R E S E N H A
Cantor: HERBERT VIANNA
CD: “VICTORIA”
Selo: OI MUSICA
A banda Os Paralamas do Sucesso surgiu durante o boom do chamado rock nacional na década de oitenta do século passado e, desde o início, emplacou vários sucessos. Herbert Vianna, o vocalista e principal fornecedor de hits, demonstrou, algum tempo depois, vontade de lançar paralelamente trabalhos solos e o fez por três vezes até que, no auge do reconhecimento (quando, inclusive, vários nomes da nossa MPB estavam a gravar músicas de sua autoria, a exemplo de Zizi Possi com “Meu Erro”, Cássia Eller com “Lanterna dos Afogados” e Cazuza com “Por Quase um Segundo”), um acidente que resultou na queda do ultraleve por ele pilotado deixou-o paraplégico e ceifou a vida da mãe de seus três filhos, a esposa Victoria.
“Victoria” é o título dado pelo artista ao seu quarto álbum solo, o qual chegou recentemente às lojas através do selo Oi Música. Produzido por Chico Neves, é um disco de sonoridade minimalista que tem como objetivo maior registrar, na voz do autor, várias de suas boas canções, algumas delas já gravadas anteriormente por outras vozes. São vinte faixas que receberam o tratamento instrumental apenas de Herbert (violões, guitarra e percussão) e do já citado Neves (minimoog, baixo, teclados e xilofone), mas que conseguem passar para o ouvinte a intenção pessoal e intransferível de quem as criou (um destaque a ser feito nos arranjos é a bem-vinda e apropriada inserção de vocais feitos pelo próprio artista).
Herbert sempre se mostrou um compositor inspirado que sabe falar direto às pessoas com temas relacionados ao coração sem soar piegas. Sua escola é o do pop inteligente. Suas letras são diretas, sem subtextos, e as melodias, via de regra bastante agradáveis ao ouvido médio, são facilmente assimiláveis. Como cantor, ele decerto sabe de suas limitações vocais (embora possua um timbre gracioso ao extremo) e por conta delas seguramente nunca será o melhor intérprete para suas músicas.
Assim, far-se-ão inevitáveis as comparações dos registros ora apresentados com alguns que o público conhece através de outros intérpretes, especialmente aqueles que se transformaram em sucessos arrebatadores, caso de “Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim” (parceria com Paulo Sérgio Valle) e “Só Pra Te Mostrar”, temas propagados nacionalmente nas vozes das baianas Ivete Sangalo e Daniela Mercury, respectivamente. Ou do hit “Nada Por Mim”, composto por Herbert ao lado de Paula Toller (a vocalista da banda Kid Abelha e sua mulher à época) especialmente para Marina Lima que a registrou de maneira definitiva.
E se os versos fortes e tristes de “Penso em Você” (paradoxalmente envoltos por um samba) remetem à trágica e prematura partida da esposa, os da balada “Quando Você Não Está Aqui” foram compostos com vistas a serem gravados por Roberto Carlos. A pungente canção, uma das mais bonitas de toda a obra de Herbert, não ganhou a voz o Rei, porém foi parar na garganta abençoada da Abelha Rainha, a também exigente Maria Bethânia. E há, ainda, outros momentos desse recém-lançado projeto que merecem ser destacados e ouvidos com atenção: “Junto ao Mar”, “Eu Não Sei Nada de Você”, “Une Chanson Triste”, “Um Amor, um Lugar”, “Só Sei Amar Assim” e “Derretendo Satélites”.
Sem medo de prosseguir e prosseguindo, Herbert Vianna parece estar fechando ciclos com esse CD. Um ciclo na vida e outro na música. Que venham, então, outras tantas belas canções para quem amou, para quem ama e para quem quer amar. Super apropriado!
N O V I D A D E S
* A sublime interpretação de Leila Pinheiro para a mais recente obra-prima da MPB, a canção “Sinhá”, parceria de Chico Buarque e João Bosco, já valeria a compra do álbum “Turnê – 23º Prêmio da Música Brasileira”, empreitada realizada em 2012 em homenagem ao artista do ano, no caso, o próprio Bosco. Ele, juntamente com a Banda Mantiqueira, Leila, Alcione, Mariana Aydar e Péricles realizaram algumas apresentações e a que ocorreu em julho em São Paulo foi gravada e recentemente lançada em CD pela gravadora Universal. São vinte faixas que comprovam o irrefutável talento do inventivo compositor mineiro, autor de temas já atemporais como “O Bêbado e a Equilibrista”, “Desenho de Giz” e “Papel Machê”, os três presentes no repertório selecionado e que ganharam interpretações dele mesmo. Outros momentos imperdíveis ficam por conta da bela releitura de Aydar para “Memória da Pele” e do bem-humorado comentário de Alcione em “Quando o Amor Acontece”. Cada um dos artistas citados aparece em três faixas solo e, como cereja do bolo, Bosco ainda se reúne com Leila em “Jade”, com Alcione em “O Mestre-Sala dos Mares”, com Aydar em “Incompatibilidade de Gênios” e com Péricles em “Odilê, Odilá”. Muito massa!
* E ainda aproveitando a onda do “23º Prêmio da Música Brasileira”, a mesma gravadora Universal também põe nas lojas um CD duplo que traz, em suas vinte e sete faixas, os vencedores do aludido certame no que tange a este ano que daqui a pouco se findará. O repertório mais que eclético traz as vozes de artistas das mais diversas vertentes. Estão lá, entre outros, Marisa Monte (“Descalço no Parque”), Chico Buarque (“Sinhá”), Ná Ozzetti (“Macacada”), Banda Calypso (“Lelezinha”), Dori Caymmi (“Rede”), Criolo (“Samba Sambei”), Herbert Lucena (“Coco Viajado”), Chitãozinho & Xororó (“Fio de Cabelo”), Beth Carvalho (“Tambor”) e Céu (“Nega Luzia”).
* No próximo ano, a compositora carioca Sueli Costa estará completando setenta anos e as homenagens deverão ser muitas. A primeira já anunciada será a gravação de um álbum pelo cantor Carlos Walker que fará uma abordagem contemporânea do cancioneiro da artista, inclusive com o uso de recursos eletrônicos. O projeto contará com vários convidados, dentre os quais o DJ Zé Pedro, proprietário da gravadora Joia Moderna, que editará o CD.
* O letrista Ronaldo Bastos está lançando pela sua gravadora, a Dubas, o CD intitulado “Nuvem Cigana”. Trata-se de uma compilação de quatorze fonogramas resultantes de parcerias dele com vários nomes da nossa MPB, especialmente os ligados ao lendário Clube da Esquina mineiro. Entre os intérpretes estão nomes de ponta do nosso cancioneiro, a exemplo de Milton Nascimento (“Cais”), Alaíde Costa (“Coração”), Flávio Venturini (“Noites de Junho”), Lô Borges (“O Trem Azul”), Beto Guedes (“Choveu”), Edu Lobo (“Cidade Nova”) e Nana Caymmi (“Dona Olímpia”). O único registro inédito é “Um Gosto de Sol” na voz do cantor e compositor carioca MoMo.
* “Valencianas”, o espetáculo em que Alceu Valença apresenta várias de suas canções com o requintado acompanhamento da Orquestra Ouro Preto, foi registrado quando de apresentação realizada em novembro no Palácio das Artes, em Belo Horizonte (MG), para futuro lançamento em CD e DVD.
* Objetivando chegar ao mercado no primeiro semestre de 2013, já se encontra em avançado estágio de gravação o Sambabook dedicado a Martinho da Vila. Dentre os artistas que se farão presentes estão Luiz Melodia, Maria Bethânia, Ney Matogrosso, Paulinho da Viola e Diogo Nogueira.
* A apresentação recentemente realizada no Credicard Hall, em São Paulo, pela Cia. Musical O Teatro Mágico (que tem à frente o talentoso Fernando Anitelli) foi devidamente registrada para se transformar em DVD. Baseado no terceiro CD do grupo (“A Sociedade do Espetáculo”), o projeto trará no repertório quatro músicas inéditas.
* Para quem não sabe, a cantora Marina Elali é neta de Zé Dantas, um dos parceiros musicais mais constantes de Luiz Gonzaga. E para homenagear o avô, a cantora realizou, em outubro, um show especial em Recife (PE), o qual foi devidamente gravado e, em breve, chegará ao mercado nos formatos CD e DVD. O projeto conta com as participações de Elba Ramalho, Ivete Sangalo, Geraldo Azevedo e Daniel Gonzaga, além do grupo Charlie Brown Jr. e da dupla sertaneja Zezé Di Camargo & Luciano.
* Mesmo que a novela não seja esse balaio todo, vale a pena conhecer a trilha sonora de “Salve, Jorge!”. Capitaneado pelas únicas duas canções inéditas lançadas por Roberto Carlos neste final de ano (“Esse Cara Sou Eu” e “Furdúncio”), o CD correspondente tem mesmo seus pontos altos nas faixas “Sorte e Azar” (música inédita gravada pela banda Barão Vermelho para o primeiro álbum e que terminou ficando de fora da seleção final, mas que mostra Cazuza em mais um de seus inspirados momentos ao lado de Frejat) e “Tiranizar” (parceria pouco conhecida de Cézar Mendes e Caetano Veloso, gravada por este último especialmente para a produção global). São realmente duas ótimas canções que não devem passar batidas pelos ouvidos mais atentos!
* E a nossa Patrícia Polayne, atualmente morando na Cidade Maravilhosa, manda avisar que esta semana estará dando um rasante por aqui para realizar três apresentações. Anote aí para não perder porque a cantora – todos sabem – é sinônimo de talento e bom gosto musical: dia 14 no Capitão Cook (na Coroa do Meio, às 23 horas), no dia 15 no Reciclaria (em frente ao Aeroporto, às 20 horas) e dia 16 no Café do Museu (dentro do Museu da Gente Sergipana, às 18 horas). A gente se encontra por lá!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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