R E S E N H A
Cantor: RENATO BRAZ
CD: “CASA DE MORAR”
Gravadora: INDEPENDENTE
O ótimo cantor Renato Braz acaba de lançar seu mais novo CD, o sétimo da carreira. Intitulado “Casa de Morar”, trata-se de um trabalho totalmente independente (mas concretizado com patrocínio obtido através do Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo), composto por dezessete faixas e dirigido por ele próprio ao lado de Mario Gil. Paulista e dono de timbre bastante peculiar, Braz vem construindo uma carreira à margem dos modismos e sua música mergulha no tradicional e no regional sem receio de soar datada.
O novo disco apresenta um repertório recolhido entre compositores recorrentes em sua discografia e traz arranjos delicados, a maioria calcados em cordas com algumas inserções percussivas. Paulo César Pinheiro declama os versos autorais de “O Centauro”, os quais servem de introdução para “Desafio”, uma parceria dele com Dori Caymmi, este presente em alguns arranjos, ora como instrumentista, portando o seu violão mágico, ora como cantor, dividindo os vocais da faixa “O Trenzinho do Caipira” (de Heitor Villa-Lobos e Ferreira Gullar).
Num tempo em que a maioria das canções tem como objetivo único o de fazer com que a galera saia do chão, o disco de Braz pode resultar estranho para muita gente e, se é fato que ele chega a soar um tanto monocórdio (flertar com o contentamento em alguns momentos lhe traria uma salutar baforada), também se faz incontestável de que se trata de um álbum de qualidade acima da média, feito para se degustar com necessárias calma e concentração.
Além de contemplar duas parcerias de Claudio Nucci com Cacaso (a faixa-título e “Santa Clara”), o repertório mostra autores mais contemporâneos, caso de Marcelo Jeneci (“O Primeiro Fole”, parceria com Zé Miguel Wisnik), Simone Guimarães (“Relento”, composta com Cristina Saraiva) e Fred Martins (“Por um Fio”, criada ao lado de Marcelo Diniz e que conta com uma introdução a cargo de um coro de “monges”).
Alguns dos melhores momentos ficam por conta de “Angola” (de Théo de Barros e Paulo César Pinheiro), “Coração Sem Saída” (outra de Pinheiro, agora em parceria com o já citado Dori) e da obra-prima “Sem Fim” (de Novelli e Cacaso). Braz ainda resgata “Papo de Passarim” (de Zé Renato e Xico Chaves, com a participação especial do primeiro) e se apropria de “Febril” (interessante tema de Gilberto Gil, gravado originalmente por Zizi Possi no álbum “Dê um Rolê”, de 1984), dedicando-o a João Gilberto.
Com seu canto interiorano e bem colocado, Braz (se quiser aumentar sua fatia de público) precisa tão somente se permitir registrar canções menos tristes até porque a vida é dual e como sabiamente já disse Oswald de Andrade: “A alegria é a prova dos nove”.
N O V I D A D E S
* O décimo quinto CD da carreira da cantora Ithamara Koorax ainda não chegou ao mercado brasileiro, mas já faz o maior sucesso lá fora, tendo sido recentemente lançado em trinta e cinco países de maneira concomitante. Intitulado “Got To Be Real” e produzido por Arnaldo DeSouteiro, o álbum traz releituras jazzy para clássicos da disco music e apimentadas versões brasileiras. Intérprete de extensão vocal privilegiada e dona de marcante presença cênica, Ithamara vem ultimamente realizando uma verdadeira maratona de shows, vez que cumpre agenda tanto no Brasil como na Europa, sempre com casas lotadas. Esse novo disco vem fazendo grande sucesso no exterior, tanto que, no início deste mês, entrou na lista dos mais vendidos e executados em vários países europeus, emplacando logo de cara dois hits: as versões personalíssimas para “Vesti Azul” e “Up Up na Away”. Com apresentações agendadas para julho e agosto nos EUA e na Ásia, a artista comemora essa sua auspiciosa e merecida fase aliando-a ao fato de, há dez anos consecutivos, ser presença garantida na lista das dez melhores cantoras do mundo, a qual é elaborada pela prestigiada revista DownBeat, além de estar vendo sua obra constantemente ressaltada em outras publicações musicais da França, Japão, Coréia e Suíça. É o verdadeiro talento brasileiro fazendo valer o nosso orgulho!
* Ney Matogrosso uniu sua voz à da cantora Marília Bessy e, juntos, realizaram recentemente no Teatro Rival, no Rio de Janeiro, o show denominado “Infernynho”, o qual chegará, em CD e DVD, às lojas até o final deste ano. No repertório, músicas características do cancioneiro kitsch nacional pescadas pelo diretor Rodrigo Faour, a exemplo de “Meu Sangue Ferve Por Você”, “Fogo e Paixão” e “Conga Conga Conga”, grandes sucessos populares gravados por Sidney Magal, Wando e Gretchen, respectivamente.
* Alceu Valença programa para este ano o lançamento de projeto (em CD e DVD) que registra o espetáculo “Valencianas” no qual ele se une à Orquestra Ouro Preto para resgatar várias canções de sua própria autoria, utilizando-se de refinado tratamento sinfônico.
* A cantora e compositora Roberta Campos está lançado, através da gravadora Deck, mais um CD. Trata-se de “Diário de um Dia”, o qual se consubstancia como o melhor título por ela até agora gravado. De sonoridade pop e composto por uma dúzia de faixas (nove delas autorais), o álbum, produzido pelo competente Rafael Ramos, mostra uma cantora segura cujo timbre, em vários momentos, faz lembrar o de Vanessa da Mata. Como compositora, ela alcança os melhores momentos, além da interessante canção-título, com as faixas “Rio Sem Água”, “A sua Volta” e “De Você pra Mim” (estas duas são parcerias com Carolina Zocoli). De lavra alheira, Roberta interpreta “Meu Nome É Saudade de Você” (de Moska), “Quem nos Dera” (de Leoni e Zélia Duncan) e “Carne da Boca” (de Frejat, Guto Goffi e Mauro Sta. Cecília). A faixa “Sete Dias” (dela e Danilo Oliveira) faz parte da trilha sonora da telenovela global “Amor Eterno Amor”.
* Estará chegando ainda este mês às lojas o novo CD de Ivan Lins. Trata-se de “Amorágio”, um lançamento da gravadora Som Livre, produzido por Rodrigo Vidal e que trará participações especiais de Maria Gadú e Pedro Luís.
* O selo Discobertas repôs em catálogo recentemente alguns álbuns lançados nas décadas de setenta e oitenta do século passado. A eclética seleção contempla desde alguns dos primeiros trabalhos de Oswaldo Montenegro (“Poeta Maldito… Moleque Vadio”, de 1979) e Fagner (“Ave Noturna”, de 1975) até nomes mais populares como Ronnie Von (“Vida e Volta”, de 1986), Martinha (“Como É que Vai Ficar?”, de 1981) e Agnaldo Timóteo (“Presente de Deus”, de 1986). Há títulos que são indispensáveis a qualquer boa cedeteca que se preze, a exemplo do trabalho registrado por Sérgio Sampaio em 1976 (“Tem que Acontecer”) e dos dois melhores discos gravados por Baby Consuelo (“O que Vier Eu Traço”, de 1978, e “Pra Enlouquecer”, de 1979), e outros que merecem ser resgatados vez que praticamente passaram batidos quando efetivamente postos no mercado por Amelinha (seu disco homônimo de 1987), Luiz Melodia (“Nós”, de 1980), Sérgio Ricardo (“Do Lago à Cachoeira”, de 1979) e Moreira da Silva (“Mo ‘Ringo’ Eira”, de 1970).
* A cantora (e grávida) Maria Rita, que está mudando de gravadora (saiu da Warner e foi contratada pela Universal), anuncia ainda para este ano o lançamento, em CD e DVD, do registro do show no qual empresta sua voz a alguns dos grandes sucessos de sua mãe, a atemporal Elis Regina.
* Gravados durante realização de show, em outubro do ano passado, no Espaço Tom Jobim, no Rio de Janeiro, o CD e o DVD “Micróbio Vivo” de Adriana Calcanhotto estarão chegando às lojas no começo de julho. O CD traz a inédita canção “Maldito Rádio”, composta pela gaúcha especialmente para integrar a trilha sonora da telenovela global “Cheias de Charme”.
* O guitarrista Dado Villa-Lobos e o baterista Marcelo Bonfá, ambos integrantes originais da banda Legião Urbana, uniram-se ao ator Wagner Moura (que assumiu os vocais no lugar do saudoso Renato Russo) e realizaram recentemente duas apresentações, no Espaço das Américas, em São Paulo, as quais foram devidamente registradas e darão origem a CD e DVD que, dentro da série MTV ao Vivo, estarão chegando ao mercado no início do segundo semestre.
* Caetano Veloso e Maria Bethânia são alguns dos convidados presentes no CD “Baú da Dona Ivone”, o novo trabalho da grande sambista Dona Ivone Lara, o qual, produzido pelo parceiro Bruno Castro, está previsto para chegar às lojas no finalzinho do próximo mês. Quem viver, ouvirá!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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