R E S E N H A
Cantora: ANA COSTA
CD: “HOJE É O MELHOR LUGAR”
Gravadora: BISCOITO FINO
Se o samba é o prato da hora, a cantora carioca Ana Costa sabe degustá-lo como poucos. Ela, que surgiu como integrante do grupo O Roda, formado unicamente por mulheres, pouco tempo depois decidiu enveredar pela carreira solo. Também compositora e violonista, estreou no mercado fonográfico em 2006 com o CD intitulado “Meu Carnaval”, recepcionado com entusiasmo pela crítica especializada. Já ali se constatava estar surgindo uma intérprete especial, talhada para o universo do samba e que sabia o que estava querendo. Naquele mesmo ano, Ana foi eleita Revelação do 5º Prêmio Rival Petrobrás de Música, sendo convidada, logo em seguida, para gravar ao lado de Arnaldo Antunes a música “Viva Essa Energia”, tema oficial dos Jogos Pan-Americanos de 2007.
O segundo álbum, “Novos Alvos”, saiu em 2009, abrindo portas para que a artista realizasse shows na Europa e na África e emplacando a canção “Almas Gêmeas” na trilha sonora da telenovela global “Tempos Modernos”. Aliás, Ana já apareceu algumas vezes na programação da Rede Globo, destacando-se no programa “Criança Esperança” e na edição do “Som Brasil” em que Toquinho foi o homenageado.
Através da gravadora Biscoito Fino, chegou recentemente às lojas o seu terceiro CD, o qual foi idealizado ao lado de Bianca Calcagni. Intitulado “Hoje É o Melhor Lugar” e com a produção musical a cargo de Carlinhos 7 Cordas, o CD se faz composto por quinze faixas e comprova o momento inspirado pelo qual a artista vem passando.
O clima de alegria, conforme já anuncia a faixa de abertura (a otimista “Filosofia de Vida”, de Martinho da Vila, Marcelinho Moreira e Fred Camacho), permeia todo o disco. Mas a espinha dorsal para a escolha do repertório foi o samba “No Bar” (de Serginho Procópio e Evandro Lima). A partir daí, Ana foi reunindo algumas canções suas criadas com parceiros e pedindo inéditas a compositores amigos, sem se esquecer de resgatar temas que sempre lhe foram recorrentes. Além da música de Martinho já acima citada, ela também regravou “Por um Dia de Graça” (samba-enredo de Luiz Carlos da Vila, propagado de norte a sul pela vigorosa versão de Simone lançada em 1984), “O Que É, o Que É” (obra-prima da lavra de Gonzaguinha), “As Coisas que Mamãe me Ensinou” (contagiante partido alto de Leci Brandão e Zé Maurício) e “Peso e Medida” (parceria pouco conhecida de Alceu Maia e Zé Catimba).
Inteligente, mesmo sendo uma compositora geralmente inspirada, Ana optou por reduzir, no recém-lançado trabalho, a seara autoral a três momentos: a faixa-título (parceria dela com a criativa Zélia Duncan), “Sou o Samba” (outra de sua autoria, agora feita com Jorge Agrião, este, aliás, seu parceiro mais frequente) e “Perdeu” (primeira parceria com Mu Chebabi). São bons momentos de um roteiro coeso que tem no romantismo do samba-canção “Mais Feliz” (de Toninho Geraes e Paulinho Resende) um de seus destaques, ao lado da abaianada “Cantador da Felicidade” (de Leandro Fregonesi e Chico Donadoni) e de “Fogo Sem a Chama” (de Alemão do Cavaco e Wanderlei Monteiro), faixa que conta com a participação especial de Moyseis Marques, outro nome ascendente no panorama atual do nosso samba. Completam o set list “Quem me Dera” (de Silvão Silva e Mestre Louro), “O Brilho do seu Olhar” (de Rogê, Marcelinho Moreira e Fred Camacho) e “Se Você For Coerente” (canção que a artista recebeu de presente de Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho).
Com voz extremamente bem colocada e de bonito timbre, Ana Costa é daquele time de intérpretes que sabe cativar desde a primeira audição. Quem já teve a felicidade de entrar em contato com o seu trabalho, que o propague porque este nosso Brasil está a necessitar urgentemente da disseminação de reais talentos. Quanto àqueles que ainda não tiveram essa sorte, está mais do que na hora de conhecê-la.
N O V I D A D E S
* Alaíde Costa, uma de nossas maiores intérpretes, vê um de seus melhores títulos ser relançado. Trata-se do álbum “Amiga de Verdade”, de 1988, o qual está sendo reeditado pelo selo Discobertas. Através de um primoroso repertório, a cantora põe sua extensa e delicada voz a serviço de pérolas do nosso cancioneiro, a exemplo de “Estrada do Sertão” (de João Pernambuco e Hermínio Bello de Carvalho), “Morrer de Amor” (de Oscar Castro Neves e Luvercy Fiorini) e “Bela, Bela” (de Milton Nascimento e Ferreira Gullar). Aliás, Milton (um dos admiradores confessos do talento de Alaíde), faz-se presente nesta faixa em participação mais que especial. Outros convidados desse extraordinário disco são Paulinho da Viola, Toninho Horta, Ivan Lins, Egberto Gismonti e o grupo vocal MPB-4. O CD traz duas faixas bônus (perfazendo uma dúzia no total): “Teu Simples Não” (de Rique Pantoja e Regina Werneck) e “Dois Corações” (de Johnny Alf). Altamente recomendável para quem tem refinado gosto musical!
* Dona de voz privilegiadíssima, a cantora Cláudia alcançou o período de maior reconhecimento na década de setenta do século passada. Nada, todavia, que lhe beirasse o merecido sucesso por conta do imenso talento. Foi ela quem interpretou o papel-título do musical “Evita” quando o mesmo foi encenado no Brasil, chegando a rivalizar com Elis Regina, no conceito da crítica especializada, por conta de sua grande extensão vocal. E é ela um dos nomes escolhidos pelo pesquisador musical Rodrigo Faour para fazer parte de coletânea que integra a recém-lançada série “Super Divas”, um projeto encampado pela gravadora EMI. Através de dezesseis faixas pinçadas entre discos de carreira e compactos esporádicos gravados pela cantora, o ouvinte poderá ter uma amostra da genialidade dela. Em meio a temas criados pela dupla Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle (“Eu Não Sou Causa, Sou Consequência”, “Garra”, “Com Mais de Trinta” e “Minha Voz Virá do Sol da América”), Cláudia faz por destacar canções assinadas por Taiguara (“Memória Livre de Leila”), Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza (“Deixa Eu Dizer”), Antônio Carlos e Jocafi (“Desacato”), João Bosco e Aldir Blanc (“O Cavaleiro e os Moinhos”) e Belchior (“Apenas um Rapaz Latino-Americano”). Uma compilação que merece ser conhecida!
* O DJ Marcelinho da Lua está lançando, através da gravadora Deck, o seu terceiro CD. Intitulado “Viagem ao Mundo da Lua”, trata-se, na realidade, de uma compilação que reúne algumas faixas de seus dois álbuns anteriores, além de trabalhos feitos com o grupo Bossa Cuca Nova e também de forma avulsa. De inédito mesmo somente o remix de “Águas de Março”, de Tom Jobim, na interpretação de Gaby Amarantos, e o de “Tipo um Baião”, de Chico Buarque, na voz do próprio artista. Vários outros nomes de peso participam das treze canções alinhadas no repertório, entre eles: Adriana Calcanhotto, Seu Jorge, Martinho da Vila, Mart’nália, Simoninha, Orlandivo, Daniela Mercury e Lenine.
* Cantor que vem sedimentando seu nome no cenário artístico nacional, especialmente no nicho do samba, o carioca Marcos Sacramento acaba de pôr no mercado junto com o violonista Zé Paulo Becker o CD intitulado “Todo Mundo Quer Amar”. Trata-se de um lançamento da gravadora Borandá, produzido pelo próprio Zé Paulo e que traz, no repertório, quatorze parcerias dele com o poeta e letrista Paulo César Pinheiro. A ficha técnica vem recheada de instrumentistas de primeiro quilate, a exemplo de Silvério Pontes (trombone), Rui Alvim (clarinete), Marcelo Moreira (percussão), Rogério Caetano (violão 7 cordas), Bebê Kramer (acordeão), Luciana Rabello (cavaquinho) e Leandro Braga (piano). Entre os melhores momentos estão as faixas “A Gente Samba”, “Remendo”, “Temperamento”, “De Madrugada”, “Conformação” e “Coisa de Amador”.
* Pegando carona nas comemorações do centenário de nascimento de Luiz Gonzaga, está sendo lançada através de uma parceria entre a gravadora Warner e o selo Discobertas a coletânea “Gilberto Gil Canta Luiz Gonzaga”. Idealizado e produzido por Marcelo Fróes, o CD contém quatorze gravações de músicas do Rei do Baião na voz do artista baiano. Alguns dos melhores momentos do material selecionado ficam por contas das faixas “Vem Morena”, “Macapá”, “Pau de Arara”, “Olha Pro Céu” e “Treze de Dezembro”.
* E é também por iniciativa do selo Discobertas que estão sendo reeditados mais três títulos da discografia do cantor e compositor Sérgio Ricardo, o qual completou oitenta anos em junho passado e se tornou conhecido por quebrar, no palco, um violão, arremessando-o à platéia na final do III Festival de Música Popular Brasileira realizado em 1967. Voltaram recentemente ao catálogo: “Estória de João-Joana” que contém a trilha sonora de espetáculo de balé e foi composta a partir da leitura do poeta Carlos Drummond de Andrade, trazendo os arranjos assinados pelo maestro Radamés Gnatalli, “Arrebentação”, que tem entre seus destaques as cações “Labirinto”, “Jogo de Dados” e “Mundo Velho Sem Porteira” e ressurge com sete faixas bônus que vêm a ser os temas compostos para o filme “Terra dos Brasis”, e “A Noite do Espantalho”, que é a trilha sonora do filme homônimo, o qual tem como curiosidade ter sido estrelado, em 1974, por Alceu Valença, o qual interpreta várias das músicas do disco ao lado de Geraldo Azevedo e do próprio Sérgio Ricardo.
* Com voz doce e pequena, mas muito bem colocada, a cantora Marina Wisnik está lançando de maneira independente o seu primeiro CD. Intitulado “Na Rua Agora”, foi produzido a quatro mãos por Marcelo Jeneci e Yuri Kalil e é composto por onze temas autorais. A artista, que é filha do excelente José Miguel Wisnik, mostra competência ao interpretar temas de tessitura melódica complexa. Entre os destaques do repertório estão as faixas “Mar te Achar”, “Fim da Estrada” e “Manhã de Manhã”. Há parcerias com o pai, com Jeneci e com o emergente Thiago Pethit, este presente como convidado especial na faixa “Dezesseis”. A outra participação fica por conta de Eric Rahal em “Deitada em Si”, sem dúvida o melhor momento desse muito bem-vindo álbum que tem como ponto alto os eficientes arranjos, alguns deles contendo apropriadíssimas intervenções vocais.
* E quem curte de verdade a música brasileira de qualidade, não pode faltar à próxima edição do Projeto MPB Petrobrás que se realizará terça e quarta-feira, dias 4 e 5, a partir das 21 horas, no Teatro Tobias Barreto. O show principal trará de volta a Aracaju o talentosíssimo Chico César, cantor e compositor paraibano dos mais inventivos do cancioneiro nacional, o qual estará interpretando os maiores sucessos de sua carreira. Já a apresentação de abertura caberá ao irrequieto e polivalente Nino Karvan. Realmente im-per-dí-vel!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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