R E S E N H A
Cantor: DJAVAN
CD: “RUA DOS AMORES”
Gravadora: UNIVERSAL
O Estado de Alagoas tem o seu representante maior, na nossa música popular brasileira, na figura de Djavan. Artista completo (compõe, canta e toca com maestria), ele seguiu para o Rio de Janeiro a fim de tentar o sucesso lá pela metade da década de setenta do século passado e, dez anos após, já tinha seu talento reconhecido.
Presente em várias trilhas de telenovelas e tendo suas composições gravadas por gente do quilate de Elis Regina, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gal Costa, Zizi Possi, Leila Pinheiro e muitos outros, desde “Matizes”, lançado em 2007, que ele não punha no mercado um álbum com canções inéditas (em 2010 ele lançou “Ária”, um CD totalmente voltado para o lado de intérprete).
Acaba de chegar às lojas o 21º título de sua discografia: trata-se de “Rua dos Amores”, inteiramente gravado em seu estúdio caseiro. O CD, que é um lançamento da gravadora Universal e foi produzido e arranjado pelo próprio artista, traz treze faixas autorais, doze delas inéditas (a exceção é “Vive”, tema gravado originalmente por Maria Bethânia em seu mais recente disco, o “Oásis de Bethânia”).
A esta altura do campeonato, Djavan não precisa provar mais nada a ninguém. E, embora nas entrevistas que vem dando, ele faça questão de afirmar que o que lhe move é a não repetição, o fato é que sua digital criativa se mostra fortemente impressa nesse novo projeto.
A mola mestra das letras é o amor e suas intrincadas relações e conseqüências. Presente na maioria das letras, o tema sempre é tratado com inteligência e, mesmo recorrente, jamais beira o lugar comum. Já as melodias ressaltam a levada de um compositor que, durante sua trajetória, foi assimilando diversas influências, além das já inatas como é o caso do samba, presente em duas boas faixas: “Acerto de Contas” (na qual ele pede à amada a chance de uma volta após reconhecer tardiamente as coisas boas do relacionamento abalado) e “Reverberou” (bem-humorado tema que traz a lume, meio que em bossa, um jogo de conquista e desejo).
E se é fato que nem todas as canções estão à altura do grande criador que ele é (caso das medianas “Pecado” e “Quase Perdida”), há que se reconhecer que o CD apresenta grandes momentos de inspiração djavaneana, a exemplo das faixas “Já Não Somos Dois”, “Bangalô” e “Ares Sutis”, esta escrita sob o viés feminino.
Para comemorar o período de casamento com sua segunda esposa (que lhe deu dois filhos – no total, ele possui cinco), Djavan compôs “Quinze Anos”, emoldurando-a com aura flamenca. Já os traços do letrista nem sempre tão direto voltam à tona tanto na faixa-título quanto em “Anjo de Vitrô”.
Fora das questões amorosas, o artista abre espaço para lamentar por aqueles que não se abrem às possibilidades da vida (em “Triste É o Cara”) e levanta a bandeira da necessidade de se compartilhar para que se possa chegar a uma realidade mais igualitária e ética (em “Pode Esquecer”).
Dotado de uma sonoridade que flerta com o jazz e o blues e contando com um interessante naipe de metais em algumas passagens, o CD registra o retorno do trabalho musical de Djavan com instrumentistas que entendem do seu balanço e da sua linguagem. E isso – é certo – se fez essencial para o resultado especial desse seu novo e interessante CD. Corra e ouça!
N O V I D A D E S
* Chegou recentemente ao mercado nacional, após lançado nos Estados Unidos, o CD “Belezas”, novo e bonito trabalho da cantora Carol Saboya em que são homenageados Ivan Lins e Milton Nascimento, indubitavelmente dois dos artistas brasileiros mais conhecidos e respeitados lá fora. São seis canções de autoria de cada um deles feitas ao lado de parceiros, as quais fazem totalizar o repertório apresentado em uma dúzia de faixas. A produção do álbum e os arranjos sempre voltados para o jazz ficaram a cargo do pianista Antonio Adolfo, pai de Carol, o qual arregimentou um time seleto de instrumentistas para acompanhá-lo: Jorge Helder (baixo), Rafael Barata (bateria e percussão) e Claudio Spiewak (violão e guitarra). Dona de técnica irrepreensível, Carol canta afinado e bonito, fazendo soar sua voz como se fosse mais um instrumento e alcançando grandes momentos especialmente nas faixas “Bola de Meia, Bola de Gude”, “Tristesse”, “Doce Presença” e “Estrela Guia”.
* No finalzinho de setembro do ano passado, o grupo mineiro Jota Quest se apresentou no Rock in Rio. O entusiasmo da plateia é um dos atrativos do registro que acaba de chegar às lojas através da gravadora MZA, disponível nos formatos CD e DVD. Em doze faixas, contata-se a força pop dos rapazes que foram conquistando, ao longo da trajetória, milhares de admiradores. Mas o fato é que o repertório contém músicas cativantes e que o vocalista Rogério Flausino, não obstante por vezes exagere nos maneirismos vocais, possui um incontestável carisma. Entre os melhores momentos apresentados estão os hits “Na Moral”, “Dias Melhores”, “Encontrar Alguém”, “O Sol”, “De Volta ao Planeta” e “Do seu Lado”.
* Através da gravadora Coqueiro Verde, o carioca Daniel Lopes está lançando o seu segundo CD. Intitulado “Bonito”, o sucessor de “Mais e Mais Refrões” (lançado em 2009) é composto por dez faixas autorais, três das quais criadas solitariamente pelo artista. Ótimo cantor, Daniel também se mostra um compositor inspirado conforme se pode constatar, por exemplo, através das faixas “Sem Flores” (parceria com Leoni), “Conchinchina” (feita com Rodrigo Bittencourt) e “Sorcery”, os três melhores momentos do repertório apresentado. O álbum traz as participações especiais de Milton Nascimento (em “Distância”, criada com Omar Salomão), Lia Sabugosa (em “Visão do Mesmo”, composta com a atriz Juliana Didone), Luiza Souto (em “Coldest Heart”) e Talita Castro (em “Medo de Avião”).
* Já se encontra em fase de formatação o novo CD de Paula Lima. Nesse trabalho, a cantora paulista vai mergulhar de cabeça no samba carioca e, para tanto, já garantiu, no repertório, canções criadas por nomes como Arlindo Cruz, Pretinho da Serrinha e Serginho Meriti. A produção ficará a cargo de Leandro Sapucahy.
* Será lançado na próxima semana o CD “Concerto de Cordas & Máquinas de Ritmo”. Trata-se do registro ao vivo de show realizado em maio deste ano, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, por Gilberto Gil dentro do projeto “MPB & Jazz”. São vinte e uma faixas que passeiam pelo universo autoral do artista (a exemplo de “Expresso 2222”, “Lamento Sertanejo”, “Panis et Circensis”, “Oriente” e “Andar com Fé”), mas também têm parada certeira nas obras de Luiz Gonzaga (“Juazeiro”), Dorival Caymmi (“Saudade da Bahia”), Tom Jobim (“Outra Vez”), Jimi Hendrix (“Up From the Skies”) e do cubano Osvaldo Farrés (Tres Palabras). A cereja do bolo, no entanto, fica por conta da inédita “Eu Descobri”.
* Integrante do Circuito Cultural Banco do Brasil, o show no qual Lulu Santos revisita sucessos de Roberto Carlos foi devidamente registrado e estará aportando nas lojas em CD ainda em outubro.
* “Real Fantasia” é o título do novo CD que a baiana Ivete Sangalo estará lançando este mês através da gravadora Universal. O repertório é inédito e composto por uma dúzia de canções, mas há duas faixas bônus já conhecidas do grande público por fazerem parte de trilhas sonoras de produções globais: trata-se de “Eu Nunca Amei Alguém Como Eu te Amei” (de Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle) e “Me Levem Embora” (de Dori Caymmi e Jorge Amado), incluídas em “Fina Estampa” e “Gabriela”, respectivamente. Em tempo: a faixa escolhida para puxar o disco é “No Brilho Desse Olhar” (de Davi Salles e Dan Kambaiah).
* Um dos maiores representantes da Bossa Nova, o cantor e compositor carioca Carlos Lyra lançou em 1974 um belo disco homônimo do qual fazia parte “Quando Chegares”, música que ele compôs vinte anos antes e marco inicial de sua carreira. Esta e mais dez faixas compõem o repertório daquele trabalho que agora retorna ao mercado, através do selo Discobertas, pela primeira vez no formato CD. Compositor inspirado, Lyra apresenta boa safra autoral (a exceção é “Cante uma Canção”, de Hugo Bellard), destacando-se as canções “Lanterna”, “Tem Dó de Mim” e “Se Você Quiser me Dar Amor”, esta trazendo a participação da atriz e esposa Kate Lyra nos vocais. Também faz parte do repertório a antológica “Feio Não É Bonito” (parceria com o Gianfrancesco Guarnieri).
* Com a produção a cargo de Geraldo Rocha, está praticamente pronto o CD de voz e violão que juntará os talentos da cantora Alaíde Costa e do instrumentista Toninho Horta. O lançamento está previsto para até o fim deste ano pelo selo de Horta, o Minas Records. O seletíssimo repertório alberga pérolas como “Travessia”, “Outubro”, “Tudo Que Você Podia Ser”, “Nascente” e “Sol de Primavera”.
* Marcelo Camelo vem se apresentado pelo Brasil com um show no formato voz e violão, o qual, devidamente registrado quando de apresentação realizada no mês passado em Porto Alegre (RS), chegará até o final do ano às lojas nos formatos CD e DVD. Um projeto já certamente bastante aguardado com ansiedade pelo considerável séquito de fãs do artista.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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