R E S E N H A
Cantor: JOÃO BOSCO
CD: “40 ANOS DEPOIS”
Gravadora: MP,B/UNIVERSAL
Que a trilogia máxima de compositores vivos da nossa MPB é formada por Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil quase ninguém discute. Mas é fato que há alguns outros nomes que ajudaram com seus incontestáveis talentos a formatar o nosso cancioneiro como ele é atualmente. São artistas que conseguiram criar canções atemporais e que não são admirados somente no Brasil, mas também no exterior, ratificando a importância da nossa música no cenário mundial.
Quem há de negar a importância da dupla Roberto & Erasmo Carlos, por exemplo? E de nomes como Ivan Lins, Milton Nascimento ou Djavan? Mas há entre eles um que merece menção especial, não apenas por estar comemorando quatro décadas de carreira, mas também por possuir características musicais bastante peculiares: trata-se de João Bosco, mineiro que conseguiu burlar as montanhas de sua aldeia local e se transformar em um artista universal.
Com diversas composições gravadas pelas maiores intérpretes nacionais, caso de Maria Bethânia, Simone, Leila Pinheiro, Zizi Possi, Nana Caymmi e Gal Costa (e como não deixar de lembrar a eterna Elis Regina que o tinha como um de seus autores preferidos?), Bosco fez de seu canto afro-percussivo-jazzístico o porta-voz perfeito para uma obra irrequieta e única. A maior parte de seus grandes sucessos – sabe-se – foi composta em parceria com Aldir Blanc, poeta de fino trato com as letras. No entanto, no período em que a amizade entre os dois se mostrou meio arrefecida, Bosco compôs muita coisa boa com nomes como Antônio Cícero e Wally Salomão. E mais recentemente descobriu, nos versos de Francisco Bosco, seu inspirado filho, um abrigo fértil para suas melodias ao mesmo tempo belas e harmonicamente intrincadas.
Através de uma parceria entre as gravadoras MP,B e Universal, acaba de chegar às lojas o projeto intitulado “40 Anos Depois”, o qual se encontra disponível nos formatos CD e DVD (este com quatro números adicionais) e leva a assinatura do próprio artista na produção ao lado de João Mário e Amaury Linhares. E o mais interessante desse lançamento é que, com inevitável cunho revisionista, poderia ter resultado num emaranhado dos vários hits do próprio Bosco, os quais se fizeram colecionar ao longo da vitoriosa trajetória. Ao invés disso, o ouvinte se depara com um trabalho sofisticado e econômico nas doses certas e que abre espaço também para bem-vindos temas alheios e acertados convidados especiais.
Longe de escolhas óbvias como “O Bêbado e a Equilibrista”, “Papel Machê” e “Corsário”, por exemplo, Bosco recolheu de seu próprio baú algumas pérolas esquecidas (a cinematográfica “Caça a Raposa” e os belos sambas “Plataforma” e “De Frente pro Crime”, aquele com o acompanhamento do Trio Madeira Brasil e este trazendo Roberta Sá como convidada) e trouxe a lume lados B que, desde que lançados, mereciam ter tido um maior destaque (caso da genial “Bodas de Prata” que surge com Toninho Horta ao violão e da contundente “Agnus Sei”, ora abrilhantada pelos vocais de Milton Nascimento). Inseriu ainda criações mais recentes como a suingante “Tanajura”, a onomotopeica “Jimbo no Jazz” (feita com Nei Lopes) e a delicada “Eu Não Sei seu Nome Inteiro” (adornada com o piano do co-autor João Donato).
De lavra alheia, ele passeia tranquilo tanto por águas jobinianas (“Fotografia”) como pela boemia carioca de Noel Rosa (“Pra que Mentir”, parceria com Vadico). E com a mesma sagacidade que, munido apenas de seu violão, garantiu novas nuances a “Tudo se Transformou” (de Paulinho da Viola), soube espertamente abrasileirar o clássico “Drume Negrita” (de Ernesto Grenet), outra que traz Donato ao piano. Já o parceiro Chico Buarque se faz presente em dois bons momentos: “O Mestre-Sala dos Mares' (de Bosco & Aldir) e “Bom Tempo” (do próprio Buarque). Completam o repertório do CD duas músicas pouco conhecidas de Milton Nascimento: “Tarde” (parceria com Márcio Borges) e a instrumental “Lília” que surge com o auxílio luxuoso de Cristóvão Bastos ao piano.
Trata-se de uma comemoração muito bem costurada que confirma o extraordinário artista que é João Bosco. Quiçá ele continue a nos presentear com suas belas canções e que as novas gerações, infelizmente tão enfeitiçadas por modismos oportunistas, possam abrir seus jovens ouvidos a um dos nossos maiores mestres!
N O V I D A D E S
* Projetada nacionalmente por conta de ter tido a canção “Ex Mai Love” (de Veloso Dias), escolhida para ser o tema de abertura da atual telenovela global das 19 horas, a colorida “Cheias de Charme”, a cantora Gaby Amarantos (conhecida como “Beyoncé do Pará”) aproveita o momento iluminado para lançar, através da gravadora Som Livre (pertencente às Organizações Globo), o seu primeiro CD. Intitulado “Treme” e produzido por Luiz Félix Robatto, o álbum traz, na direção artística, a assinatura do experiente Carlos Eduardo Miranda. Composto por quatorze faixas dançantes, o disco mostra que Gaby canta bem. Afinada e com considerável potência vocal, a “Rainha do Tecnobrega” faz um som em que mistura ritmos característicos do Norte do Brasil, como o carimbó e a guitarrada, com o merengue, o mambo, a salsa e a lambada, adicionando, nos azeitados arranjos, fartas doses de batidas eletrônicas programadas pelo DJ Waldo Squash e por SM Negrão. Incontestavelmente carismática e fazendo uso de letras bem humoradas, Gaby traz, no repertório apresentado, várias canções com grandes chances radiofônicas, como a já conhecida “Xirley”, a esfuziante “Ela Tá Beba Doida” e a mais tradicional “Mestiça” que conta com a autora, Dona Onete, nos vocais como convidada especial. Outras participações ficam por conta de Fernanda Takai (a vocalista da banda Pato Fu) em “Pimenta com Sal” e de Maderito em “Galera da Laje”. Gaby se arrisca como compositora em quatro momentos, não por acaso os menos inspirados do recém-lançado trabalho, e, eclética, mistura no mesmo balaio boa canção inédita que lhe foi presenteada pelas antenadas Thalma de Freitas e Iara Rennó (“Chuva”) e apropriada releitura de sucesso popular de Zezé di Camargo (“Coração Está em Pedaços”), esta adornada com insuspeito tempero latino.
* Aguardados com ansiedade pelos apreciadores da nova música popular brasileira, chegarão ao mercado, no comecinho do próximo mês, os segundos CDs de Tulipa Ruiz e Thiago Petit. O dela contará com as participações especiais de Criolo, Lulu Santos, Kassin, Rafael Castro e do grupo SP Underground. O dele trará Cida Moreira e Mallu Magalhães como convidadas.
* Ângela Maria terá sua vida e obra perpetuada em documentário produzido para o Canal Brasil. Intitulado “Estrela da Nossa Canção Popular”, o projeto contará com a direção de Maurício Valim e o DVD correspondente chegará às lojas até o fim do ano, através da gravadora Lua Music, entrelaçando entrevista inédita com imagens de arquivo televisivos, cenas de filmes feitos pela Sapoti na década de cinquenta e números dos shows recentemente feitos realizados cantora no Teatro Fecap de São Paulo (SP). Uma homenagem mais que merecida!
* A restauração de uma fita cassete contendo números apresentados por um seminal show da banda Skank deu origem ao CD “Skank 91”, o qual acaba de chegar às lojas através da gravadora Sony Music. O repertório contempla canções assinadas pelo vocalista Samuel Rosa e versões para temas gravados por Milton Nascimento (“Raça”), Jorge Ben Jor (“Cadê o Penalty?”) e pelo grupo Gang 90 (“Telefone”).
* A gravadora Joia Moderna anuncia que estará lançando em breve um novo CD da ótima (e infelizmente pouco conhecida) cantora carioca Fhernanda Fernandes, o qual homenageará a obra de Fátima Guedes. O repertório contemplará treze faixas, trazendo algumas das mais belas canções criadas pela artista, a exemplo de “Absinto”, “E Agora?”, “Desacostumei de Carinho”, “Dor Medonha”, “Paladar” e “Flor de Ir Embora”.
* Chegou recentemente às lojas o CD “Fruto Maduro” no qual o produtor e multi-instrumentista André Sachs apresenta sete músicas inéditas compostas pelo clarinetista Paulo Moura e finalizadas após sua morte em 2010. A direção musical do álbum é do próprio Moura, sob a direção rítmica do percussionista Laudir de Oliveira.
* A gravadora Universal Music vai lançar no dia 7 de agosto de 2012, data em que Caetano Veloso completará setenta anos, um CD contendo gravações inéditas de conhecidas músicas do famoso artista baiano. Nomes nacionais e estrangeiros participarão do projeto. Daqui, alguns dos confirmados são Mariana Aydar, Céu e Marcelo Camelo.
* E para quem gosta de música da melhor qualidade, a dica imperdível da semana diz respeito ao show “Cabaré de Florbela” que estará sendo realizado pela cantora e também atriz Selma Reis no próximo sábado, dia 17, às 21 horas, no Teatro Tobias Barreto. Dona de uma das mais belas e potentes vozes da atualidade, a artista carioca estará interpretando os seus maiores sucessos, entremeando-os com declamações de versos da grande poetisa Florbela Espanca. Só vai perder essa oportunidade única quem realmente for muito vacilão!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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