MUSIQUALIDADE

R E S E N H A

Cantora: TULIPA RUIZ
CD: “TUDO TANTO”
Gravadora: INDEPENDENTE

A cantora, compositora e desenhista Tulipa Ruiz saiu de Minas Gerais aos vinte e dois anos objetivando fazer o curso de Comunicação e Multimeios na PUC, em São Paulo. Foi ali que ela participou de diversos projetos musicais, chegando a fazer parte de algumas bandas, até que, em 2009, realizou seu primeiro show solo no Teatro Oficina e, logo depois, apresentou-se no SESC Pompeia, chamando a atenção de alguns críticos e formadores de opinião.
O primeiro disco solo chegou ao mercado em 2010. Intitulado “Efêmera”, foi o concreto ponto de partida para que sua música passasse a ser mais conhecida. De lá pra cá, vem colecionando elogios e vendo seu séquito de fãs aumentar dia após dia. Uma comprovação mais imediata disso é a inclusão da canção “Só Sei Dançar Com Você” na trilha sonora da telenovela global “Cheias de Charme”.
Enturmada com vários dos nomes do mercado independente nacional, Tulipa, que faz questão de assegurar sua admiração por Meredith Monk, Joni Mitchell, Gal Costa, Ná Ozzetti, Zezé Motta e Joyce Moreno (um time de peso!), acaba de lançar, de forma independente, o seu aguardado segundo álbum. Trata-se de “Tudo Tanto”, um trabalho que traz a assinatura do irmão, o guitarrista e parceiro Gustavo Ruiz, na produção musical e se faz composto por onze faixas autorais, duas delas criadas por Tulipa sozinha, e que termina por se mostrar de fato bem superior ao de estreia.
O CD possui uma sonoridade leve e moderna, mas o melhor é que não há invencionices que chamem mais a atenção que as músicas em si. E se os arranjos são criativos e tentam transportar o ouvinte para a atmosfera de cada música, encontram seu porto seguro na voz de Tulipa que canta limpo e com emissão firme. Há lampejos da chamada vanguarda paulista tanto na sua veia criativa, como se pode perceber em “É”, a boa faixa de abertura (adornada com um portentoso naipe de cordas), como no seu canto, o que se faz perfeitamente constatável através da audição da interessante “Ok”. O refrão desta canção, aliás, merece destaque pela arquitetura fácil de ser assimilada, o que decerto lhe facilitará uma aceitação maior caso propagada a um nível mais abrangente. Outro refrão bacana é o de “Quando Eu Achar”, um dos temas de linhagem pop presente no repertório, o qual termina com a adesão de um vigoroso coro feito por amigos. Mas as influências de Tulipa são várias e ecos de uma Gal tropicalista aparecem com nitidez em “Script”, um dos melhores momentos do álbum ao lado do enérgico blues “Víbora” (em que se destaca a guitarra de Luiz Chagas, seu pai), da gostosa “Cada Voz” e da conformativa “Bom”.
Com toques de afoxé na percussão de fundo, Lulu Santos surge como o convidado especial da faixa “Dois Cafés”, ratificando que a admiração pela arte de Tulipa já extrapola o universo indie. E completando o set list, surgem o rock “Like This” (parceria da artista com Ilhan Ersahin, integrante da banda norte-americana de trip-hop Wax Poetic), a bossa “Desinibida” (parceria dela com Tomás Cunha Ferreira, músico do grupo português Os Quais) e a mediana “Expectativa”.
Trilhando seu próprio caminho, Tulipa Ruiz mostra amadurecimento e abre espaços consideráveis para se firmar de vez no almejado panteão da nossa música popular. Mesmo que não seja para aderir à bola da vez, quem ainda não a conhece vale a pena fazê-lo. E em tempo: Tulipa estará realizando show por aqui hoje à noite, no Teatro Tobias Barreto, durante a abertura da 12ª edição do Festival Iberoamericano de Cinema de Sergipe (Curta-SE), projeto que ocorrerá entre os dias 17 e 22 de setembro. Antes de a cantora subir ao placo, haverá apresentações da mostra informativa de longas com a exibição do Promo “Cidade de Deus – 10 Anos Depois”, de Cavi Borges e Luciano Vidigal, e do filme “Lixo Extraordinário”, de Lucy Wlaker, Karen Harely e João Jardim. Realmente imperdível!

N O V I D A D E S

* Após lançar “Hits do Underground” ao lado de André Frateschi em 2010, a cantora Miranda Kassin faz chegar ao mercado o seu primeiro CD solo. Trata-se de “Aurora” que é composto por oito faixas, sete delas compostas pela própria artista ao lado de parceiros. A exceção é “6 Dias Sem Sono”, um dos destaques do repertório. Miranda é cantora segura e afinada, de timbre belíssimo e emissão acima da média. Fosse este um país onde fosse dado o devido valor artístico a quem o tem, decerto já seria reconhecida como uma de nossas melhores intérpretes atuais. O disco foi gravado ao vivo no sítio de Fábio Pinczowsky (que assina a produção em parceria com Mauro Motoki) e masterizado em Nova York por Alan Silverman (vencedor de alguns Grammy’s e responsável por masterizações dos trabalhos de Norah Jones, Chaka Khan e The Holmes Brother’s). Outros ótimos momentos do álbum ficam por conta das faixas “Para Pensa”, “Driving Alone” e “Terceiro Sinal”. Indicado para quem gosta do tipo de cantora que canta de verdade!

* Reunidos em um mesmo trabalho estarão o saxofonista Mauro Senise e o pianista Gilson Peranzzetta. Trata-se do CD intitulado “Jasmin”, o qual trará a lume a obra do pianista catalão Frederic Mompou. O álbum, que foi gravado na Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso, no Rio de Janeiro, será lançado até o final do ano.

* O cantor e compositor carioca Cícero fez chegar recentemente às lojas, através da gravadora Deck, o seu primeiro CD intitulado “Canções de Apartamento”. Na realidade, esse trabalho foi lançado no ano passado, só que de maneira artesanal e independente. A razoável receptividade, especialmente por conta da MTV, resultou na reedição do mesmo, agora em circuito comercial. Produzido pelo próprio artista, também o responsável pelos arranjos e pela execução dos instrumentos ao lado tão somente de Paulo Marinho (bateria) e Bruno Shultz (piano e acordeão), o álbum é composto por dez músicas autorais. Inegável se torna a influência do grupo Los Hermanos e principalmente de Marcelo Camelo na obra do artista que se mostra dominada por canções melancólicas. Com voz pequena e bem colocada, o jovem e tímido Cícero apresenta um inventário de suas ideias expostas em letras em geral bem mais interessantes que as melodias. Os destaques do repertório apresentado ficam por conta das faixas “Tempo de Pipa”, “Laiá Laiá” e “Açúcar ou Adoçante?”.

* A gravadora EMI anuncia que lançará, ainda este ano, uma caixa contendo os dez álbuns gravados pela cantora Sylvia Telles entre 1957 e 1966. Farão parte, inclusive, os discos que ela dividiu com Lúcio Alves e Roberto Menescal (“Bossa Session”) e com Edu Lobo, o Quinteto Villa-Lobos e o Tamba Trio (“Reencontro”).

* Alice Caymmi é mais uma do clã Caymmi que envereda pelo caminho da música. Neta de Dorival, filha de Danilo, irmã de Juliana e sobrinha de Dori, a jovem carioca que compõe desde os dez anos teve como sua primeira música gravada “Diamante Rubi”, incluída no álbum “Sem Poupar Coração” que a tia Nana lançou em 2009. E agora, através de uma parceria entre as gravadoras Kuarup e Sony Music, faz chegar às lojas o seu primeiro e homônimo CD cuja produção ficou a cargo do violonista Flávio Mendes. São dez faixas, oito delas de autoria da própria artista, as quais, aliadas às regravações de “Sargaço Mar” (de Dorival Caymmi) e de “Unravel” (de Björk e Guy Sigsworth), dão mostras de que Alice tem personalidade própria. Intérprete segura e dona de um timbre grave bastante peculiar, ela estreia muito bem no mercado fonográfico, fazendo do pseudo-galope “Água Marinha”, da contagiante “Tudo que For Leve” e da ciranda “Arco da Aliança” (esta uma parceria com Paulo César Pinheiro) os destaques desse bem-vindo trabalho.

* Paralelamente à trajetória como vocalista da banda Pato Fu (que, até o final deste ano, entrará em estúdio com vistas à gravação de um novo álbum de inéditas), Fernanda Takai segue desenvolvendo carreira solo, iniciada quando revisitou com sucesso o repertório de Nara Leão em 2007. Infelizmente, melhor sorte não lhe ocorre agora com o lançamento, através da gravadora Deck, do CD intitulado “Fundamental”, gravado ao lado do guitarrista Andy Summers (ex-integrante do trio inglês The Police) a quem foi apresentada, no Rio de Janeiro, por Roberto Menescal. Produzido pelo próprio Andy que assina todas as faixas do repertório e gravado em um estúdio de Los Angeles, o disco traz as participações, na ficha técnica, do brasileiro Marcos Suzano na percussão e do mexicano Abraham Laboriel no baixo. Fernanda não faz feio e sua voz doce e pequena até soa mais definida que em trabalhos anteriores, mas o fato é que as melodias pouco inspiradas, ainda que tragam lampejos da eterna Bossa Nova, não lhe permitem fazer deste trabalho um ponto maior em sua trajetória. Cinco das onze faixas apresentadas receberam letras em português assinadas pela própria Fernanda, John Ulhoa (seu marido) e Zélia Duncan. A propósito: agora em setembro, esse disco será lançado no Japão, contendo a faixa-título como bônus cantada em japonês e, dentro em breve, uma versão inteiramente em inglês chegará aos mercados dos Estados Unidos e da Europa.

* O registro da apresentação de Frejat em outubro do ano passado no Rock in Rio acaba de chegar às lojas nos formatos CD e DVD através da MZA Music. São onze faixas através das quais o artista revê sucessos da banda que o catapultou à fama, o Barão Vermelho (“Por Que a Gente É Assim?” e “Bete Balanço”), resgata hits alheios (“Você Não Entende Nada”, de Caetano Veloso, “Ainda É Cedo”, do Legião Urbana, e “Exagerado”, de Cazuza) e engata canções pertencentes à sua carreira solo (caso de “Puro Êxtase”, “Por Você” e “Segredos”). Há ainda um medley dedicado ao soul nacional que reúne três temas de Tim Maia (“Não Vou Ficar”, “Réu Confesso” e “Você”) e música que se tornou conhecida na voz de Dulce Quental mas que é de autoria de Herbert Vianna (“Caleidoscópio”). O filho de Frejat, o adolescente Rafael Pellegatti Frejat, participa, como convidado especial, executando as guitarras de “Malandragem” e “Amor Pra Recomeçar”.

* A nova e boa telenovela global das dezoito horas que estreou na semana passada,“Lado a Lado”, já tem sua trilha sonora definida, a qual chegará as lojas em breve. Entre os quinze fonogramas selecionados fazem parte “A Voz do Morro” (com Diogo Nogueira), “Isto É Bom” (com Mariene de Castro), “Namora Comigo” (com Mart’nália), “Me Deixa em Paz” (com Milton Nascimento e Alaíde Costa), “Sei” (com Nando Reis), “Samba de Primeira” (com Marcelo D2) e “Quarto de Dormir” (com Marcelo Jeneci), além – é claro – do tema de abertura, o famoso samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense ”Liberdade, Liberdade, Abre as Asas sobre Nós”.

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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