MUSIQUALIDADE

R E S E N H A

Cantor: IVAN LINS
CD: “AMORÁGIO”
Gravadora: SOM LIVRE

Um dos compositores brasileiros mais respeitados no exterior (talvez sua fama lá fora só seja superada por Tom Jobim), Ivan Lins, que chegou a se formar em engenharia, começou a tocar piano aos dezoito anos. Autodidata, ele reconhece que até hoje, entre as várias influências que formataram sua personalidade musical, destacam-se o jazz e a bossa nova. Sua carreira ganhou incontestável impulso na virada da década de sessenta para a de setenta do século passado quando participou de diversos festivais de música e viu canções como “O Amor É o meu País” ganharem aceitação imediata de público e crítica. Mas foi com a magistral gravação de “Madalena” feita por Elis Regina que ele começou a conhecer o sucesso de verdade.
Durante as décadas seguintes, foi consolidando sua vitoriosa trajetória e, geralmente ao lado do parceiro mais constante, o letrista Vitor Martins, emplacou um hit após o outro: canções como “Começar de Novo”, “Somos Todos Iguais Esta Noite”, “Bilhete”, “Depende de Nós” e “Lembra de Mim”, entre várias outras, já se enraizaram no inconsciente coletivo nacional.
Através da gravadora Som Livre, acaba de chegar às lojas o novo CD de Ivan. Trata-se de “Amorágio”, composto por onze faixas (algumas delas regravações de lados B de sua carreira) e que tem a produção assinada por Rodrigo Vidal, nome dos mais cotados atualmente no nosso cenário musical. A escolha do produtor parece acertada, uma vez que conferiu tintas novas à obra de Ivan.
Eminentemente autoral, o álbum é aberto por um belíssimo tema. Trata-se de “Quero Falar de Amor”, mais uma parceria do artista com o já citado Vitor Martins e que conta também a colaboração de Ivano Fossati. É daquelas canções que, melodicamente, traz a grife característica de Ivan, o qual, criador de harmonias intrincadas, poderia complicar sua aceitação mais imediata, o que não é o caso. Se inserida, aliás, na trilha de alguma telenovela global, certamente será mais um destaque do seu cancioneiro.
A faixa-título é uma delicada parceria com o poeta Salgado Maranhão e traz, nos vocais, a participação especial da paulista Tatiana Parra. Cantora segura de timbre claro e bonito é um dos nomes que o Brasil ainda precisa descobrir.
Eclético, Ivan pauta o CD em salutar diversidade rítmica, permitindo-se passear por alguns gêneros pouco vistos em sua vasta obra, a exemplo do xote (na interessante “Carrossel do Bate Coxa”, parceria com o filho Claudio Lins) e da inusitada moda-de-viola (em “Atrás Poeira”). A curiosidade desta faixa é que ele e o cantor Rafael Altério, que faz a segunda voz, assumem o pseudônimo de uma imaginária dupla caipira chamada Fioravante e Guimarães.
Do seu inesgotável baú criativo, Ivan resgata tanto a injustamente esquecida “Quem me Dera”, em que faz um dueto pop bastante apropriado com Maria Gadú, como o sacolejante samba “Roda Baiana”, gravado originalmente por Gal Costa em seu excepcional disco “Fantasia”, lançado em 1981.
Outros convidados especiais são o lusitano Antônio Zambujo no terno “Fado Saramago” (musicado sobre versos do escritor português) e o carioquíssimo Pedro Luís em “X no Calendário”, faixa que conta com a interseção do rap “Atenção”, de autoria do próprio Pedro.
Um ponto que não pode deixar de ser ressaltado é que, depois de alguns anos com forte problema nas cordas vocais, neste recém-lançado trabalho já se pode ouvir um Ivan mais seguro e menos rouco, emitindo as notas de forma mais clara e precisa. Um dos poucos momentos em que não se constata esse avanço é no samba “Sou Eu”, segunda e bonita parceria dele com Chico Buarque. Um registro menor que não serve para empanar o resultado geral. Completam o repertório a balada romântica “E Isso Acontece”, única faixa que Ivan assina sozinho, e a sertaneja “Olhos Pra te Ver”, parceria com Gilson Peranzetta.
Um belo disco que vem coroar o ótimo momento pelo qual Ivan Lins vem passando!

N O V I D A D E S

* O terceiro e melhor CD de Ana Cañas é também constatadamente aquele em que ela teve a maior liberdade artística para mostrar o seu talento. “Volta”, que chegou recentemente às lojas através da gravadora Som Livre, não é tão emebepista quanto o seu álbum de estreia nem tão roqueiro como o trabalho seguinte. Composto por dezesseis faixas, o disco, que foi produzido pela própria artista ao lado dos músicos Fabá Jimenez e Pedro Sá e gravado em sítio localizado em Vargem Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, mostra uma intérprete inteligente que ora sussurra as notas musicais e ora solta a voz com visceralidade ímpar. Autora de doze das canções apresentadas, ela se permitiu abrir a parcerias somente com Dadi e Natalia Lafourcade, assinando sozinha oito faixas. Destas destacam-se a pérola pop “L’Amour” (composta em francês), a contundente “Urubu Rei” e a corajosa “Diabo”. Nestas duas últimas, em especial, Ana dá um show de segurança vocal – realmente um estouro! Equilibrando-se principalmente entre o blues e o jazz, a cantora se permite mergulhar na praia do reggae em “Foi Embora”. Outros bons momentos são “Será que Você me Ama?”, “Difícil” e “No Quiero Tus Besos”. As quatro regravações ficam por conta de temas estrangeiros: “My Baby Just Cares For Me”, “Stormy Weather”, “Rock and Roll” e “La Vie En Rose”, carro-chefe do repertório de Edith Piaf e revisitada com maestria por Ana que se faz acompanhar unicamente por um baixo acústico. Não se trata de um CD facilmente assimilável, posto que não serão encontradas canções com refrões pegajosos e letras de construção tatibitate, mas sem dúvida vale muito a pena conhecê-lo!

* Cida Moreira já planeja o lançamento, em breve, de mais um CD no qual gravará canções criadas por compositores da nova cena independente nacional. Enquanto isso, seus fãs poderão matar a saudade dela por conta da participação especial no segundo CD de Thiago Pethit, o qual chegará às lojas ainda este mês. E mais uma novidade sobre Cida: a gravadora Joia Moderna anuncia que reporá este ano em catálogo o primeiro disco da vigorosa intérprete (“Summertime”, lançado originalmente em 1981 pelo selo Lira Paulistana, o qual foi gravado ao vivo). O repertório desse trabalho inaugural alinha temas da MPB, hits de Janis Joplin e standards da canção norte-americana.

* Regina Benedetti é cantora e compositora paulista e está lançando seu segundo CD intitulado “O Canto da Sereia”, um trabalho independente produzido por Tom Giannini. São doze faixas autorais inéditas em que a artista esboça sua homenagem à cultura afro-brasileira. Regina tem linda voz e canta segura. O que a atrapalha de fato é que nem sempre as canções estão à altura do talento da intérprete. Dentre os destaques do repertório estão as faixas “Cargueiro Negro”, “Samba de Criolo” e “Terra Pequena”, esta contando com a participação especial de Mario Manga no violoncelo.

* Daúde, grande cantora baiana, já tem praticamente pronto o CD que marcará o seu retorno ao mercado fonográfico. Com previsão de lançamento ainda para este ano, o álbum contará com a participação especial do cantor e compositor mangueirense Nelson Sargento.

* A cantora e compositora Beth Amin está lançando o CD intitulado “Poesia à Toa”, um trabalho independente produzido pelo pianista Yaniel Matos. Ela possui voz pequena mas muito bem trabalhada. Afinada e com um timbre bastante peculiar e agradável, mergulha com afinco em um repertório de onze faixas, dez delas de sua própria autoria. Os melhores momentos ficam por conta de “Eu” (musicada sobre poema de Florbela Espanca), “Curruíra” (parceria com Jean Garfunkel), “Demais pra Mim” e “Não Quero Mais”.

* Pouca gente decerto já ouviu falar da cantora Vânia Carvalho. Trata-se da irmã da sambista Beth Carvalho que, trinta e quatro anos após a gravação de seu primeiro disco, se prepara para lançar, aos setenta e dois anos, o segundo álbum. Intitulado “Coração na Voz” e dedicado ao saudoso Mário Lago, ele trará, no seleto repertório, canções assinadas, entre outros, por Paulinho da Viola, Maysa e Nelson Cavaquinho.

* ”Coletivo Urbano” é o título do projeto produzido por Thiago Rabello e Rafa Barreto que tem como ideia juntar, num mesmo CD, vários artistas da cena independente que batalham por um lugar ao Sol no nosso mercado fonográfico tão congestionado. O volume 1 já se encontra disponível nas melhores lojas e é composto por nove faixas, cada uma criada e cantada por um nome diferente. Estão lá, entre outros, Dani Gurgel, Kiko Dinucci, Tatiana Parra, Marcia Castro, Danilo Moraes e Ricardo Hertz.

* A cantora Rita Ribeiro informa que, por questões jurídicas, passará a adotar o nome artístico de Rita Benneditto. Além dessa novidade, a maranhense anuncia para breve o lançamento de um novo CD e adianta que o repertório trará canções criadas por Tom Jobim, Edu Lobo, Jorge Ben Jor, Arlindo Cruz e Nei Lopes.

* Cantora cultuada no eixo Rio-São Paulo, mas ainda praticamente desconhecida no restante deste Brasil enorme, a carioca Nina Becker se une ao marido, o baterista Marcelo Callado (integrante da BandaCê de Caetano Veloso), e juntos estão lançando o CD intitulado “Gambito Budapeste”, o qual traz a  produção assinada por Carlos Eduardo Miranda e chega às lojas através da gravadora YB Music O repertório é majoritariamente autoral, mas há espaço para a regravação do baião “Armei a Rede”, esquecido tema de autoria de Assis Valente em parceira com Arsênio Ottoni.

* Equivocadamente somente lançado agora (o que poderia ter se dado em abril ou maio passado para pegar de frente os festejos juninos), o projeto “São João Carioca”, idealizado e realizado pela Globo Rio, chega às lojas através da gravadora Som Livre. A rigor, é o registro ao vivo de show realizado no ano passado na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, e que traz à frente a cantora Elba Ramalho, presente em praticamente todos os momentos, recebendo os convidados Gilberto Gil, Caetano Veloso, Dominguinhos, Péricles & Thiaguinho, Alcione, Geraldo Azevedo e Gusttavo Lima. Elba, como de costume, arrebenta, ainda mais por estar em sua praia genuína, o forró. Editado nos formatos CD e DVD (com quatorze e vinte e duas faixas, respectivamente), o repertório selecionado contém pérolas do cancioneiro nordestino, a exemplo de “Olha Pro Céu”, “Procurando Tu”, “Gostoso Demais”, “Eu só Quero um Xodó”, “Espumas ao Vento”, “Sabiá”, “Pisa na Fulô” e “Cajuína”. É para ouvir e dançar. Muito legal!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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