MUSIQUALIDADE

R E S E N H A

Cantor: JÚNIOR ALMEIDA
CD: “MEMÓRIA DA FLOR”
Gravadora: MP,B/UNIVERSAL

O cantor e compositor Júnior Almeida é alagoano de Maceió e, autodidata, resolveu mergulhar de vez na carreira musical quando, em 1985, classificou-se em primeiro lugar no V Festival Universitário de Música da UFAL. São, portanto, mais de vinte e cinco anos de estrada, já tendo se apresentado em diversos palcos do País, inclusive ao lado de renomados artistas como Chico César, Hermeto Pascoal, Leila Pinheiro, Milton Nascimento, Wado, Leci Brandão e o conterrâneo Djavan. Lançou o primeiro CD (“A Lua Não Pertence a Ninguém”) em 1999. Dois anos após, saiu o álbum “Dias de Calor” e em 2006 chegou ao mercado “Limiar do Tempo”, disco que trouxe, no repertório, a bela canção “A Cor do Desejo” pela qual Ney Matogrosso se apaixonou de cara, gravando-a no CD “Beijo Bandido”, de 2009.
Foi certamente o aval de Ney que abriu as portas da gravadora MP,B para o trabalho de Júnior, posto que é através dela, em parceria com a Universal, que está chegando às lojas o quarto CD do artista. Intitulado “Memória da Flor” e produzido pelo baixista Fernando Nunes, é composto por dez faixas autorais, duas delas assinadas solitariamente por Júnior e as demais por ele ao lado de vários parceiros.
Júnior mostra-se de fato um compositor inspirado. Seu novo trabalho tem o mérito de não soar monocórdio nem se calcar em invencionices. Ele também não tenta parecer “moderninho” como manda a cartilha do mercado atual e sem pensar em reinventar a roda, comprova que o que faz um bom disco é mesmo a qualidade do repertório.
Já na faixa de abertura, “A Poesia” (parceria com Danielle Cândido), se denota que Júnior não está para brincadeira. Adornada com letra curta e inteligente, a bela melodia se faz valorizada pelo inspirado arranjo que a leva pelos caminhos do tango. Um ouvinte mais atento irá detectar que a obra de Júnior possui influências que remetem a um passado não muito distante do nosso cancioneiro: impossível não ouvir ecos de Ednardo ou Fagner em alguns momentos do disco, como, por exemplo, na gostosa “Catarina”, na contundente “Pequenas Misérias” (as duas compostas com Fernando Fiúza), no bacana pseudo-blues “O Presente” e no bem construído chorinho “Nem uma Pétala” (feita com José Silva Ferreira), alguns dos melhores momentos do repertório apresentado.
Como cantor, Júnior pode até não estar entre os mais marcantes, mas cumpre diretinho o riscado. Na realidade, não há arroubos interpretativos em suas leituras e o que lhe conta como ponto valoroso é mesmo o timbre único de sua voz. No entanto, é incontestável que ele se sai bem até quando divide os vocais da faixa-título (outra parceria com José Silva Ferreira) com o já citado Ney Matogrosso, convidado especialíssimo. A outra participação fica por conta de Irina Costa em “Tal Sol, Tal Homem, Tal Maria”.
E se é fato que a primeira metade do CD é superior à segunda, também o é que a estreia de Junior Almeida em escala comercial nacional se dá de maneira muito feliz. Já está mais que na hora de seu talento ser reconhecido além das fronteiras de Alagoas e o recém-lançado álbum lhe serve como um ótimo cartão de visitas. Vale a pena conferir!

N O V I D A D E S

* Seguramente uma das mais expressivas e completas intérpretes da atual geração, a carioca Silvia Machete está pondo nas lojas, através da gravadora Coqueiro Verde, o CD “Extravaganza Ao Vivo”, registro de apresentação realizada pela cantora no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, em março de 2011, disponibilizando-o também em DVD. A base do repertório de doze faixas é o ótimo álbum lançado em 2010, mas há algumas novidades como a inclusão dos temas “Guzzy Muzzy” (de Jorge Mautner), “Volta por Cima” (de Paulo Vanzolini) e “Só Você” (de Paulo Soledade), além do instrumental “Campeonato de Surf”. Machete é um show por si só: descontraída e conversadeira, ela faz o público se sentir em casa. E como se não bastasse o carisma inato, ainda possui uma voz pra lá de bonita, com emissão e afinação acima da média. O DVD vem com dois números a mais: “Fim de Festa” (de Fabiano Krieger) e “Curare” (de Bororó). Os melhores momentos ficam por conta de “Noite Torta” (de Itamar Assumpção), “Sábado e Domingo” (de Domenico Lancellotti e Alberto Continentino) e “Coração Valente” (parceria de Machete com Hyldon). Massa!

* O selo Discobertas está pondo nas lojas, pela primeira vez em CD, o disco “Canções à Meia Luz”, lançado por Elizeth Cardoso em 1955. Esse trabalho é de importância histórica para a MPB porque marcou o encontro da cantora carioca com Tom Jobim (1927 – 1994), que foi o responsável pelos arranjos. No repertório estão canções constantes do LP original, tais como “Linda Flor (Yayá)”, de Luiz Peixoto, Marques Porto, Henrique Vogeler e Cândido Costa, “Canção da Volta”, de Ismael Neto e Antônio Maria, e “Nunca Mais”, de Dorival Caymmi, mas também seis faixas-bônus, as quais são oriundas de três discos de 78 rotações gravados e lançados pela Divina na gravadora Continental em 1954 e 1955.

* ”Arrocha” é o curioso título do novo CD que o cantor e compositor paulista Curumin está lançando através da gravadora Urban Jungle. Ele que, como baterista, já acompanhou grandes nomes da MPB, como Paula Lima e Vanessa da Mata, chega ao seu terceiro trabalho solo mostrando considerável amadurecimento musical. Produzido pelo próprio artista ao lado de Lucas Martins e Zé Nigro, o álbum é composto por treze faixas, incluindo três temas instrumentais. Majoritariamente autoral, o repertório alcança os seus melhores momentos com “Vestido de Prata” (de Jorge Alfredo Guimarães, que traz participação especial da cantora Céu), “Passarinho” (de Russo Passa Pusso) e “Afoxoque” (de Curumin e Russo, que conta com Marcelo Jeneci nos teclados). Anelis Assumpção é parceira em “Paris Vila Matilde”, assim como Arnaldo Antunes e Márcia Xavier o fazem em “Pra Nunca Mais”.

* Exatos vinte anos separam os dois lançamentos que a banda Skank pôs nas lojas recentemente. O CD “Skank 91” traz dez gravações seminais de estúdio feitas pelos quatro rapazes mineiros antes de conquistarem o tão almejado sucesso, juntadas a sete registros colhidos ao vivo durante apresentação na extinta casa de shows Disco Reggae Night em São Paulo. São peças que valem muito mais pela perpetuação de um momento do que pela qualidade técnica em si. Além das primeiras canções assinadas pelo vocalista Samuel Rosa, estão presentes releituras de temas de Jorge Ben Jor (“Cadê o Penalty?”), Milton Nascimento (“Raça”, parceria com Fernando Brant) e “Telefone” (o maior sucesso do grupo Gang 90). Os melhores momentos, no entanto, ficam por conta das faixas “Macaco Prego” e “Salto no Asfalto”. Já o álbum “Skank Ao Vivo no Rock in Rio”, também disponível no formato DVD, eterniza a apresentação da banda em outubro do ano passado na Cidade do Rock no Rio de Janeiro. São treze faixas que se concentram nas canções que mais marcaram a trajetória do Skank, a exemplo de “Garota Nacional”, “Vou Deixar”, “Jackie Tequila”, “Três Lados” e “Ainda Gosto Dela”, esta com a presença de Negra Li nos vocais. De lavras alheias, estão lá as versões personalíssimas de “Vamos Fugir” (de Gilberto Gil e Liminha) e “É Proibido Fumar” (de Roberto e Erasmo Carlos).

* A trilha sonora do filme “Tropicália” dirigido por Marcelo Machado acaba de chegar ao mercado através da gravadora Universal. Composta por dezessete fonogramas pinçados entre aqueles mais expressivos do movimento que catapultou Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé e os Mutantes para a fama, termina resultando numa espécie de “the best of”. Estão lá, entre outros, canções atemporais como “Divino Maravilhoso”, “Alegria, Alegria” e “Domingo no Parque” ao lado de algumas menos conhecidas como “Alfômega”, “Panis et Circensis” e “Fuga nº II”.

* Lenine Guarani é o nome do filho de Taiguara que estreia no mercado fonográfico com o CD intitulado “Menino da Silva”. Também compositor como o pai, o rapaz canta bonito com uma voz grave e bem colocada. Produzido por Pedro Baldanza, o álbum chega às lojas através de uma parceria entre as gravadoras Kuarup e Sony Music e traz, no repertório de onze faixas, três temas autorais dos quais se destaca “Como Vai o Amor”. Outras três faixas são regravações de músicas de Taiguara (como é o caso da canção-título). Completam o set list releituras de Edu Lobo (“Ponteio”, parceria com Capinan), Chico Buarque (“Agora Falando Sério”), Dori Caymmi (“O Cantador”, feita com Nelson Motta) e Vinicius de Moraes (“O Velho e a Flor”, criada ao lado de Toquinho e Bacalov), além da inédita “Catavento” (de Bruno Piazza e Camila Wittmann).

* Já se encontram disponíveis nas melhores lojas o CD e DVD “Multishow Ao Vivo – Kid Abelha 30 Anos”, o qual, conforme o próprio título já entrega, tem como mote a comemoração das três décadas de existência do grupo carioca. Surgido no boom dos anos oitenta que trouxe a lume o chamado rock nacional, o Kid Abelha continua lotando os lugares em que se apresenta, como aconteceu em abril deste ano no Citibank Hall, no Rio de Janeiro. Foi ali que se deu o registro do show que comprova que o passar dos anos só fez bem aos seus três integrantes: Paula Toller, George Israel e Bruno Fortunato. A vocalista, por exemplo, está cantando cada vez melhor, de forma segura e afinada. O repertório – como não poderia deixar de ser – alberga os maiores sucessos colecionados ao longo da trajetória. Estão lá, entre outras canções, as conhecidíssimas “Como Eu Quero”, “Nada Tanto Assim”, “Educação Sentimental”, “Dizer Não É Dizer Sim” e “Grand’Hotel”. O DJ Marcelinho da Lua é o convidado especial em “Fixação” e “Te Amo Pra Sempre” e a Bateria Surdo Um, da Escola de Samba Mangueira, trazendo Ivo Meirelles à frente, adiciona insuspeito molho rítmico a “Pintura Íntima”. Ainda que o Kid Abelha viesse mostrando temas inéditos em apresentações recentes, como “Glitter de Principiante” e “Veio do Tempo”, a única música de fato inédita incluída no projeto foi “Caso de Verão (O Amorzinho)”, com gravação feita em estúdio. O CD contém dezenove faixas. Já o DVD contempla vinte e quatro números, incluindo um vídeo com texto e narração de Mônica Waldvogel e extras com depoimentos e making off do show.

* Chegará às lojas ainda este mês o segundo CD de estúdio da Orquestra Imperial. Intitulado “Fazendo as Pazes com o Swing”, o álbum traz a foto do compositor e violonista Nelson Jacobina, recentemente falecido, na capa. É que o artista participou de todas as faixas do disco.

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais