R E S E N H A 1
Cantora: IVETE SANGALO
CD: “REAL FANTASIA”
Gravadora: UNIVERSAL
Aposta da gravadora Universal como o campeão de vendas para este final de ano, o novo CD de Ivete Sangalo chegou recentemente às lojas com uma considerável tiragem inicial de cinquenta mil cópias.
Com a direção assinada por Alexandre Lins, trata-se do álbum mais bem produzido da carreira da artista baiana, o que já se faz preanunciado pela bela capa arquitetada pelo internacionalmente reconhecido Giovanni Bianco.
Intitulado “Real Fantasia”, o disco é composto por doze faixas inéditas e mais duas já bastante conhecidas, as quais surgem ao final como bônus: “Me Levem Embora” e “Eu Nunca Amei Alguém Como te Amei”, emprestadas das trilhas sonoras das produções globais “Gabriela” e “Fina Estampa”, respectivamente.
Ivete é boa cantora (e isso é inquestionável), mas de todas as intérpretes da Bahia que sedimentaram suas trajetórias através da chamada axé music (Margareth Menezes, Daniela Mercury e Cláudia Leitte – sobre esta, leia resenha a seguir) parece ser a que menos se preocupa com a escolha do repertório.
Acostumada a empolgar multidões e a vender horrores com canções de letras rasteiras, ela não iria mesmo querer mudar nesta altura do campeonato e até é verdade que, entre algumas músicas bobinhas, o recém-lançado CD traz ao menos quatro temas interessantes: o samba-rock “Balançando Diferente”, o reggaeton “Dançando”, a cubana “Delira na Guajira” e a azeitada faixa-título.
No entanto, há, decerto, algumas canções mais propensas para arrastar os fãs aficcionados em micaretas (caso da salsa “Puxa, Puxa” e do samba-reggae “No Meio do Povão”) e outras certamente feitas para serem utilizadas como pano de fundo para casais apaixonados em futuras telenovelas (a exemplo de “Só um Sonho” e “Isso Não se Faz”).
É assim que Ivete segue fazendo sua festa: sem surpreender, mas ao menos passando ser verdadeira naquilo que faz, caso raro no mundo musical da atualidade.
R E S E N H A 2
Cantora: CLAUDIA LEITTE
CD: “NEGALORA – ÍNTIMO”
Gravadora: SOM LIVRE
Tentando dar um upgrade na sua carreira, sustentada até agora por baticuns descartáveis, a carioca criada na Bahia Claudia Leitte lançou, há algumas semanas e através da gravadora Som Livre, o seu novo projeto musical, disponível em CD e DVD.
Trata-se de “Negalora – Íntimo”, registro de apresentação realizada em dezembro do ano passado no Teatro Castro Alves, em Salvador (BA), da qual participaram, como convidados especiais, Carlinhos Brown, Henrique Cerqueira, Max Viana, Sergio Mendes e Tico Santa Cruz.
Negalora é o apelido dado à cantora por Brown e tem a ver com o novo trabalho. O que não se coaduna com absolutamente nada é o subtítulo, já que de íntimo ele passou longe (seria por conta da presença de cordas em alguns arranjos?). Não obstante essa observação, é de se elogiar o anseio de Claudia em buscar uma rota mais consistente para sua carreira. Dona de voz grave e potente, ela por vezes exagera, terminando por soar over (um claro exemplo disso é a sua releitura para “Falando Sério”, de Maurício Duboc e Carlos Colla). Mas não dá para deixar de reconhecer que o CD de quinze faixas (o DVD traz mais sete números adicionais) possui momentos interessantes. Embora eclético ao extremo (o que para muitos pode parecer um defeito), o álbum deve conseguir cumprir sua missão que é a de apresentar a cantora para novas fatias de público.
Como compositora, Claudia engata duas canções inéditas: a bonita “Bem Vindo Amor” e a mediana “Dois Caminhos” (ambas em parceria com Sérgio Rocha), além de assinar a versão de “Afaste-se de Mim”, um dos destaques do roteiro. E se existem coisas totalmente dispensáveis como “Crime” (de Henrique Cerqueira) e a releitura insossa de “O Tempo Não Para (de Cazuza e Arnaldo Brandão), há também agradáveis surpresas como as regravações de “Telegrama” (de Zeca Baleiro) e “Magalenha” (de Brown). Quando baixa o tem, como em “A Noite dos Jangadeiros” (de Jorge Vercillo e J. Velloso) e “Pra Todo Efeito” (de Batatinha e Lula Carvalho), pode-se encontrar em Claudia uma intérprete correta. Outras faixas que resultaram bacanas são os sambas “GPS” (mais uma criação de Brown) e “Sambah” (de João Nabuco) e o spiritual “Black Man” (de Carlinhos Conceição, Rubinho e Silvio Mury).
Sem preconceito, vale a pena conhecer esse CD, torcendo para que realmente possa vir a ser o primeiro degrau de uma nova trajetória.
N O V I D A D E S
* Através do selo SESC foi recentemente lançado o novo CD da cantora Juliana Amaral. Trata-se de “SM, XLS”, ou se preferirem “Samba Mínimo, Extra Super Luxo”, um trabalho – claro! – em homenagem ao samba, mas o samba no seu nascedouro, por isso a opção pelos arranjos econômicos que permeiam as dezenove canções (há, ainda, dois pequenos trechos poéticos: um de Ana Cristina César e outro de Paulo Leminski). Em cada canção, Juliana se faz acompanhada por um único instrumento, seja ele violão de sete cordas, cavaquinho, vibrafone, viola caipira, contrabaixo acústico, sax, clarinete ou acordeão, algumas vezes com a adição de toques sutis de percussão. O que poderia resultar um disco cansativo revela-se como um álbum acima da média, muito por conta das interpretações precisas da cantora. Afinada e sem se preocupar com exibicionismos vocais, ela se entrega a cada música, revelando o sentimento ali contido. Entre os grandes momentos do repertório estão “Ferida do Tempo” (de Francis Hime, Heron Coelho e Gianfrancesco Guarnieri), “Palhaçada” (de Nenê e Pedro Marques), “Leonor” (de Itamar Assumpção), “Tarde Demais” (de Kiko Dinucci) e “São Mateus” (de Rodrigo Campos e Marcos Paiva).
* Já existe a música oficial do mascote da Copa do Mundo 2014 que será realizada aqui no Brasil. Trata-se de um samba turbinado com toques de xote e embolada intitulado “Tatu Bom de Bola”, composto por Arlindo Cruz, Rogê e Arlindo Neto e interpretada pelo primeiro.
* A gravadora Universal está lançando o box “Dois Tons de Maysa” que contempla dois álbuns remasterizados, contendo inclusive as artes gráficas originais, gravados efetivamente pela cantora em 1964 (o homônimo “Maysa”) e 1970 (“Ando Só numa Multidão de Amores”). O primeiro é fruto de registro ao vivo efetuado no auge do sucesso da artista durante a realização de show na boate Au Bon Gourmet, em Copacabana (RJ). Com arranjos do maestro Eumir Deodato, ela interpretava hits românticos (a exemplo de “Demais”, “Por Causa de Você”, “Bom Dia, Tristeza” e “Dindi”) e standards internacionais (estão lá: “I’ve Got You Under my Skin” e “La Barca”). O segundo se trata de seu penúltimo disco. Com arranjos divididos entre Roberto Menescal e Luiz Eça, trazia, entre outros, temas de Ary Barroso (“As Três Lágrimas”), Fernando Faro (“Chuvas de Verão”) e Carlos Lyra (“Quando Chegares”).
* A cantora Patrícia Marx prepara projeto comemorativo dos trinta anos de carreira, o qual sairá em breve nos formatos CD e DVD. Haverá as participações especiais de Ed Motta na faixa “Tudo Que Eu Quero” e Seu Jorge em “Espelhos d'Água“ (grande sucesso de autoria de Dalto e Claudio Rabello).
* Lobão está lançando, através da gravadora Deck, o seu novo projeto musical. Disponível nos formatos CD e DVD, intitula-se “Lobão Elétrico – Lino, Sexy & Brutal” e é fruto do registro ao vivo de show realizado em outubro do ano passado no Citibank Hall em São Paulo. Com a direção dividida entre Cris Winter, Rui Mendes e o próprio Lobão e a masterização feita nos estúdios de Abbey Road (em Londres, Inglaterra), os produtos apresentam treze faixas, dentre as quais “Das Tripas Coração”, música lançada pelo polêmico artista junto com sua autobiografia “50 Anos a Mil” (de 2010). O som afiado no qual predominam distorções e guitarras envenenadas toma conta do trabalho que termina por ganhar forte atmosfera noturna. Luiz Carlini, guitarrista que integrou o lendário grupo de rock Tutti & Frutti, é o convidado especial em “Ovelha Negra” (de Rita Lee), única canção não autoral constante do repertório, o qual traz releituras para sucessos como “Canos Silenciosos”, “Decadence avec Elegance” e “O Rock Errou”. Entre os melhores momentos do set list apresentado estão “A Vida É Doce”, “Não Quero o seu Perdão” e “Balada do Inimigo”.
* Luciana Carvalho, sobrinha de Beth Carvalho, também é enfeitiçada pelo samba. Tanto que o título de seu primeiro CD será “O Samba Que Eu Sei”. Produzido por Misael da Hora, filho do conhecido Rildo Hora, o álbum que será lançado em 2013 trará um repertório totalmente inédito e contará com a participação especial de Diogo Nogueira na faixa “Quero Ter Você”.
* A banda carioca Tono está relançando o primeiro CD. Intitulado “Auge” e produzido a quatro mãos por Estevão Casé e Eduardo Manso, o álbum é composto por dez canções, a maioria delas assinada pelo baterista Rafael Rocha, também responsável pelos vocais ao lado de Ana Cláudia Lomelino. Seus integrantes (dentre os quais estão o guitarrista Bem Gil e o baixista Bruno Di Lullo, filhos de Gilberto Gil e Lenine, respectivamente), mostram algumas boas ideias que sedimentaram o caminho para o trabalho posterior. Entre flertes com o reggae (“Intuição”) e com o funk (“Você Magoou”), predomina no disco uma sonoridade pop. Os melhores momentos ficam por conta das faixas “Sonhador Sonâmbulo”, “Quando Você Dança” e “Misturo as Cores”.
* “Hei, Afro!” é o título do recém-lançado CD que marca o retorno do vocalista Toni Garrido à banda de reggae Cidade Negra. Trata-se de um lançamento da gravadora Som Livre, composto por treze faixas, dez delas autorais (criadas por Toni ao lado dos outros dois atuais integrantes, o baterista Lazão e o baixista Bino Farias). Dentre os destaques do repertório estão as faixas “Eu Fui, Voltei”, “Só Pra Detonar”, “Contato” e “Menino Rei”.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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