MUSIQUALIDADE

R E S E N H A

Cantor: CHICO BUARQUE
CD: “NA CARREIRA”
Gravadora: BICOITO FINO

Um dia, quando Chico Buarque de Hollanda não mais por aqui estiver, certamente será lembrado como o maior compositor popular que este país já teve. Dono de uma mente hiper fértil e criador de canções que ultrapassam gerações, ele lançou, no ano passado, “Chico”, seu mais recente CD, após alguns anos longe dos estúdios. Uma das poucas unanimidades nacionais, o compositor e cantor carioca, logo em seguida, mais precisamente no mês de novembro, voltou aos palcos (onde é presença bissexta), lotando espaços por onde se apresentou e mostrando que, aos sessenta e oito anos de idade e quarenta e sete de estrada, ainda tem muito a contribuir com o nosso cancioneiro. O registro ao vivo de shows realizados em fevereiro deste ano na casa de espetáculos Vivo Rio, no Rio de Janeiro, acaba de chegar às lojas, através da gravadora Biscoito Fino, perpetuando-se no CD duplo intitulado “Na Carreira” (a turnê se encerrou em maio), o qual antecede o lançamento do DVD homônimo que será lançado em breve.
É lógico que as dez canções que fazem parte do último álbum estão todas lá e algumas terminam por adquirir interessantes e novos contornos como é o caso de “Nina”, “Querido Diário”, “Se Eu Soubesse” e “Essa Pequena”, grandes canções buarquianas que decerto ainda crescerão com o tempo. Isso sem falar em duas inspiradíssimas parcerias, “Sinhá” e “Sou Eu”, compostas ao lado de João Bosco e Ivan Lins, respectivamente. Nesta última, um contagiante samba lançado originalmente por Diogo Nogueira, Chico divide os vocais com Wilson das Neves, baterista oficial de sua banda, o qual comparece em participação especial também em “Teresa da Praia” (de Tom Jobim e Billy Blanco), único tema não autoral constante do repertório que reúne, no total, trinta faixas.
Há, em forma de vinheta, uma adaptação de Criolo para “Cálice” (de Chico e Gilberto Gil, esta uma das criações mais contundentes de toda a história da nossa MPB), mas o roteiro é dominado por pérolas compostas por Chico que, esperto, deixou de incluir suas músicas mais conhecidas para abrir espaço para outras tão interessantes quanto, mas que, por motivos inexplicáveis, não obtiveram a merecida receptividade. Nesse rol se incluem os ótimos sambas “Injuriado” e “De Volta ao Samba”, os quais, devagarzinho, vêm sendo redescobertos por outros intérpretes e, em breve, deverão fazer parte das dezenas de canções que Chico já conseguiu encravar no inconsciente coletivo nacional.
Ladeado por instrumentistas que conhecem muito bem o seu universo, como é o caso do violonista e diretor musical Luiz Cláudio Ramos, do pianista João Rebouças, da tecladista Bia Paes Leme, do percussionista Chico Batera e do baixista Jorge Hélder, além de Marcelo Bernardes nos sopros, Chico traz à tona várias fases de sua trajetória, dando ênfase ao conhecido lado de poeta experiente nas facetas do universo feminino. Representantes desta seara são as canções “Bastidores”, “O Meu Amor”, “Teresinha”, “Sob Medida” e “A Violeira”. E fazendo um apanhado dos parceiros colecionados ao longo da vasta e vitoriosa carreira, ele seleciona temas criados ao lado de Vinicius de Moraes (“Desalento”), Tom Jobim (“Anos Dourados”), Cristóvão Bastos (“Todo o Sentimento”), Ruy Guerra (“Ana de Amsterdam”) e Edu Lobo (“Choro Bandido” “Valsa Brasileira” e a faixa-título, esta emoldurada por um arranjo que traz a reboque, em seu final, citações de diversas canções de Chico), ficando de fora somente Francis Hime, com quem ele criou algumas obras-primas (“Trocando em Miúdos”, “Atrás da Porta” e “Embarcação” estão entre elas). Eclético, Chico resgata também “Baioque” (mistura de baião e rock integrante do filme “Quando o Carnaval Passar”) e “Geni e o Zepelim” (extensa e histórica canção criada para o musical “Ópera do Malandro”).
Trata-se, enfim, de um projeto realizado com o esmero que Chico merece, mostrando-o altaneiro em seu tempo presente. Realmente imperdível!

N O V I D A D E S

* O cantor e compositor Mauricio Pessoa estreou no mercado fonográfico em 2007 com um super valorizado álbum homônimo. E se é fato que, de lá para cá, muito pouco se ouviu falar dele, esse hiato de cinco anos terminou por valer a pena quando se depara com “Habitat”, seu segundo CD, o qual acaba de chegar às lojas através da gravadora Sony Music. É constatável o amadurecimento artístico do carioca que, em dez faixas autorais e inéditas, mostra-se um criador inspirado. Fortemente influenciado por Chico Buarque, Tom Jobim e Paulinho da Viola (e isso, em algumas passagens, termina por não soar 100% natural), Mauricio não é um cantor de grandes recursos vocais, mas ultrapassa os seus limites imprimindo uma colocação adequada. Gravado em Nova Iorque e produzido a quatro mãos por Zé Luiz Oliveira e Béco Dranoff, o álbum alcança grandes momentos com as faixas “Quando Falas Coração”, “Prisma” e “Água da Fonte”, mas não dá para deixar de destacar o belíssimo tema instrumental “Saudade”. Vale a pena conhecer!

* O cantor e compositor Nando Reis estará lançando em breve mais um CD. Intitulado “Sei” e produzido por Jack Endino, esse novo trabalho mostra o artista em pleno processo de efervescência criativa, mergulhado em cenas ao mesmo tempo pessoais e universais. É talvez o mais profundo título de sua discografia e também o mais plural ritmicamente falando. O repertório contempla quinze músicas, dentre as quais “Pré-Sal”, “Back in Vânia”, “Coração Vago”, “Eu e a Bispa” e “Eu te Amo”. Marisa Monte surge como convidada especial em “Pra Quem Não Vem”.

* Mais um grande compositor brasileiro completou sete décadas de vida este ano, mais precisamente em maio passado: o sambista Nei Lopes, cujas criações foram gravadas por gente do quilate de Alcione, Beth Carvalho e Clara Nunes, entre diversos outros dos maiores intérpretes da nossa música. Também cantor, escritor, advogado e historiador, ele deu início à sua carreira musical na década de setenta, cantando no LP "Tem Gente Bamba na Roda de Samba". Logo em seguida, gravou dois discos ao lado de Wilson Moreira, um de seus mais constantes parceiros. Criador de belas canções, tais como "Goiabada Cascão", "Senhora Liberdade", "Coisa da Antiga", "Baile no Elite" e "Gostoso Veneno", Nei, que é um militante ativo do movimento negro, tem muito a comemorar por conta de sua bela trajetória. E para marcar essa data redonda a gravadora Fina Flor está fazendo chegar às lojas o CD intitulado "Samba de Fundamento" que, composto por quatorze faixas autorais (a maioria dividida com parceiros), traz a assinatura do competente Rildo Hora na produção musical. Trata-se, na realidade, de uma compilação de músicas constantes de dois CDs de Nei lançados pela supracitada gravadora: "Partido ao Cubo", de 2004, e "Chutando o Balde", de 2009. Foi o próprio artista quem selecionou os fonogramas, saudando o samba verdadeiro na canção-título, traçando uma ponte com a rumba em "Partido ao Cubo", tirando onda com as metidas em "Roupa de Chita" e enumerando nomes de peixes em "Partido Pescado". Outros ótimos momentos ficam por conta das faixas "Dicionário", "Águia de Haia", "Pala Pra Trás" e "Dona Maria Mourão".

* A afinadíssima cantora Vânia Bastos anuncia o lançamento de seu primeiro single na internet. Essa estreia no mercado da música digital (já disponível no iTunes) é marcada com novos registros para as canções “Lenda” (de Arrigo Barnabé) e “Mal Menor” (de Itamar Assumpção). Os arranjos ficaram a cargo do exímio violonista Ronaldo Rayol. Dez!

* Já se encontra em fase de produção sob a batuta de Thiago Marques Luiz o novo CD de Maria Alcina que comemorará os quarenta anos de carreira da cantora. Do repertório constarão canções assinadas, entre outros, por Arnaldo Antunes, Zeca Baleiro, Felipe Cordeiro, Luiz Gonzaga e João Bosco.

* E por falar em João Bosco, ainda em seu tributo, vez que foi o homenageado oficial da 23ª edição do Prêmio da Música Brasileira, alguns artistas vinham, até bem pouco tempo, realizando shows em alguns pontos do país. A derradeira apresentação, que se deu em São Paulo e contou com a participação de Alcione, Arlindo Cruz, Leila Pinheiro, Mariana Aydar e Péricles, foi devidamente registrada, devendo chegar ao mercado ainda este ano nos formatos CD e DVD.

* Em setembro do ano passado, a banda Capital Inicial apresentou-se no Rock in Rio. É a gravação desse show que agora aporta no mercado, através da gravadora MZA, nos formatos CD e DVD. O registro perpetua o vocalista Dinho Ouro Preto eufórico, falando palavrão aos borbotões, mas também eterniza a ótima receptividade do público presente. Entre sucessos capitais (a exemplo de “Independência”, “Natasha”, “Como Se Sente” e “Depois da Meia Noite”), o repertório de treze faixas abre espaço pra “Primeiros Erros” (grande sucesso de Kiko Zambianchi) e recorda canções do grupo brasiliense Aborto Elétrico, embrião da Legião Urbana (“Música Urbana”, “Fátima”, “Que País É Esse?” e “Veraneio Vascaína”).

* Na próxima sexta-feira, dia 28, a partir das 19 horas no auditório do Museu da Gente Sergipana, acontecerá o lançamento do CD “Symbiose”, o qual alinha música e poesia envoltas em sons de violão e viola nordestina. As canções são inéditas de autoria de Rodrigo Chianca e serão interpretadas por Pedrinho Faria. Vale confeirir!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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