R E S E N H A
Cantora: FHERNANDA FERNANDES
CD: “PASSIONAL”
Gravadora: JOIA MODERNA/LUA MUSIC
Muito pouca gente deve se lembrar do MPB 80, festival de música realizado pela Rede Globo, do qual se sagrou vencedor Oswaldo Montenegro com a canção “Agonia”, embora a maior parte do público estivesse torcendo por “Foi Deus Quem Fez Você”, a segunda colocada, interpretada por Amelinha. Entre as finalistas estava uma bela música intitulada “Devassa”, defendida por uma cantora que, naquele momento, iniciava sua carreira. Era a carioca Fernanda que, um ano depois, chegou a lançar um bom disco com muita pompa e circunstância (“Fera”), mas que, por motivos alheios ao seu talento, não conseguiu deslanchar como merecia. Também compositora, ela lançou mais três álbuns (“Gosto de Hortelã”, em 1993, “Definitivamente”, em 2001, e “Capitão de Mim”, em 2004) até que este ano recebeu o convite do DJ Zé Pedro, proprietário da gravadora Joia Moderna, para que gravasse um álbum somente com canções de um determinado compositor. Como lhe foi dada a possibilidade da escolha, a artista (que atualmente assina artisticamente Fhernanda Fernandes) optou pelo cancioneiro da também carioca Fátima Guedes, autora de grandes temas, a exemplo de “Mais uma Boca”, “Condenados”, “Chora Brasileira”, “Onze Fitas” e “Cheiro de Mato” (e ela própria – frise-se – também uma excelente intérprete).
E é assim que, através de uma parceria com a Lua Music, acaba de chegar ao mercado o CD “Passional”, o qual, composto por treze faixas, traz os arranjos e a direção musical sob a responsabilidade do violonista Felipe Poli. Todas as músicas selecionadas são criações solitárias de Fátima Guedes, com exceção do ótimo samba “É Sério”, parceria com Djavan.
Fhernanda é intérprete segura, dona de seu canto. Sua voz bela, grave e encorpada é livre de quaisquer vícios e possui uma emissão irretocável. É daquele time de cantoras que entende o que está cantando e o recém-lançado disco mostra o quanto o Brasil perdeu nestas últimas três décadas em que não reverenciou a arte de Fhernanda como deveria.
O CD é aberto com a pouco conhecida “Cara a Máscara” que, conduzida pelo acordeão de Marcos Nimrichter, recebe apropriadas baforadas de tango e, logo na faixa seguinte (a que dá título ao trabalho), envolta em clima de samba-canção, encontra um de seus melhores momentos.
Na verdade, torna-se tarefa hercúlea selecionar destaques levando-se em conta um repertório tão interessante, mas não dá para deixar de reconhecer que as releituras de “Flor de Ir Embora” e “Absinto” terminam por beirar o sublime (e olha que essas canções já receberam anteriormente arrasadores registros de Maria Bethânia e Alaíde Costa, respectivamente).
Mister se faz registrar que as letras pungentes de Fátima, repletas de sentimentos que retratam os amores e seus dissabores, parecem encontrar porto seguro nos ótimos registros de Fhernanda. Daí porque não há como deixar de se emocionar com as versões da cantora para “Dor Medonha” (tangenciando o fado na execução mágica de Pedro Braga ao violão e bandolim) e “Paladar” (cuja cama é feita tão somente com o delicado piano de Pedro Santos). O set list se completa com “E Agora”, “Tanto que Aprendi de Amor”, “Não te Amo Mais”, “Fraqueza”, “Desacostumei de Carinho” e “Celeste”.
Densa e intensa, tal qual a obra de Fátima Guedes, Fhernanda Fernandes consegue encontrar a emoção correta que cada canção exige, mostrando-se inteira ao final de um CD que merece ser ouvido por todos os que apreciam a música brasileira de qualidade.
N O V I D A D E S
* Se você é daqueles que correm atrás de bons lançamentos, a pedida da vez é o CD “Joana de Tal”, da ótima cantora Nina Wirtti, o qual está chegando às lojas através da gravadora Fina Flor. Dona de um timbre particularmente belo, a artista comprova o seu inatacável talento através das onze faixas apresentadas, a maioria delas regravações. Produzido pelo irmão, o contrabaixista Guto Wirtti, o álbum possui uma sonoridade bem brasileira: não é especificamente um disco de samba, mas de MPB de primeira linha. O repertório contém canções assinadas, entre outros, por Bororó (“Curare”), Noel Rosa (“Você só…Mente”, parceria com Hélio Rosa e Francisco Alves) e Lupicínio Rodrigues (“Zé Ponte”, feita com Felisberto Martins e que traz a especialíssima participação do violonista Yamandu Costa). Os melhores momentos ficam por conta das faixas “Notícia de Jornal” (de Luiz Reis e Haroldo Barbosa), “Aquele Despertar” (de Guilherme de Brito e Juarez Brito), “Hoje É Para Mim” (de Cadé e Walfrido Silva) e “Sangue de Rei” (de Pedro Amorim e Paulo César Pinheiro). Muito legal!
* A gravadora MZA Music põe no mercado o volume 2 de “Lado Z”, coletânea que reúne participações de Zeca Baleiro em projetos alheios. Entre registros feitos pelo artista maranhense para trabalhos específicos, caso de “Homem com H” (de Antônio Barros), “Maresia” (de Paulo Machado e Antônio Cícero) e “Por Causa de Você” (de Tom Jobim e Dolores Duran), há boas versões para “Eu Também Quero Beijar” (de Pepeu Gomes e Fausto Nilo), “Léo e Bia” (de Oswaldo Montenegro) e “Choro do Fim do Mundo” (parceria de Baleiro com Flávio Henrique). Destaque para as faixas “Xanéu nº 5 (de Fernando Anitelli e Danilo Souza) e “Uma Canção no Rádio” (do próprio Baleiro em parceria com Fagner).
* Já a gravadora Dabliú anuncia que serão relançados até o final deste ano os seis álbuns gravados pelo grupo paulista Rumo entre 1981 e 1992 (bem como o único DVD registrado), os quais serão vendidos de forma avulsa. Para quem não sabe, foi esse grupo que projetou nomes como Ná Ozzetti e Luiz Tatit. Excelente pedida!
* A cantora paulista Paula Lima já seleciona as canções que farão parte de seu próximo CD, o qual será produzido por Leandro Sapucahy. O repertório vai incluir canções de autoria de Arlindo Cruz, Seu Jorge, Rogê, Pretinho da Serrinha e Serginho Meriti, todos compositores ligados ao cenário musical carioca.
* O selo Discobertas traz de volta ao catálogo o primeiro disco gravado por Mano Décio da Viola, lançado no já distante ano de 1974 (ele só chegou a gravar três LPs em vida). Baiano, foi no Rio de Janeiro que o artista se tornou conhecido, compondo sambas-enredos para a Império Serrano, os quais se enraizariam no inconsciente coletivo nacional, como “Exaltação a Tiradentes” e “Heróis da Liberdade”. Intitulado “Capítulo Maior da História do Samba”, o álbum revitaliza as doze faixas autorais do projeto original (a maioria criada ao lado de parceiros), trazendo a lume músicas bastante interessantes, a exemplo de “Santos em Outros Tempos”, “Dona Santa, Rainha do Maracatu” e “Hora de Chorar” e contando com as participações do Conjunto Nosso Samba e de As Gatas.
* O cantor e compositor Leoni disponibilizou recentemente em sua página oficial na internet um EP digital contendo cinco músicas compostas com parceiros diversos, três delas inéditas. Estão lá: “Os Amadores” (dele e Luciana Fregolente), “Pra Te Deixar Viver” (parceria com Moska), “Nas Margens de Mim (composta com Daniel Santiago e Fernando Anitelli), “Dezoito Mil Dias” (criada com Ivan Lins) e “Dois Sorrisos” (feita com os integrantes do grupo brasiliense Móveis Coloniais de Acaju).
* A também atriz paulista Alessandra Maestrini (a impagável doméstica Bozzena do humorístico global “Toma Lá, Dá Cá”) é, para quem não sabe, uma cantora de primeira linha. Egressa dos musicais que se proliferam no eixo Rio-São Paulo através dos quais consolidou o seu nome no meio artístico, ela está lançando, via gravadora Som Livre, o seu primeiro CD. Trata-se de “Drama’n Jazz”, composto por quatorze faixas, a maioria delas cantada em inglês. Esbanjando talento (e por que não dizer teatralidade?), Alessandra mescla clássicos como “The Man I Love” (de George Gershwin e Ira Gershwin) e “You’re the Top” (de Cole Porter) com trecho da ópera “Sansão e Dalila” em “Mon Coeur S’Ouvre à ta Voix” (de Camille Saint Saëns) e bela canção autoral (“Onde”). Há ainda versão para “Eu Te Amo” (de Tom Jobim e Chico Buarque) e parceria inédita com Ana Carolina e Torcuato Mariano (“Se Vacilar”). O ator e cantor Tiago Abravanel surge como convidado especial da faixa “Deixa Estar” (versão que a artista fez para “Cross My Heart”, de Tim Maia).
* Roberto Carlos terá duas canções de sua autoria presentes na trilha sonora de “Salve Jorge”, a próxima telenovela global das 21 horas (que estreia de hoje a oito): o funk melody “Furdúncio” e a balada “Esse Cara Sou Eu”. É, parece que o Rei, enfim, parece estar acordando…
* Hoje à noite, segunda-feira (dia 15), estará sendo realizada, a partir das 21 horas, no Teatro Lourival Baptista, aqui em Aracaju (SE), uma apresentação super especial com a cantora sergipana Tânia Maria, uma das vozes mais bonitas do nosso Estado. Só se você for muito devagar para perder essa… Vamos prestigiar o talento da casa!
* E será lançado na próxima sexta-feira (dia 19), a partir das 21 horas, em show que se realizará no Teatro Atheneu, o primeiro CD do cantor e compositor sergipano Heitor Mendonça. O trabalho contém treze faixas e ressalta o ecletismo autoral do artista que transita com fluidez entre o samba e a cantoria nordestina. Também um exímio instrumentista, Heitor traz a música em seu DNA, vez que é filho do conhecido Maestro Mosquito. O álbum traz a direção musical de James Bertish e conta com a participação da Orquestra Sinfônica de Sergipe. Já o show trará Vital Farias e o grupo Cataluzes como convidados. Imperdível!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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