusões musicais e apresentando letras repletas de tiradas interessantes, Marco Vilane construiu um disco muito bem acabado, denotando o amadurecimento de um artista que já precisa (e merece) ser muito mais conhecido. Corra e ouça!
N O V I D A D E S
* Pegando carona nas comemorações das sete décadas de vida de Caetano Veloso a serem completadas no próximo dia 07 de agosto, a gravadora Universal, detentora de toda a obra fonográfica do artista, está pondo nas lojas o CD “Live at Carnegie Hall”, composto por dezoito faixas, o qual registra o encontro do cantor e compositor baiano com David Byrne, em abril de 2002, na famosa casa de shows de Nova York. Em gravação ao vivo muito bem captada, os artistas se encontram em números como “The Revolution”, “(Nothing but) Flowers”, “Um Canto de Afoxé para o Bloco do Ilê” e “Dreamworld Marco de Canaveses” (esta, uma parceria entre os dois). Sozinho, Caetano desfila alguns de seus maiores sucessos, a exemplo de “Sampa”, “O Leãozinho” e “Coração Vagabundo”. Já na sua parte solo, Byrne engata algumas de suas canções mais conhecidas como “And She Was”, “God’s Child” e “Road to Nowhere”. Há as participações de Jaques Morelenbaum no violoncelo e de Mauro Refosco na percussão.
* E por falar em Caetano, um compositor sempre presente nos discos da irmã, ele não teve nenhuma música incluída no repertório de “Oásis de Bethânia”, o novo CD de Maria Bethânia. Questionada a respeito recentemente, a intérprete baiana informou que por pouco não incluiu “Comigo Me Desavim”, inédita criação datada de 1967. Trata-se, na verdade, de versos do poeta português Sá de Miranda que Caetano musicou, mas que, por motivos não óbvios, nunca foi anteriormente gravada. Quem sabe num futuro próximo?
* “Cartão de Visita” é o título do novo CD do sambista Almir Guineto, o qual acabou de ser lançado através da Radar Records. Produzido e arranjado por Ivan Paulo, o trabalho louva as belezas naturais do Rio de Janeiro e traz a participação especial de Arlindo Cruz em “Partideiro Caseiro”, parceria dele com Zeca Pagodinho.
* A cantora Fernanda Cunha, sobrinha da compositora Sueli Costa, acaba de lançar seu novo CD, o quinto da carreira. Intitulado “Coração do Brasil”, trata-se de um trabalho independente que traz, no repertório majoritariamente não inédito, as regravações, entre outros, de temas da lavra de Ivan Lins (“Somos Todos Iguais nesta Noite”, parceria com Vítor Martins), Tom Jobim (“Eu Preciso de Você” e “Dindi”, ambas parcerias com Aloysio de Oliveira), Daniel Gonzaga (“Samba pro João”), Haroldo Barbosa (“Adeus América”, parceria com Geraldo Jacques) e Noel Rosa (“Não Tem Tradução”). A titia famosa surge como convidada especial da faixa “Perdido de Encantamento” (parceria dela com Luiz Sergio Henriques). A banda base só tem feras: Cristóvão Bastos (piano), Zé Carlos (violão e guitarra), Jorjão Carvalho (baixo) e Jurim Moreira (bateria).
* Através da gravadora Coqueiro Verde Records, chegará ainda este mês às lojas “Brenguelé”, o novo CD do cantor e compositor carioca Rogê. De repertório totalmente autoral, o trabalho tem a produção a cargo de Kassin e os arranjos assinados por Lincoln Olivetti.
* A cantora carioca Clarisse Grova está lançando um novo CD, o qual acabou de chegar às lojas através da gravadora Rob Digital. Intitulado “Que Tal?”, é um mergulho na obra do compositor e bandolinista Afonso Machado que, além de assinar todas as doze faixas apresentadas (ao lado dos parceiros Paulo César Pinheiro, Carlinhos Vergueiro, Dora Vergueiro, Elton Medeiros, Luiz Moura e Roberto Pinto), também é o responsável pela direção musical e pelos arranjos do disco. Clarisse canta bonito com voz afinada e extensão acima da média. Trata-se de uma artista pronta que entende exatamente o que está a cantar. Os destaques do seleto repertório ficam por conta das canções “Na Cara do Gol”, “Vida Boêmia”, “Pra Que Se Despedir” e “Prece”.
* Está chegando às lojas o segundo CD da também carioca Alexia Bomtempo, cujo repertório é composto por regravações de canções compostas em inglês pelo sempre revisitado (e requisitado) Caetano Veloso no seu período de exílio em Londres, ou seja, entre 1969 e 1972. Muito legal a ideia!
* A banda Moinho (formada pela também atriz Emanuelle Araújo na voz, LanLan na percussão e Toni Costa na guitarra) já se encontra gravando em Salvador (BA) o segundo CD de estúdio, o qual aportará no mercado até o final deste ano. Produzido por Carlinhos Brown, o álbum trará várias canções inéditas, a exemplo de “Tu Pira” e “Éolo”, já em rotação na internet. Quem viver, ouvirá!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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